Optigen como alternativa aos farelos: confira os resultados em gado de corte
13 de julho de 2011
ARG: Governo irá condicionar Cota Hilton à venda de carne a preços populares no mercado interno
13 de julho de 2011

Qual a importância da tipificação de carcaças?

O Professor da Unicamp, Pedro Eduardo de Felício, iniciou sua palestra no Congresso Internacional da Carne, realizado em junho passado em Campo Grande/MS, explicando que devemos pensar na tipificação de carcaças porque na pecuária de modo geral existe muita diversificação, "existem bovinos de todo jeito".

O Professor da Unicamp, Pedro Eduardo de Felício, iniciou sua palestra no Congresso Internacional da Carne, realizado em junho passado em Campo Grande/MS, explicando que devemos pensar na tipificação de carcaças porque na pecuária de modo geral existe muita diversificação, “existem bovinos de todo jeito”.

Ele comentou que é sempre importante classificar o produto agrícola. “Já é uma tradição em muitos países classificar a matéria-prima e no Brasil esse tipo de prática já existiu, no passado o país já classificou sua carne para exportar para a Inglaterra. Seria muito importante para padronizar um pouco mais. Nós estamos em uma fase que a gente já produz muito e agora temos que começar a melhorar a qualidade do nosso produto”.

A primeira publicação sobre tipificação de carcaças nos EUA foi feita em 1910, já determinando classes e tipos de animal, lembrou de Felício, que é um dos maiores especialistas em carne de qualidade do Brasil. Segundo ele, esse sistema foi oficializado em 1926.

O documento descrevia o sistema da seguinte maneira: “As classes da carcaça bovina são, Steers (novilhos), Heifers (novilhas), Cows (vacas) e Bulls (touros). Esta classificação é baseada não apenas nas diferenças de sexo, mas também sobre os usos gerais a que estão adaptadas. Dentro das quatro classes, a carcaça é classificada como Prime, Choice, Good, Medium, Common e Canners”. Após esta classificação existe uma tabela de preços de acordo com o tipo de carcaça que está sendo entregue ao frigorífico. Segundo o professor, este sistema foi muito utilizado durante a 1ª Guerra Mundial pelo exército americano para comprar carne.

“Estamos só 100 anos atrasados em relação a eles, mas acredito que podemos adotar este tipo de sistema”.

Essas avaliações são feitas nas carcaças frias, após o rigor mortis e visam uma classificação para a venda de carne que acaba se refletindo também na compra do gado. Um dos problemas é que a adoção de um sistema de tipificação de carcaças exige a determinação de bonificações e penalidades, que podem causar certo desconforto na relação em frigoríficos e produtores, mas que podem ser resolvidos com a implantação de programa bem definidos.

“Hoje os EUA utilizam tipificação eletrônica, com equipamentos que conseguem fazer diversas análises na carcaça fria. Já no Brasil nenhum frigorífico faz esse tipo de análise”, frisou o palestrante.

Pedro de Felício citou ainda diversos modelos de sistemas que estão sendo usados em outros países produtores de carne bovina. “Na Argentina os frigoríficos fazem a tipificação, mas não pagam diferenciais de acordo com esta análise e o preço é tratado no momento da compra do gado, de acordo com a sua qualidade”.

“No Uruguai os frigoríficos levam a sério a tipificação de carcaças, mas também não pagam a mais por isso. Eles pagam apenas por marmoreio quando estão exportando para os EUA”.

“Em 1971, o Dr. Miguel Cione Pardi propôs um sistema de tipificação de carcaças baseado nos parâmetros exigidos na União Europeia (UE), pois ele acreditava que venderíamos nossa produção para a UE e tínhamos que trabalhar como eles”. Esse sistema pregava uma classificação pura e simples das carcaças que facilitaria o comércio com o mercado europeu. Resumidamente seriam identificadas raça, sexo, conformação da carcaça, acabamento, cor e peso. “Nesse sistema quem diferencia preços é mercado, ele só classifica as carcaças sem determinar o que é melhor ou pior”.

Felício avaliou que sistemas utilizados por outros países não devem ser copiados na íntegra, mas devem ser avaliados e adotado o que é melhor para o nosso sistema.

No Brasil, o Sistema nacional de tipificação de carcaças bovinas foi oficializado pela Portaria nº 612, que foi publicada no Diário Oficial de 10/10/1989. “Essa portaria foi criada para atender a Cota Hilton e depois o Programa do Novilho Precoce [que hoje está ativo no Mato Grosso do Sul e paga bonificações às carcaças que se enquadram nas exigências], mas ainda faz uma análise muito heterogênea”.

Segundo ele, outro ganho que a tipificação de carcaças pode trazer para a cadeia é que com ela podemos saber como anda nosso rebanho e como está o desenvolvimento da qualidade das nossas carcaças.

Pedro de Felício ressaltou ainda que não podemos colocar critérios relacionados a raça nos sistemas de tipificação de carcaças, principalmente se essas exigências discriminarem a maioria do gado de abate do país. “Isso é para marcas de carne”.

Segundo ele esses critérios não devem ser adotados até mesmo porque ainda não conhecemos todo o potencial do gado Nelore. De maneira geral “conhecemos um gado branco”. Como exemplo deste potencial ele citou um abate realizado pela Fazenda 3R, de Figueirão/MS, onde animais de 10 meses apresentaram um peso de carcaça quente de 203kg.

O palestrante ressaltou que hoje no Brasil já podemos encontrar diversas marcas de carne e citou exemplos como o Nelore Natural, o Programa Seara Angus do Marfrig e o Programa Swift Black do JBS, que estão buscando produzir carnes de qualidade para atender os anseios do consumidor.

Pedro de Felício finalizou sua apresentação lembrando que nos EUA a carne para ser considerada boa tem que ser gorda e isso é uma característica intrínseca do sistema de produção adotado por eles, já que grande parte dos pecuaristas norte americanos alimentam seu gado com milho. “Temos que estudar se queremos seguir por este caminho. Mas está claro que os frigoríficos tem que participar junto com pecuaristas e pesquisadores desta discussão e então investir em pesquisas para desenvolver uma tecnologia nossa de avaliação e depois capacitar a mão-de-obra”.

9 Comments

  1. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Concordo com o professor.

    Apenas acho que deveria haver diferenciação não por raça,mas por nível marmoreio e precocidade,se J1 e J2 ou se J3 e J4 de animais diferenciados de origens de cruzamentos industriais.

    E mesmo nas carcaças derivadas de nelores,deve se ter premiação para precocidade e conformações,porque Marca difere-se de Griffe.

    E Marca torna-se cada vez mais necessárias nos dias atuais,o mercado já entendeu isto.Carnes com Marcas e éticas para o dia a dia.

    É necessário estimular a mudança de criação,bem como a venda dos animais.A cada dia faz-se mais necessárias as parcerias pecuaristas e frigoríficos,ou vice versa,as relações começam a trilhar este caminho.

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

  2. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Meu DEUS!

    Que vídeo MA-RA-VI-LHO-SO!!!

    Parabéns a fazenda 3R aos seus donos,funcionários,parabéns ao professor,parabéns ao estado do Mato grosso do Sul,parabéns,parabéns!!!

    Quem gosta de lidar com carne,de vendê-la com honra ética,quem gosta de vender carne de qualidade,quem pensa um setor melhor,longe da bica corrida,e das carnes de vacas salameiras tratadas igualmente,muitas vezes,com carnes de carnes de qualidade superiores como se as mesmas coisas fossem.

    Emociona ver carcaças como estas de animais tão jovens,com conformação e cobertura de primeiríssima qualidade.

    Mais uma vez parabéns!

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

  3. Eladio Curado de Vellasco Filho disse:

    Parabéns André pelo Artigo! Brilhante a apresentação do Professor Pedro. O artigo mostra que classificação de carcaças no Brasil já está gerando benefícios ao consumidor final. Tenho certeza que esse caminho não tem volta.

    Abraço

    Eládio

  4. luiz gonzalez martins junior disse:

    excelente materia, mas primeiro, temos que resolver e conscientizar, a populaçao o que e qualidade, versus abate clandestino, que ainda e muito forte, e em alguns lugares totalmente sem controle(fiscalizaçao),  analisem estatisticas de alguns estados, verifiquem in-loco, sao alarmantes.

  5. Louis Pascal de Geer disse:

    Como sempre o que o Prof. Pedro de Felicio pense, fale e escreve cale qualquer um é particularmente sinto que é um crime em deixar um perito deste naipe na berlinda academica em vez de dar meios para que se resolve de vez este questão de classificação de carcassas no Brasil.

  6. Frank Yeo disse:

    Pedro de Felício é correto dizer que há muita diversificação na classificação das carcaças de bovinos. Eu acredito que a pecuaristas e as empresas frigorifico precisam trabalhar juntos neste programa. Minha experiência no Reino Unido, ondecarcaça classificação foi estabelecida desde a década de 1950 é que se realizou manual – avaliação do olho pode ser usado como um guia, mas é muito subjetivo paraser suficientemente precisas. A conformação visual da carcaça deve ser avaliada juntamente com o recorte da camada de gordura e isso nem sempre é o mesmo em frigoríficos  diferentes.

    Eu acredito que o Meat and Livestock Austrália (MLA) realizaram mais progressos para desenvolver o melhor programa. Isto é baseado na avaliação do rendimento de carne desossada da carcaça e da qualidade de que a carne – capa, marmorei o gordura e ternura. MLA desenvolveram a avaliação da carcaça inteira pelo cálculo do valor dos diferentes cortes na carcaça. Para realizar esta avaliação mais sofisticadada Frigoríficos precisam liderar o desenvolvimento, porque requer o poder do homeme custos adicionais para registrar essas informações.

    Há benefícios importantes através de pagamento por parte do frigorifico para o pecuarista para a quantidade exata de carne desossada e relacionar isto com a qualidade da carne. Este sistema  precisa estabelecer um método justo para diferenciar entre o valor de diferentes cortes de carne bovina, mas vai premiar pecuaristas de gado de alta qualidade e vai incentivá-los a produzir carne de qualidade superior.

    Certamente um benefício para a indústria de carne bovina brasileira como um todo.

  7. Evándro d. Sàmtos. disse:

    A receita do bolo,como envolver o pecuarista e fazê-lo parte do projeto, esta aqui:

    https://beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/entrevistas/leonel-almeida-fala-sobre-o-marfrig-club-73242n.aspx

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

  8. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Frank Yeo,

    Importante o seu comentário e se permite quero complementar com a constatação que um sistema de classificação de carcassa no Brasil so vai decolar quando produtores, industrias e o governo falam a mesma lingua como voce bem observou!

    O velho argumento de que a soma da classificação tem que ser equal a zero que foi sempre defendido pelo grande parte da industria frigorifico brasileira, sendo que o premio do bom tem que ser pago pelo mal, fusilou o assunto até o presente.

    O que está havendo é um premiação para os produtores escolhidos pela qualidade do gado fornecido que pode pegar até um overprice de 20% sobre o preço de arroba corrente.

    O Marfrig Club é uma tentativa bem sucedida de fidelizar os produtores atraves de assistencia tecnica e melhores preços no abate e com certeza o JBS tambem tem um esquema funcionando mais ou menos nos mesmos moldes.

    Pessoalmente sou favoravel a implantação de um sistema de classificação de carcassas simples e justo no Brasil que é um reflexo do valor economico do produto fornecido.

    Não adianta nada bonificar o produtor pelo gado fornecido quando isto não resulta em um overprice na hora da industria vender a carne.

  9. Peter Anderson de Freitas Oliveira disse:

    Muito interessante esta palestra, como trabalhei e fiz o curso de tipificação na época em que estive na Swift Armour no Rio Grande do Sul é muito importante este tipo de controle para melhorar a qualidade da carne. Todos que estão no processo devem estar com um mesmo objetivo.

plugins premium WordPress