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Programa Nutricional Para Confinamento de Bovinos de Corte: influência na qualidade de carcaça

A primeira grande pergunta sobre o tema acima descrito é: por que confinamos? Muitas respostas aparecerão, tais como evitar perda de peso na estação de baixa oferta/qualidade de forragem, encurtar o ciclo de produção promovendo antecipação do capital aplicado, intensificação de área destinada a recria/engorda visando aumentar rentabilidade da área explorada, melhorar a qualidade da carne produzida, pois é, até isto podemos fazer!

A primeira grande pergunta sobre o tema acima descrito é: por que confinamos?

Muitas respostas aparecerão, tais como evitar perda de peso na estação de baixa oferta/qualidade de forragem, encurtar o ciclo de produção promovendo antecipação do capital aplicado, intensificação de área destinada a recria/engorda visando aumentar rentabilidade da área explorada, melhorar a qualidade da carne produzida, pois é, até isto podemos fazer!

Como a intensificação sabidamente levará a um melhor retorno sobre capital investido (principalmente na região sudeste/sul e muito provavelmente centro-oeste), focaremos o confinamento como meio de melhorar alguns atributos de qualidade de carcaça.

A qualidade da carne é medida por diversas características, tais como: maciez, suculência, sabor. Inadequação da maciez foi avaliada recentemente pela Auditoria Nacional de Qualidade de Carne (USA), naquele mercado, como o segundo maior problema, representando perdas comerciais da ordem de U$ 7,64/animal abatido. Pesquisas indicam que a característica maciez e seus cortes possuem uma variação excessiva, segundo raças e cruzamentos, grau de acabamento, idade e também, não menos importante o tratamento pós abate.

Um programa nutricional que busca maciez passa obrigatoriamente pela definição de ganhos superiores a 1,1 kg/animal dia (desmame/abate), este ritmo acelerado de crescimento levará a formação de feixes musculares com colágeno solúvel, sendo a solubilidade do colágeno responsável por boa parte da característica de maciez, outro fator curioso é que o colágeno também pode modificar sua solubilidade quando os animais passam por períodos de ganho compensatório, ou seja, em nossa condições onde boa parte dos animais provêem de pastagens com ganhos diários abaixo de 1,1 kg, ao ingressar em plano nutricional superior, um nível alimentar geralmente superior a 2 (somatória da energia de manutenção + ganho, dividido pela energia de manutenção), o ganho compensatório certamente ocorrerá e trará um beneficio adicional pouco conhecido por quem produz animais confinados.

Outro componente essencial para a maciez é a quantidade de gordura na carcaça (quadro 01) e sua porção intramuscular. A gordura intramuscular é responsável por suculência, cheiro e maciez da carne, a cobertura de gordura na carcaça é fundamental para manutenção da qualidade, pois a quantidade mínima de 3 mm é requerida para que o resfriamento da carcaça ocorra de maneira lenda evitando escurecimento da carne e redução de sua maciez, conseqüência do encurtamento das fibras musculares.

Uma das formas de se avaliar a quantidade de gordura intramuscular é através da medida da espessura da cobertura de gordura no músculo Longissimus dorsi (contra-filé) tomado ente a 9ª e 11ª costela, quanto maior a espessura de gordura maior será o percentual de gordura intramuscular (marmoreio). Nos EUA as carnes mais premiadas são aquelas cujas carcaças apresentaram espessura de gordura superior a 14mm, no Brasil são aceitos valores entre 3 a 10 mm. A gordura intramuscular tem alterações segundo raças, peso de carcaça e plano nutricional.

Quanto ao plano nutricional, temos que levar em conta que diferentes propostas de ganho de peso, produzem composição do ganho também diferentes. É comum tratarmos ganho de peso como uma coisa só, ou seja analisando ganho de peso vivo diário, ou ganho médio diário, entretanto a deposição de ossos, músculo e gordura são diferentes segundo planos nutricionais diferentes. Alta participação de concentrado na dieta geralmente proporciona maiores ganhos de peso e consequentemente maiores quantidades de gordura na carcaça, pois a composição do ganho em planos nutricionais com objetivos superiores favorece a deposição de gordura. Isto explica em boa parte o tipo de dieta usada por confinamentos nos EUA, uma vez que os maiores prêmios (US$) são para carcaças mais “gordas”.

Trabalho interessante foi conduzido por Pethich et al., 2001 (tabela 01), que analisou a quantidade de gordura intramuscular depositada em animais sob dois sistemas de terminação: a pasto com suplementação e confinados. Observa-se que o plano de alimentação dos animais confinados é mais eficiente para deposição de gordura intramuscular, e que a mesma sempre aumenta a medida que aumentamos o tamanho de carcaça abatida. Sendo assim mercados que pagam por este tipo de atributo, induzem a um sistema de terminação em confinamento fechado e um plano nutricional menos conservador.

O peso inicial na entrada do confinamento, em nossas condições, terá muito a ver com a disponibilidade ou não para áreas de recria. De qualquer forma o desempenho, medido em ganho de peso, será sempre maior para os indivíduos que adentrarem dentro de um confinamento com a estrutura esquelética formada e idade cronológica maior.

Entretanto a qualidade da carne, medida segundo parâmetros de maciez e composição de gordura, tenderá sempre a favorecer os animais com ingresso antecipado, isto quando as diferenças de idade forem bastante distintas. No quadro 02 podemos notar o efeito do peso de ingresso sobre as diferenças de ganho de peso, de indivíduos terminados com a mesma qualidade de carcaça. Esta eficiência explica a recomendação de ingresso de peso vivo superior a 250 kg, para novilhos no sistema super precoce.

Atualmente várias pesquisas estão sendo desenvolvidas avaliando também a nutrição e seus efeitos na carcaça após o abate, entre estas linhas de pesquisa os estudo de altas doses de vitaminas D3 e vitamina E tem apresentado resultados bastante promissores quanto a incremento de maciez e preservação dos cortes de carne. No tocante a preservação das características, a descoloração da carne fresca é resultado da oxidação da gordura e pigmentos musculares (mioglobina e oximioglobina) devidos a exposição ao ambiente (O2), este processo é iniciado com 30 minutos de exposição, afetando drasticamente a coloração da carne quando 70% da mioglobina é oxidada, adquirindo um tom marrom.

A Associação Nacional de Criadores de Bovinos de Corte (USA), estima que o uso da tecnologia de altas doses de vitamina E na dieta de terminação pode recuperar US$ 0,32/kg de carne nas vendas internacionais e até US$ 1,00/kg de carne vendida domesticamente. O quadro 3 dá mostra do resultado de uma das pesquisas avaliando doses de vitamina E na nutrição de bovinos de corte.

Tabela 3. Efeito do consumo de 500 UI vitamina E/animal dia, durante 180 dias pré abate, sobre a cor de rib steaks bovino comercializados embalados com filme plástico e armazenados sob 2,50C por quatro dias.

Clique na imagem para ampliá-la.

Conclusão

Em um mundo competitivo produtores e indústria muito em breve darão as mãos para maximizar oportunidades. A compreensão de que qualidade será fator de permanência na atividade e não diferenciação, tocará a todos nós e a compreensão dos meios e métodos para obtê-la estará cada vez mais em nossa discussões.

Como balancear adequadamente dieta para bovinos?

A pergunta acima é precedida por outras mais: Qual o objetivo/meta do criador? Qual melhor época para abate dos animais? Qual a raça envolvida? Na situação especifica existe pagamento diferenciado por qualidade de carcaça? Existe disponibilidade de grãos a um custo atrativo? Enfim, uma série de perguntas para o delineamento da proposta a ser apresentada.

O primeiro grande dilema a ser enfrentado é que a melhor performance biológica pode em alguns casos não corresponder ao melhor retorno financeiro, sendo assim não existe receita mágica e o caminho do bom senso é imperativo. De qualquer maneira esta pergunta será respondida conceituando a parte técnica do problema, principalmente relativos aos requerimentos nutricionais.

Os requerimentos de minerais, vitaminas, proteína e energia, seguem mudanças segundo prioridades cronológicas (vide figura acima). Sendo assim a dieta, independentemente da avaliação do ganho tenderá a modificar-se entre as fases compreendidas pelo nascimento e maturidade, onde por maturidade pode-se entender idade/peso no qual o animal cessa a deposição de tecido muscular, ou mesmo por um outro conceito no qual a maturidade é expressa quando o animal atinge 25% de tecido adiposo em sua carcaça, momento no qual passa a inverter a taxa de deposição do tecido muscular e adiposo. Como o custo energético para deposição de gordura é 2,3 vezes superior a deposição de proteína, entende-se por que a campo os animais em final de engorda são criados sob as melhores pastagens e por que da alteração da dieta em confinamento quando os animais geralmente ultrapassam de 480 kg (animais de média maturidade).

Componente essencial dos tecidos, a quantidade de gordura na carcaça e sua porção intramuscular é responsável por suculência, cheiro e maciez da carne. A cobertura de gordura na carcaça é fundamental para manutenção da qualidade, mínimo de 3 mm é requerido para que o resfriamento da carcaça ocorra de maneira lenta evitando escurecimento da carne e redução de sua maciez, conseqüência do encurtamento das fibras musculares. Analisando o escore corporal ( 0 a 9) pode-se visualmente identificar a posição de acabamento de um animal pré abate e determinar se está apto para o mercado a que se destina. Tomando como base o valor de 25% de gordura na carcaça, observa-se que os animais seriam corretamente abatidos com uma condição corporal próxima a 06/07(vide tabela 01).

Tabela 01 – Composição química do peso vivo em jejum sob diferente condição corporal (escore 1 – 9)

Somando-se os diferentes programas nutricionais existentes, correta avaliação de alimentos, avaliação entre formulado e oferecido dificilmente o tema se esgotaria em poucas páginas. Fica no momento as noções mais básicas, ou seja, a compreensão de que em biologia a cada ciclo existe um inicio e um fim, e no meio desta história um nutricionista.

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