Mercados Futuros – 16/08/07
16 de agosto de 2007
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20 de agosto de 2007

Profissionalismo na engorda de bovinos confinados

No início da década de 70, o Estado de Iowa possuía a maior quantidade de animais confinados nos EUA, sendo responsável pela terminação de quase 20% do rebanho americano. Um artigo interessante publicado por uma universidade de Iowa em 2006 discutiu alguns dos fatores que resultaram na grande mudança do volume de gado confinado nessa região para a região centro-sul do país, em meados da década de 70 (Lawrence, 2006).

No início da década de 70, o Estado de Iowa possuía a maior quantidade de animais confinados nos EUA, sendo responsável pela terminação de quase 20% do rebanho americano. Um artigo interessante publicado por uma universidade de Iowa em 2006 discutiu alguns dos fatores que resultaram na grande mudança do volume de gado confinado nessa região para a região centro-sul do país, em meados da década de 70 (Lawrence, 2006).

A maioria desses confinamentos sobrevivia da engorda de animais de investidores localizados em diversas partes do país (assim como a maior parte dos confinamentos americanos ainda continua fazendo na atualidade). O Estado de Iowa contava com menores preços de grãos quando comparados com a região sul do país, o que poderia garantir competitividade e lucro para os mesmos e para seus clientes. No entanto, pecuaristas abandonaram suas parcerias com os confinadores de Iowa e iniciaram parcerias para terminação de animais no Texas, Kansas, e Nebraska, onde novos confinamentos estavam sendo construídos devido à condições de clima e disponibilidade de água, dentre outros fatores.

O aumento na disponibilidade de animais causado pela vinda desses parceiros alavancou o processo que originou a concentração de atividades de engorda nesses outros Estados, que mais tarde tornaram-se o maior pólo confinador do país. Em seguida, os frigoríficos migraram para a mesma região, o que só piorou as coisas para Iowa. O que todos ficaram a se perguntar foi: Qual foi o problema com os confinadores de Iowa?

Lawrence (2006) menciona um estudo realizado nos anos 80 que mostrou que os confinadores de Iowa não se portavam de forma profissional e não conseguiram competir com o profissionalismo dos confinamentos da região centro-sul. Os confinamentos de Iowa não tinham condições de fazer uma avaliação econômica adequada, uma avaliação do lucro precisa, e tampouco conseguiam garantir um bom retorno econômico para o investidor.

Diversos desses confinamentos não faziam pesagem da quantidade de ração ofertada aos animais e portanto não tinham controle sobre o consumo. Quando questionados pelo motivo que os levou a tentar outros Estados, pecuaristas também reclamaram de diversos fatores tais como gerenciamento e alto custo de ganho. Houve grande reclamação quanto aos serviços oferecidos, e os mesmos deixaram claro que estavam decididos a enviar animais para outros lugares no país para usufruir de uma melhor qualidade de serviço.

Como é possível garantir o profissionalismo em um confinamento? Como é possível conquistar e manter um investidor? Em primeiro lugar o profissionalismo vem com o gerenciamento adequado. O gerenciamento do dia-a-dia de um confinamento é a base do seu sucesso.

Confinamentos bem gerenciados fazem tudo da mesma forma, sempre. São consistentes em como e quando alimentam os animais, são consistentes em como os cochos são lidos todos os dias, nos horários de trato e de leitura de cocho, etc. Os ingredientes são os mesmos definidos pela formulação e são misturados da mesma forma todos os dias. Os mesmos currais são tratados no mesmo horário todos os dias e os animais são inspecionados sempre de acordo com os mesmos critérios. O tratamento de todos os animais doentes segue o mesmo protocolo. Animais são recebidos e processados da mesma forma.

É verdade que essa consistência pode ser prejudicada por uma troca constante de funcionários. Logo, esforços são sempre feitos para se manter um manual com descrições dos serviços e tarefas diárias para novos funcionários.

O confinamento que mantém controle detalhado de informações que são cruciais para a viabilidade da operação, sejam esses dados de produção ou econômicos, garante resultados previsíveis e consistentes aos seus clientes. Os números armazenados diariamente devem ser confiáveis, checados com freqüência, e utilizados para cálculo de desempenho técnico e econômico dos animais.

No entanto, essas informações de nada valem se não forem utilizadas para o monitoramento do progresso da atividade, para avaliação dos anos anteriores, para caracterização geral do próprio confinamento, ou para serem usados como ferramentas nas tomadas de decisões para os anos seguintes.

Instalações também são importantes. Confinamentos devem ser projetados para permitir o máximo desempenho dos animais e garantir segurança aos funcionários. Os currais devem possuir um ambiente de estresse mínimo, com proteções quanto ao calor (sombras podem ser recomendadas) ou frio (quebra-ventos). Esses currais devem ser bem drenados, com boa manutenção para redução de poeira e barro. Os troncos, bretes e a área de trabalho em geral devem ser projetados para manejo dos animais com o mínimo de estresse. Funcionários devem possuir boas condições de trabalho, oportunidade de crescimento e treinamento adequado. Essas oportunidades mantém os bons funcionários, e confinamentos com uma menor taxa de rotatividade de mão-de-obra são aqueles que apresentam melhores resultados.

Quando o parceiro pecuarista visitar o confinamento pela primeira vez, aquela é a única chance de se fazer a tão chamada primeira boa impressão. Geralmente o primeiro contato com o cliente será feito através do telefone, quando o mesmo irá fazer suas primeiras perguntas sobre os serviços oferecidos. Nesses primeiros contatos, é importante que exista um atendimento profissional.

Ao receber o cliente, a aparência do confinamento, do escritório e do pessoal também fazem a diferença. Por exemplo, um cliente que observa desperdício de ração no chão (possivelmente tendo caído do caminhão ou, principalmente, caída próxima ao cocho) sabe que é ele quem vai pagar pela mesma, mesmo estando fora do cocho. Detalhes como a limpeza da fábrica de ração, o excesso de moscas, a pintura e a manutenção dos currais, dentre outros, também devem ser observados.

É importante discutir com o cliente sobre os animais que os mesmos têm disponíveis. Comentários sobre esses animais serão sempre bem-vindos. Projeções de desempenho adequadas e o uso de ferramentas como o mercado futuro evitam grandes surpresas, e são importantes para o planejamento do cliente. O parceiro deve estar entusiasmado sobre a possibilidade de ganho econômico e, mais importante, deve realmente obter ganho econômico no final pois daí dependerá sua decisão de voltar a confinar ali novamente.

A forma como o confinamento é gerenciado está diretamente relacionada ao seu sucesso. Além de um gerenciamento de qualidade e profissionalismo, confinamentos também apostam em marketing para atrair clientes. Quando o cliente potencial é então atraído, os cuidados com a primeira impressão são imprescindíveis. Eficiência, tratamento adequado e comunicação clara com o cliente podem garantir a fidelidade do mesmo a longo prazo.

Leia mais em:
Lawrence, J. D. What Defines a Professional Cattle Feedlot? 2006. Disponível em:
http://www.iowabeefcenter.org/content/WhatDefinesAProfessionalFeedlot.pdf.

0 Comments

  1. Thiago Augusto Casotti disse:

    Esse crescimento do confinamento no Brasil exigirá profissionalização, uso de novas ferramentas administrativas, atualização em nutrição, já que a atividade envolve alto investimento.

    Parabéns pelo artigo.

    Thiago Augusto Casotti

  2. Estêvão Domingos de Oliveira disse:

    Excelentes observações.

    Acredito que a atividade de confinamento é imprescindível para a pecuária de corte moderna e competitiva. Pena que tão poucos sejam eficientes nesse processo.

  3. Jose Eduardo da Silva disse:

    O confinamento hoje usado estrategicamente é uma ferramenta fundamental na gestão das empresas rurais, pena que os empresários rurais ainda pensam como fazendeiros. Preferem levar prejuizos doque contratar consultorias que aumentam seus lucros.

  4. danilo nogueira disse:

    O profissionalismo faz-se determinante nesta atividade, principalmente considerando o risco deste tipo de empreendimento, confinamento que não emprega tecnologia, eficiência na gestão financeira, e visão de mercado, não se tornará competitivo no mundo globalizado em que vivemos.

  5. carlos fernando ferreira da silva disse:

    Tenho propriedade em Sairé/PE, tenho confinamento de bovinos e cria, recria, engorda de mestiços Nelore x Marqhigiana. Aproveito, para parabenizar a equipe que faz o BeefPoint pela grande quantidade de matérias dirigida ao nosso setor, tanto informando como ensinando.

    Abraços.

  6. CHRISTIANA T. FERRARI disse:

    Artigo muito apropriado e útil para a pecuaria brasileira. Considero também, tão importante quanto a adequação da rotina, da gestão e do trabalho padronizado o controle do gado confinado.

    Estou tentando implantar no meu confinamento um tipo de controle e monitoramento dos animais de forma que consigamos acompanhar o estoque de acordo com as entradas, saídas, nascimentos e óbitos dos animais confinados. Sim, temos como criar um modelo que satisfaça essa necessidade, mas, aceitamos sugestões!

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