Por Tiago Marcato de Paula
A atividade empresarial no Brasil sempre foi um desafio. Na pecuária, pode-se dizer que é ainda mais desafiadora, pois a necessidade de capital é elevada e a sazonalidade intrínseca ao negócio deixa pouca margem para erros.
Saudade dos tempos em que essas eram as únicas preocupações!
O cenário econômico atual encontra-se extremamente volátil: câmbio, juros, inflação, preço das commodities são difíceis de prever. Então, como tomar as decisões necessárias ao negócio sem arriscar seu patrimônio excessivamente?
O objetivo deste artigo é fornecer elementos que auxiliem o produtor na tomada destas decisões. Em especial, iremos abordar um tema já muito discutido, mas que frente à conjuntura, volta com força total:
Vender a desmama ou engordar o boi?
Muitos de vocês pararão a leitura aqui, por considerarem a resposta óbvia, mas será mesmo? Vejamos:
Portanto, não seria a hora de lucrar com a desmama, economizar com os insumos e deixar o dinheiro rendendo no banco? Eis a questão que me fiz no início desse ano!
Então vamos à resposta…
PREMISSAS ADOTADAS
Em primeiro lugar, é importante explicar as premissas adotadas neste estudo, todas elas datadas em Janeiro de 2016, região Noroeste do Paraná:
É importante ressaltar que as premissas buscam refletir um cenário reproduzível na maior parte dos casos, mas não necessariamente, podem ser aplicadas diretamente à realidade de cada empresário.
VENDER O BEZERRO OU ENGORDAR O BOI?
O dinheiro possui valor no tempo. Portanto, ao compararmos a venda da desmama versus a venda do boi gordo, precisamos considerar que os custos também mudarão ao longo da vida do animal.
Compararemos então, dois cenários:
RESULTADOS
O que é mais rentável? Vender o bezerro e deixar o dinheiro a juros no banco, ou esperar mais 24 meses para a engorda do boi, com custos aumentando todos os dias? O gráfico abaixo mostra a rentabilidade de cada atividade e o valor que cada uma deixaria, em valor presente, no bolso do pecuarista:
CONCLUSÃO
Mesmo com os elevados custos de engorda do animal, o ágio sobre o preço da reposição, e atrativas taxas de juros oferecidas pelas instituições financeiras, o boi gordo ainda é mais vantajoso que a venda da desmama.
Entretanto, é preciso levar em consideração que cada fazenda possui uma vocação. Há fazendas que não possuem espaço para atividade de cria, recria e engorda, que precisarão decidir em que se especializar. Outras, não possuem matrizes suficientes e dependem da reposição. Outras, ainda, conseguem engordar o bezerro produzido em sua fazenda, em apenas 24 meses.
Portanto, independentemente do tipo de propriedade que o pecuarista possui, é preciso planejar estrategicamente como extrair o máximo dela. Em tempos de volatilidade como os que vivemos, tal planejamento é ainda mais importante. Então, antes de calçarmos as botas e montarmos a cavalo, vale a pena refletir como melhor rentabilizar os já escassos recursos que possuímos.
Por Tiago Marcato de Paula, MBA, Farmacêutico Industrial, Pós-Graduado em Gestão de Projetos, Administração e Marketing, por necessidade. Pecuarista por paixão!
27 Comments
Muito bom o artigo, aqui onde fica a fazenda no oeste paranaense, muita gente vinha me dizendo vc é louco segurar a desmama, é ainda esperar 1 ano; e eu com meus pensamentos bem parecidos com o artigo; argumentava; se vc pegar a valor do bezerro e colocar numa aplicacao; não vai dar o rendimento que o boi vai me dar; então vou deixar aplicado em boi.
Aí todos paravam de falar e mesmo assim ainda achavam melhor vender o bezerro.
Obrigado por fortalecer meus caminhos.
Olá, Rodrigo
Tinha a mesmíssima dúvida que você, quando assumia a fazenda após o falecimento de meu pai. Que ótimo que pudemos esclarecer! Fico à disposição, minha fazenda é no Noroeste do Paraná, em Rondon.
Abs
Interessante! Estou retornando para a recria e engorde e pretendo fazer em 24 meses.Tive que entregar terras que arrendava,para a soja. Diminuiu minha área e decidi fazer desmame e venda .Mas vi que não vale ,mesmo que meus terneiros sejam muito bons. Vou retornar ao ciclo completo,mas em curto prazo.
obrigada pelas informações
Excelente material Tiago. Essa análise de custo oportunidade é muito pouco aplicada nas fazendas do Brasil. Gostaria de ver a metodologia que foi adotada para os custos de produção tanto do bezerro quanto do boi gordo.
Parabéns.
Abraço
Olá, Renato
Obrigado pelo generoso comentário! A metodologia da apuração dos custos foi adaptada do estudo do LACÔRTE intitulado “Bezerros: Vender, Recriar ou Engordar?”, disponível no link: http://www.agroeconomica.com.br/home/?page_id=482.
A partir dos dados deles, de 2009, atualizei os valores para 2016, e coloquei-os na linha do tempo, conforme o tempo do animal, sempre levando em conta o valor do dinheiro no tempo.
Fico à disposição, pode entrar em contato no rifdepaula@gmail.com
O fator esqueceu o custo da pastagem…e também não argumentou que no espaço dos bois o produtor pode colocar mais vacas para criar…também não colocou de forma clara a venda para o engorde..ou seja segurar na desmama e recria…é vender para alguém engordar (aqui na região de Curitibanos-Sc muitos produtores conseguem preço diferenciado em bois magros de boa estrutura para engorde)…fica a análise para de fazer…vale lembrar que cada caso é um caso…
Oi, Leandro
O custo de pastagem foi considerado sim, baseado no estudo de LACÔRTE, intitulado “Bezerros: Vender, Recriar ou Engordar?”, disponível no link: http://www.agroeconomica.com.br/home/?page_id=482. Ficaria difícil colocar num artigo simples todos os detalhes considerados nas premissas.
Voce está certíssimo quanto a questão da lotação da pastagem. Ainda pretendo encontrar o ponto que traga maior retorno de acordo com a área que o produtor possui, num horizonte de alguns anos.
Fico à disposição!
Parabéns Tiago !!!
A análise foi bem feita e certamente o artigo poderá contribuir na decisão de akguns pecuaristas.
Mesmo ampliando a complexidade da análise com inclusão de outras variáveis, a difernça é bem significativa.
Parabéns novamente
São dois sistemas totalmente diferentes, cria exige um tipo de estrutura e engorde outra. Uma opção para agregar valor à fazenda de cria sem modificar sua estrutura é fazer a recria, ou seja, vender o toreto (300 kg) para confinamentos.
Parabéns pelo artigo! Infelizmente muitas vezes o pecuarista é forçado a vender o bezerro e não poder dar continuidade no ciclo.
Muito bom seu artigo que nos ajuda a refletir e a planejar sobre qual seria a melhor opção para trabalhar com o Capital de giro e investimento na fazenda, atualizando a rentabilidade.
Excelente artigo, Tiago.
Apesar da ressalva clara em que “é preciso levar em consideração que cada fazenda possui uma vocação” concordo com o que o colega Flavio Valente expôs: mesmo ampliando a complexidade da análise com inclusão de outras variáveis, o boi gordo ainda é mais vantajoso que a venda da desmama.
Para os produtores com capacidade de cria da desmama e recria com venda do boi gordo a diferença é significativa.
Abraço.
Marcelo (CRMV17296).
Bom dia Tiago. Bom o artigo.
Gostaria de saber se colocaste nesta conta o espaço que tu liberaria na propriedade não tendo que recriar o terneiro nem engordar o boi. Teoricamente tu libera mais campo podendo alocar mais vacas de cria e consequentemente desmama mais terneiros pra venda.
Pergunto, pois sou relativamente “leigo” no assunto (gerenciamento, custos…). Sou veterinário, estudante de doutorado em reprodução animal e temos uma pequena propriedade em que temos todas as categorias animais e estou tentando especializar na cria.
Obrigado
Sergio Vargas
Ola, Sergio
Analisei somente o cenário cria vs engorda, tomando em consideração apenas 1 animal.
Meu proximo passo é analisar a rentabilidade de acordo com a lotação da propriedade, encontrando o ponto ótimo da composição do rebanho (matrizes vs boi de engorda).
Quando fizer este calculo, dividirei-o aqui no site.
Ate la, fique a vontade para entrar em contato comigo via e-mail: rifdepaula@gmail.com
Abs
Tiago
Agradeço por saber que estou no caminho certo , análise de custo , investimos na raça Beefmaster , colocamos touros na vacada Nelore , sempre criticava meu pai pois queria saber onde estávamos errados , a genética estava ajustada mas o cenário do mercado da carne no Brasil mudou os custos aumentaram , estava doido para vender os bezerros mais depois deste cálculo , mudei , vou investir mais na cria , recria e engorda . O creeping calves dos bezerros foi a melhor saída que vejo , Tiago parabéns pelo seu trabalho , novos pensamentos , mudanças e atitude , Show !
Apenas um reparo. Quando se fala em sobrepreço, a palavra é ágio. A palavra ‘agil’ se refere a agilidade, destreza, rapidez.
Eder
Certissimo, o erro foi meu.
Abs
Tiago
Bom artigo, Tiago!
Porém, aqui no RS, é muito complicado encaixar no sistema o ciclo completo. A especialização em cria ou recria/engorda tem se mostrado mais viável por permitir, dentro do contexto de cada propriedade, maiores ganhos na categoria escolhida. Não digo que a cria se equipare à engorda, mas ao optar pela especialização teremos mais espaço para a categoria selecionada, com maior dedicação e um manejo mais facilitado.
Tem se mostrado complicado manter o ciclo completo de alto desempenho em todas as categorias, dentro de uma mesma propriedade.
Hoje não trabalho no ramo, mas vejo todas as matérias porque sou um apaixonado na pecuária e pretendo voltar um dia se Deus quiser, fico impressionado com os comentários e a clareza das respostas. muito bom trabalho Tiago.
Moro na região de Franca SP
Parabéns!
Excelente matéria Tiago.
Confesso que a matéria veio a mim, em um momento muito oportuno.
Apesar de uma pequena propriedade, me encontro em estudos de escolha para melhores estratégias futuras: Vender a desmama ou engordar o boi.
Muito bom, parabéns.
Oi Tiago…
gostaria de saber: para um plantel de 200 matrizes nelore no norte de Goiás, é preciso de quantas hequitares de terra?
Enilton Ribeiro.
Caruaru – PE
Tiago, bom dia
Realizou uma análise muito crítica e “rica” em informações a qual muitos envolvidos na pecuárias com a conjuntunra econômica do país fica dificil decidir. Com este embasamento que fez a decisão é viavel mesmo agregar valor ao produto como venda de boi gordo.
At,
Rogerio
olá tiago. estou entrando no ramo agora. eu estava em duvida, se engordava ou vendia os bezerro. com este estudo vou engordar os bezerros na minha fazenda.
att. joão silva
URUARÁ PA.
Gostei muito do trabalho. E uma situação intermediária , segurar o terneiro e colocando numa pastagem pos desmame e vendê-lo com 1 ano ? Ex:. Desmama 200kg – 8meses : venda com 1 ano com 300kg. Em torno disto. Isto no rgs.
Sempre vendi terneiros. Este ano vou reter os mais pesados e recria-Los . Menos tempo, menos espaço . Que achas. Obrigado e parabéns pelo artigo
Bom Dia Tiago. Excelente Matéria. Nos últimos anos tenho feito apenas a recria e engorda. Gostaria de saber se o seu raciocino é valido também para o recriador, ou seja, se a rentabilidade da engorda do bezerro adquirido pelo recriador, é superior à rentabilidade do valor desse bezerro, aplicado no mercado financeiro. Espero que tenha sido claro. Sua resposta é muito importante para mim.
Nelson de Souza Paiva
Bom Dia Tiago. Excelente exposição. Meu nome é Nelson de Souza Paiva. Sou invernista, ou seja faço a recria e engorda. Gostaria de saber de você se no nosso caso, invernista, funciona da mesma forma, ou seja se a rentabilidade de engordar um bezerro será também maior que a rentabilidade da aplicação financeira do valor do mesmo. Considere uma condição normal da genética e experiencia. Certo de sua resposta a respeito, antecipo os meus Agradecimentos.
Gilson Pedroso,
Três Marias MG.
Tenho um estudo neste sentido, que encomendei a MATSUDA:
Tecnicamente, com memória de cálculo, dieta e preços dos produtos de sua fabricação fui convencido de que a melhor opção é não descartar o bezerro na desmama, a recria a campo e a terminação no confinamento, aproveitando a condição de estar empastado em seu habitat, é a opção mais tentável e, seu descarte acabado.