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Do Rio para o mundo: Fazenda Futuro levanta R$ 300 milhões

Marcos Leta já parecia ter feito história quando tinha pouco mais de 30 anos e vendeu uma marca de sucos à Ambev – a cervejaria pagou R$ 89 milhões pelo controle da DoBem. Em retrospectiva, a empreitada no universo das bebidas foi só um mero ensaio. A Fazenda Futuro que o diga.

Num mundo faminto por alternativas de proteínas que ajudem a combater o aquecimento global, Leta se tornou um protagonista no Brasil – e, se nada o impedir, também no mundo. A Fazenda Futuro acaba de captar R$ 300 milhões em uma rodada série C que avaliou a startup em R$ 2,2 bilhões.

A rodada, um passo crucial para dar tração à internacionalização da Fazenda Futuro, foi liderada por BTG Pactual e Rage Capital – firma de venture capital europeia que conhece bem o negócio plant based, e que já investiu em startups como Aleph Farms (que produz bife em laboratório) e Clara Foods.

Desde que foi criada, há três anos, a Fazenda Futuro já levantou R$ 450 milhões em capital. Investidores como Monashees, XP Investimentos, Go4it Capital, Turim MFO e Enfini Ventures, que se tornaram sócios da foodtech em rodadas anteriores, acompanharam a série C para evitar a diluição.

Quando começou a Fazenda Futuro, Leta se apresentava nos pitches como uma espécie de hacker dos frigoríficos. A ideia era entender como funcionava a tradicional indústria da carne para “disruptá-la”. “Realizamos diversos estudos que nos levaram a hackear máquinas de frigoríficos para chegarmos na nossa primeira geração do hambúrguer do futuro. E isso é só o começo”, afirmava o fundador no início.

Aos poucos, a foodtech pegou no breu, praticamente criando uma categoria que passou a ser disputada por diversos players no Brasil. O mercado nacional de plant based ainda engatinha – por aqui, a Fazenda Futuro disputa um nicho também explorado fortemente pela Seara-, mas a foodtech de Leta já vem dando passo para conseguir o que nenhum frigorífico brasileiro alcançou.

O Brasil, é verdade, ocupa uma posição privilegiada na indústria da carne – a JBS é a maior produtora do planeta e a Marfrig aparece na segunda posição, mas o destaque para por aí. “Historicamente, o Brasil não tem nenhuma marca de alimentos em grandes supermercados pelo mundo. O que eu acho mais bacana de toda essa jornada, que está muito acelerada, é essa presença a nível global de uma marca que nasceu no Brasil”, diz Leta, em entrevista ao Pipeline.

Com o capital levantado, a Fazenda Futuro vai acelerar a expansão internacional com foco nos EUA. Não é um desafio trivial. O mercado americano de plant based é muito mais desenvolvido, com players do porte de Beyond Meat (a startup abriu capital em 2019 e vale US$ 6,2 bilhões na Nasdaq) e Impossible Foods, foodtech que está captando US$ 500 milhões a um valuation da ordem de US$ 7 bilhões.

Há dois meses em fase de negociação com distribuidores americanos, a Future Farm (como se apresenta lá fora) quer estar presente em todos os grandes varejistas americanos, como já faz no Canadá e em países da Europa – Sainsbury’s, Whole Foods e Jumbo já têm produtos da foodtech brasileira nas prateleiras. Atualmente, a foodtech de Leta está presente em 24 países.

As exportações estão perto de se tornar o carro-chefe da Fazenda Futuro. Hoje, já absorvem quase metade da demanda da startup vem de fora e a expectativa é que os clientes internacionais se tornem os mais importantes da foodtech até o ano que vem. Apesar disso, é vantajoso manter a produção no Brasil graças à abundância de insumos, mão de obra a preço competitivo e câmbio.

“Do ponto de vista produtivo, o Brasil é um dos melhores lugares pra produzir plant-based. Somos o maior produtor de vegetal do mundo, temos acesso à matéria-prima fresca e de boa qualidade, tudo isso facilita”, conta Leta. A capacidade produtiva atual é de 600 toneladas por mês, mas com investimentos pode ultrapassar mil toneladas mensais. A fábrica fica em Volta Redonda, no Rio.

Na expansão, a Fazenda Futuro também vai ingressar em um novo mercado. Se até aqui se dedicou a criar imitações de carne (hambúrguer, frango, carne moída, linguiça, entre outros) e recentemente debutou com o atum de planta, a intenção é chegar aos leites vegetais e derivados, uma indústria também pulsante – a chilena NotCo foi avaliada em US$ 1,5 bilhão em julho, numa rodada de US$ 235 milhões liderada pela Tiger.

A nova aposta deve ser lançada primeiro nos Estados Unidos e na Europa e só depois vir para cá. “Já estava no nosso pipeline diversificar as categorias. O leite vegetal que a gente vai oferecer ao consumidor é totalmente diferente do que ele está acostumado a encontrar hoje no mercado. Temos tecnologias para entregar um produto sem aquele característico sabor adocicado”, assegura Leta.

Mesmo com a entrada em lácteos, o foco da Fazenda Futuro continuará nas versões vegetais de carnes. No momento, a startup estuda 12 protótipos com sua equipe de P&D. Haja paladar.

Fonte: Valor Econômico.

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