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Rabobank: previsões para o mercado mundial de carne bovina no 3T12

Visão geral

A situação pecuária na América do Norte será influenciada pela escassa oferta, com um desequilíbrio entre a produção ocorrendo na América do Norte e Hemisfério Sul. Para o terceiro trimestre de 2012, o Rabobank espera uma oferta global maior com relação ao ano anterior, devido ou pela liquidação do rebanho – no caso dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) – ou pela recuperação natural do rebanho no Brasil, na Argentina e na Austrália (mesmo se a um grau menor). Além disso, do lado da demanda, a equação deverá permanecer relativamente fraca por causa da crise econômica, principalmente nos países desenvolvidos. Entretanto, o suporte aos preços eventualmente virá da menor produção de bovinos e outros animais alimentados com grãos: o ciclo de produção de frango é mais curto e os cortes deverão ocorrer no quarto trimestre.

A pressão de baixa nos preços será consequentemente balanceada contra as menores ofertas, à medida que a queda na América do Norte da produção de carne de animais alimentados a grãos eventualmente ocorra. A oferta provavelmente permanecerá acima dos níveis do ano anterior em importantes países produtores, como Brasil, Austrália e Argentina. Entretanto, isso pode ser compensado pelas menores ofertas na América do Norte, onde a redução na produção forçará cortes na produção.

Em prazo mais longo, o Rabobank prevê que as ofertas globais de proteínas de carne e, especialmente, de carne bovina, não continuarão acompanhando o crescimento populacional e de renda em mercados emergentes, aumentando os riscos de volume aos processadores e os riscos de preços a todos, desde os recriadores até os consumidores.

O Índice Global de Preços de Gados do Rabobank caiu 7% com relação aos níveis do primeiro trimestre, direcionados principalmente pela demanda mais fraca junto com um dólar americano mais forte (veja Figura 1 e 2). Em relação à oferta pelo mundo, esta continuou escassa por carne bovina à medida que o Brasil foi o único importante produtor que teve um crescimento significativo na produção. Com relação ao ano anterior, o Índice está começando o terceiro trimestre 9% menor com relação ao começo do terceiro trimestre de 2011.

 Figura 1: Preços médios globais de gados vivos (US$/kg). T1 = primeiro trimestre; T2 = segundo trimestre.

Fonte: Bloomberg, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), MeatandLivestockAustralia (MLA), Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), Instituto Nacional de Carnes do Uruguai (INAC), Ontario CattlemanAssociation (OCA), 2012.

Um pequeno fator, mas com tendência de baixa, é o recente fortalecimento do dólar americano. O Rabobank BeefForex Index médio para o segundo trimestre de 2012 foi 3% acima do índice do primeiro trimestre, refletindo o fortalecimento do dólar contra as principais moedas da Austrália e do Brasil (dois dos mais importantes exportadores de carne bovina), cujos valores caíram abaixo dos níveis do primeiro trimestre em 4% e 12%, respectivamente, e também contribuíram para a tendência de queda nos preços internacionais da carne bovina e de bovinos (veja Figura 3). O índice está começando o terceiro trimestre 9% maior do que durante o mesmo período do ano anterior, o que pode adicionar uma pressão adicional de baixa nos preços internacionais de carne bovina. O índice reflete o valor do dólar dos Estados Unidos contra a moeda de outros importantes países exportadores. Ele tem uma relação inversa com os preços internacionais da carne bovina (veja Figura 4).

As condições econômicas globais podem também conter o fortalecimento dos preços. A demanda nos mercados ocidentais, que representam 70% do consumo total de carne bovina mundial, continuou crescendo a um ritmo lento como resultado do pequeno crescimento dos empregos e de uma limitada renda disponível real. Esse cenário não deverá melhorar em breve, à medida que os últimos indicadores macroeconômicos mostraram sinais de enfraquecimento dos Estados Unidos e do Euro. Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou sua projeção de crescimento econômico global para 2012 para baixo, de 3,6% para 3,5%.

O Hemisfério Sul mitigará parte da pressão de alta nos preços. Os preços recordes dos grãos mudará o foco dos importadores ao Hemisfério Sul, à medida que a produção de carne bovina à base de grãos no Hemisfério Norte se torna menos competitiva como resultado dos crescentes preços dos grãos. Países cujos sistemas de produção de carne bovina são principalmente baseados no pasto estarão melhor posicionados para abastecer o mundo a preços menores. Considerando a atual tendência em direção à maior produção de carne bovina, Brasil, Austrália e Argentina já pode se beneficiar dessa situação.

Dietas à base de grãos e farelo de soja para a produção de frango e suínos podem fornecer uma vantagem de custo para os produtores globais de carne bovina no médio prazo. Quedas de produção de carne de frango são prováveis, direcionadas por margens negativas devido ao aumento nos custos dos alimentos para animais. À medida que aumenta o preço do frango, pode haver benefícios para a indústria de carne bovina, à medida que a diferença entre os preços da carne bovina e de frango diminui e possibilita uma mudança na demanda em direção à carne bovina.

Atualizações regionais

Brasil

Os preços do gado no Brasil continuaram em declínio durante o primeiro trimestre de 2012, com os preços dos animais vivos alcançando o menor nível em 17 meses. Os preços caíram 3% com relação ao final do primeiro trimestre e estão agora 3% menores que no mesmo período do ano anterior. O principal fator para o declínio no preço foi o aumento sazonal da oferta (proximidade ao período de seca), que foi exacerbado pela chegada ao mercado de grandes safras de bezerros de 2009 e 2010. A pressão adicional veio da redução nos preços domésticos da carne bovina, que caíram 4% com relação ao final do primeiro trimestre.

Entretanto, ventos a favor da indústria estão soprando do lado internacional, com o volume exportado aumentando 20% no segundo trimestre com relação ao primeiro – impulsionado pelo aumento nas vendas ao Chile e ao Egito, e por uma desvalorização do Real brasileiro, aumentou a atratividade do produto exportado. De fato, apesar de o preço médio em dólares americanos terem caído 3% com relação ao trimestre anterior, a desvalorização de 10% na moeda brasileira fez com que os preços convertidos em Reais aumentassem 5% com relação ao mesmo período.

Apesar de menor do que no primeiro trimestre, as margens dos frigoríficos de carne bovina no segundo trimestre ainda ficaram acima dos dados vistos durante o mesmo período do ano anterior (veja Figura 5). A estimativa do Rabobank aponta para um aumento bruto da margem de 20% no segundo trimestre de 2012 com relação ao segundo trimestre de 2011. O cenário é ainda melhor para aquelas companhias maximizaram a participação das exportações em suas vendas totais. Vale mencionar que as três maiores companhias de carne bovina representam mais de três quartos das exportações totais do Brasil.

Para o terceiro e quarto trimestres, os preços do gado deverão refletir um período sazonal (período seco) de declínio na oferta no Brasil e se recuperar dos níveis do segundo trimestre. A extensão dessa recuperação dependerá em grande parte da disponibilidade de animais dos confinamentos à medida que eles representam cerca de 35% a 40% do número total de bovinos abatidos sob o sistema formal de inspeção entre setembro e novembro conforme registrado por registros oficiais. Nesse ano, a oferta dos confinamentos pode não crescer tanto quando o esperado no começo do ano devido ao aumento nos preços do farelo de soja e do milho, combinado com os atuais baixos preços futuros do gado.

Suporte adicional aos preços da carne bovina virá da aceleração da economia brasileira após a desaceleração na primeira metade de 2012 e a redução na oferta de frango após o recente declínio na produção de frangos de corte. As exportações também deverão se manter altas, direcionadas pelo Real desvalorizado e pelo retorno das vendas ao Irã, que aumentaram 242% de maio a junho.

Do lado da indústria, a JBS deu mais um passo em direção à estratégia de diversificação de proteínas e assinou um acordo para arrendar as plantas da Frangosul (companhia de frango controlada pela Doux) no Brasil.

Estados Unidos

A volatilidade explica o mercado pecuário dos Estados Unidos. O segundo trimestre abriu com importantes distúrbios por causa da crise gerada pela carne bovina magra de textura fina (leanfinelytexturedbeef – LFTB), que foi seguida por uma segunda onda de choque devido ao anúncio no final de abril do quarto caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), ou doença da vaca louca, nos Estados Unidos. Felizmente, o caso de EEB foi somente em uma vaca isolada, determinada como sendo um caso atípico não causando problemas no mercado. O desenvolvimento de mercado para o segundo trimestre e começo do terceiro trimestre foi rapidamente composto por condições de seca em importantes regiões produtoras de grãos e de gado dos Estados Unidos. A seca está prejudicando o planejamento de produção em todas as fases do ciclo de produção de carne bovina, que influenciará o desempenho do mercado no restante do ano.

Após ter registrado um preço recorde de US$ 130/100 libras (US$ 287/100 kg) durante a primeira semana de março, os preços do boi gordo declinaram 11% ou US$ 16/100 libras (US$ 35/100 kg) para o que parece ter sido uma baixa sazonal de US$ 114/100 libras (US$ 251/100 kg). Os valores de animais de reposição determinado pelo Chicago Mercantile Exchange Feeder Index foram ficaram em torno de US$ 9. Em reação à história da LFTB, os preços do gado para engorda alcançaram um pico em março, de US$ 157/100 libras (US$ 346/100 kg) e caíram para o menor valor de maio, de US$ 147/100 libras (US$ 324/100 kg). O preço da reposição tentaram retornar aos padrões sazonais antes de sofrerem um declínio para US$ 148/100 libras (US$ 326/100 kg) em reação ao aumento dos preços dos grãos e do feno usado na alimentação animal devido à deterioração nas condições de plantio. A seca e a piora nas condições das pastagens causaram uma retomada da liquidação de bovinos. Entretanto, devido às perdas nas ofertas de LFTB suportando a demanda por carne bovina magra, os preços dos bois abatidos não sofreram nenhum declínio significativo.

A produção de carne bovina para o segundo trimestre foi maior do que o previsto devido às carcaças mais pesadas do que o esperado, compensando o declínio nos abates. Os abates inspecionados pelo Governo Federal para o segundo trimestre foram estimados em 4% a menos que no ano anterior. No final do segundo trimestre, o peso médio das carcaças de novilhos foi de 387 quilos. Isso é 9 quilos a mais que no mesmo período do ano anterior. A produção de carne bovina para o segundo trimestre foi estimada em 2% a menos que no ano anterior.

O número de animais confinados em 1o de junho era de 111,08 milhões de cabeças, 1,7% a mais que no mesmo período do ano anterior. Esse aumento foi marginalmente maior do que o antecipado devido à continuação das colocações maiores do que o esperado por causa da seca.

Embora as condições de seca estejam forçando o abate do rebanho, deve-se notar que as reais condições de seca são muito diferentes do que no ano anterior. A seca de 2011 foi principalmente centrada no Texas, Oklahoma, Novo México e estados do sudeste. A severidade das condições nessa área foi substancialmente pior do que as condições nesse verão. Em contraste, as condições de seca desse ano estão cobrindo uma área geográfica maior, mas pelo menos, dessa vez as condições não estão tão severas quanto foram nas áreas afetadas no ano passado.

Dadas as considerações sazonais e a intensificação das condições da seca nesse ano, é impossível determinar o quão severas as condições se tornarão. Sabe-se que os produtores em muitas áreas recorreram ao feno e à suplementação da alimentação em uma tentativa de estender as condições do pasto. Também se sabe que o confinamento está à frente do planejado, mas deverá declinar durante a segunda metade do ano. Como resultado do movimento alterado do gado, as ofertas de boi gordo no quarto trimestre será levemente maior do que o esperado originalmente. Também se preveu que as ofertas de boi gordo para 2012 serão menores do que o esperado. A continuação e o aumento da seca de 2012 tem prejudicado qualquer previsão de expansão no rebanho bovino em 2012 e deixará certa incerteza para previsões de qualquer expansão significativa em 2013.

UE

Os preços da carne bovina na UE vem aumentando há 21 meses consecutivos a um nível de mais de 4 Euros/quilo em uma base equivalente peso carcaça (CWE) (veja Figura 6). O contínuo aumento nos preços é completamente atribuível à disponibilidade escassa de gado pronto para abate na UE no momento. O número total de cabeças abatidas caiu 5% de janeiro a abril, causando uma redução no volume de 4,7%. O declínio nas importações, de 7,8% de janeiro a abril, também contribuiu para uma disponibilidade menor de carne bovina, que resultou em uma queda no consumo (-2,7%) e nas exportações (-28,4%), com vendas à Turquia (-55,3%) e Rússia (-41,3%) caindo rapidamente. Nesse cenário, muitos frigoríficos em toda a Europa reduziram o número de dias de abate para limitar a pressão nas margens.

A grande queda no número de machos abatidos (-9,7% de janeiro a abril de 2012) indica que o gado foi abatido no ano passado. Entretanto, a retenção começou, conforme sugerido pelo pequeno declínio no número de bezerros e animais jovens abatidos (-1,4%) e de vacas (-1,1%) de janeiro a abril de 2012 (veja Figura 7). Entretanto, o aumento nos números de vacas, bezerros e novilhos abatidos em 2011 implica que a oferta de gado pronto para abate permanecerá escassa nos próximos 12 meses.

Para o terceiro trimestre de 2012, o aumento nos preços deverá lentamente estabilizar com a expectativa de uma leve recuperação na oferta e com a pressão nas exportações devido à crescente competição do Brasil no mercado global. Entretanto, com a retenção de rebanho começando lentamente e impedindo o impacto das reformas da Política Agrícola Comum (PAC) para 2014-2020, que reduzirá as rendas dos produtores rurais, o Rabobank espera uma contínua batalha por gados e níveis elevados de preços.

Austrália

Os preços em todas as categorias animal terminaram o ano fiscal, em 30 de junho, acima das médias dos últimos cinco anos, apesar dos produtores terem mostrado que não estão sentindo isso em seus bolsos devido aos maiores custos dos insumos. O Eastern Young CattleIndicator Index (EYCI) apresentou um aumento, aumentando de A$ 3,65 por quilo em junho para A$ 3,8125 por quilo no meio de julho.

Os confinamentos caíram como resultado de os produtores estarem aproveitando as boas condições sazonais para reconstruir rebanhos, bem como interrupções devido ao clima. A taxa de abate para os primeiros seis meses de 2012 também caíram em 2% com relação ao mesmo período de 2011.

Mesmo com essa redução nas taxas de abates, a produção total de carne bovina e de vitelo ficou no mesmo nível de 2011 como resultado dos maiores pesos médios de carcaça, agora em 288 quilos, contra 286 quilos no ano passado. A expectativa é que a segunda metade de 2012 terá uma maior oferta com potencial para um ajuste de preços como resultado. Entretanto, deve-se notar que a maior oferta nas últimas semanas tem encontrado uma demanda inoforme, de forma que os preços têm se mantido

Para os primeiros seis meses de 2012, as exportações aos Estados Unidos aumentaram 46% com relação a 2011 como resultado da maior demanda por carne bovina processada após a crise da LFTB. Entretanto, as exportações aos Estados Unidos desaceleraram mais recentemente, em parte devido ao relativo fortalecimento da moeda australiana com relação ao dólar dos Estados Unidos em junho.

As exportações ao Japão e Coreia continuam desafiadoras, caindo em 10% e 32%, respectivamente, com relação aos primeiros seis meses de 2011. Essas reduções são resultado de uma combinação de fatores, incluindo crescente produção local em ambos os países, forte competição com os Estados Unidos, forte dólar australiano e menor demanda dos consumidores.

Argentina

Os abates na Argentina continuam aumentando ano a ano, com os abates de maio aumentando 11,5%. No total, os abates para os primeiros cinco meses do ano foram 8% maiores que em 2011. Durante o mesmo período, o consumo local de carne bovina absorveu todo o aumento da produção, enquanto as exportações continuaram a se contrair. Com um consumo per capita anual de 57,8 quilos, a participação local na oferta total aumentou para 92,6% em comparação com 89,5% no mesmo período do ano anterior.

As exportações caíram 31% para os primeiros cinco meses de 2012 devido principalmente aos altos preços e a uma taxa de câmbio desfavorável que, junto com um aumento de 15% na tarifa de exportação, tornaram o mercado doméstico relativamente mais atrativo. Das 29.300 toneladas de cota Hilton que a Argentina tinha em 2011/12, somente 18.500 toneladas (63%) foram realmente enviadas durante o período, marcando o maior não cumprimento desde que a cota existe.

As margens dos frigoríficos continuaram apertadas devido aos altos preços atuais do boi gordo. Além disso, a alta inflação doméstica aumentou os custos dos insumos locais (em particular, energia e custos trabalhistas aumentaram substancialmente). Apesar de alguns desses custos maiores terem se transferido a preços maiores no atacado/varejo, as margens da indústria continuam negativas.

O frigorífico Carnes Pampeanas reabriu em julho após obter um empréstimo de 20 milhões de pesos do Governo da Província de La Pampa e de mais suporte do Governo nacional. A planta ficou parada desde dezembro e fechou formalmente em junho, demitindo todos os seus funcionários. O suporte do Governo foi dado para evitar essa perda de empregos no maior frigorífico da Província.

Para a segunda metade do ano, o Rabobank espera que a oferta aumente sazonalmente, embora a demanda doméstica deva se contrair. Até agora, o consumo doméstico tem sido resistente à alta inflação dos preços ao consumidor. Entretanto, a atual desaceleração na atividade econômica se tornará mais evidente na segunda metade do ano, com menores gastos públicos e menor empregos de forma geral. Sem evidências na desaceleração da inflação, a demanda certamente se contrairá ao mesmo tempo em que a produção da primavera aumentará. Por outro lado, considerando a necessidade por ganhos cambiais estrangeiros, o Governo argentino acelerou o processo de distribuição da cota Hilton no próximo ano, o que poderá aumentar as exportações na segunda metade do ano como resultado.

Nova Zelândia

Os resultados com relação ao ano anterior mostraram que os preços em todas as categorias de carne bovina na Nova Zelândia ficaram abaixo dos níveis de 2011 desde fevereiro e vem se firmando lentamente entre 5% a 7%, ou no caso do número de touros da Ilha do Norte, igual a 2011, em NZ$ 3,98/kg no final de junho.

O abate de gado para maio aumentou 15,6% com relação ao ano anterior, mas permaneceram 8,4% menores na estação até agora, à medida que os pecuaristas aproveitam as boas condições sazonais das pastagens.

As exportações totais caíram 5% na estação até agora, lideradas principalmente pela redução em 40% nas exportações à Indonésia, com queda de 15.234 toneladas para 9.202 toneladas e uma redução de 27% nas exportações à Coreia, caindo de 25.416 toneladas em 2011 para 18.664 toneladas em 2012. As exportações à Indonésia vêm declinando nos últimos anos, à medida que esse país continua cortando cotas, limitando, dessa forma, as importações em uma tentativa de obter autossuficiência na produção de carne bovina.

De uma perspectiva dos mercados emergentes, as exportações para a China dobraram com relação ao mesmo período da estação anterior, alcançando 2.828 toneladas. A Rússia também viu uma melhora, com as exportações aumentando 35%, para 2.353 toneladas. Embora esses dados ainda estevam pequenos com relação a outros exportadores a esses mercados, a Nova Zelândia vem ativamente agindo para aumentar as exportações para a China através de uma agressiva campanha de marketing visando esse mercado premium.

China

Os preços de carne bovina no varejo continuaram com tendência de alta no segundo trimestre de 2012, direcionados pela atual oferta escassa que tem sido registrada no mercado chinês (veja Figura 8). Durante o mesmo período, os preços da carne suína e de frango permaneceram fracos, devido ao fato de que as ofertas de carne suína e de frango estão relativamente suficientes, mas a oferta de carne bovina tem estado escassa há anos. Esse contraste de preços também indica que o mercado de carne bovina é do mercado de carne suína e de frango. Embora essas duas últimas sejam as carnes mais consumidas na China, representando 65% e 21% do consumo total de carnes, respectivamente, a carne bovina representa um mercado avançado e premium e é principalmente consumido por serviços alimentícios e em supermercados. Então, embora o consumo de carne suína e de frango por compradores institucionais tenha sido impactado pela desaceleração econômica, o consumo de carne bovina está relativamente estável.

O firme aumento nos preços no varejo permitiram que o setor de carne bovina mantivesse as margens positivas, flutuando em torno de US$ 350 por cabeça. Mas na parte posterior da cadeia, as margens dos abatedouros melhoraram no segundo trimestre, à medida que os preços das carcaças aumentaram mais rápido do que os valores do gado, o que fez com que as margens aumentassem para US$ 70 por cabeça de menos de US$ 50 por cabeça no primeiro trimestre. Do lado das fazendas, a lucratividade está estável, com as margens brutas estando em cerca de US$ 160 por cabeça. Como a oferta não deverá acompanhar a demanda em curto prazo, os preços da carne bovina deverão permanecer em níveis altos pelo resto de 2012.

Apesar do crescimento a um ritmo mais lento do que nos setores de carne suína e de frango, a produção de bovinos de corte apresentou uma expansão gradual. Novos investimentos foram feitos no setor e tenderam a focar em um modelo verticalmente integrado, que, na maioria dos casos, cobre cria, engorda, produção de ração, abates e até serviços alimentícios. Raças estrangeiras e manejo de fazendas estão sendo introduzidos para melhorar a produção local. Ao invés de abastecer mercados de massa, as fazendas recentemente estabelecidas objetivam principalmente produzir carne bovina de maior qualidade e premium para mercados avançados. Por exemplo, há projetos se especializando na produção de carne Wagyu, com animais e métodos de administração importados da Austrália.

Considerando a crescente demanda por carne bovina de qualidade que tem acompanhado o crescimento econômico, essa tendência continuará em curto prazo. Do lado do comércio, nos primeiros cinco meses de 2012, a carne bovina congelada importada aumentou levemente comparado com o mesmo período de 2011.Os principais fornecedores incluem Austrália, Uruguai e Nova Zelândia. A Austrália continua sendo o único fornecedor de carne bovina resfriada e fresca. As carnes importadas são principalmente distribuídas via comerciantes e atacadistas e vão para restaurantes de alta qualidade e hotéis em Pequim e Xangai.

Devido aos crescentes custos do milho e de outros insumos de alimentação animal, a maioria dos produtores individuais de bovinos de corte ainda tem pouco entusiasmo para construir o rebanho. Isso vai contra a tendência de lenta expansão das fazendas de grande porte de criação de bovinos. Devido à saída de produtores individuais, a situação de oferta escassa não deverá mudar em um futuro previsível.

México

O setor de carne bovina do México está sob pressão severa como resultado da redução do rebanho bovino. Desde o começo de 2011 até o final de 2012, o Rabobank espera uma redução do rebanho de cerca de 2,5 milhões de cabeças, para 19 milhões de cabeças, 11,6% a menos que no ano anterior. O declínio é principalmente devido à seca severa que atingiu o país no começo de 2011 e continuou durante o ano. No meio de 2012, as condições de clima melhoraram, mas deverá haver danos remanescentes para o restante deste ano. Durante os primeiros cinco meses de 2012, a estimativa de produção de carne bovina com relação ao ano anterior continua estável, uma situação que deverá continuar durante o ano (veja Figura 9). A produção total de carne bovina deverá alcançar 1,8 milhão de toneladas em 2012.

Apesar das ofertas escassas, as exportações tiveram bom desempenho, direcionadas pelas maiores vendas aos Estados Unidos e Rússia. De janeiro a abril de 2012, as exportações cresceram cerca de 40% com relação ao ano anterior. Por outro lado, como era anteriormente esperado, as importações mexicanas de carne bovina caíram 11% com relação ao ano anterior, principalmente desencorajadas pelos altos preços internacionais. Todos esses fatos deram muito suporte aos preços domésticos. Na primeira metade desse ano, os preços do gado e da carne bovina aumentaram em cerca de 15%.

Do lado do consumidor, o Rabobank espera que o consumo per capita de carne bovina continuará sofrendo com os altos preços. Se isso ocorrer, será o quarto ano consecutivo que o consumo per capita cai. Entretanto, o consumo per capita pode aumentar à medida que os consumidores mudam as preferências de proteínas após uma epidemia de influenza aviária em Jalisco no meio de junho.

Uruguai

A oferta de carne bovina no Uruguai aumentou levemente durante o segundo trimestre de 2012 devido a uma combinação de maiores números abatidos e maiores pesos das carcaças. Até agora nesse ano, o número de animais abatidos totalizou 1,049 milhões de cabeças (1% a mais que no ano anterior) e o peso das carcaças em média foi de 241,6 (aumento de 0,5% com relação ao ano anterior).

Do lado das exportações, um declínio nas vendas à Rússia e UE foi mais que compensado pelo aumento nas exportações aos países do NAFTA – notavelmente Estados Unidos. As exportações de carne bovina até junho alcançaram 125,6 mil toneladas, 13% a mais que no ano anterior. Entretanto, os preços denominados em dólares dos Estados Unidos caíram 3% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Acompanhando os preços de exportação, os preços do gado também perderam terreno e fecharam o segundo trimestre a níveis de mercado 8% a menos que no final do primeiro trimestre e 13% a menos que no mesmo período do ano anterior.

Para o resto do ano, o banco espera que a produção de carne bovina do Uruguai continue relativamente limitada, mas provavelmente leve acima dos níveis do ano anterior. A boa notícia para o setor de carne bovina uruguaio é a possível reabertura do mercado da Coreia do Sul, após esse estar fechado desde 2001, quando o Uruguai registrou focos de febre aftosa. De acordo com o Ministério da Agricultura, as negociações com a Coreia do Sul estão próximas a chegar a um acordo.

Japão

As importações de carne bovina japonesas durante os primeiros quatro meses do ano caíram 8% com relação ao ano anterior, para 152.000 toneladas. O declínio ocorreu devido ao enfraquecimento na demanda, combinada com o crescimento na produção local e estoques finais relativamente altos de carne bovina importada (veja Figura 10). Outras pressões contrárias às importações vieram do dólar australiano do dólar dos Estados Unidos mais fortes com relação ao iene japonês, somados aos preços firmes das duas origens.

O crescimento do consumo de carne bovina está desacelerando, em grande parte influenciado pelo menor crescimento econômico: até abril, esse aumentou 0,7% com relação ao ano anterior, para 288.000 toneladas. Durante o mesmo período do ano anterior, a demanda doméstica aumentou 3,3% com relação a 2010. Por outro lado, a produção está aumentando novamente e totalizando 116.000 toneladas durante os primeiros quatro meses do ano, ficando 4% maior do que no ano anterior após cair 2% em 2011. O número de cabeças abatidas aumentou 1%, para 381.000, comparado com o mesmo período do ano anterior.

As importações de carne bovina de janeiro a abril declinaram 8% com relação ao ano anterior, para 151.000 toneladas. Os altos níveis de estoques finais de carne bovina importada ajudaram a reduzir o apetite por importações e prepararam o terreno para que esses fossem liberados no mercado desde o começo do ano. As reservas dimiuníram de 80.000 toneladas em janeiro desse ano (o maior nível desde 2003) para 66.000 toneladas em abril, 7% a menos que em abril de 2011.

O fraco consumo, a maior produção local e a liberação dos estoques prepararam o terreno para uma queda nos preços no varejo para a carne bovina doméstica e importada. Os preços dos cortes de lombo bovino domésticos e importados caíram 6% e 5%, respectivamente, desde o começo do ano.

Para o terceiro e quarto trimestres, o consumo de carne bovina do Japão deverá ser menos volátil comparado com o ano anterior, à medida que a grande queda registrada em junho de 2011 por causa do tsunami de março provavelmente não será vista novamente nesse ano. As importações permanecerão baixas, considerando a abordagem cautelosa dos importadores japoneses e o forte dólar australiano. Entretanto, uma possível abertura do mercado japonês ao gado dos Estados Unidos com até 30 meses de idade (mais que o limite atual de 20 meses) até o final do ano pode impulsionar as importações.

Coreia do Sul

O crescimento de 45% com relação ao ano anterior nas atividades de abate durante o primeiro trimestre de 2012 não foi suficiente para trazer o estoque doméstico a níveis razoáveis (atualmente, os estoques estão em três milhões de cabeças), o que fez com que o Governo coreano continuasse estimulando os produtores a abaterem as vacas menos produtivas. Como resultado, os abates de gado permaneceram altos em abril e maio, aumentando 11% com relação ao ano anterior (veja Figura 11).

A maior oferta de carne bovina doméstica devido aos abates intensivos reduziram os preços da carne bovina e pressionaram as margens do varejo. Em maio de 2012, os preços varejistas caíram 49% com relação ao ano anterior. Um importante indicador da menor demanda foi mostrado pela forte queda na margem de lucro dos varejistas, caindo de 200%-250% na primeira metade de 2011 para 50%-80% desde o começo desse ano.

O maior nível de produção doméstica, somado com a demanda relativamente fraca dos consumidores, direcionaram as importações da Coreia do Sul para baixo com relação ao ano anterior. De fato, as importações totais de carne bovina declinaram em 22% nos primeiros cinco meses de 2012 comparado com o mesmo período do ano anterior. Entretanto, a carne bovina importada pode, ainda, manter a participação de mercado na parte inferior do mercado considerando sua vantagem de preço.

A questão da EEB nos Estados Unidos gerou incertezas com relação às importações de carne bovina da Coreia. Importantes varejistas coreanos temporariamente pararam de vender carne bovina americana em maio após a descoberta de EEB na Califórnia. Entretanto, no final de junho, a Coreia parou com suas inspeções especiais que durou dois meses às importações de carne bovina dos Estados Unidos, retomando a prática normal de conduzir avaliações em amostras 3% das importações.

O Rabobank acredita que o panorama para as exportações à Coreia do Sul continuará complicado pelo resto do ano devido à liquidação do rebanho que vem sendo feita – e o consequente aumento na oferta doméstica de carne bovina – e deverá continuar durante a segunda metade de 2012, pressionados por uma quantidade excessiva de animais de mais de dois anos de idade e maiores custos dos alimentos animais. Os abates totais em 2012 deverão ser 20% a 30% maiores do que em 2011.

Indonésia

A Indonésia reduziu a cota de importação de gado vivo para 283.000 cabeças em 2012 com relação às 520.000 cabeças em 2011. A cota de carne bovina encaixotada (boxedbeef) caiu para 34.000 toneladas em 2012, de 50.000 toneladas em 2011. De acordo com o Meat and Livestock Australia (MLA), as importações de carne bovina pela Indonésia declinaram 17% no primeiro trimestre de 2012 com relação ao ano anterior devido às restrições nas licenças de importação.

As menores importações e as ofertas limitadas de fontes domésticas resultaram em um aumento de preços na Indonésia. Os preços da carne bovina doméstica no país aumentaram 7,6% com relação ao ano anterior no segundo trimestre de 2012 e 1,7% com relação ao trimestre anterior. Com o mês do Ramadã começando em 20 de julho, um aumento de preços pode ser esperado até o final desse período, à medida que a demanda aumenta. Os produtores buscarão vender o rebanho durante esse período, mas as ofertas podem não ser suficientes para conter os preços. Independentemente do Ramadã, os preços da carne bovina na Indonésia aumentaram consistentemente desde julho de 2011, aumentando 8% com relação ao ano anterior. A tendência de alta nos preços também indica desafios estruturais que a indústria doméstica de carne bovina está enfrentando para suprir a demanda. A escassa oferta de gado, junto com os maiores preços dos alimentos para animais, podem reduzir as margens dos confinamentos. Com a demanda crescendo em conjunto com o crescimento econômico e a oferta estando relativamente limitada, os preços continuarão elevados.

A Indonésia continua perseguindo sua ambição de autossuficiência em carne bovina até 2014. O país espera reduzir sua dependência das importações de gados da Austrália.  Com o crescimento da produção não conseguindo acompanhar o ritmo da demanda, a diferença entre demanda/oferta continua aumentando, mantendo os preços a níveis elevados. Com o atual crescimento no consumo, existem desafios significantes para de conseguir autossuficiência e um esforço mais focado, especialmente na parte de cria da cadeia de fornecimento, é necessário.

Fonte: Rabobank, traduzido e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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