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Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo: relacionamento com grande varejo, contratos e certificação Abras

Miguel da Rocha Cavalcanti, coordenador do BeefPoint, conversou na sexta-feira passada, dia 18-12, com Péricles Salazar, sobre a Associação Nacional dos Fornecedores do Varejo. O objetivo dessa nova entidade, capitaneada por Péricles é melhorar a relação das pequenas e médias empresas com o grande varejo. Segundo Péricles, a situação atual é crítica, com exigências muito grandes do varejo, que ele chamou de "ditadura". Leia abaixo os principais trechos da fala de Péricles Salazar e ouça também o aúdio da conversa por telefone.

Miguel da Rocha Cavalcanti, coordenador do BeefPoint, conversou na sexta-feira passada, dia 18-12, com Péricles Salazar, sobre a Associação Nacional dos Fornecedores do Varejo. O objetivo dessa nova entidade, capitaneada por Péricles é melhorar a relação das pequenas e médias empresas com o grande varejo.

Segundo Péricles, a situação atual é crítica, com exigências muito grandes do varejo, que ele chamou de “ditadura”. Leia abaixo os principais trechos da fala de Péricles Salazar e ouça também o aúdio da conversa por telefone.

Qual o principal objetivo dessa nova entidade, a Associação Nacional dos Fornecedores do Varejo?

Com a entrada do Grupo Sonae no Brasil, houve uma mudança no mercado, com o início da exigência de contratos de fornecimento.

Já tivemos uma entidade parecida com essa recém-criada, com atuação no estado do Paraná, com resultados iniciais positivos. Mas a entidade não vingou. As empresas (fornecedores) têm receio da exposição. Pois essa exposição gera retaliação do varejo.

A prática dos contratos se generalizou por todas as redes, não só as grandes redes, mas também as redes médias. E hoje temos o varejo concentrado.

Aproximadamente 70% de toda carne bovina é comercializada pelos supermercados. E esse número deve ser similar em outras categorias de produtos.

Como você descreveria a situação dos pequenos e médios frigoríficos ao negociar com o grande varejo, hoje?

É muito difícil.

A rentabilidade dos frigoríficos pequenos e médios é baixa. E qualquer outra taxa imposta pelo varejo, isso gera um problema muito grande na rentabilidade da empresa.

Em média, os descontos impostos pelo varejo vão de 8 a 20% do valor total do produto comercializado.

Você poderia nos dar exemplos de exigências do varejo em relação aos frigoríficos, que essa nova associação tenta combater?

Há diversas formas do varejo, por meio de contratos, exigir descontos dos seus fornecedores.

O enxoval é o primeiro fornecimento a uma loja que está sendo inaugurada. Esse fornecimento é de graça, não é cobrado.

Quando a loja completa um ano, dois anos, etc, há o “aniversário”, ou seja, aquele fornecimento também é de graça.

Rapel é um desconto fidelidade, uma comissão, que varia de fornecedor para fornecedor. É uma exigência do varejo, para que ele continue a comprar daquela empresa.

A margem dos supermercados é muito elevada. Contratamos um estudo semanal com os markups (margem bruta) dos cortes desossados praticados pelos supermercados. Oscila de 80 a 120%.

Quais as sugestões vocês têm de mudança na relação comercial com o varejo?

Dentro da Federação das Indústrias do PR, foi criado um comitê de relacionamento indústria-varejo. Criar uma entidade nacional busca alertar, conscientizar e unir fornecedores de todo o país, uma vez que isso ocorre em todo o Brasil.

O modelo dessa associação é de uma entidade de entidades. Os filiados são outras entidades, como a Abrafrigo. O objetivo é não identificar individualmente as empresas, sem gerar exposição. Essa exposição é que inviabilizou outras iniciativas similares no passado. O problema da exposição é a retaliação comercial do varejo contra empresas que se mostram publicamente contra essa questão.

O que a associação já fez, ou pretende fazer no futuro próximo para dar maior poder de barganha aos seus associados, frente o grande varejo?

Nós vamos contratar um parecer jurídico sobre os contratos atualmente usados. O pagamento, dos supermercados para os fornecedores, é feito via depósito em conta, não contra uma fatura emitida pelo fornecedor.

Há um agravante nessa relação, que é a questão tributária dessa operação. Quando eu entrego um produto com valor de 100, o fornecedor paga imposto sobre 100, e o varejo se credita sobre 100. O problema é que o fornecedor recebe menos do que isso, em alguns casos até 80% do valor.

Nossa avaliação inicial é que isso está errado. Por isso estamos contratando esse parecer jurídico. Se isso estiver errado, é passível de devolução, aos fornecedores e também ao erário, federal e estadual.

Esse é um problema difícil e complexo, mas estamos dispostos. É preciso combater a ditadura das grandes redes. E as margens do varejo são muito altas.

Outra iniciativa é a tentativa de se instalar uma CPI dos supermercados. Essa CPI investigaria o poder de pressão e a condição desigual entre grande varejo e pequenos e médios fornecedores. Uma CPI poderia alertar o mundo político e econômico sobre essa questão. A CPI poderá dar visibilidade a essa demanda do setor.

Pretendemos eliminar totalmente os contratos, com todas essas exigências. Os contratos impõe, de modo geral, condições que as empresas não têm como arcar.

Além disso, no dia-a-dia, os supermercados fazem descontos extras, sem consultar o fornecedor, pois não é emitida uma fatura, depositando um valor menor. Para se conseguir rever esse valor, é preciso enfrentar uma grande burocracia.

Queremos uma ação para conscientização desses problemas, por toda a sociedade.

Você teria exemplos de algo feito por empresa associada da entidade, que foi compartilhado entre os associados, ajudando a melhorar a situação dessas pequenas e médias empresas, frente aos supermercados?

Aos longos desses anos já vimos vários exemplos. Há casos de empresas que entraram com ações contra redes de supermercados e tiveram seu dinheiro devolvido. Em nossas reuniões, há muitos relatos de ações nesse tipo.

Quando se é um grande fornecedor, a negociação é diferente. Estamos preocupados com o conjunto de pequenas e médias empresas. Compartilhar essas experiências e relatos é um dos principais objetivos dessa associação.

As grandes empresas, e até mesmo os grandes frigoríficos, têm vantagens diferenciadas em relação aos pequenas e médias empresas e frigoríficos, na relação com o grande varejo?

Eu não acredito que existam grandes diferenças. As reclamações dos grandes frigoríficos também é grande. Em muitos casos, a Abrafrigo é divergente com os grandes frigoríficos, em outros é convergente. Nesse caso, dos supermercados, é claramente convergente.

Estive em Brasília, em função da nova certificação da Abras, e houve muitas reclamações em relação aos contratos. Vamos trabalhar juntos.

Como essa nova entidade vai trabalhar em conjunto com a Abrafrigo?

A Abrafrigo é uma associada dessa entidade e eu fui convidado a coordenar essas ações. Não é uma ação conjunta da Abrafrigo com essa nova associação. A Abrafrigo é apenas uma das entidades que formaram essa nova Associação Nacional dos Fornecedores do Varejo, que engloba inúmeros setores de economia, não apenas carne bovina.

Não é fácil trabalhar esse problema. Encontramos várias resistências, de empresas e entidades. O que discutimos no privado, muito dificilmente se fala no público. Estamos lidando com um problema com o principal fornecedor da maioria das empresas.

Agora nessa questão da certificação da Abras, decidimos que não seria interessante participar do evento de lançamento, para não endossar esse novo programa. Eu não fui por conta disso. E nem a Abiec foi lá. É muito difícil para uma empresa não aceitar um convite. Muitas empresas foram ao lançamento, para ouvir. Nesse assunto da certificação, quem está por trás são as três principais redes: Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour, que representam um grande percentual da carne bovina comercializada no Brasil.

0 Comments

  1. ROGERIO BORGES CAMPOS disse:

    Realmente estas redes de varejo pisam na garganta do pequeno fornecedor!

  2. Lazaro Alexandre Thomazini disse:

    É extremamente necessário que algo seja feito com urgência, pois os pequenos e até os grandes fornecedores já não aguentam mais dar tanta mercadorias para as redes de supermercados, é verba para construção, para reforma, para inauguração, aniversário, se o supermercado vai trocar o sistema de frio(balcões e ilhas) o fornecedor é que tem que pagar, tá na hora de dar um basta nisso e além de tudo ainda é preciso contratar funcionários(promotores de venda) para na maioria das vezes ficar a disposição da loja como se fosse empregado dela.
    Ainda tem a parte fiscal, se o contrato de fornecimento for de 20%, o supermercado compra R$100,00 e só paga R$80,00, ou seja credita imposto sobre o valor da compra, mas e o imposto sobre a saída como fica?
    O governo tá precisando arrecadar, então tá na hora dele também tomar uma providencia.

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