Produtividade e viabilidade econômica na utilização intensiva de pastagens na região dos Cerrados

Marcelo Manella^1,2

Em tempos de vaca louca, a principal propaganda da carne brasileira é de que nosso “boi é de pasto”, e portanto, produzimos “carne verde”. De forma alguma discordamos destas afirmações, porém devemos salientar que, apesar do grande potencial de produção de bovinos a pasto no Brasil, a pecuária nacional ainda é ineficiente na exploração racional e eficiente das pastagens, como pode ser observado pelas baixas produções obtidas.

Estima-se que a produtividade média é de 30 kg carcaça/ha/ano, sendo isto cerca de 30% abaixo dos índices obtidos por propriedades que adotam alto nível tecnológico, que ainda assim estão abaixo da sua capacidade máxima de produção. Aguiar et al (2001) observam que a produtividade média de fazendas onde exploram-se pastagens cultivadas, a produtividade média é de 75 a 90 kg carcaça/ha/ano ou de 150 a 180 kg de PV/ha/ano. Segundo os autores, a literatura existente sinaliza que estes valores podem ser aumentados em pelo menos cinco vezes.

Com o elevado valor da terra, já há muito tempo existe a tendência das áreas destinadas a pecuária diminuírem o seu tamanho, forçando o produtor a intensificar a utilização racional das pastagens, aumentando, desta forma, a produtividade por unidade de área, bem como o giro de capital. Com isto, o objetivo dos trabalhos de Aguiar et al (2001) foram de avaliar o potencial de produção de carne e a viabilidade econômica em sistema de manejo intensivo de pastagens de pequenas e médias propriedades.

O trabalho foi realizado em Uberaba entre outubro de 1999 e novembro de 2000, em uma área de 9,12 ha, sendo 4 ha formados com Mombaça, 4 ha com Tanzânia e 1,12 ha com Tifton 85. As áreas de Mombaça e Tanzânia foram divididas em 12 piquetes e a de Tifton em 6 piquetes. O método de pastejo utilizado foi o rotacionado, com períodos de descanso variável entre 28 a 45 dias para os “Panicum” , e de 21 a 35 dias para o Tifton. Segundo os autores, as adubações foram feitas para alcançar taxa de lotação média de 4,2 UA/há (360kg/ha de nitrogênio, 76kg de P₂O₅, 90kg/ha K₂O e 32kg/ha de enxofre).

Foram utilizados animais das raças Guzerá e Tabapuã, entre outubro de 1999 a julho de 2000, quando a maior parte foi abatida e alguns enviados para o confinamento. Na fase final, de julho a novembro de 2000, foram utilizados animais de cruzamento industrial Nelore-Piemontês e Nelore-Limosin. Os animais foram suplementados apenas com sal mineral. Os resultados obtidos quanto à produtividade e à viabilidade econômica, são apresentados na tabela 1.

Tabela 1: Produção de carne e viabilidade econômica da intensificação da utilização de gramíneas tropicais

Fonte: Aguiar et al. (2001)

Os resultados mostram que a intensificação da utilização de pastagens tropicais propiciam ganhos, tanto por animal como por unidade de área mais elevadas que a média nacional. Segundo os autores, a estimativa média da lucratividade nacional para uma propriedade com cerca de 89 ha, com uma margem líqüida de cerca de R$100,00 a R$120,00/ha/ano, está bem abaixo dos obtidos no sistema apresentado. Fica claro que, apesar dos maiores investimentos para a intensificação, a rentabilidade do sistema é bastante interessante.

Durante o período das secas, houve diminuição nas taxas de lotação (dados não apresentados) em aproximadamente 50% das taxas obtidas durante o período das águas. Portanto, a utilização intensiva de pastagens deve fazer parte de sistemas de produção que permitem o ajuste da carga animal durante a seca.
A aplicação da tecnologia disponível na produção animal, especialmente a pasto, tem como objetivo aumentar a produtividade se a rentabilidade do sistema for aumentada, sem afetar o meio ambiente e a qualidade do produto, no caso a carne. Os dados apresentados acima foram obtidos em condições experimentais bem definidas, sendo necessário estudo prévio para sua aplicação, com prováveis adaptações em outras áreas.

Literatura Consultada:

Aguiar, A. P. A., Amaral, G. C., Datena, J. L. F. et al. 2001. Produtividade de carne em sistemas intensivos nas pastagens de Mombaça, Tanzänia e Tifton 85 na região do Cerrado. Anais: 38ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Piracicaba. p.1461.