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Programas para sincronização de cio em receptoras de embrião – 1

As descobertas recentes ocorridas em relação aos aspectos da fisiologia da reprodução em bovinos, aumentaram as expectativas e possibilidades sobre a capacidade de contribuição das fêmeas no melhoramento genético da espécie. Com estes conhecimentos, novas biotecnologias tiveram sua utilização viabilizada na prática, tanto econômica quando na forma de aplicação. A transferência de embriões (T.E.) é uma destas tecnologias. Esta técnica desenvolve-se rapidamente na pecuária bovina brasileira. Com ela, o melhoramento genético pode ser efetuado com mais rapidez e eficiência, mesmo em pequenas populações de animais, com a disseminação do material genético de uma fêmea zootecnicamente superior. Embora a técnica de transferência de embriões em bovinos tenha evoluído consideravelmente no Brasil, nos últimos anos, ainda alcança um percentual pouco expressivo de rebanhos leiteiros e de corte.

O custo de implantação e manutenção do programa de transferência de embriões é a principal limitação para uma maior difusão desta técnica. Com os custos e resultados atuais, a transferência de embriões somente vai apresentar relação custo-benefício viável em rebanhos cujos animais tenham um grande valor comercial, para que o valor dos produtos possa compensar os custos de produção.

Dentre todos os aspectos de custos relacionados a TE, a aquisição e manutenção de receptoras ocupa lugar de destaque. Além do valor de aquisição, somente a manutenção anual, considerando os custos de hospedagem (pastagem), mineralização, vacinações, controle de ectoparasitos, oscila entre R$ 150,00 e 200,00/cabeça, caso não seja fornecida qualquer suplementação adicional.

Estes valores indicam a necessidade da utilização racional das receptoras num programa de TE. Esta categoria deve ser utilizada assim que estiver em condições para receber o embrião. Para tanto, os protocolos e esquemas de sincronização de cio devem ser bastante eficientes.

Não existe uma regra padrão, ou mesmo um protocolo ideal que seja o melhor, nas diferentes condições de manejo e criação existentes no Brasil. É necessário que o técnico, de acordo com diversas características da propriedade, opte por aquele de melhor relação custo-benefício.

Basicamente a necessidade da sincronização de cio das receptoras em relação às doadoras é imprescindível na técnica de TE para que o embrião retirado do útero da doadora 6 a 8 dias após seu cio (e inseminação), encontre na receptora um ambiente uterino o mais semelhante possível. Para isto a receptora deve ter manifestado cio também entre 6 a 8 dias antes de receber o embrião.

Existem vários protocolos, utilizando diferentes hormônios para sincronizar o cio das receptoras. Onde se dispõe de grande número destas, pode-se optar, caso possível, pela utilização dos cios naturais. Neste caso a rotina de transferências deve ser intensa e o número de receptoras, compatível. Na maioria das vezes é necessário concentrar as manifestações de cio das receptoras em períodos adequados para que estas possam receber os embriões. Esta concentração é possível com a sincronização dos cios.

Outra questão importante seria diferenciar sincronização de indução de cio. Sincronização seria controlar o próximo cio. Se falamos de um “próximo cio” obviamente deve existir um anterior (que pode ter sido observado ou não). Induzir o cio seria fazer uma fêmea que ainda não está ciclando, entrar em cio. Embora alguns protocolos possam ter esta ação, para receptoras de embrião o cio decorrente de indução geralmente fornece resultados não satisfatórios. Desta forma, para que a sincronização de cio tenha bons resultados, o animal deve estar ciclando (entrando em cio), previamente.

As principais variáveis que vão condicionar a seleção e o sucesso do protocolo de sincronização são as seguintes:
– Número de animais existentes, já ciclando, e o número necessário de sincronizados.
– Qualidade da observação de cios, antes e após o protocolo de sincronização.
– Histórico reprodutivo anterior (cio anterior) de cada animal.
– Avaliação correta de cada animal assim como aplicação adequada dos produtos

Figura 1: Observação diária de cios é uma das condições para o sucesso da sincronização.


Existem basicamente duas grandes classes de protocolos de sincronização de cio. Ambas podem ter algumas pequenas variações porém podemos dividir em: 1) Protocolos que utilizam luteolíticos e 2) Protocolos que utilizam progesterona (ou progestágenos) associados aos luteolíticos. Discutiremos separadamente cada um deles.

1) Sincronização de cio com luteolíticos

A sincronização do estro através da aplicação de agentes luteolíticos, como a prostaglandina F2a (PGF2a) ou seus análogos, tem sido amplamente utilizada no manejo reprodutivo de animais em monta controlada, inseminação artificial ou em processo de transferência de embriões (TE), técnica na qual a sincronização do estro de doadoras e receptoras é imprescindível. Trata-se de um método prático, de custo pouco elevado (em comparação com as outras formas de sincronização) e que induz um estro de fertilidade comparada ao natural. Contudo, o número de animais efetivamente em estro após o tratamento, ou seja, a eficiência da sincronização, pode constituir uma das limitações deste procedimento, particularmente em programas que utilizam a sincronização em larga escala, se não há observação previa dos cios.

Com relação à fisiologia reprodutiva da fêmea bovina, além da necessidade do animal estar apresentando atividade ovariana cíclica, o período do ciclo estral no qual o mesmo se encontra no momento da aplicação é de grande importância. Os luteolíticos são substâncias que promovem uma luteólise prematura, ou seja, uma regressão artificial e precoce do corpo lúteo. Sua eficiência depende da presença e estágio de desenvolvimento do corpo lúteo. O período do ciclo estral no qual o animal se encontra no momento da aplicação do luteolítico pode afetar a eficiência do tratamento. Entre os dias 0 e 5 do ciclo, a resposta aos luteolíticos é nula, e aumenta progressivamente entre os dias 6 e 10, com elevação paralela nos resultados de sincronização. Do 12o dia do ciclo até o período da luteólise fisiológica, que ocorre entre o 16o e o 18o dias, a resposta aos análogos sintéticos da prostaglandina é máxima, em conseqüência do maior número de receptores para PGF2a no corpo lúteo.

O ideal é que os luteolíticos sejam aplicados em uma fêmea que apresentou o ultimo cio entre 6 e 17 dias. Antes deste período não funciona bem e após este a aplicação não é necessária, pois o próprio animal estará produzindo a prostaglandina, e entrará em cio espontaneamente.

O problema é que boa parte dos programas de TE não possuem informações prévia das datas dos cios dos animais, sendo impossível selecioná-los para aplicação da prostaglandina, aplicando o produto somente naqueles com condições reais de resposta. Uma alternativa, não tão eficiente seria solicitar os serviços de um Médico Veterinário com capacidade para avaliar os animais e indicar quais estariam possivelmente sensíveis, no momento da aplicação do luteolítico.

Avaliamos recentemente a eficiência destes dois métodos. A seleção de animais para sincronização pelo dia do ciclo estral e pela avaliação por palpação retal. Os resultados estão na tabela 1.

Os animais foram selecionados para a sincronização de duas formas. No grupo 1, (n = 385) os animais foram observados previamente em estro e se encontravam no momento da aplicação entre os dias 7 e 16 do ciclo estral. No grupo 2 (n =321) não se considerou o histórico de estros anteriores, e os animais foram avaliados por palpação via retal e selecionados em função da presença de um corpo lúteo morfologicamente característico em um dos ovários. Os animais receberam a mesma dose de luteolítico no dia que foi realizada a seleção via palpação retal.

Após a aplicação do produto os animais foram mantidos em piquetes, na presença de rufiões preparados pela técnica de aderência de pênis. Foram feitas duas observações visuais diárias de estro, com duração de 30 minutos cada. Considerou-se o reflexo de imobilidade como indicativo do estro. Somente foram considerados os animais que manifestaram estro até 96 horas após a aplicação do luteolítico, para ambos os grupos.

Tabela 1: Eficiência média de sincronização de estro e tempo médio entre aplicação e início do estro em animais selecionados pelo dia do ciclo estral ou por palpação retal (Fernandes et al, 2004).


A eficiência média de sincronização considerando ambos os grupos, pode ser considerada satisfatória. Os valores obtidos estão dentro da faixa de variação descrita por vários autores que utilizaram sistemas de sincronização semelhantes. Os resultados expressos na Tabela 1 mostram que a seleção pelo dia do ciclo estral (Grupo 1) foi mais eficiente que aquela realizada por palpação retal e identificação de um corpo lúteo (Grupo 2) para o manejo de animais em sincronização de estro.

Figura 2: O corpo lúteo. Estrutura ovariana onde agem as prostaglandinas (luteolíticos).


No Grupo 2 provavelmente existiam animais que embora com corpo lúteo presente, este se encontrava numa fase pouco sensível, ou mesmo sem nenhuma sensibilidade ao agente luteolítico. A triagem dos animais pela palpação via retal pode não ser eficiente para estimar a fase do ciclo estral e portanto a sensibilidade do corpo lúteo à PGF2a.

A sincronização pela aplicação de luteolíticos é sem dúvida um dos métodos de menor custo, porém os animais respondem a estes produtos somente em determinados períodos do ciclo. A eficiência melhora sobremaneira quando se aplica em animais sabidamente em períodos sensíveis.

Desta forma, é importante considerar como alternativa de manejo, no sentido de se melhorar a eficiência dos programas de sincronização, um esquema de observação diária de cios e implementar um programa de escrituração onde a seleção dos animais sensíveis seja fácil. Pode-se pensar que este sistema é difícil, porém funciona muito bem, quando se considera a real importância desta atividade. Além de manter a atividade de observação de cios como uma “rotina” na propriedade, os custos de implantação e manutenção são facilmente compensados pela melhor eficiência, pela economia de medicamentos e pela necessidade de manutenção de menor animais para um mesmo propósito.

Outros protocolos de sincronização serão discutidos na próxima parte deste artigo.

0 Comments

  1. Mauro Leonardo Rodrigues da Silva disse:

    Gostaria de saber como foi a aplicação deste luteolítico. Se foi Intravulvar (1 ml) ou intramuscular (2 ml). Há comentários de que foi realizado um trabalho na Bahia em que a aplicação de 1 ml de prostaglandina IM surte mesmo efeito do que 2 ml IM, contrariando o mecanismo de contra-corrente da luteólise.
    Outra questão é a porcentagem de prenhez com apenas luteolítico e com progestágenos e luteolíticos. Qual é mais eficaz e qual a diferença de custo?
    Sem mais aguardo resposta
    Mauro

  2. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes disse:

    Mauro

    Não é possível comparar uma certa dose aplicada em um local com outra dose aplicada em outro. Caso hovesse diferença esta seria pela dose ou pela via de aplicação. Não ha como responder. No trabalho em questão estamos falando de aplicação intramuscular de dose normal de luteolítico.
    Para comentar sobre qualquer trabalho relacionado a luteólise é imprescindível saber exatamente sobre como este trabalho foi feito, distribuição de animais nos lotes etc, etc.
    Pelos trabalhos recentes e nossa experiência não existem diferenças relacionadas a taxa de prenhez. Quando ao custo de cada animal sincronizado, com o uso do implante de progesterona é maior. Porém qual técnica utilizar depende de uma série de fatores. Não é possível afirmar que existe um protocolo ideal para todas as situações.

    Carlos Antonio de Carvalho Fernandes
    Med.Vet. D.S.
    Diretor – Biotran

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