Potencial de identificação geográfica para a linguiça de Maracaju

Por Rodrigo Olegário Ferreira, médico veterinário – especialista em saúde pública (FIOCRUZ/ENSP) – Coordenador do Serviço de Inspeção de Maracaju – MS

Historicamente, produtos são rotulados e distinguidos desde os primórdios da era romana, quando seus generais e o próprio Imperador César recebiam ânforas (vasos antigos) de vinho com a indicação da região de proveniência e produção controlada da bebida de sua preferência.

Provavelmente, a indicação geográfica é, dos institutos do rol da propriedade intelectual, o mais antigo e certamente o menos usual, em comparação com as patentes, marcas e cultivares. O selo oficial de qualidade dos alimentos mais antigo do país é a Apelação de Origem Controlada (AOC), criado para regulamentar e proteger o uso dos nomes geográficos que designam produtos agrícolas e alimentares.

Em julho de 1992, a Comunidade Européia estabeleceu um sistema de proteção para nomes geográficos, envolvendo duas noções de proteção: Denominação de Origem e Indicação Geográfica. A origem da Linguiça de Maracaju está ligada à tradição das famílias que colonizaram os vastos campos da serra de Maracaju. Com o aumento de consumo e popularidade do produto muitas empresas de outras cidades começaram a produzir o produto e usar o mesmo nome, prejudicando a comercialização do produto pelos produtores tradicionais. Após esta expansão de mercado, notou-se que a única forma para proteger este produto que é um patrimônio municipal e econômico da região, seria a utilização se um selo de Identificação Geográfica (IG).

Da necessidade de conservação da carne de porco surgiram os embutidos. Boa parte dos embutidos é feita de carne de porco, entretanto, usa-se também carne de vaca, frango, vitelo, cordeiro e até peixes. No Brasil, quase todas são feitas com carnes misturadas, sal e alho.

A linguiça é o mais antigo embutido (ou enchido, como dizem os portugueses) do mundo.As linguiças não se diferenciam apenas pelo tipo de carne, quantidade de gordura ou condimentos utilizados. Distinguem também pelo calibre e pelo invólucro que pode ser a tripa natural, celulose ou material sintético. A origem da linguiça de Maracaju está ligada à tradição das famílias que colonizaram os vastos campos da serra de Maracaju. As principais famílias colonizadoras vieram do triângulo mineiro e trouxeram a tradição da produção da linguiça caseira, que era feita com carne suína inicialmente e foi substituída pela carne de boi, levando em conta a tradição da pecuária bovina que já predominava em nosso estado.

Devido à dificuldade de armazenamento e conservação das carnes, as famílias usavam as carnes de primeira, para fazer linguiça e as demais para fazer o charque. Como toda produção era artesanal, toda a carne era cortada à faca, temperada e depois de embutida era deixada por algum tempo para que secasse e assim pudesse conservar por mais tempo o produto. Produto que foi o primeiro embutido artesanal feito exclusivamente com carne bovina de primeira.

Iguaria de qualidade ímpar, de sabor único e principalmente por ser um produto de origem 100% sul – mato-grossense atravessou as fronteiras do nosso estado agradando o paladar de todas as gerações. Um toque do seu sabor nos trás de volta as lembranças das reuniões em família, comemorações com os amigos nos levando a reencontrar através da memória a simplicidade e o prazer da convivência.

A principal diferença da linguiça de Maracaju para as demais é que ela é feita exclusivamente com ingredientes naturais (pimenta dedo-de-moça, alho, sal, cheiro-verde e laranja azeda) , somente utiliza-se carne e gordura bovina. Leva cinco tipos de carne, todas de primeira: contrafilé, filé mignon, picanha, alcatra e coxão mole.

O que antes era apenas um produto feitio artesanalmente e pelas famílias tradicionais com fins de conservação de produto e para confraternização familiares, com o tempo, devido a grande procura do produto e a boa aceitação da iguaria , os produtores da região passaram a fabricar o produto com fins comerciais. Na década de 90,este produto que ja estava em plena ascenção comercial no municipío , teve a sua grande divulgação a nível de estado pois , em 1994, esta  iguaria que fez resgatar os encontros familiares, fez com que surgisse a maior festa da gastronomia sul matogrossense, a tradicional “Festa da Tradicional Linguiça de Maracaju’ que acontece todo ano sendo organizado pelo Rotary Club de Maracaju.

Para que o produto, Linguiça de Maracaju , possa ter competitividade com os demais embutidos ( linguiça ) é necessário a busca por uma certificação ( selo) nacional de qualidade e identidade , pois como citado acima ela já possui um diferencial das demais pois utiliza-se apenas carne bovina e ingredientes naturais.

Os certificados ou selos de qualidade são utilizados em diversos países, inclusive no Brasil, com o intuito de diferenciar produtos ou unidades de produção de alimentos. Os motivos para a certificação são os mais diversos possíveis, destacando-se: demanda de clientes internacionais, imagem dos produtos junto aos clientes, demanda de consumidores mais exigentes ou ainda agregar valor ao produto ou serviço.

Historicamente, produtos são rotulados e distinguidos desde os primórdios da era romana, quando seus generais e o próprio Imperador César recebiam ânforas (vasos antigos) de vinho com a indicação da região de proveniência e

produção controlada da bebida de sua preferência. Provavelmente, a Indicação Geográfica é, dos institutos do rol da propriedade intelectual, o mais antigo e certamente o menos usual, em comparação com as patentes, marcas e cultivares.

Uma Indicação Geográfica compreende dois níveis: a Indicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO). A Indicação de Procedência é o nome geográfico de um país, cidade, região ou localidade que se tornou conhecido como centro de produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de um serviço específico. A Denominação de Origem é o nome geográfico de um país, cidade, região ou uma localidade que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusivamente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.O Brasil, especialmente em função da diversidade cultural, dos ecossistemas tipificados e da tradição gastronômica e produtiva brasileira tem condições de implementar inúmeras Indicações Geográficas.

Em 2009, com o apoio da prefeitura municipal, os produtores criaram a APTRALMAR “Associação dos Produtores da Tradicional Linguiça de Maracaju”.Esta associação trouxe uma maior união da classe e consequentemente todos unidos começaram a lutar para superar as dificuldades encontradas para expansão de mercado, principalmente o crescimento da venda informal do produto em outras cidades sem o devido controle de produção, qualidade e origem.

Em virtude desta situação, o Ministério da Agricultura, através dos seus técnicos, indicaram a Indicação de Procedência ( IP) para o produto linguiça de Maracaju, pois o produto tem o nome geográfico da cidade ou localidade que tornou conhecida como o centro de produção.

A associação vem buscando se adequar para conseguir a Identificação. Algumas etapas que são necessárias para se cumprir e conseguir a aprovação do INPI já foram cumpridas.

Conseguindo finalizar este processo e adquirir o sinal distintivo de Identificação Geográfica, os associados terão vários benefícios , entre eles :

a) Benefícios baseados na proteção:

– Proteção de um patrimônio municipal e econômico da região;

– Proteção dos produtores.

– Proteção dos consumidores.

– Não permite que os outros produtores, não incluídos na zona de produção delimitada, utilizem a indicação.

– Proteção da riqueza, da variedade e da imagem de seus produtos.

b) Benefícios baseados no desenvolvimento rural:

– Geração de empregos.

– Satisfação do produtor, orgulho da relação produto e produtor.

– Contribuição para a preservação das particularidades do produto que constitui um patrimônio da região.

Como foi verificado, o produto linguiça de Maracaju, tem sua história ligada diretamente as origens das famílias tradicionais de Maracaju e a IG para a Linguiça de Maracaju , vai reforçar essa história , pois a identificação têm significado de criar valor local ao produto. Quando o produto receber a proteção de Indicação Geográfica, a comunidade local se beneficiará com um impacto extremamente positivo, pois como Maracaju ainda tem um baixo volume de produção e escala, a Indicações Geográficas têm papel importante porque vão ajudar a manter e desenvolver as atividades da produção, buscando agregar valor justamente a esta tipicidade podendo oferecer contribuições extremamente positivas para a economia local.

Esperamos que com o apoio que estamos tendo do Ministério da Agricultura e a vinda de novos parceiros (Sistemas S) ,Instituições de Pesquisa(Embrapa) e Universidades , num futuro bem próximo, esta iguaria possuindo o selo de Identificação Geográfica e cada dia mais aperfeiçoando a sua qualidade , possa colher grandes frutos , se tornando uma das iguarias da culinária regional brasileira mais apreciada e vendida  tanto a nível nacional como internacional , mostrando com isto para o Brasil e o mundo, a riqueza, da variedade e da imagem dos produtos de nosso país.

Por Rodrigo Olegário Ferreira, médico veterinário – especialista em saúde pública (FIOCRUZ/ENSP) – Coordenador do Serviço de Inspeção de Maracaju – MS