JBS reporta lucro líquido de R$1,4 bilhão e receita líquida de R$33,8 bilhões no 1T15
15 de maio de 2015
Atacado –14-05-2015
15 de maio de 2015

Produção de carne pode ser resposta para o Brasil

Os recursos naturais abundantes do Brasil são uma bênção ou uma maldição, dependendo para quem você pergunta. A participação das matérias primas no total de exportações do Brasil aumentou de 29% quando o PT assumiu o governo em 2003, para 49% no ano passado, de acordo com o ministro do desenvolvimento do país. Os rendimentos provenientes da maior demanda mundial pela produção brasileira agrícola, mineral e petrolífera foram investidos em programas sociais e alimentaram um boom de consumo.

A visão de que o Brasil se tornou muito dependente das commodities, entretanto, está ganhando proeminência, à medida que a demanda chinesa diminui e uma recuperação europeia mais lenta do que esperada reduz os preços de commodities importantes. Durante o ano passado, a soja caiu mais de um terço, o petróleo Brent mais de 40% e o minério de ferro em quase metade.

Daiane Santos, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) disse: “A expectativa para os próximos dois anos é de que os preços para essas commodities não voltem a níveis que estavam e a alternativa que temos é de diversificar as exportações.” Porém, apesar de suas previsões negativas de curto prazo, ela acredita que, em longo prazo, “os preços vão melhorar e faz sentido usar nossa vantagem competitiva”.

Uma das áreas na qual o Brasil já é um líder mas onde pode fortalecer ainda mais sua posição é na produção de carne. A demanda global por dietas ricas em proteína e alimentos convenientes está crescendo como resultado da urbanização e de rendas maiores.

O Brasil possui algumas das maiores empresas de alimentos do mundo, cujos portfólios incluem carne, mas também refeições prontas e pizzas. Essas incluem a maior produtora de proteína do mundo JBS; Marfrig, cuja divisão Moy Park fornece a Tesco e Waitrose do Reino Unido; e a BRF, cujas marcas de margarinas Claybom e Qualy, são as preferidas de quase metade dos brasileiros, segundo o serviço de pesquisa e análise, FT LatAm Confidential.

O Brasil tem diferentes vantagens no setor de carnes, explica o analista da firma de consultoria MB Agro, Cesar de Castro Alves. “O know-how é bem desenvolvido e a capacidade instalada é alta,” disse ele, enquanto o acesso do Brasil a alimentos baratos para suínos e frangos mantêm os custos de produção baixos. Porém, a indústria de carnes enfrenta uma série de problemas.

As exportações no primeiro trimestre de 2015 caíram significativamente com relação ao mesmo período do ano passado. As receitas do bovinos, suínos e frango brasileiros caíram em 29%, 15,7% e 6,6% respectivamente, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento.

Parte disso se deve a alguns fatores: a greve de caminhoneiros em fevereiro; vários mercados impuseram embargos de curto prazo à importação de carne bovina brasileira; e os exportadores brasileiros aplicou maiores descontos em um esforço para sustentar mercados como Rússia e Venezuela, onde o poder de compra foi reduzido devido à queda de suas moedas frente ao dólar.

Entretanto, exportações robustas são essenciais para proteger diante de um mercado interno mais fraco, que está em baixa como resultado de um desemprego maior e rendas familiares mais apertadas, bem como de uma baixa oferta de gado. Isso levou a carne a preços recorde, em um momento onde consumidores não podem se dar ao luxo de de gastar mais.

As grandes multinacionais do Brasil possuem a escala e o nível de diversificação para compensar esses problemas, particularmente através do desenvolvimento de marcas de maior margem e alimentos processados, que são menos vulneráveis a flutuações de curto prazo das commodities. Mas muitas empresas menores estão deixando a atividade.

Há também problemas de prazo mais longo. Embora o Brasil tenha acesso a um alimento animal relativamente barato, as exportações perdem competitividade como resultado de uma logística precária, bem como o fato de que grande parte da produção de carne fica em locais remotos a milhares de quilômetros de seus portos.

Adolfo Fontes, especialista em agronegócio no Rabobank, também cita os problemas na produtividade no setor da carne devido à pastagem de baixa qualidade e à falta de suplementos alimentares. “No Brasil, o gado demora 36 meses para amadurecer; nos EUA demora de 18 a 24 meses,” diz ele. Além disso, o Brasil ainda não pode exportar carne fresca aos EUA, apesar de negociações estarem sendo feitas há algum tempo para permitir que isso aconteça.

Isso poderia transformar a indústria brasileira devido ao impacto nas exportações em outros lugares. “Ter um ‘visto americano em nosso passaporte’ aumentaria nosso poder de barganha com [outros mercados] como Canadá, México e Coréia do Sul,” acredita ele.

Confira a matéria original (em inglês).

Fonte: The Financial Times, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

2 Comments

  1. José Antônio Fuini disse:

    Extremamente relevante a reportagem.

  2. Marisa salvador disse:

    Acompanhar as análises externas com informações técnicas relevantes ajudam a compreender os caminhos que a produção tem a enfrentar e orienta a definição de metas a médio e longo prazo. Muito bom.

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