O BeefPoint já publicou diversos artigos apresentando casos de sucesso e experiências com cruzamentos de bovinos de corte, mas hoje, optamos por reunir uma série de opiniões de profissionais ligados ao setor do melhoramento genético, professores e produtores para discutirem a seguinte questão: Cruzamento entre bovinos europeus x continentais será que essa é uma tendência que veio pra ficar?
Por Edgar Nagle
Todo cruzamento visa um aumento de produtividade por meio da heterose, complementariedade das raças e mérito (potencial) genético dos animais utilizados.
Quando levamos em consideração somente as duas primeiras características (heterose e complementariedade) é certo que o cruzamento de britânicos x continentais torna-se menos eficiente do que o de europeus X zebuínos, porém certamente terá seu espaço para atender nichos específicos de mercado.
Teremos as vantagens de buscarmos a complementariedade das raças, com os britânicos introduzindo fertilidade, precocidade (tanto sexual como de terminação), tamanho mediano e qualidade de carcaça, principalmente de cobertura de gordura e marmoreio, enquanto as continentais colocando maior tamanho e rendimento nas carcaças, podendo diminuir o percentual de gordura dos cortes (dependendo da raça e touros utilizados), que podem ser importante para determinados nichos de mercado.
A viabilidade deste cruzamento depende de alguns pré-requisitos:
- Comprador acertado antecipadamente para aquisição e demanda certa das carcaças produzidas, que por sua vez deverão atender totalmente às necessidades deste comprador para satisfazer o perfil dos seus consumidores,
- Deverá ficar restrito à região Sul do país por causa da adaptabilidade dos animais oriundos deste cruzamento,
- Montar um sistema de produção autossuficiente, que consiga repor as matrizes do projeto sem depender de reposição externa, já que a seleção genética é essencial para se conseguir padronização de produção.
Em relação a qualidade de carcaça, como a demanda deverá ser para atender a nichos específicos de mercado como os de carnes mais magras com cortes maiores, este tipo de cruzamento tem boas viabilidades de êxito, sempre levando em consideração a necessidade de se trabalhar com touros melhoradores para as características demandadas pelo consumidor.
Pra finalizar, é necessário que o criador tenha em mente que, para qualquer programa de cruzamento ter êxito, é fundamental que se faça um bom planejamento, que se inicia na escolha das raças mais adequadas para o seu projeto, passa pela seleção criteriosa dos touros a serem utilizados, sistema de manejo implantado (cria, recria e terminação a pasto, se será terminado em confinamento, se confinará a desmama e produzirá superprecoce, etc), reposição de matrizes para o sistema ser sustentável, terminado com a certeza da demanda do produto deste cruzamento, com ou sem valor agregado.