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Proibição nos testes de cosméticos em animais e seu possível impacto na indústria de carnes

Vamos dar um crédito aos ativistas anti-indústria de carne: eles sabem como identificar assuntos que parecem benignos o suficiente para emudecer qualquer oposição. Então, eles usam seu sucesso para forçar a aplicação de sua agenda verdadeira. Aqui está uma questão que, à primeira vista, parece estar somente tangencialmente relacionada à produção pecuária: a proibição proposta aos testes de cosméticos em animais.

Não é verdade. Há uma campanha séria em curso para promulgar essa proibição nos Estados Unidos, que espelhariam as proibições colocadas em prática na Índia e na União Europeia (UE), e a estratégia que os proponentes estão usando fornece um estudo de caso sobre como os ativistas anti-carne pretendem avançar em sua agenda.

Deixe-me demonstrar o que quero dizer.

Quando o novo Congresso se reunir em janeiro de 2015, o congressista democrático de Virginia, Don Beyer, deverá tomar a liderança na questão dos testes com animais, de acordo com o USA Today. Beyer sucedeu o republicado aposentado, Jim Moran, que anteriormente patrocinou a legislação proibindo os testes de produtos cosméticos em animais e proibindo as vendas de quaisquer novos cosméticos se os ingredientes tiverem sido desenvolvidos usando testes em animais.

“Os Estados Unidos precisam ser líder mundial e não um seguidor”, disse Beyer em um de seus e-mails de campanha, embora Virginia seja local de várias companhias de cosméticos, como Tri Tech Laboratories em Lynchburg, um fabricante de produtos de cuidado pessoal. Embora essa proibição deva enfrentar resistência no Congresso, controlado por Republicanos, a oposição pode não ser tão arraigada quanto alguns observadores poderiam prever.

Por exemplo: mais de 140 companhias de cosméticos já apoiaram a proibição proposta, incluindo indústrias líderes como Body Shop e Paul Mitchell.

Agora, para aqueles que nunca participaram de eventos comerciais como o Beauty Expo USA ou o International Esthetics & Spa Conference, deixe-me compartilhar um pouco do cenário (eu participei como “observador”). Essas exposições são como um show de rock, com grandes nomes em destaque em palcos enormes e pessoas sendo porta-vozes dos produtos com toda intensidade. A única coisa que falta é um número 800 que você pode ligar na hora e receber o negócio especial.

Basicamente, esses promotores de marca estão vendendo aos proprietários de salões de beleza a ideia de que os produtos para cuidados “profissionais” do cabelo e da beleza são tão superiores aos produtos similares vendidos em drogarias e supermercados que eles podem se sentir bem em cobrar dos clientes até duas vezes o preço pelo xampu, condicionador e spray de cabelo.

Aqui mais um fato referente a qualquer discussão sobre o teste com animais: virtualmente todos os ingredientes usados em produtos de saúde e beleza já foram determinados como seguros quando usados conforme as instruções. Em outras palavras, os testes com animais não são uma questão para a maioria das companhias de cosméticos. De fato, o diretor executivo da Paul Mitchell disse que sua companhia proibiu o uso de ingredientes testados em animais há mais de 30 anos. Como ele pode fazer essa afirmação? Porque seus produtos usam ingredientes já determinados como sendo seguros como resultado de testes anteriores feitos em animais.

Proclamar corajosamente seu apoio pela proibição de testes com animais, dessa forma, não é nada diferente das pessoas falando em alto volume e com muita energia nas feiras comerciais da indústria da beleza.

Além disso, da mesma maneira que os grupos ativistas da causa animal buscam por “pontos fracos” para impulsionar sua agenda para frente – todos se lembram do referendo puramente simbólico proibindo baias de gestação em estados que não produzem suínos, como a Florida? – a proposta de proibir testes em animais para cosméticos representa uma tática idêntica. A lei de Beyer é meramente mais um passo em direção ao objetivo final dos ativistas: proibir todos os testes em animais por serem cruéis, desumanos e desnecessários.

A diretora executiva do Humane Society Legislative Fund, Sara Amundson, confirmou essa estratégia, dizendo ao USA Today que a lei é um “marcador” para construir um suporte político, seguido por um “esforço sustentado de lobby” que os ativistas planejam buscar em 2015.

A propósito? O Humane Society Legislative Fund, apesar de sua tentativa de pegar carona na marca “Humane Society”, não é classificado pelo Charity Navigator ou nenhuma outra agência de inspeção de organizações sem fins lucrativos. Por que não? Porque a organização é registrada como uma 501 (c)(4) não lucrativa, o que significa que as contribuições ao grupo não são dedutíveis, uma vez que sua missão é política, e não de caridade.

Amundson, sobre esse ponto, disse que os proponentes da proibição tentarão retratar a lei como uma medida pró-negócios. “Se as companhias dos Estados Unidos tiverem que cumprir com o que já está transpirando na UE, seria bom garantir que não houvesse nenhuma barreira comercial”, disse ela.

Boa tentativa. O verdadeiro objetivo dessa lei é segmentar um aspecto menor da vasta quantidade de pesquisas biomédicas atualmente conduzidas em laboratórios em todo o país e, então, usar a proibição nessa área como um trampolim para propostas futuras proibindo usos de animais para pesquisas médicas, farmacêuticas e outras pesquisas científicas.

Você aprovaria testar uma vacina contra o Ebola em animais antes de administrar em pacientes humanos? Os ativistas fariam o público acreditar que essas medidas de segurança são desnecessárias, que todas as drogas poderiam ser testadas para segurança e eficácia simplesmente usando uma “modelagem computacional”.

Porém, se eles falarem exatamente essas palavras, não iriam a lugar nenhum. Então, assim como os ativistas da causa animal que tentam transformar o país em vegetariano, eles vão atrás dos proverbiais frutos mais baixos, apoiando pontos que não são realmente um problema onde as proibições e restrições somente afetam marginalmente a indústria e os consumidores.

É uma tática efetiva, mas cada passo nessa estrada acaba em um lugar muito perturbador.

O artigo é de Dan Murphy, jornalista e comentarista da indústria de alimentos, publicado na Drovers.

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