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Por que comemos carne? – Dan Murphy

Por Dan Murphy

Um novo estudo propôs explicar as principais razões de porque as pessoas escolhem incluir carne em suas dietas diárias e, adivinha? Eu antecipei as respostas há cerca de 25 anos. Como colunista, quando alguém rouba sua ideia, você tem duas opções: ficar bravo e tentar “retomar” seu conceito original ou aplaudir o “copiador” por ser esperto o suficiente para embarcar em uma ótima ideia. Escolherei a segunda rota.

Durante um bom tempo eu bati na tecla sobre uma forma simples de passar a mensagem sobre o valor da produção de carne e do consumo de carne, chamando-as de “natural, normal e necessária”.

Isso quer dizer que a carne tem sido parte integral da história e da fisiologia humana há milênios, sendo central à dieta e ao estilo de vida em todas as eras entre cada tribo, nação e civilização e é essencial e benéfica ao ser humano e à ecologia do planeta. Os argumentos que dão suporte a essas afirmações ocuparam grande parte de minhas atividades profissionais durante décadas.

Agora, surgiu um estudo no jornal britânico chamado Appetite, que alega ter “descoberto” o que motiva as pessoas a comer carne. De acordo com informações do Sydney Morning Herald, quando questionado porque as pessoas comiam carne, os participantes da pesquisa identificaram quatro razões primárias, que os pesquisadores chamaram de “Quatro Ns”: comer carne é natural (“os humanos são carnívoros naturais”), necessário (“a carne fornece nutrientes essenciais”), normal (“eu cresci comendo carne”) e “agradável” – nice, em inglês – (“é delicioso”).

Isso mostra que os pontos que tinha sugerido estavam certos – bem, três de quatro deles. Eu trabalho com a noção de que três é o número máximo de informações que podemos processar de uma vez, e não incluí “agradável” porque isso é praticamente um dado. Mesmo as pessoas que se tornaram totalmente vegetarianas geralmente reconhecem que consumir um bife perfeitamente assado ou um churrasco é muito bom.

Das quatro razões identificadas pelos pesquisadores britânicos – da Universidade de Lancaster – você pode adivinhar qual foi a razão mais citada pelas pessoas para explicar seu consumo de carne?

“Necessária” foi a resposta número 1. O que faz sentido, mas os pesquisadores estavam determinados a se aprofundar e descobrir algo perturbador nos dados. Procuraram culpa.

Primeiro, disseram que as pessoas que apoiaram os Quatro Ns tinham mais chances de serem homens. Como se isso fosse um problema. Segundo, disseram que os consumidores de carne achavam que “as vacas tinham menos chances de ter sentimentos, como tristeza e alegria”, disseram os pesquisadores.

“As pessoas amam os animais e estão genuinamente preocupadas com eles”, disse Mirra Seigerman, da Faculdade de Ciências Psicológicas da Universidade de Melbourne, que também é vegetariana, a propósito. “Porém, elas também comem carne, de forma que há um paradoxo aqui e estamos interessados em descobrir como as pessoas resolvem isso. Nós achamos que os Quatro Ns são uma forma de aliviar o sentimento de culpa”.

Por que culpa? Seigerman disse que como a produção de carne está fora da vista das pessoas, elas têm menos chances de “fazer amizade” com galinhas, porcos ou bois. “Nós também temos um vocabulário diferente para carnes – comemos suínos e bovinos ao invés de porcos e vacas”.

De fato, nós nos divorciamos das realidades de criação de animais, abate e processamento de carne. Sem dúvida. E, a menos que aconteça de trabalharmos nessa indústria em particular, também fomos removidos de grande parte de todos os outros processos comerciais e industriais que produzem produtos alimentícios, utensílios domésticos e outras “coisas” que fazem parte de nossos estilos de vida consumistas. Isso é produto da tecnologia, não um gatilho para culpa.

Além disso, mais pessoas estão cientes e preocupadas com o bem-estar dos animais de produção do que em qualquer outra época da minha vida, de forma que a ideia de que estamos sobrecarregados por uma culpa esmagadora – como se isso eventualmente forçará as pessoas a se tornar vegetarianas – é equivocada, na melhor das hipóteses.

Sim, é verdade que temos o luxo de escolher uma dieta vegetariana que é tão saudável e nutritiva quanto uma dieta que inclui alimentos de origem animal. Isso é produto da ciência e da tecnologia modernas e está disponível para pessoas comuns de classe média somente por causa da agricultura convencional, pesquisa e desenvolvimento em ciência dos alimentos e processamento automatizado que os vegans puristas adoram odiar.

Os autores desse estudo ofereceram outras razões para tergiversar com os Quatro Ns. Mas, afinal, seus contra-argumentos eram tão fracos quanto um gatinho de um dia de idade. Eles basicamente disseram, ‘Ei, os alimentos de origem vegetal são bons também’.

Porém, quando eles são os únicos itens do cardápio, não há nada de natural nem normal.

Ou necessário.

Por Dan Murphy, jornalista e comentarista sobre a indústria de alimentos, para a Drovers, traduzido pela Equipe BeefPoint.

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