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Plano de fusão com a Marfrig divide os conselheiros da BRF

Os conselheiros de administração da BRF estão divididos em relação a uma eventual fusão com a Marfrig. Parte dos conselheiros avalia que uma união, que pode criar a quarta maior empresa de proteínas do mundo, seria benéfica no longo prazo, criando competitividade global e dando saúde financeira futura à companhia. Outro bloco, porém, avalia que os riscos de governança, choque cultural e baixas sinergias jogam contra a fusão.

Ao menos quatro conselheiros da BRF já levantaram suas ressalvas sobre o melhor caminho para a companhia ser uma fusão com a Marfrig. Conforme três fontes, os indicados pelos fundos de pensão Petros e Previ – Francisco Petros e Walter Malieni, respectivamente, e Luiz Fernando Furlan estariam reticentes sobre eventual fusão. O ex-ministro Roberto Rodrigues, por sua vez, teria demonstrado algumas ressalvas.

À frente do desenho da operação, o presidente do conselho da BRF, Pedro Parente, não esperava consenso preliminar e tem fomentado o embate de ideias. Em uma reunião que durou cinco horas, todos os conselheiros expressaram suas visões iniciais antes de votar sobre a assinatura do memorando de entendimentos para análise de potencial fusão – poderiam inclusive mudar seu voto depois de ouvir o colega. “Pedro não quer a administração ‘comprada’ na fusão, mas comprada em avaliá-la”, diz uma pessoa próxima a ele.

Os conselheiros da Petros e da Previ não gostaram da ideia de fusão, mas ao menos um deles teria compreendido que se trata de um dever fiduciário da empresa se aprofundar na possível proposta final, diz uma fonte. Petros e Malieni também se incomodaram com a reação do mercado ao anúncio, que provocou queda nas ações da BRF. No dia seguinte ao anúncio, a ação da BRF caiu 4,5% e a Marfrig subiu 0,7%. “Os fundos não querem fazer nada de que possam ser acusados depois sobre uma perda de valor, um movimento errado que os coloque em situação delicada”, afirma uma pessoa próxima a uma das fundações.

Como acionistas, as fundações foram surpreendidas pelo comunicado ao mercado e não gostaram do formato. Ficou uma certa má vontade com a fusão pela forma que foi originada. “A fundação não entendeu porque colocar a ação da BRF sob pressão por 90 dias”, diz um executivo ligado à Previ. “Deu a impressão de que o negócio estava mais avançado do que está de fato”, complementa um executivo. Com capital pulverizado, o conselho da BRF não poderia incluir um ou outro acionista na discussão, sem gerar informação privilegiada. A opção de divulgar de início a análise visou evitar vazamentos, conforme uma fonte da BRF.

Já para Furlan, conforme as fontes, a BRF começa a sair de uma fase ruim e melhorar indicadores, principalmente quando vai se beneficiar do surto de gripe suína na China. A maior geração de caixa reduziria o endividamento, além de manter a busca por ganhos de eficiência, e a BRF poderia acessar capital no mercado em uma situação melhor de balanço. Conforme uma fonte, incomoda a Furlan colocar a companhia, agora, em nova composição de governança e com embate cultural entre as empresas.

Esses são os fatores mais relevantes, uma vez que o ex-ministro não seria contra a atuação no segmento de bovinos. “Furlan tinha sido contra sair desse segmento, em que a Sadia já atuava e que a BRF tinha uma pequena parcela”, diz uma fonte.

Interlocutores do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues afirmam que ele não é contra a fusão, e votou a favor do memorando de entendimento. Mas dizem que ele encara com ressalvas as diferenças entre as companhias – não só de foco de negócios, mas de culturas, em análise semelhante à descrita pelas fontes em referência a Furlan.

No entanto, Rodrigues vê com bons olhos os estudos sobre a eventual união, tendo em vista as transformações no mercado global de carnes precipitadas pelo surto de peste suína africana da China. Por causa da doença, a China, país que lidera produção e consumo de carne suína no mundo, está sendo obrigada a ampliar suas importações do produto e também vive um processo de migração da demanda doméstica de proteínas para frango e peixes.

Conforme duas fontes, os membros que têm histórico mais longo no mercado de alimentos consideram que as sinergias da fusão serão pouco relevantes para explicar por si só a operação, dada a diferença de funcionamento das cadeias de proteína. BRF e Marfrig estariam projetando sinergias de R$ 5,5 bilhões em quatro anos. Além de custos administrativos, isso viria de logística. “Isso é muito reduzido, na prática. Você não consegue colocar bife no caminhão de frango e porco”, exemplifica um executivo. Uma pessoa ligada à administração da BRF pondera que outras sinergias estão sendo avaliadas e podem entrar na conta.

A BRF tem, ao todo, dez conselheiros. Augusto Cruz, ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar, é o vice-presidente e estaria alinhado à Parente. Flávia Almeida, conselheira indicada por Abilio Diniz em sua gestão e sócia da Península, permanece no board, que conta ainda com Dan Ioschpe, presidente do conselho da Iochpe (onde Nildemar Secches é vice-presidente do conselho), José Luiz Osório, ex-diretor do BNDES, e Roberto Mendes, diretor da Localiza. Enquanto o conselho da BRF tem diferentes visões, o conselho da Marfrig teria uma visão mais uniforme, favorável à operação.

A análise detalhada teve início na semana passada. Uma fonte da BRF e uma da Marfrig concordam com a mesma ideia: “a fusão é uma possibilidade na mesa, mas não é impreterível.” Procurados, Previ, Petros, Rodrigues e Furlan não comentaram. A BRF divulgou a ata da reunião do conselho em que informa que a decisão de assinar memorando de entendimentos não foi consenso.

Fonte: Valor Econômico.

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