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Quebra de safra gaúcha se aprofunda

Com o começo da colheita da soja e mais da metade da área de milho já colhida, as perdas provocadas pela estiagem no Rio Grande do Sul, terceiro maior Estado produtor de grãos do país, se mostram maiores do que inicialmente projetadas e tendem a crescer diante da perspectiva de que as chuvas só voltarão ao Estado no fim da próxima semana.

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) estimou na terçafeira que a redução da produção gaúcha de grãos como um todo em relação ao ciclo passado será de quase 9%, para 28,7 milhões de toneladas. A projeção inicial do órgão era que a colheita alcançaria 33,7 milhões de toneladas, 7% mais que em 2018/19. As perdas estimadas até agora deverão gerar uma queda do valor da produção no Estado de pelo menos R$ 5 bilhões.

A retração mais expressiva deve ocorrer na colheita de milho, que deverá alcançar 4,7 milhões de toneladas, recuos de 18,2% ante a temporada passada e de 21,2% em relação à projeção inicial. Em janeiro, a Emater já indicava que a quebra era irreversível e iria superar 20%. “Se a falta de chuva persistir, as perdas podem tranquilamente chegar a 25%”, afirmou o agrônomo Rogério Mazzardo, gerente técnico da Emater/RS.

Ele ressaltou que, além da falta de chuvas, as altas temperaturas prejudicam o desenvolvimento das lavouras. Assim como acontece agora na soja, as plantações de milho amargaram períodos em que a chuva é essencial – floração e desenvolvimento do grão – sem uma gota de água.

Até a semana passada, 50% da área destinada ao cultivo do cereal no Estado, calculada pela Emater/RS em 783,3 mil hectares, já havia sido colhida. A produtividade deverá ser 22,3% menor que o inicialmente previsto e ficar em 5,9 mil quilos por hectare nesta safra. No ciclo passado, foram 7,5 mil quilos por hectare.

Para a soja, que lidera a produção de grãos do Estado, as perdas estão projetadas em 16,2% se considerada a estimativa inicial da Emater/RS. Se de fato a colheita chegar às 16,5 milhões de toneladas atualmente previstas, a redução ante 2018/19 será de 10,8%. De acordo com a Emater/RS, apenas na soja as perdas serão equivalentes a cerca de R$ 4 bilhões.

Para Décio Teixeira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), no entanto, a quebra poderá chegar a 35%. “Esse percentual já está se confirmando. Temos relatos de produtores colhendo 4 sacas, 14 ou 18 sacas por hectare, quando o volume habitual é de 60 sacas por hectare”, afirmou ele ao Valor.

Teixeira calcula que as perdas na soja deverão atingir 7 milhões de toneladas e que a colheita gaúcha ficará em 12 milhões de toneladas, enquanto a expectativa inicial era de 19,7 milhões. Mas ele lembra que quase 80% das lavouras da oleaginosa no Estado ainda estão em fase de enchimento de grãos e que o problema poderá se aprofundar.

De acordo com o agrometeorologista Marco Antônio Santos, da consultoria Rural Clima, até o fim da próxima semana a previsão é de tempo seco no Estado.

Secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Covatti Filho destacou, em nota, que “com a expectativa de não termos chuva nos próximos dias, a situação das lavouras pode ser agravada e o status pode evoluir de estiagem para seca”.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, confirma que a situação vem se agravando a cada dia. “Se persistir esse cenário, teremos um impacto grande. Mas, se as perdas pararem por aqui, ainda será possível uma safra boa, embora longe do recorde que esperávamos”, disse.

Fonte: Valor Econômico.

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