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Possível trava da Índia às exportações faz trigo disparar na bolsa de Chicago

A Índia pôs mais combustível na alta das cotações do trigo no mercado internacional com a decisão do governo de considerar restringir as exportações do cereal no país. Uma eventual limitação dos embarques tem potencial de, ao mesmo tempo, de intensificar o aumento da inflação no mundo e acentuar o avanço da fome.

Março foi o mês mais quente da história na Índia, e as temperaturas recorde prejudicaram o desenvolvimento das lavouras de trigo. Com as perdas causadas pela onda de calor sem precedentes, o governo indiano reduziu de 111 milhões para 105 milhões de toneladas sua estimativa de produção para a temporada atual.

Autoridades de alto escalão já discutem limitar as exportações para priorizar a oferta ao mercado interno, informou a agência Bloomberg. A decisão caberá ao primeiro-ministro Narendra Modi, a quem os técnicos apresentarão o resultado das discussões.

A guerra entre Rússia e Ucrânia deixou os dois países praticamente fora do comércio de trigo nos últimos meses. Com a ausência de dois grandes exportadores – os russos são líderes globais -, a Índia embarcou 7,85 milhões de toneladas no primeiro trimestre deste ano, volume 275% maior que o do mesmo período de 2021.

A notícia sobre a possível restrição indiana fez o preço do trigo disparar no mercado internacional. Ontem, os contratos que vencem em julho subiram 3% na bolsa de Chicago, a US$ 10,765 o bushel.

O avanço das cotações não foi um sobressalto ocasional, resultado da surpresa dos investidores com uma medida que sequer entrou em vigor: nos últimos dois anos, sob o choque da pandemia de covid-19, de problemas climáticos em grandes produtores e, mais recentemente, da guerra na Ucrânia, o preço do trigo dobrou, segundo os cálculos do Valor Data, que consideram as médias dos contratos de segunda posição de entrega.

Neste mês de maio, o trigo acumula pequena baixa, de 0,97%, mas, em 2022, o aumento já chega a 35% e, em 12 meses, a 45%. Nos últimos 36 meses, nenhuma das grandes culturas agrícolas usadas na alimentação humana e negociadas nas bolsas de Chicago e Nova York valorizou-se mais do que o trigo, que subiu quase 140% nesse período, segundo o Valor Data (com exceção do óleo de soja, que avançou 193% nesse intervalo).

Largamente utilizado na alimentação humana e também na indústria de ração animal, o trigo é um item essencial na oferta de nutrientes. Isso significa que, quando falta trigo – uma ameaça concreta em momentos em que um grande produtor, como a Índia, considera limitar suas exportações -, a fome pode piorar no mundo. E ela tem piorado, como atestaram a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a União Europeia em relatório publicado ontem (leia mais em Fome cresce no mundo, e guerra agrava o quadro). No ano passado, diz o documento, quase 200 milhões de pessoas não tinham o que comer.

E, por ser o trigo um item usado em larga escala, e em todo o mundo, ele tem um efeito-casca sobre a inflação. No Brasil, a reboque do aumento das cotações do cereal, o preço do pão francês acumulou alta de 4,97% no primeiro trimestre, um aumento superior ao do IPCA, o índice oficial de inflação no país, que subiu 3,20%. No grupo que inclui pão de forma, biscoito e bolo, a elevação foi ainda maior, de 5,87%.

As informações são do Valor Econômico.

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