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Rabobank: agflação – preços mundiais dos alimentos ainda atingirão recordes

1) Preços dos alimentos aumentarão ainda mais

O próximo ano provavelmente verá a economia entrando novamente em um período de agflação (inflação na agricultura), à medida que os estoques de grãos e oleaginosas declinam para níveis criticamente baixos, pressionando o Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para cima dos recordes nominais registrados em fevereiro de 2011.

O alto preço dos alimentos foi desencadeado pelas secas em várias regiões produtoras, liderados pela seca nos Estados Unidos, a pior desde 1936. No final de agosto, as condições severas de seca cobriram mais de 42% dos Estados Unidos. Como resultado, a produção de grãos e oleaginosas em 2012/13 provavelmente terá uma redução de mais de 8% com relação ao ano anterior, dos níveis já baixos. Apesar da maior área plantada, a Rússia também sofreu com a seca neste ano. Ainda, a La Niña impactou nas colheitas da América do Sul no primeiro trimestre de 2012.

Esses impactos, combinados com baixa previsão para a produção de grãos na Austrália, aceleraram a tendência de redução nos estoques no complexo de grãos e oleaginosas e pressionaram os preços das commodities agrícolas próximos a recordes. Os estoques globais de grãos e oleaginosas deverão diminuir pelo terceiro ano consecutivo e os maiores preços dos alimentos ainda precisarão suprir as necessidades para uma redução na demanda global.

O modelo do Rabobank sugere que o Índice de Preços dos Alimentos da FAO aumentará outros 15% dos níveis de 31 de agosto de 2012 para 243 pontos em 30 de junho de 2013. O índice de julho teve aumento de 6% após os preços terem caído durante os quatro meses anteriores, apesar do índice ter estagnado em agosto.

O Rabobank espera que os futuros aumentos no Índice de Preços dos Alimentos da FAO sejam mais rápidos em curto prazo, com os preços dos alimentos devendo aumentar 12% com relação aos níveis de 31 de agosto até o final de 2012 e o crescimento desacelerar 2% para a primeira metade de 2013. Picos dos preços dos alimentos, de acordo com as estimativas atuais do Rabobank, deverão ocorrer durante a transição do segundo/terceiro trimestre em 2013.

Como resultado das secas nos países exportadores e do rápido crescimento da demanda nos países em desenvolvimento, os estoques globais de trigo, arroz, milho e soja deverão cair para 19,6% em 2012/13 – somente 0,4% acima dos níveis de 2007/2008. Os estoques dessas importantes commodities caíram 14% nos oito anos até 2007/08. Apesar do período de mudanças de preços permanecer incerto, o Rabobank acredita que o Índice de Preços de Alimentos da FAO fornece um indicador útil para os preços pagos pelos consumidores mundiais pelos alimentos, e dá uma indicação de como os preços das commodities agrícolas podem se traduzir em preços locais.

Os preços da carne e dos lácteos, que compreendem 52% do Índice de Preços dos Alimentos da FAO, são os principais direcionadores da previsão do Rabobank para maiores aumentos nos preços dos alimentos. Os preços do boi gordo (gado pronto para o abate – CME Cattle) e  do boi magro (gado de  pronto para confinar – CME FeederCattle) deverão aumentar 6% e 8%, respectivamente, durante o mesmo período. O aumento de preço nesses mercados são atrasados em relação ao mercado de grãos devido à natureza posterior da indústria, em que as empresas precisam se ajustar aos maiores custos dos alimentos para animais. Isso envolve reduzir o tamanho do rebanho animal, incialmente criando um excesso de oferta, que, então, leva a maiores preços à medida que as ofertas caem.

O preço dos grãos e das oleaginosas não deverão ter influência direta para maiores movimentos nos preços dos alimentos, com os preços médios dos grãos aumentando 6% em 30 de junho de 2013, compensado pela queda nos preços da soja na bolsa de Chicago (CBOT), que o Rabobank espera que caia quase 12% durante o mesmo período. Divergências entre os preços do grão e das oleaginosas são direcionadas pela importância relativa da América do Sul no complexo de oleaginosas, onde uma boa colheita deverá aliviar parte da pressão nos preços direcionada pela oferta.

2013 será diferente de 2008

O aumento no preço mundial dos alimentos deverá racionar os alimentos para animais, diferentemente da escassez de grãos básicos como ocorreu em 2008. O Rabobank estima que os estoques mundiais de grãos e oleaginosas cairão para somente 71 dias de uso até o final de 2012/13, comparado com 70 dias em 2007/08. Apesar dos dois eventos parecerem similares, a expectativa é que a pressão social pela disponibilidade de alimentos será reduzida, à medida que os consumidores mudam o consumo de proteínas animais para grãos básicos – um opção não disponível em 2007/08 devido à escassez severa de trigo e arroz.

Analistas do Rabobank indicam que os estoques mundiais de soja em 2012/13 cairão para apenas 73 dias de uso (-6 com relação ao ano anterior), enquanto os estoques de milho cairão para menos de 51 dias de uso (-4 que no ano anterior). Esses números se comparam a 83 dias e 62 dias, respectivamente, em 2007/08. À medida que o declínio nos estoques da estação está concentrado em milho e soja (muito usados na alimentação animal), a escassez do estoque pode ser aliviada através da redução do consumo de carnes e lácteos. Esses efeitos serão mascarados em prazo mais curto, à medida que as taxas maiores de abates temporariamente aumentam a oferta de carnes. O efeito em prazo mais longo reduzirá o tamanho dos rebanhos animais, que direcionará a queda na produção e os maiores preços. Diferentemente de 2007/08, os maiores preços se prolongarão dessa vez, mesmo se a maior produção aliviar a pressão nos fundamentos básicos dos grãos, à medida que os rebanhos levam tempo para se reconstruir.

A crise de 2008 demorou muitos anos para ser formada, com o declínio nos estoques do complexo de grãos e oleaginosas começando em 2000, à medida que os mercados emergentes e a demanda por biocombustíveis aceleraram o processo. A crise de 2008 foi um sinal de que não havia crescimento suficiente na produção ou investimento na agricultura para suprir a taxa de crescimento acelerado no consumo. A resposta subsequente de preço incentivou a maior colheita de grãos e oleaginosas registrada em 2008/09. Entretanto, a colheita recorde não foi suficiente para reconstruir os níveis reduzidos dos estoques à medida que o crescimento do consumo acompanhou o aumento na produção. No final das contas, os preços caíram e a produção também em 2010/11, estimulando outro aumento nos preços das commodities agrícolas. O declínio que ocorrerá nos estoques mundiais de grãos e oleaginosas reforça a tendência de longo prazo do consumo ultrapassando a produção, com a produção somente ultrapassando o consumo em cinco dos 13 anos comerciais desde a virada do milênio.

O consumo de carnes será significantemente mais afetado do que o consumo de grãos (por exemplo, pães), à medida que o racionamento da demanda será focado no complexo de grãos para alimentação animal. Uma consequência direta disso, devido ao longo ciclo de proteína animal e lácteos, será que os efeitos nos preços serão mais prolongados, à medida que os rebanhos (especialmente o bovino) demoram mais para se reconstruir. À medida que os rebanhos são liquidados, isso aumentará a oferta em curto prazo e reduzirá os preços. Em prazo médio ou longo, isso manterá a pressão de alta nos preços dos alimentos, à medida que as ofertas de carne e lácteos se contraem.

O baixo crescimento, os preços menores do petróleo e os níveis mais fracos de confiança dos consumidores provavelmente reduzirão o impacto dos maiores preços de alimentos nesse período. Essa é uma importante diferença comparado com 2007/08, à medida que não houve lacuna na produção nesse período e as amplas pressões inflacionárias direcionaram os preços dos alimentos para cima. O dólar dos Estados Unidos se desvalorizou 11% desde seu pico no final de 2008, que também ajudou a aliviar as pressões nos preços dos alimentos na primeira metade de 2012 em nações importadoras. Os preços do petróleo bruto estão menores do que em 2008, reduzindo a pressão de alta nos custos dos insumos, como fertilizantes ou combustíveis, que estão altamente relacionadas aos preços da energia e, dessa forma, aliviando parte da pressão nos preços das commodities agrícolas. Apesar disso, parte da pressão continua, com a moderada recuperação na economia dos Estados Unidos sendo registrada, forte crescimento nos mercados emergentes, tensões geopolíticas no Oriente Médio induzindo preços médios de mais de US$ 110 por barril para o petróleo durante os últimos 12 meses. Se o crescimento econômico aumentar e os preços do petróleo também, poderá haver mais pressão de alta nos preços das commodities agrícolas em 2013.

Efeitos regionais: Ásia, Oriente Médio e África do Norte reduzirão demanda

O Rabobank espera que a demanda dos mercados emergentes para proteína animal será mais afetada pelos maiores preços dos alimentos. Embora os altos preços devam ser sentidos principalmente nos setores de carne e lácteos e apesar de o mundo desenvolvido consumir uma porção desproporcional desses produtos, os alimentos representam uma participação menor do orçamento do mundo desenvolvido, com o consumo menos afetado com as mudanças de preços. Isso significa que a redução na demanda global será proporcionalmente maior no Oriente Médio, África do Norte e Ásia, onde a demanda é mais elástica e onde as rendas menores direcionam os consumidores a reduzir o consumo de proteína animal e leite a favor dos grãos.

Os maiores preços irão deter a tendência de longo prazo em direção às dietas de proteínas animais nas economias em desenvolvimento. O Rabobank espera que o mundo em desenvolvimento – com sua alta elasticidade de demanda, especialmente para carne – racione a demanda de importação de grãos, oleaginosas e carne mais pesadamente, levando a uma desaceleração no crescimento do consumo e até mesmo a uma queda durante o período em que os preços aumentam. No final das contas, a extensão desses aumentos de preços na estação para milho e soja provavelmente reduzirão o crescimento no consumo de carne nos próximos anos, em um movimento contrário à tendência de longo prazo de aumento no consumo de proteínas animais. Essa é uma forma de racionamento da demandae reduzirá a pressão nos balanços globais de grãos e oleaginosas.

A redução da demanda por carnes no Oriente Médio e África do Norte provavelmente cortará as importações de grãos em 9% com relação ao ano anterior em 2012/13. A elasticidade dos preços da carne nessas regiões é em média de -0,5, semelhante à da Ásia, mas provavelmente subestima a verdadeira sensibilidade aos aumentos de preços devido à alta renda, pequena população, em países como Kuwait. Entretanto, a redução na demanda de importação de grãos em alguns países (Marrocos é um desses casos) será limitada pela cautela pós primavera árabe, à medida que os maiores preços para os grãos comuns são comumente considerados como um catalisador importante para o tipo de inquietude vista nos últimos anos.

Para limitar o risco de outro período de inquietude social, os governos nessas regiões podem optar por manter os preços domésticos artificialmente baixos. Grandes reservas de moeda forte, geralmente derivadas da receita com exportação de petróleo, fornecem suporte às compras do governo. Apesar disso, o Rabobank espera que as regiões importem menos de 78 milhões de toneladas de grãos em 2012/13 – a menor quantidade desde 2007/08. As importações seriam ainda menores, mas a demanda base de importação aumentou devido aos menores rendimentos em 2011/12 nas áreas produtoras de grãos da África do Norte. Apesar de que demanda por grãos para alimentação animal deve cair, a importação de alimentos básicos continuará suportada, com a região mantendo uma participação de quase um terço nas importações globais de trigo.

A demanda na Ásia também deverá declinar, à medida que os maiores preços interagem com a alta elasticidade da demanda por proteínas animais, com grande parte da região não tendo politicas protecionistas. Apesar da região poder agir para adotar medidas mais protecionistas, o Rabobank acredita que os maiores preços dos alimentos irão reduzir o consumo de proteína animal e, dessa forma reduzir as importações de carne.

A elasticidade média do preço das carnes é de -0,52 na Coreia do Sul, Vietnã, Malásia e Indonésia. Mesmo se os governos tomarem medidas de protecionismo para encorajar as importações, conforme debatido pela Coreia do Sul no começo de agosto, o Rabobank espera que as importações de proteínas animais (principalmente as dos Estados Unidos) cairão, à medida que o setor doméstico de proteínas animais dos Estados Unidos está afetado pelos maiores custos. Deste modo, o Rabobank prevê que grande parte do declínio na demanda por alimentos animais dos Estados Unidos, e subsequente queda na produção de carne, acabará em uma queda no consumo da Ásia – moderando a tendência recente de aumento rápido nas exportações de carne dos Estados Unidos a essa região.

O racionamento da demanda deverá ser limitado na China, maior importador líquido de alimentos do mundo, com as importações líquidas de grãos e oleaginosas aumentando para novos recordes em 2012/13. Isso verá as importações líquidas aumentaram em 19%, para 89 milhões de toneladas em 2012/13, com as importações de soja sendo o maior direcionador da demanda – apesar das importações de milho e trigo também deverem aumentar. As importações de soja, das quais a China importa 70% do comércio mundial, deverão ser de 62 milhões de toneladas em 2012/13, 4% a mais que no ano anterior. Apesar dos maiores preços, são os governos, e não os consumidores, que enfrentarão os mercados internacionais, silenciando a transmissão dos maiores preços ao consumidor chinês. A capacidade do Governo chinês de agir rapidamente foi exemplificada pelo anúncio em 21 de agosto de que a China redistribuiria cotas não usadas de 2012 aos importadores comerciais de trigo, milho, arroz, açúcar e algodão (não existe cota para soja). Isso sinaliza o desejo do Governo da China de que as importações continuem. Os preços domésticos chineses para milho e soja ficaram acima de US$ 8,00 por bushel e US$ 16,00 por bushel, respectivamente, desde o começo de 2011. Dessa forma, o choque de preço do recente aumento deverá ser mais benigno, com o recente aumento nos preços internacionais vendo eles ganharam (mas não suprirem) maiores preços chineses.

A pressão inflacionária doméstica também será aliviada pela queda nos preços dos ativos, à medida que o Shanghai CompositeEquity Index, que caiu 14% desde seu pico em maio de 2012, está correlacionado, com um atraso de nove meses, à inflação dos preços. Essa relação entre o preço do patrimônio e a inflação nos preços dos alimentos sugere que os efeitos de prosperidade podem direcionar parte do comportamento do consumo das famílias chinesas. Menor prosperidade percebida pode, no entanto, moderar o crescimento no consumo per capita de carne.

A demanda de áreas desenvolvidas importadoras geralmente não responde à mudanças nos preços dos alimentos. Europa e Japão são o segundo e o terceiro maiores importadores de grãos e oleaginosas globais, respectivamente. Eles também são as únicas economias desenvolvidas incluídas nos 30 maiores importadores mundiais. A demanda por grãos nesses países é tão inelástica que a resposta às mudanças de preços é estatisticamente zero – embora uma maior elasticidade na carne deverá resultar em algumas reduções no consumo de proteína animal.

Apesar da baixa elasticidade de preços, o Rabobank espera que a demanda no Japão e na Europa desacelerarão marginalmente, com os usuários finais de importação agindo para proteger seus lucros através de reduções dos estoques, mas de qualquer forma, no final das contas capaz de passar os maiores preços aos consumidores. Entretanto, as consequências de longo prazo da inflação do preço dos alimentos podem ser particularmente visíveis na Europa, potencialmente aumentando a pressão nos governos para revogar as barreiras nas colheitas geneticamente modificadas ou para reverter as leis de biocombustíveis. A estagnação do crescimento econômico fornece um suporte adicional a essa hipótese, à medida que consumidores conscientes com os custos têm mais chances de reagir aos maiores preços da carne, aumentando a popularidade de politicas que aumentam a produção de grãos e reduzem os preços.

Os maiores custos dos alimentos para animais terão um impacto substancial na indústria pecuária dos Estados Unidos, mas o consumo doméstico de carne será menos afetado. Os Estados Unidos têm a menor elasticidade no preço da carne do mundo, com o consumo tendo a menor probabilidade de cair em resposta aos maiores preços. Entretanto, os efeitos no complexo pecuário dos Estados Unidos serão extensivos e, apesar da demanda doméstica inelástica, as exportações de carnes deverão cair. Os Estados Unidos se tornaram exportador líquido de proteína animal em 2006, com aumentos rápidos na demanda da Ásia direcionando as exportações para cima em 14% por ano desde então. A demanda relativamente inelástica nos Estados Unidos deverá ver essa tendência revertida em 2013, com as importações de carne aumentando enquanto as exportações caem à medida que outros países não são capazes de dispor de maiores preços que os exportadores dos Estados Unidos demandarão. Essa tendência pode aumentar devido ao aumento dos estoques de grãos à medida que outras nações protegem as indústrias domésticas e o consumo, suportando as exportações de grãos e oleaginosas dos Estados Unidos, enquanto desacelera o complexo de exportação de proteína animal.

Por fim, o Rabobank espera que os efeitos dos maiores preços globais dependerão da sensibilidade politica do aumento dos preços, bem como do tamanho das reservas de governos estrangeiros. O Rabobank acredita que grande parte dos países que são os maiores importadores será capaz de estabilizar os preços domésticos implementando programas de compras domésticas, que poderão compensar os efeitos dos maiores preços domésticos e amortecimento do consumo doméstico. Grãos, oleaginosas e carne representam pelo menos 20% da renda em nações em desenvolvimento – um dado que expande-se para 27% quando o consumo de peixes e lácteos são incluídos -, o que significa que um aumento nos preços das commodities terá um impacto maior nos orçamentos familiares nessas regiões comparado com os países desenvolvidos. Com os alimentos representando uma grande parte dos gastos, especialmente na Ásia, os aumentos nos preços dos alimentos poderá possivelmente ter efeitos em cadeia no crescimento da demanda de outras commodities e nos gastos dos consumidores mais amplamente.

2) Preços agrícolas globais subirão de novo

Os preços globais dos grãos e oleaginosas estão apresentando seu maior aumento em apenas cinco anos, à medida que uma combinação de clima adverso e demanda robusta mantém os estoques em níveis recordes baixos. Como frequentemente ocorrem em importantes aumentos dos preços agrícolas, em 2012, o desencadeador foi o choque na oferta induzido pelo clima. Isso tem sido suportado por um período sustentado de fortalecimento na demanda por commodities agrícolas; ao mesmo tempo, os níveis de estoques não foram capazes de serem recuperados. Durante as últimas cinco safras, os baixos estoques de grãos e oleaginosas deixaram o mercado sem nenhum tampão para condições adversas de crescimento. Esse é um problema de curto e longo prazo, pois a resposta da oferta em curto prazo foi incapaz de suprir a demanda em longo prazo para grãos de alimentação animal e a rápida aceleração na demanda mundial por biocombustíveis ocorrida na última década.

O principal catalisador do atual aumento nos preços agrícolas tem sido as secas devastadoras nos Estados Unidos, América do Sul e Rússia, que reduziram as expectativas de produção de grãos e oleaginosas. A produção de milho dos Estados Unidos agora deverá cair 29% abaixo das expectativas iniciais do USDA, um declínio de 14% com relação ao ano anterior e o menor nível em nove anos, apesar das plantações recordes nessa estação.

Muitas comparações foram feitas com a seca devastadora de 1988, quando a produção de milho caiu 31% com relação ao ano anterior. Entretanto, de acordo com os registros de calor e precipitação, os danos à colheita desse ano podem ser ainda mais severos. As precipitações de junho a agosto e o calor no centro dos Estados Unidos, onde a maioria das colheitas é produzida, provavelmente resultará nas piores condições para produção desde o Dust Bowl (com pico em 1936) e a terceira pior em um século. O modelo de colheita do Rabobank indica que poderá ainda haver uma queda considerável das atuais previsões oficiais de produção, que refletem nossas tendências de que os preços provavelmente não alcançaram seu ponto alto nessa estágio da estação.

Os contratempos na produção desta estação podem não estar limitados aos Estados Unidos, com uma série de importantes regiões sofrendo condições adversas em 2012. As secas na América do Sul e na Rússia, junto com monções abaixo da média na Índia, questões de doença na China e algumas condições secas na Austrália Ocidental, impactaram negativamente na produção mundial de grãos e oleaginosas nessa estação. O Rabobank espera que o clima adverso dessa estação cortou mais de 165 milhões de toneladas do balanço global de grãos e oleaginosas. Isso junto com os níveis já escassos de estoques, apoia a necessidade de racionamento da demanda no setor global de grãos e oleaginosas. O consumo global de milho provavelmente declinará com relação ao ano anterior pela primeira vez em 17 anos. Entretanto, o uso total de grãos provavelmente excederá a produção pela sétima vez em 14 anos.

Preços das commodities agrícolas permanecerão altos por algum tempo

O Rabobank espera que os preços das commodities agrícolas atinjam seu pico entre o quarto trimestre de 2012 e o primeiro trimestre de 2013, à medida que as previsões de novas colheitas no Brasil e na Argentina estão mostrando sinais de tendências de rendimentos sendo alcançados para milho e soja. Além desse período, o Rabobank antecipa uma redução nos preços se as condições climáticas normalizarem e os níveis dos estoques mundiais possam se recuperar. Entretanto, a expectativa é que os preços se mantenham acima dos níveis médios de longo prazo, a menos que haja um importante choque de demanda no mercado, como uma mudança politica importante (por exemplo, biocombustíveis) ou uma recessão global.

Os contratempos na escala de produção nessa estação apoiarão a necessidade por uma quantidade quase sem precedentes no racionamento da demanda. O Rabobank acredita que essa será uma tarefa muito mais difícil do que as margens atuais de produção animal e de etanol sugeririam.

A demanda estabelecida, efeitos de feedback dos aumentos no preço das proteínas animais, margens de produção restritas nos setores de suínos e bovinos e a lei do etanol nos Estados Unidos (Padrão de Combustível Renovável – RFS, da sigla em inglês) provavelmente significarão que os elevados preços das commodities agrícolas serão necessários durante todo o ano comercial e além dele para limitar suficientemente o uso nos Estados Unidos e global.

Vários fatores chave deverão suportar a demanda doméstica dos Estados Unidos, reduzindo a disponibilidade mundial de exportação e dando suporte aos preços em 2012/13. Um deles é o fato de os consumidores dos Estados Unidos serem capazes (e historicamente dispostos) a pagar preços mais altos pela proteína animal. O USDA estimou que os Estados Unidos tem a demanda por carne mais inelástica do que qualquer outro país.

A queda no uso do milho para produção de etanol também diminui um terço de bushel dos grãos secos de destilaria (DDG) da ração para cada bushel usado para etanol – intensificando o uso de farelo de soja e milho em rações animais. A expectativa é de que haja perda de 4,5 milhões de toneladas com relação ao ano anterior na produção de DDGs de alta proteína no ano comercial de 2012/13. O maior custo de aumentar a produção agrícola, que é vital para a reconstrução dos estoques globais, está crescendo mais e suportando um maior equilíbrio nos preços das commodities agrícolas.

Maiores preços das commodities agrícolas são necessários para estimular uma maior produção na América do Sul, região do mar Negro e Estados Unidos em curto prazo. Os altos preços dos fertilizantes, que estão relacionados com os altos preços da energia, continuam sendo um custo importante da produção de commodities agrícolas. Outros aumentos nos custos de produção, como melhores tecnologias de sementes e mais arrendamentos de terras, também aumentarão os obstáculos para a lucratividade rural e demandarão maiores preços como um incentivo para investir em uma maior produção. Além disso, o grosso dos ganhos potenciais na área cultivada está em países com elevados riscos políticos. Apesar dessas oportunidades para construir a produção, é improvável que esses estoques sejam recuperados em somente uma safra, com estações consecutivas de condições favoráveis e maiores plantios requeridas para aliviar as pressões dos baixos níveis de estoque dentro do complexo global de grãos e oleaginosas.

Os riscos climáticos permanecem, com maior preocupações na Rússia, Índia, Austrália Ocidental, suportando os preços do trigo e limitando a quantidade de substituição de trigo por milho nas rações animais globais. As substituições do trigo em rações tem sido um importante fator de mitigação para redução nas ofertas de milho nos últimos 12 meses. Entretanto, os riscos climáticos estão ameaçando a produção em importantes regiões produtoras de trigo, como Rússia, onde a produção de trigo agora foi prevista para cair 30% com relação ao ano anterior. Considerando a magnitude da queda na produção de trigo na Rússia, existem estimativas menores sobre o excedente de exportação disponível As restrições às exportações provavelmente virão na forma de uma barreira ou na Rússia importando trigo de Cazaquistão, removendo a região do Mar Negro do mercado internacional.

Os preços das commodities agrícolas em longo prazo deverão ser suportados por um maior número de eventos climáticos extremos que continuam prejudicando a construção de estoques. O clima extremo reduz a capacidade de produtores globais de responder à maior demanda, com o estresse térmico durante períodos críticos de verão compensando as maiores áreas plantadas e o maior abandono pré-colheita. Os choques de preços como resultado dos baixos estoques de grãos e oleaginosas provavelmente continuarão por causa do clima adverso. Consequentemente, o Rabobank espera que os preços das commodities nos mercados futuros reflita maiores riscos pelo clima durante as fases iniciais da estação de cultivo. Isso será especialmente evidente durante a primeira metade do ano, quando as culturas de verão do Hemisfério Norte estão sendo plantadas.

Racionamento da demanda atinge biocombustíveis e indústrias de proteína animal

O racionamento da demanda por grãos e oleaginosas deverá ser mais forte na indústria de etanol doa Estados Unidos, onde o uso do milho deverá cair 11% com relação ao ano anterior em 2012/13. Apesar da produção de etanol e de proteína animal dos Estados Unidos em curto tempo serem ambas relativamente inelásticas, a escala da seca dos Estados Unidos causará diminuição significante na demanda em ambas as indústrias, visando conter a escassez nos grãos para alimentação animal. É importante notar que o Rabobank vê declínios no uso de etanol acontecendo dentro dos limites da lei do etanol, ditadas pelas necessidades das refinarias de gasolina, com mais declínios possíveis (mas não prováveis) se a lei for ou não dispensada em curto prazo.

O uso de milho e soja global para alimentação animal deverá declinar 6% com relação às estimativas iniciais do USDA para 2012/13, apesar de ainda dever aumentar 1% com relação aos níveis de 2011/12. O Rabobank espera que o racionamento da demanda incialmente será mais evidente na menor produção de etanol nos Estados Unidos e, então, à medida que a cobertura de proteção declinar no primeiro trimestre de 2013, no setor de proteína animal da América do Norte. A produção de etanol permanecerá uma característica dos Estados Unidos, apesar de que essa diminuirá pela primeira vez em 17 anos em 2012/13. Existem indicadores de que essa redução pode começar logo, com as atuais margens de produção do etanol próximas ao pior valor da história da indústria.

A demanda mundial para consumo de alimentos para animais praticamente não se altera com choques de preços no curto prazo, com a demanda global aumentando em 36 dos 47 últimos anos e somente declinando em 5% com relação ao ano anterior em duas ocasiões, em 1974/75 e 1988/89. Esta continua sendo a parte mais difícil do balanço para se prever. À medida que as decisões geopolíticas estratégicas, incluindo estoques, tarifas e barreiras às exportações, determinarão quanta força é colocada nas principais nações exportadoras de grãos e oleaginosas – sendo a maior delas ainda os Estados Unidos. O Rabobank espera um comércio global combinado de soja e milho de 191 milhões de toneladas em 2012/13, 4% a mais que no ano anterior, impulsionado pela demanda de soja pela China. Isso colocará mais pressão na situação do choque interno dos Estados Unidos e, no final das contas, nos preços aos consumidores. Este será o caso dos estoques do governo aumentaram e a baixa elasticidade da demanda significar aumentos de preços necessários nos Estados Unidos como resultado.

A menor produção de soja nos Estados Unidos e a subsequente evidência de uma demanda inelástica na China sugerem que preços maiores são necessários para racionar a demanda em 2013. Os preços para farelo de soja e óleo de soja também aumentaram, mantendo pressão nas margens e direcionando a demanda de importação para a China.

O Rabobank espera que os maiores preços para produtos de soja (a nível do consumidor) são inevitáveis nos mercados abertos, com ajustes à produção dos Estados Unidos devendo levar a uma queda de 175 milhões de bushels com relação ao ano anterior, para 1,530 bilhão de bushels em 2012/13. As importações de soja da China continuam aumentando, alcançando 5,87 milhões de toneladas em julho de 2012, 10% a mais que em julho de 2011, antes do declínio de 2% com relação ao ano anterior em agosto, para 4,42 milhões de toneladas. A expectativa é que preços próximos ao recorde precisam ser sustentados à medida que a oferta no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos cai no começo de 2013.

Como as perdas na produção de milho não podem ser totalmente compensadas pela demanda por etanol nos Estados Unidos, o Rabobank espera que o uso do milho para alimentação animal será reduzido em 400 milhões de bushels com relação ao ano anterior, para 4.150 milhões de bushels em 2012/13. O Governo dos Estados Unidos introduziu um pacote de alívio da seca de US$ 383 milhões, principalmente para a indústria pecuária, que equivale a menos de 46 milhões de bushels de milho aos atuais preços. Embora demonstre o alcance do suporte por trás da indústria pecuária, isso equivale a apenas 1% do uso de milho da indústria no ano comercial de 2011/12. Isso terá pouco ou nenhum efeito na escada do racionamento da demanda realizado em 2012/13. No entanto, muitos produtores pecuários têm hedges atualmente em prática, a força das pressões de mercado são extraordinárias, com os rebanhos dos Estados Unidos devendo ser liquidados em um ritmo acelerado na primeira metade de 2013.

Impactos de segunda ordem – efeitos indireto

O Rabobank acredita que os novos registros sendo feitos nos preços do grão e das oleaginosas terão efeitos prolongados em uma série de cadeias de fornecimento de alimentos. Em curto prazo, espera-se uma pressão significante em partes rapidamente processadas do complexo global de grãos e oleaginosas. Em termos mais longos, e mais importantes, os maiores preços sustentados e as defasagens nos ajustes na produção de proteína animal pressionarão os preços das carnes e dos lácteos para cima, levando os efeitos da seca de 2012 para 2013 e 2014.

Proteína animal

Os produtores globais de proteínas animais estão enfrentando aumentos imediatos e significantes nos custos dos alimentos animais, que deverão impactar na oferta das próximas estações produtivas e levar a maiores preços da carne. O setor de proteína animal se tornou mais sofisticado com bloqueio nos custos dos insumos e o Rabobank acredita que politicas organizadas de proteção resultarão em uma demanda resiliente por alimentos animais em curto prazo. Conforme antecipado, os elevados preços permanecerão pelas próximas duas safras, e a produção de animais necessitará declinar suficientemente em médio prazo, de forma que os preços possam aumentar para compensar os maiores custos. A necessidade de conter a demanda de carne até que os estoques possam ser reconstruídos será negativa para a indústria de proteína animal. O Rabobank espera que as menores margens levarão a oferta de proteína animal para uma base menor, um cenário de baixa em longo prazo que poderá resultar em rebanhos reduzidos à medida que o crescimento econômico e a demanda aumentam.

A mudança anual na oferta de grãos é contrastada por um ciclo de rebanhos de vários anos, que resulta na necessidade de um novo balanço nas próximas duas safras. Isso deverá resultar em uma contração dos rebanhos e pressão negativa nas margens, mas aumento nos preços das carnes à medida que o nível da produção de carnes cai. Além disso, a oferta de milho para a América do Norte e outros produtores de proteína animal é limitada devido à competição da indústria de etanol, que absorve aproximadamente 40% da produção de milho dos Estados Unidos.

O ciclo bovino tem anos de duração, tornando ajustes rápidos a condições de mercado impossíveis. A produção mundial de carne bovina tem estado bastante estagnada por muitos anos e o Rabobank não espera que a seca nos Estados Unidos cause mudanças. No começo do ano, o Rabobank viu um potencial para expansão do rebanho bovino de cria dos Estados Unidos, mas com a seca nas Planícies dos Estados Unidos, isso não é mais possível devido às condições ruins de pastagens. Além disso, os altos custos do milho reduzirão os preços do gado em curto a médio prazo, o que inibirá a expansão do rebanho. Os altos preços do milho também deverão limitar a capacidade dos países, como Indonésia, que estão tentando se tornar mais autossuficientes na produção de carne bovina.

Fonte: Rabobank, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

2 Comments

  1. Odilson L. Ribeiro e Silva disse:

    Excelente estudo!

  2. celso costa disse:

    parabéns!!!

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