Veterinária e gerente do Programa Carne Pampa da Associação Brasileira de Criadores de Hereford e Braford (ABHB), Fabiana Rosa de Freitas defende o constante aprimoramento do produtor rural, envolvendo também a área administrativa das propriedades. Pós-graduanda em Gestão do Agronegócio, ela explica que o médico veterinário de hoje está, também, atrás de um computador, gerenciando dados e números. A propriedade rural é uma empresa, ressalta, e, como tal, deve estar sempre se aprimorando.
Qualidade e rentabilidade devem andar juntas para manter a competitividade do produto local, sobretudo diante das transformações que ocorrem na economia mundial. Diante disso, garante ela, a certificação é uma ferramenta estratégica de mercado e gestão, garantindo maior rentabilidade e abertura de novos mercados em potenciais.
A raça Angus também criou seu próprio processo de certificação como forma de incentivo no campo e consumo nos restaurantes, supermercados e butiques de carne. O selo Angus Sustentabilidade atesta a adoção de boas práticas de sanidade e bem-estar animal, responsabilidade social e rastreabilidade, além de outras características que conferem o patamar premium à raça. Lançado em junho deste ano, o programa está vinculado a uma certificadora externa, a alemã Tüv Rheinland, empresa referência em processos produtivos nos cinco continentes.
Para receber o selo, os produtores devem seguir um protocolo específico, que envolve 100% dos animais rastreados; animais com, no mínimo, 50% de sangue Angus; e propriedades rurais que atendam a padrões e critérios de sustentabilidade, entre outros. A associação envia técnicos que irão acompanhar os processos nas fazendas, além de orientar os produtores sobre as boas práticas.
Depois disso, tem início o processo de auditoria local com os representantes da Tüv Rheinland, que irão conferir, além do processo produtivo propriamente dito, a preservação de vegetações nas nascentes e em área de reserva natural, descarte adequado de embalagens vazias de defensivos agrícolas e de medicamentos, uso de queimadas monitoradas, plano de recuperação de áreas degradadas, contratação de funcionários devidamente registrados e medidas antiestresse animal.
A raça Devon, através da Associação Brasileira de Criadores de Devon (ABCD), assinou neste mês de agosto parceria com o Frigorífico Famile, de Pelotas, para a produção de carne certificada no Rio Grande do Sul. A presidente da Associação Brasileira de Criadores de Devon, Simone Bianchini, avalia que o mercado gaúcho vinha pedindo os cortes Devon certificados há algum tempo. “Para a ABCD é um passo muito importante, afinal é o Rio Grande do Sul que tem o maior rebanho Devon e o maior número de criadores do Brasil”, diz. Até então, a carne Devon Certificada era exclusividade do mercado catarinense.
A certificação também colabora com um aspecto importante: desconstrói o argumento de que a pecuária pode colaborar com o prejuízo ao meio ambiente ou com o aquecimento global. Os programas de qualidade servem como estratégia para combater a tendência de redução de consumo por razões sanitárias, saúde ou modismo. Entre os benefícios do selo está a comprovação da produção de uma carne bovina ‘ecologicamente correta’, orgânica e saudável.
“É nosso dever desmistificar essas ideias de que a pecuária não é benéfica ao meio ambiente ou à saúde. A carne é altamente proteica, colabora com a formação neurofisiológica das crianças, é rica em vitaminas E e B, em ferro e zinco, e colabora com a absorção de nutrientes”, lembra Fabiana, para quem as críticas quanto à produção de gás carbônico devem ser desconstruídas. “A carne é um alimento muito rico e é produzida dentro de rigorosas exigências sanitárias e de sustentabilidade”, garante.
Por que buscar uma certificação?
– Garante melhor remuneração aos produtores de bovinos e incentiva a expansão das raças;
– Garante ao consumidor um produto cuja procedência é de qualidade racial e que os processos de abate e manipulação de cortes foram realizados sob rigorosas condições de higiene e resfriamento, obedecendo às normas sanitárias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com fiscalização realizada por vigilância sanitária federal ou estadual;
– Responder às exigências do consumidor é fundamental para a sobrevivência e competitividade das empresas, possibilitando adequação de produtos a diversos mercados;
– Desenvolve a imagem de qualidade da carne produzida pelos produtores da raça, trabalhando em conjunto com a indústria e o varejo, disponibilizando uma carne saudável e saborosa;
– Permite a abertura de novos mercados e nichos de consumo;
Permite difusão de conhecimento entre os criadores comerciais da raça;
– Orienta o produtor sobre condições de manejo e boas práticas sanitárias, técnicas de conservação e existência de trabalho em condições dignas na propriedade;
– Mantém o enquadramento no padrão racial do programa e a procedência genética dos animais, incentivando o uso de reprodutores, matrizes ou sêmen de reprodutores registrados;
– O respaldo de uma entidade que não participa da relação comercial entre produtor e indústria assegura a correta bonificação aos animais entregues à indústria;
– Valoriza a indústria, por acompanhar rigorosamente o processo na planta frigorífica.
Fonte: Jornal do Comércio.