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Perspectivas para produção de biodiesel de sebo animal

Um dos produtos da agroenergia, o biodiesel é uma alternativa que vem sendo discutida como forma fortalecer o agronegócio, economizar divisas para o Brasil com importação do petróleo fóssil, reduzir o impacto da emissão de gases poluentes no meio ambiente e promover a inclusão social.

O complexo agroindustrial da pecuária de corte sempre teve uma importância estratégia para a economia. Ao se abater (e desmontar) um animal, os diversos produtos e subprodutos alimentam cadeias produtivas de mais de 40 segmentos industriais, tais como alimentos, indústria de curtume, produção utensílios para diversos fins, rações animais etc. Com o crescimento das perspectivas de produção de biodiesel no Brasil, acrescente a essa lista a indústria de combustíveis.

Um dos produtos da agroenergia, o biodiesel é uma alternativa que vem sendo discutida como forma fortalecer o agronegócio, economizar divisas para o Brasil com importação do petróleo fóssil, reduzir o impacto da emissão de gases poluentes no meio ambiente e promover a inclusão social. Devido a este último objetivo, o programa do Governo Federal de incentivo à produção de biodiesel prioriza a agricultura familiar, através do selo “combustível social”.

Para identificar o grau de biodiesel que contém o combustível, é utilizada a nomenclatura B”X”, onde o X é a porcentagem de biodiesel misturado. Exemplificando, no combustível com 2% de biodiesel, a nomenclatura é o diesel B2. O puro é o diesel B100.

Em 13 de janeiro de 2005, o Governo Federal publicou lei estabelecendo um prazo de 8 anos, após o qual será obrigatória a adição de 5% (B5), em volume, no diesel fóssil comercializado nos postos. No prazo de 3 anos, já estabelece a adição obrigatória de 2% (B2). Isso significa que, a partir de 2008, a lei irá gerar uma demanda por 800 milhões de litros por ano. Autoridades admitem ainda a possibilidade de antecipar as duas etapas de adição de biodiesel no combustível fóssil. A primeira (B2), poderá ser antecipada ainda para 2007. Para a meta de adicionar 5%, existe a possibilidade de criar etapas intermediárias.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, a adição de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo não exigirá alteração nos motores. Os motores que passarem a utilizar o biodiesel misturado ao diesel nesta proporção têm garantia de fábrica assegurada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Fontes de matéria prima

O processo produtivo tem uma certa flexibilidade quanto à utilização de matéria prima, já que o biodiesel pode ser produzido a partir de óleos vegetais, gorduras animais e até mesmo restos de óleos de fritura. No primeiro caso, destacam-se as oleaginosas, como a soja, mamona, girassol etc. O segundo caso traz uma grande perspectiva de geração de riqueza na pecuária, já que o sebo bovino é uma alternativa barata em relação às fontes vegetais.

Cada fonte, seja animal ou vegetal, deve passar por um tratamento para que tenha as especificações adequadas ao processo. Tendo esse requisito atendido, o equipamento não é dedicado, ou seja, aceita matéria prima de qualquer fonte, desde que atenda às especificações, conforme explicou, Ernesto Del Vecchio, responsável pela área comercial de equipamentos de produção de biodiesel da Dedini S/A (indústria que fornece a tecnologia, com sede em Piracicaba/SP).

Processo e utilização de sebo bovino

No caso do sebo bovino, é necessário adequar a acidez e a quantidade de água. A etapa seguinte é a transesterificação etílica ou metílica, que é a separação da glicerina do óleo vegetal ou gordura animal com adição etanol ou metanol. Durante esse processo, com ajuda de um catalisador, a glicerina é removida, reduzindo a viscosidade do óleo. Outra vantagem é que a glicerina, que é subproduto do processo, tem valor comercial.

Ernesto explicou que um dos fatores complicadores da utilização do sebo bovino na transesterificação, é que a matéria prima se oxida com o tempo se não for utilizada imediatamente. Isso aumenta sua acidez e o custo decorrente para a neutralização, necessária para a adequação das especificações do processo. Esse custo pode retirar a vantagem de custo em relação a outras fontes, quando há necessidade de estocagem ou transporte em grandes distâncias. Atualmente, segundo a Intercarnes, o sebo bovino está cotado entre R$ 0,65 e 0,70/kg no estado de São Paulo.

De acordo com o Professor Pedro Eduardo de Felício, da Faculdade de Engenharia de Alimentos, da Unicamp, um boi gordo, de 468 kg pesado na balança da fazenda, irá gerar 48 kg de sangue, ossos e gorduras, que são encaminhados à graxaria. Nesta seção, desses 48 kg, devem ser produzidos 16 kg de sebo.

Segundo o Sistema Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT – órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia), cada 100 kg de sebo bovino, junto a 15 kg de álcool, são capazes de produzir 99,75 kg de biodiesel, o equivalente a aproximadamente 99,75 litros.

Com essas informações, é possível estimar que uma planta um frigorífico com uma capacidade de abate de 1.000 animais/dia tem um potencial produtivo de 16 mil litros/dia de biodiesel a partir de sebo bovino, considerando o animal e os rendimentos citados neste artigo. A FNP estima que em 2006 serão abatidos no Brasil 40 milhões de bovinos, o que segundo os mesmos critérios, oferece um potencial produtivo de mais de 600 milhões de litros/ano de biodiesel. No entanto, é necessário ponderar que o peso de abate e acabamento variam e existem complicações logísticas com a produção a partir de sebo.

Certamente, este novo “produto” do complexo do boi gordo deve fortalecer o setor, pois cria alternativas e aumenta o valor total da carcaça do boi. De qualquer forma, é provável que a oferta de sebo continuará sendo determinada pela produção de carne, e não o inverso. Além disso, o custo de fontes alternativas estabelece um teto para o crescimento da demanda pelo sebo para produção de biodiesel.

Divisão Biodiesel do Grupo Bertin

A assessoria de imprensa do Banco do Brasil informou que foi aprovada recentemente a liberação de R$ 14,6 milhões para o projeto de produção de biodiesel do Grupo Bertin, na planta localizada no município de Lins/SP. Os recursos foram concedidos por meio da linha Finame e destinam-se a aquisição de máquinas e equipamentos, fornecidos pela Dedini, para fabricação de biodiesel em processo contínuo. A assessoria de imprensa do Grupo Bertin afirmou o início das operações está prevista para ocorrer entre outubro e novembro deste ano.

É primeira iniciativa do grupo Bertin nesse segmento. Segundo Cesar Abreu, diretor industrial da Divisão Biodiesel do Grupo Bertin, o projeto será instalado em Lins em função da proximidade das unidades produtoras de matéria-prima e do potencial logístico.

A assessoria de imprensa do Bertin não informou precisamente o montante investido no projeto, podendo variar de R$ 20 a 40 milhões. A planta terá a maior capacidade já instalada no país para a produção do combustível, com uma estimativa de 100 mil toneladas por ano, o equivalente a 100 milhões de litros de biodiesel. O objetivo é atender 14% da demanda nacional, por meio da adição de 2% do produto no diesel, de acordo com Abreu.

A partir dos rendimentos de sebo por animal e de produção de biodiesel apresentados neste artigo, é possível estimar que, se somente sebo for utilizado, serão necessários cerca de 19 mil animais por dia nesses parâmetros para abastecer a produção da planta do Bertin, considerando que a planta opere 330 dias por ano, com capacidade total. Abreu explicou que, além de grande produtor, o grupo é também um “trader” de sebo bovino. A planta de biodiesel poderá receber e trabalhar com matéria-prima de várias unidades, como também buscar no mercado. Além disso, o equipamento oferece a flexibilidade de se utilizar outras fontes, como óleos vegetais, o que segundo Abreu, poderá ocorrer com o mesmo rendimento.

Atualmente, o Bertin tem uma capacidade instalada para abate de 7 mil cabeças por dia, em 5 plantas distribuídas no país: Lins/SP, Mozarlândia/GO, Itapetinga/BA, Naviraí/MS e Ituiutaba/MG.

O produto será utilizado tanto para abastecer a frota do grupo quanto para comercialização no mercado. Atualmente, a ANP autoriza a utilização do diesel B2. Para que o Bertin possa utilizar a forma pura (B100), é necessário um acordo com a Anfavea para “manutenção da garantia dos motores”, conforme explicou Abreu.

Estimativa de custo

Segundo informações da Petrobio, outra empresa que fornece e desenvolve a tecnologia para produção de biodiesel, mais de 80% do custo final de produção do biodiesel é decorrente do custo da matéria prima. Por esta razão, o sebo se torna uma excelente alternativa de fonte de matéria prima devido ao custo reduzido.

Hoje, com o custo do sebo em torno de R$ 0,65/kg, Felipe Aguiar, diretor técnico e comercial da Petrobio, estima que o custo operacional de produção esteja em torno de R$ 0,90/litro utilizando o metanol no processo, sem contar a comercialização da glicerina. Lembrando que essa aproximação não prevê a adequação da matéria prima, que pode incorrer em custos adicionais para neutralização. O custo da neutralização do sebo depende do investimento nos equipamentos. Este processo, que é físico, consiste na destilação para separar a água e os ácidos.

0 Comments

  1. José Luiz Nelson Costaguta disse:

    Excelente artigo. Nos elucida sobre assuntos que muito nos interessam.

  2. Gustavo Silva Cardoso disse:

    É maior número de pessoas empregadas, e um excelente trabalho social e econômico. Parabéns ao Grupo Bertin.

  3. Alexandre de Melo Lemos Neto disse:

    Com certeza tal fato traz mais uma grande oportunidade para o chamado “complexo do boi gordo”, entretanto considerar que tal fato deva fortalecer o setor e aumentar o valor total da carcaça do boi é algo no mínimo utópico e subjetivo, haja visto a remuneração pelo couro (produto muito mais nobre que o sebo) que tanto se comentou e até hoje nada de concreto. Agora pensar que o sebo pode ajudar o pecuarista, infelizmente não cola.

  4. Juarez Carvalho de Abreu disse:

    O artigo traz à tona a discussão sobre a necessidade de se organizar a cadeia da carne, de tal modo que o produtor passe a ter participação nos subprodutos da indústria da carne (couro, sebo etc.).

  5. Hugo Sanchez Guerrero disse:

    Na era pós-petróleo estas alternativas energéticas se tornaram atrativas, se partirmos do princípio que a produção de carne se faz fundamentalmente a partir de pastos (energia solar).

  6. Jose Antonio Vieira da Silva disse:

    Nosso país é rico, temos tudo um dia quem sabe para dar certo. Temos o álcool mais barato do mundo, cerca de 1/4 do sequndo lugar, não somos dependentes de petróleo de outros países, temos outras energias alternativas (biodiesel) – temos sol 365 dias por ano – precisamos de energia solar? Temos grandes extensões agricultáveis, temos dinheiro em abundância, temos políticos, temos mensalões e temos ainda sanguesugas – temos ainda outras pessoas que julgávamos fraternais, e que decepções. Mesmo assim estamos de pé e vamos agüentar este sistema por mais quatro ou mais anos. Temos CPMF e temos também FETHAB (que MT tem a grata vantagem de ser exterquido, aliás MT não, apenas os produtores rurais desse estado e MS).

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