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Precisamos nos questionar se a pecuária que não é lucrativa ou se o meu negócio não está lucrativo – Daniel Wolf

O BeefPoint realizará nos dias 10 e 11 de dezembro, o BeefSummit Brasil, será em Ribeirão Preto – SP,  e terá o melhor da pecuária brasileira em um só evento.

O BeefSummit Brasil terá 14 palestras, sendo 3 internacionais.

No final do primeiro dia, 10 de dezembro, será entregue o Prêmio BeefPoint Brasil, um prêmio criado pelo BeefPoint para homenagear quem faz a diferença na pecuária de corte brasileira.

Para conhecer melhor os palestrantes e os temas de suas palestras, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas com os palestrantes do BeefSummit Brasil.

Confira abaixo a entrevista com Daniel Wolf, da Fazenda Gamada, de Nova Canãa do Norte, MT.

Daniel Wolf

Daniel Wolf se descreve como uma pessoa otimista, que acredita ser possível ter bons lucros na pecuária. Ele diz ser privilegiado por sua esposa tê-lo acompanhado no desafio de morar no interior do Mato Grosso. Seu hobby preferido é pescar e praticar exercícios físicos.

Desde criança, o ambiente do agronegócio estava presente em sua vida. Desde 1975 a família Wolf tem fazendas no Mato Grosso e desde muito novo Daniel teve gosto pela pecuária.

Quando iniciou o curso de Administração pela Universidade Positivo em Curitiba, já tinha como objetivo trabalhar com os negócios da família, mas teve dúvida se essa seria a decisão para a sua vida. Por essa razão, em 2002 trancou o curso e ficou um ano no Mato Grosso trabalhando com seu pai, Mario Wolf.

Ao retornar para Curitiba, teve certeza que iria trabalhar nos negócios da família. Após a conclusão do curso, foi para o Mato Grosso e no início não tinha um cargo definido, por isso procurou trabalhar nas funções operacionais e observar as ações de seu pai. Aos poucos, ganhou espaço e respeito dos funcionários, como também confiança de seu pai, o que muitas vezes o colocava na condição de seu substituto.

Com o tempo, percebeu que um de seus negócios (fábrica de nutrição animal) poderia ser melhor desenvolvido e encontrou uma oportunidade para dar os seus primeiros passos. Era a oportunidade de colocar em prática os conhecimentos de administração e gestão.

A Fortuna Nutrição Animal Ltda. foi fundada por seu pai em 2001 e o foco do trabalho é mostrar que o fornecedor deve desempenhar um papel de braço de apoio dentro da atividade pecuária, uma vez que pode aumentar a lucratividade de uma fazenda.

Por isso, ainda que hoje o foco seja a indústria de nutrição animal, Daniel continua ligado diretamente aos outros negócios que desenvolveram, como a pecuária, a agricultura e o projeto de integração lavoura, pecuária e floresta.

BeefPoint: Qual o tema de sua palestra no BeefSummit Brasil? Quais os principais pontos da sua palestra?

Daniel Wolf: Sucessão não é substituição! Vou falar sobre a minha experiência de trabalhar nos negócios da família. Como podemos encarar a sucessão muito mais como oportunidade de crescimento, do que algo complicado e difícil de falar a respeito. As barreiras muitas vezes são criadas por nós mesmos e por isso cabe somente a nós vencê-las.

Na verdade, encaro essa tarefa como um privilégio, porque o aprendizado com o pai acontece a partir da observação, vivência, isso proporciona o desenvolvimento da intuição, feeling, qualidades necessárias de um profissional que não são adquiridas na educação formal.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte no Brasil hoje?

Daniel Wolf: Os desafios são vários, dentre eles a questão da sucessão familiar se apresenta como de grande importância. Considero como maior desafio a necessidade de mudança na gestão. Precisamos nos questionar se a pecuária que não é lucrativa ou se o meu negócio não está lucrativo.

A profissionalização da atividade e a adoção de técnicas de gestão serão o ponto de virada da pecuária. Além disso, investir em pesquisa é fundamental para a nossa categoria, porque precisamos mostrar aos nossos clientes quais são os benefícios do nosso produto.

Não podemos deixar que o marketing negativo seja fonte de informação (ou desinformação) dos consumidores. Será que não conseguimos ser mais eficientes em contra argumentar que carne vermelha é saudável?

BeefPoint: Como podemos agregar valor à carne brasileira de forma diferente e especial em outros países?

Daniel Wolf: Participei de um evento nos EUA no qual foi apresentado o seguinte prognóstico: a maior parte da proteína virá do oceano. Como vamos concorrer com isso? Para agregarmos valor à um produto, primeiramente temos que saber o que é valorizado e buscado pelo mercado (o que o consumidor quer?).

Na minha opinião, o mercado consumidor busca padronização, segurança alimentar e sustentabilidade. Por isso, devemos agregar esses valores à carne brasileira através do investimento em genética, gestão, nutrição e respeito ao meio ambiente. Não existe uma verdadeira preocupação do produtor com a segurança alimentar. Nós mesmos temos responsabilidade em “fiscalizar” nossos vizinhos, fornecedores e a indústria. Se dependermos exclusivamente do governo podemos colocar toda nossa cadeia em risco.

Se acontece um escândalo, como carne de cavalo no hambúrguer, o maior prejudicado seremos nós mesmos!

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Daniel Wolf: Os Estados Unidos tem um programa que surgiu em 1928 chamado Future Farmers of America, cujo objetivo é trabalhar os jovens para permanecerem no campo, um trabalho de sucessão familiar.

Aqui no Brasil, a FAMATO está desenvolvendo um projeto parecido com muito sucesso. Tivemos o prazer de receber em nossa fazenda 29 jovens de vários lugares do Estado do MT para discutir este tema. Na oportunidade ficou muito claro que os mesmos anseios, dúvidas e problemas que vivenciei são experimentados por outros jovens na mesma situação.

A geração que está entrando no agronegócio, da qual faço parte, é chamada de geração Y. Os jovens da geração Y buscam satisfação imediata e realização profissional, isso gera conflitos quando precisam trabalhar com pais ou avós das gerações baby boomers e X, que levaram anos construindo uma carreira, um negócio, que trabalharam duro para conquistar tudo, inclusive estrada, energia etc.

Conquistaram e construíram coisas que hoje nem questionamos a existência, elas simplesmente já estão aí para serem utilizadas. Como os jovens buscam realização e satisfação pessoal, eles não buscam apenas um trabalho, uma fonte de sustento, mas querem encontrar no trabalho um propósito, um desafio naquilo que fazem. Aqueles que desejam atrair os jovens para a agropecuária têm que ter em mente essas características.

BeefPoint: Atualmente, quais os maiores desafios com gestão de pessoas na pecuária?

Daniel Wolf: O maior desafio é aceitarmos que precisamos mudar. Não adianta esperar que as leis trabalhistas se tornem mais flexíveis ou que o governo diminua carga tributária sobre a folha.

Precisamos nos conscientizar que a gestão de pessoas exige investimentos em treinamento, ter em mente que um funcionário não treinado é mais caro que um ex-funcionário treinado. Quem aceitar essa nova realidade terá o benefício em primeira mão.

Além disso, precisamos repensar de que forma estamos passando a mensagem do que queremos aos nossos funcionários. Envolver e comunicar os nossos planos aos funcionários e adotar um modelo de meritocracia pode ser uma saída.

BeefPoint: Qual inovação na pecuária de corte você mais gostou nos últimos anos?

Daniel Wolf: Na nutrição de bovinos de corte tivemos o surgimento do Optigen, que foi uma opção essencial, principalmente em momentos como o de hoje com o preço do farelo de soja muito alto, em conjunto com isso acho fantástico os melhoradores de eficiência alimentar, que podem trazer benefícios em todas as fases de produção.

BeefPoint: O que precisa ser inovado na pecuária de corte atual?

Daniel Wolf: Ainda não temos solução para um velho problema: a morte súbita da braquiária. Talvez se tivéssemos uma Embrapa mais forte, com investimento em pesquisa na pecuária, como na agricultura, talvez já tivéssemos uma solução.

Com certeza não teremos só a morte súbita como problema a ser solucionado através da ciência. A cada dia surgem novas doenças e pragas, por isso precisamos de inovação e tecnologia para garantir mais segurança e lucratividade. A pesquisa de novas variedades ou talvez capim transgênico é uma necessidade.

BeefPoint: Em sua opinião, qual país tem se destacado na pecuária, por quê? O que o Brasil precisa aprender com esses países?

Daniel Wolf: Os Estados Unidos da América, em razão do trabalho de marketing que vem sendo desenvolvido há anos e a diferenciação de preço por qualidade/marca e sistema de produção, como, por exemplo, o boi orgânico livre de hormônios e antibióticos.

O Brasil deve aprender com essa eficiência em criar e tornar uma marca forte, além de beneficiar aos produtores, cada vez mais, pela qualidade de carne. Nosso mercado interno está cada vez mais exigente e a elevação do poder aquisitivo do brasileiro criou em muitos a oportunidade de experimentar produtos de alta qualidade, criando uma demanda crescente deste tipo de produto de qualidade no Brasil.

BeefPoint: Qual a principal característica do Brasil na pecuária de corte? O que temos de melhor para ensinar aos demais países que trabalham em nosso setor?

Daniel Wolf: Após a crise econômica de 2008, produzir carne tem se tornado uma atividade de alto custo em muitos países de referência, como os Estados Unidos. Isso porque o sistema de produção lá apresenta alto custo e apesar da remuneração ser por qualidade, o produtor rural tem encontrado dificuldades em tornar o sistema viável.

Após minha última visita a este país, verifiquei que os mesmos começaram uma corrida contra o tempo para tentar produzir carne com menores custos. Ao longo dos anos e principalmente nos tempos atuais, o produtor brasileiro se torna mais e mais criativo e em alguns casos eficiente em produzir carne em menores custos.

A possibilidade de produzir carne a pasto com baixo custo e alta produtividade é o que nós podemos ensinar. Além disso, o Brasil tem muito a ensinar sobre sustentabilidade, que é tendência mundial.

Qual o exemplo de pecuarista do futuro no Brasil hoje? Quem você mais admira?

Daniel Wolf: Conheço muitos produtores na região norte do Mato Grosso que estão fazendo um trabalho muito acima da média. Eu admiro o meu pai, porque conseguiu evoluir do sistema extrativista antigo e sempre busca investir em tecnologia e aumento de eficiência produtiva.

Também admiro os pecuaristas que foram pioneiros nesta atividade. Eles foram incríveis, pois transformaram várias regiões do país, que não eram exploradas ou até habitadas, em áreas altamente produtivas e desenvolvidas, transformando o nosso país em uma potência mundial.

BeefPoint: O que você fez em 2013 que te trouxe mais resultados?

Daniel Wolf: Visitei outros polos da pecuária de corte, como Rondônia e Goiás e participei de eventos relacionados a pecuária de corte. Conhecer outros negócios e outras formas de gestão nos possibilita olhar a nossa atividade de diferentes ângulos para realizar autocrítica e encontrar soluções, assim como constrói uma rede de relacionamentos muito importante.

Na Fortuna Nutrição Animal lançamos um suplemento mineral, fruto de anos de pesquisa em parceria com a Prado Consultoria, que reduz os custos da propriedade (ou praticamente os mantém) e aumenta o desempenho dos animais (ganho em peso e desempenho reprodutivo) melhorando a lucratividade da propriedade rural.

Também investi na minha saúde física e mental, porque acredito que serão vencedores aqueles que estiverem mais bem preparados nesses dois aspectos.

BeefPoint: O que você pretende fazer em 2014? Quais são seus planos?

Daniel Wolf: Concluir a implantação de um projeto de pastejo rotacionado em uma área que hoje é explorada com agricultura de precisão. Com os resultados que serão obtidos vamos realmente poder comparar os resultados soja x boi.

Na Fortuna, quero continuar com o foco no resultado dos nossos clientes, mostrar que um dos maiores custos de uma fazenda (nutrição) pode ser a fonte de maiores lucros.

Enfim, transmitir a mensagem que o fornecedor, ao invés de apenas vendedor, pode ser um colaborador sem registro na carteira.

BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas?

Daniel Wolf: Gostaria de deixar uma mensagem positiva e de otimismo, nós temos que reclamar menos uns para os outros, fazer diferente para obter resultados diferentes. Vamos falar das coisas boas que fazemos em nossas fazendas, além disso acredito que temos que ter humildade para copiar e coragem para executar!

Manter o entusiasmo e o orgulho pela nossa profissão é fundamental, pois a motivação na fazenda vai de cima para baixo.

BeefPoint: O que você mais gostaria de aprender no BeefSummit Brasil?

Daniel Wolf: Estes eventos possuem um potencial tão grande de aprendizado que tenho certeza que quem não participa deixa de ganhar dinheiro! A oportunidade de sair de casa (fazenda), olhar o nosso negócio de outro ângulo, conversar com quem poderia ser seu concorrente, mas na verdade está no mesmo lado do jogo, são as minhas expectativas.

Encaro o BeefSummit Brasil como uma oportunidade de aprender, pois cada conversa com um produtor pode ser uma chance de uma nova ideia para inovar o seu modelo de gestão, obter mais lucro etc.

Todos nós (produtores) temos as mesmas ferramentas, mas o que nos diferencia é o resultado que construímos com elas: lucro, desenvolvimento, inovação.

Data: 10 e 11 de Dezembro de 2013
Local: Centro de Convenções Ribeirão Preto (CCRP)
Endereço: Rua Bernardino de Campos, 999
Cidade: Ribeirão Preto – SP
Site do evento

Clique abaixo e inscreva-se para o BeefSummit Brasil:

CAMPANHA BEEFSUMMIT - v2_ANUNCIO 21X28CM

5 Comments

  1. Luiz Henrique disse:

    Esta nova geração de sucessores enfrenta desafios com maturidade profissionalismo e desempenho
    A formação e informação compartilhada garantirá o sucesso da pecuária onde não existe mais espaço para a improvisação
    Acho importante vencer o paradigma da gestão compartilhada da “porteira para dentro” , com consultoria especializada
    Ha muito que ensinar, e muito mais a aprender
    Parabéns por seu crescimento intelectual

  2. José Moacir A. Lages disse:

    Parabéns Daniel pelo espaço que esta conquistando. Torço para que a Fortuna Nutrição Animal alcance uma escala de produção maior e ser mais competitiva, sem largar mão da alta qualidade, não só dos componentes como também de sacaria e outros processos de fabricação. Seria interessante ouvir outras linhas cientificas de pesquisa e não confiar inteiramente num só consultor. Grande abraço, José Moacir, fazenda Mealua.

  3. Marcos Vinicius R. Martins disse:

    Parabéns Daniel! Com poucas palavras você conseguiu expor muitas coisas que a pecuária nacional necessita e sugeriu ideias que pode ser um dos escapes para solucionar problemas. E disto que nós precisamos, alavancar a pecuária nacional. Hoje muitas pessoas dizem que a soja e mais lucrativa que a pecuária de corte, porém ser os pecuaristas investisse em tecnologias como os sojicultores, será que a pecuária ainda é menos lucrativa? Um grande abraço. Sucesso.

  4. Ricardo Vasconcelos Lelis disse:

    O mercado de carne no Brasil enfrenta todos os problemas que os outros setores enfrentam, logística, infra estrutura, variação cambial e mesmo assim se apresenta como um setor forte o suficiente para brigar no mundo inteiro.

    A partir do momento que temos um trabalho visando não apenas lucro, mas eficiência, meio ambiente, o lucro torna-se consequência. O mundo abre as portas para quem trabalha assim.
    Muito bom entrevista.

  5. Aleri João Panazzolo disse:

    Parabéns, Daniel.
    Esta oportunidade de interação e compartilhamento de informações e conhecimento é
    muito importante para universalizar a razão da pecuária de corte.
    Que é uma atividade de grande complexidade e muito técnica.
    Entendo ser uma das atividades que mais utiliza todas as áreas do conhecimento universal. Desde as ciências exatas, Humanas, Jurídicas, Agrárias, ….
    Além de ser extremamente técnica e econômica, social, ambiental é o alimento, é o
    prato principal.
    Daniel, a busca pelo domínio do conhecimento de produção é fundamental, mas o
    de comercialização é que sustenta o negócio.
    A comunicação que vai dizer aos consumidores, que precisam se alimentar de forma segura, a importância de escolher o alimento e portanto, começar a valorizar quem
    o produz.
    Já que sua fragilidade exposta por não saber nem poder produzir seu próprio alimento
    que o sustenta e dá vida.

    Grande abraço,
    enquanto lhes digo até logo.

    Aleri João Panazzolo
    Eng. Agrícola.
    Panazzolo Produção e Com de Carnes Lt.

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