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16 de dezembro de 2011
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Pegada Hídrica e a produção de bovinos de corte

Uma pergunta simples, mas ainda difícil de ser respondida é: quanto de água consome meu rebanho? Ou quanto de água se consome para produzir um quilograma de carne?

Em qualquer fórum nacional ou internacional em que esteja sendo discutida a competitividade da agropecuária brasileira, o recurso natural que aparece como grande diferencial de competitividade é a água. A América do Sul e o Brasil são ricos nesse recurso natural. Preservá-lo e conservá-lo em quantidade e qualidade é estratégico para a manutenção da competitividade e para a sustentabilidade de nossa produção de proteína animal.

Historicamente, a relação da produção animal brasileira com a água é de exploração do recurso. Isso se deve à perpetuação da ideia de que o país é rico em água, por isso, ela nunca irá faltar. Essa ideia não é totalmente verdadeira.

Possuímos muita água, mas grande parte dela está na região Norte do país (Bacia Amazônica). Portanto, já temos diversos conflitos pelo uso da água, pois a necessidade dos usuários é maior do que a oferta de água em determinadas regiões.

Com o objetivo de reduzir esses conflitos é que a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída em 1997, traz como um de seus instrumentos de gestão a outorga de direito de uso. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), esse instrumento tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos.

Uma pergunta simples, mas ainda difícil de ser respondida é: quanto de água consome meu rebanho? Essa resposta deve ser dada pelo produtor, por exemplo, no momento em que ele for requerer sua outorga. Uma pergunta ainda mais difícil e que começa a ser feita pela sociedade e por aqueles que têm como missão gerenciar os recursos hídricos é: quanto de água se consome para produzir um quilograma de carne?

Estudos com o objetivo de responder a essas perguntas começaram a ser feitos nos últimos anos. Existem vários métodos que podem ser utilizados. Um dos que têm tido maior aceitação pela comunidade científica e governos e destaque na mídia é o método da pegada hídrica.

A proposição de cálculo da pegada hídrica surgiu no início do século (2001/2002). Ela foi proposta pelo pesquisador Arjen Hoekstra, da Unesco, sendo aprimorada por pesquisadores da Universidade de Twente, na Holanda. Atualmente, grande parte dos estudos é feita pela Water Footprint Network.

A essência do cálculo da pegada hídrica é a mesma que já vinha sendo desenvolvida pelas pegadas ecológica e de carbono: entender os sistemas de produção como elos de uma cadeia produtiva que se inicia na geração de insumos e termina na oferta de produtos ao consumidor.

Esse tipo de entendimento significou uma ruptura em relação à visão ambiental vigente naquele momento e ainda hoje. Entendia-se que o manejo ambiental deveria ser feito da porteira para dentro. Essa visão não é adequada, pois a propriedade sempre se relacionou com o entorno, com a região e com o território.

Por exemplo, uma propriedade que capta água de um rio que passa por ela se relaciona com tudo que estiver à montante (acima) no rio – o uso que está sendo feito pelos usuários acima irá determinar a quantidade e a qualidade de água dessa propriedade; se uma propriedade utiliza insumos nutricionais produzidos em outra região com escassez hídrica, esses insumos terão maior custo e sua oferta diminuirá; uma propriedade que compra animais de outra está comprando água na forma de animal, pois a maior parte de qualquer ser vivo é água.

Esse é o principal motivo do conflito que a divulgação da pegada hídrica da carne bovina causou no setor pecuário brasileiro e mundial – trata-se de uma nova forma de entender a cadeia de produção. O problema é que essa novidade não foi explicada para o setor produtivo e para a sociedade. Simplesmente, foram divulgados altos valores.

Divulgou-se que para produzir um quilograma de carne bovina são consumidos 15.500 L/kg/carne. Mas não foi divulgado que para se chegar a esse número o sistema produtivo padrão foi: sistema industrial, média de três anos para o animal ser abatido e produzir 200 kg de carne. Nesse sistema o animal consome: 1.300 kg de grãos, 7.200 kg de volumosos, 24 m3 de água de bebida e 7 m3 de água para serviços.

Por quilograma de carne: 6,5 kg de grãos, 36 kg de volumosos e 155 litros de água. Vê-se que o sistema tido como padrão não representa o padrão brasileiro. Os autores do método sempre reforçam que os valores obtidos com o cáculo da pegada hídrica não devem ser comparados, pois a água tem um forte componente local, ou seja, o entendimento do valor deve estar relacionado à oferta hídrica da região produtora.

Para Chapagain & Hoekstra (2003; 2004), a pegada hídrica das atividades pecuárias varia muito entre países e sistemas de produção. O sistema de produção é altamente relevante para o valor da pegada, composição e distribuição geográfica desta. Da mesma forma, o país em que o produto é feito influencia o valor.

O Brasil deve ter estudos que avaliem as demandas hídricas de suas commodities agropecuárias, caso contrário, o país sempre será refém de estudos internacionais.

O cálculo da pegada considera os seguintes consumos: água para produção dos alimentos que serão fornecidos aos animais; dessedentação e serviços (limpeza e resfriamento das instalações); água necessária para diluir os efluentes da produção; água consumida no processamento e abate dos animais. O método entende consumo como: captação de águas superficiais e subterrâenas; água evaporada e transpirada na produção das culturas vegetais (processo de evapotranspiração); água que retorna para outra unidade hidrográfica que não a sua unidade de origem ou para o mar e quando está incorporada a um produto. A pegada pode ser expressa em: m3/ano/animal, m3/animal e m3/kg de produto.

O cálculo também diferencia a demanda de água verde (água da chuva, não considerando a água que escorre ou infiltra, que não é utilizada pela cultura agrícola); água azul (extraída de fontes superficiais e subterrâneas e utilizada na irrigação das culturas, dessedentação dos animais e serviços); água cinza (definida como o volume de água necessário para diluir os efluentes da atividade pecuária, considerando os padrões ambientais e legais dos corpos d´água). Portanto, a pegada hídrica é composta por componentes indiretos (água utilizada na produção dos alimentos) e diretos (água consumida na dessedentação e serviços).

É possível que a pegada seja calculada sem considerar todos essas demandas, podendo ter como “fronteira” a fazenda, a região, o Estado ou país. Portanto, na interpretação do valor deve estar claro o que foi considerado no cálculo e qual é a “fronteira”. Por exemplo, pode-se ter uma pegada de 150 L/kg de carne produzida – certamente, neste caso a “fronteira” utilizada foi reduzida, limitando-se a parte de uma fazenda. Sem esses esclarecimentos a interpretação do valor conduz a erros. A Figura 1 representa a “fronteira” de cálculo para a cadeia produtiva de bovinocultura de corte. Essa “fronteira” pode ser reduzida, considerando-se somente o cálculo da pegada do abatedouro, mas isso deve estar explícito nos resultados.

Os autores do método possuem vários estudos para as cadeias de produção animal. Na Tabela 1 observa-se a quantidade de água consumida para várias espécies e para três sistemas de produção. Os valores da Tabela 1 são médias mundiais, portanto, para calculá-los foram feitas muitas inferências e determinadas médias nacionais. Certamente, para países com dimensões continentais e diversos sistemas de produção como o Brasil, o melhor valor será aquele que considere as realidades produtivas brasileiras. Isso não invalida as médias globais, pois um dos objetivos do cálculo da pegada é atingido: explicitar a íntima relação entre produção de proteína animal e recursos hídricos.

Figura 1- “Fronteira” de cálculo da pegada hídrica na cadeia de bovinocultura de corte.

Tabela 1- Valor da pegada por categoria animal e sistema de produção (Gm3/ano).


*Sistema de produção que envolve pastejo e confinamento dos animais.
Fonte: Mekonnen & Hoekstra (2010)

Atualmente, as limitações para cálculo da pegada da pecuária de corte brasileira são:
1. Inexistência de cultura hídrica na cadeia produtiva;
2. Falta de informações para o cálculo aumenta a necessidade de inferências, as incertezas e os conflitos;
3. Pouca interação entre pecuária e agricultura;
4. Pecuária de corte, fonte de poluição pontual e difusa; por isso, é preciso dimensionar essas duas fontes para ter um cálculo mais robusto;
5. Determinação das fronteiras do cálculo (sistemas de produção e áreas geográficas);
6. Ausência de visão e políticas sistêmicas dos atores das cadeias e tomadores de decisão;
7. Aversão de alguns atores da cadeia à metodologia, portanto, baixa cooperação para trabalhos conjuntos;
8. Baixo entendimento do método pelos atores e pela sociedade;
9. Sensacionalismo da mídia na divulgação da pegada e poucas ações que visem o esclarecimento da sociedade quanto ao método.

Entende-se que o conhecimento da demanda hídrica dos vários sistemas de produção de bovinocultura de corte presentes no país é uma oportunidade para:

1. Assegurar a disponibilidade de água em quantidade e qualidade para a sustentabilidade do complexo de carnes brasileiro;
2. Internalizar a água em suas três dimensões (recurso natural, insumo e alimento) na cadeia produtiva de bovinocultura de corte;
3. Conhecer o consumo das águas verde, azul e cinza pelos diversos sistemas de produção e nas diferentes regiões a fim de facilitar a gestão desse recurso natural;
4. Promover a eficiência do uso da água e o estabelecimento de boas práticas hídricas, principalmente, nas áreas de concentração das produções;
5. Reduzir a vulnerabilidade mercadológica dos produtos brasileiros;
6. Reduzir os conflitos entre a cadeia produtiva e a sociedade e com os atores externos;
7. Detectar áreas vulneráveis, identificando onde a demanda tem o maior impacto ambiental, social e econômico;
8. Formular políticas e estabelecer metas de redução da demanda hídrica (aumento da eficiência hídrica);
9. Auxiliar na formulação de zoneamentos e programas de gestão da água;
10. Conhecer os fluxos de água virtual do complexo de carnes;
11. Identificar a dependência hídrica de outros países pela importação de nossos produtos.

Como dito, a metodologia da pegada não é a única existente para calcular a demanda hídrica de um produto. Por ser uma metodologia nova, está em construção e deve sofrer ajustes. Mas o resultado mais importante desses conflitos iniciais foi a discussão que ocorreu em torno da necessidade de água para a produção de carne. Seu aprofundamento permitirá ao setor pecuário brasileiro gerar seus próprios resultados, não ficando refém de estudos internacionais.

A avaliação da demanda hídrica traz à discussão outros conceitos que cada vez mais estarão presentes no dia a dia das produções e serão questionados pela sociedade. O conceito de produtividade de água – relação entre a quantidade de produtos e a quantidade de água utilizada para gerá-los – é o de maior importância, entendido como um indicador de desempenho hídrico da atividade.

Possuir a informação da demanda hídrica permitirá implementar ações, práticas, políticas e programas para melhorar a eficiência hídrica e, por consequência, trará segurança hídrica para o setor e o Brasil.

Evoluímos em nossos sistemas de produção e em nossos manejos reprodutivos, nutricionais e sanitários. Internalizamos novos conceitos e valores como a rastreabilidade e o bem-estar animal. Agora é o momento de darmos um novo salto, entendendo que manejar ambientalmente a atividade é conhecer os seus fluxos de nutrientes, energia e água (NEA).

O conhecimento desses fluxos proporcionará uma produção animal ambientalmente mais equilibrada, rentável e socialmente valorizada, pois a produção será entendida não como uma exploradora de recursos naturais, mas sim como uma transformadora eficiente e eficaz de elementos em alimento.

A Embrapa Pecuária Sudeste irá realizar em março de 2012 o II Simpósio Produção Animal e Recursos Hídricos – II SPARH. Um dos temas do evento será a pegada hídrica das produções animais. Informações podem ser obtidas no endereço www.cppse.embrapa.br/II-simposio-em-producao-animal-recursos-hidricos-IISPARH

Julio Cesar Pascale Palhares é Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, zootecnista formado pela Unesp, com mestrado em energia na agricultura (Unesp) e doutorado em ciências ambientais (USP). Atua na área de avaliação de impacto ambiental e manejo de recursos hídricos com bovinos de corte e de leite.

Literatura Citada

CHAPAGAIN, A.K.; HOEKSTRA A.Y. Virtual water flows between nations in relation to trade in livestock and livestock products. Netherlands: UNESCO-IHE, 2003. 198p.

MEKONNEN, M.M.; HOEKSTRA, A.Y. The green, blue and grey water footprint of farm animals and animal products. Disponível em: http://www.waterfootprint.org/Reports/Report-48-WaterFootprint-AnimalProducts-Vol1.pdf. Acesso em: jan. 2011

15 Comments

  1. Homilton Narcizo da silva disse:

    Toda vida tive curiosidade em saber quantos litros de agua seria nescessario para produzir um quilo de carne, mas não sabia nem e onde encontrar pesquisas a respeito. Vejo nesta reportagem uma  esclarecedora pesquisa apesar de meio complexa, porque eu pensava que  esta  pesquisa seria mais simples; Exemplo se um determinado produtor  fosse usar agua de um poço natural ou artesiano, e colocasse um hidrometro, medindo toda agua comsumida desde o nascimento até o abate, mas como é feita fica muito complexa para um leigo entender. Mas admiro estas pesquisas e parabenizo com a faz.
    Abraços Homiton

  2. José Manuel de Mesquita disse:

    Pois é…  Cada um faz a conta de chegada que lhe convém…

    Ainda não vi nada que mencione algum estudo sobre as quantidades devolvidas a natureza após usadas por cada animal…

    A lógica nos obriga a deduzir que,   a maior parcela da água consumida pelos animais é devolvida a natureza, pelas fezes, suor e urina, que após evaporação, são reincorporadas ao sistema…

    Terrorismo puro…  a serviço de interesses de quem anda financiando tais estudos…

  3. wilson tarciso giembinsky disse:

    Não vamos esquecer que:
    1- se esta água não for usada vai para o mar e não deixa benefícios em terra.

    2- que o processo é dinâmico, parte da água é fixada temporariamente no animal e seus produtos mas depois, por diversos caminhos e transformações, volta à natureza.

    3- que nem toda água que o gado bebe se fixa temporariamente muita água, a maior parte, é devolvida à natureza nos processos metabólicos, fezes, urina, respiração, transpiração, baba….  

    4-que ao fazer o item 3, vai alimentar o lençol freático minimizando o efeito enchente à jusante porque volta aos poucos ao córrego

    5- também contribui para aumentar a umidade doambiente, formação de nuvens e lá vem o  efeito chuva…

    6- além de fixar água o gado também fixa carbono e que parte de ambos são incorporados ao organismo do consumidor de proteína animal

    7- que como disse Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma…

  4. Luciano Andrade Gouveia Vilela disse:

    Que eu saiba em nenhum dos processos citados existe a hidrólise da água, transformando esta em gases Hidrogênio e oxigênio. De forma que o consumo pelo animal ou pelo capim é temporário da água líquida no solo voltando a água evaporada pela evapotranspiração. Mesmo a agua líquida ingerida pelo boi tem sua origem no ciclo chuvoso da água ( os ribeirões ou lençol freático são reabastecidos por este ciclo).

    Para quem não entende nada a visão destes valores assusta. Mas a verdade é que tirando a água cinza (dos frigoríficos), que também pode ser tratada, e é em torno de 4 litros por Kg, poderíamos dizer que o consumo seria de aproximadamente 75% do peso vivo do animal na hora do abate ou seja aproximados 1,8litros  + 4litros = 5,8 litros de água por Kg de carne em natura.

    Quando um sistema super intensivo requerer enorme quantidade de água momentânea para dessedentação, aí sim poderá se falar em "consumo" por que a fonte imediata desta demanda poerá localmente ou temporáriamente disputar este bem com outros usos, já que o retorno ou ciclo  não é imediato e nem no mesmo local.

  5. Luciano Andrade Gouveia Vilela disse:

    Sendo assim então a cadeia produtiva da carne deve esclarecer ao consumidor esses detalhes por que os 15000 litros ou mais são constantemente divulgados na mídia e principalmente naqueles veículos não específicos do meio científico ou produtivo, levando a uma concepção errônea por parte do cidadão consumidor desinformado, criando uma visão equivocada de que que a produção de carne é não sustentável.

    A história mostra que toda a área que deixou de produzir a pecuária foi para a produção de bens mais sofisticados ou mais intensivos, mostrando que após a pecuária pode se vir usos do solo mais tecnificados ainda tão mínima é a degradação da pecuária em décadas de uso.

  6. Julio Cesar Pascale Palhares disse:

    Colegas, agradeço os comentários postados. Não tenho dúvidas que a melhoria da eficiência hídrica de nossas produções pecuárias necessita da discussão e participação de todos, pois o tema é novo e complexo. Assim, quanto mais internalizarmos em nosso cotidiano produtivo o tema água, mais informações teremos para responder as questões da sociedade  e estaremos menos vulneráveis e informações e entendimentos errados de nossos sistemas de produção. A metodologia da pegada hídrica, bem como a das pegadas de carbono e ecológica insere conceitos novos, até então, não aplicados nas atividades pecuárias. Temos que discutir esses conceitos, analisá-los e, quando necessário, propor mudanças sempre tendo como objetivo a conservação desse recurso natural imprescindível para produção de proteína animal.

  7. José Manuel de Mesquita disse:

    Prezado Júlio Cesar Pascale Palhares

    Entendo que conceitos novos possuem uma certa complexidade, mas não deveriam ser suficientes para ignorar conceitos  básicos da  física mencionados por Lavoisier.

    De maior praticidade seriam as informações abaixo, desde que condicionadas a uma tabela de temperatura ambiente e ainda proporcional ao peso do animal.

    – Do total de água utilizado por animal / ano
    – A parcela de água retida por cada animal / ano
    – A parcela (%) devolvida a Natureza (transpiração, urina e fezes), e em quanto tempo.

    Seria de mais fácil entendimento, e produziria melhores resultados práticos.

    Abraço, saúde e sorte…

  8. Julio Cesar Pascale Palhares disse:

    José Manuel,

    Sim, não devemos ignorar o que a natureza já nos ensinou, como as Leis da Física e outras.
    O método da pegada entende que mesmo que o animal "devolva" água a natureza na forma de transpiração, urina e fezes e que essas retornarão ao ciclo hidrológico, a cinética e o estado temporal do ciclo foram alterados, bem como a qualidade da água que retorna, principalmente quando falamos em urina e fezes, águas que não poderiam ser utilizadas de forma direta por outra atividade humana ou serviço ambiental.
    O método sempre tem como base de referência o estado natural, sem a interferência humana.
    As premissas do método não são "verdades" absolutas e a ciência é construída utilizando-se vários métodos e técnicas, por isso tudo está em aberto.
    Existe um grupo técnico na ABNT que está estudando a proposição de um método de cálculo da pegada, considerando ajustes ao método internacional. Essa é uma oportunidade para o Brasil discutir o cálculo da demanda hídrica das produções animais.
    Abraço. Julio

  9. wilson tarciso giembinsky disse:

    Ola pessoal, estou gostando da troca de idéias,  venho aqui dar mais um piteco….

    Convém lembrarmos que, por qualquer meio que a água retorne ao ciclo hidrológico, até por evapotranspiração, sempre haverá alteração na cinética e no estado temporal, mesmo que ela siga seu curso natural nos rios e desague normalmente no oceano, estas alterações também ocorrem, embora em lapsos temporais diferentes.

    Lembramos que urina e fezes do gado de corte, criados a pasto, ficam no pasto, a parte sólida é nutriente, os minerais dissolvidos, parte são absorvidos pelos vegetais como nutrientes  outra parte segue com a água na filtragem natural como ocorre com todas as águas, incorporados ao lençol freático que abastece poços, nascentes e, por caminhos diversos, naturalmente vai contribuir para a salinização dos oceanos, sendo de lá retirados, para voltar a utilização, pelo homem e a água evaporada volta ao ciclo da natureza.
    Sei que estamos falando de bovino,  mas podemos extrapolar um pouco, ideia não tem cerca,  pensarmos na pegada hídrica, na pegada de carbono,  dos 7 bilhões de habitantes do planeta, cuja concentração urbana degrada e polui tudo, terra, água, ar,  inclusive oceanos!!!!

  10. Julio Cesar Pascale Palhares disse:

    Wilson, certamente as ideias não têm fronteiras. Temos os métodos das pegadas (hídrica, carbono e ecológica). Nesta semana vi uma campanha da WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal, onde falam de Pegada Animal. Quem se interessar veja o link:
    http://e-activist.com/ea-action/action?ea.client.id=24&ea.campaign.id=13047&ea.tracking.id=website
    Além das pegadas, existem outros métodos muito falados, como as análises de ciclo de vida, de energia, de materias e de emergia.
    Todos são ferramentas que podem nos ajudar a avaliar o desempenho e eficiência ambiental de nossas produções. Certamente, não existe a melhor, são abordagens diferentes e que, muitas vezes, os resultados não podem ser comparados, como tem sido feito pela mídia e alguns setores.
    Qual usar é uma escolha nossa, penso que a escolha que não temos e não avaliar, caso isso ocorra, seremos refens da informação de outros, com outros interesses.

  11. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    A nós homens não é dada a capacidade de compreensão da realidade como um todo. Sempre acabamos fazendo recortes da realidade.

    E cada uma destas novas métricas empregadas pela comunidade científica nada mais é do que a proposta de recorte do(s) seu(s) criadore(s). Todas possuem limitações, mas isto não invalida o uso. De fato é o único jeito de avançarmos. Muitas vezes para compreender melhor uma realidade temos que analisar o resultado de várias destas metodologias simultaneamente.

    Concordo com o José Manuel de Mesquita  que não importa sabermos apenas quanta agua foi "consumida" pelo boi, pastagens e grãos para produzir um kg de carne. Mesmo porque a imensa parte ou mesmo a totalidade desta agua retorna ao ciclo. E não contaminada, ao contrário do que ocorre muitas vezes com a agua em processos industrais.

    Em suma, sem dúvida podemos e devemos compreender o que cada uma destas métricas pode agregar na melhoria da eficiência dos nossos processos produtivos. Mas temos também que estar prontos para contestar eventuais usos políticos destas métricas contra nossa atividade.

    O problema é que a mídia não-especializada costuma não aprofundar / explicitar as caracteristicas e limitações de cada uma destas métricas, e muitas vezes permite a difusão de conclusões equivocadas por parte de alguns grupos de interesse.

    E infelizmente alguns grupos de ambientalistas mais extremados tem tido exito em vincular resultados parciais que apontam elavado impacto ambiental da atividade pecuária. Cabe a nós tentar esclarecermos para a população nossos pontos de vista.

  12. wilson tarciso giembinsky disse:

    Julio,  estou em uma região onde há abundância de chuvas de novembro a março e falta delas de maio a setembro, isto também acontecia com a água disponível para o gado.

    Primeiro tivemos que regularizar o abastecimento de água do rebanho para depois desenvolvermos o rebanho.

    Passamos de consumidores de água naturalmente existente, para "produtores" de água.

    Conservando o solo,  recuperando e preservando matas ciliares, construindo bacias e  barragens,  elevamos o lençol freático, recuperamos nascentes, tornamos perene um córrego antes intermitente.

    Este trabalho teve seu início em março de 1978 e continua seu processo até hoje.  

    O córrego tornou viável a produção nas 10 fazendas da região que usam sua água para dessedentação animal além de  abastecer dois pivos centrais, um terceiro está em fase de estudos e implementação.

    Tudo isto sem nenhum incentivo governamental  ou dos ambientalistas de plantão,  que, pelo contrário, pensam em desfazer as barragens que construímos para possibilitar a perenização e o uso do córrego.

    Lógico que há abusos, principalmente daqueles que, acostumados com a abundância de recursos naturais não pensam em preservá-los, esclarecimentos são necessários.

    O produtor consciente, esclarecido (não quer dizer estudado) sabe que deve cuidar bem do seu meio de  produção, sob pena de não conseguir produzir no futuro.   

    Necessário se faz  mais esclarecimentos direto a alguns produtores sim.

    Também é necessário divulgar  nos meios de comunicação que nem todos são degradadores do meio ambiente como pregam.

    Se desejar conhecer nosso trabalho entre em contato  34- 9944 1313

    Se pudermos ajudar no seu, já que carece de dados de base produtiva, isto não quer dizer que os tenhamos, mas podemos tentar coletar,  estamos à sua disposição

    Wilson

  13. Julio Cesar Pascale Palhares disse:

    Caro Wilson Giembinsky,

    Parabéns pela trabalho e pela implantação da cultura de preservação e conservação da água. Experiências como essa mostram que é possível produzir e conservar. É bom que use espaços como esse para compartilhar suas experiências, assim todos nós poderemos levar a mensagem.
    Quando diz "Primeiro tivemos que regularizar o abastecimento de água do rebanho para depois desenvolvermos o rebanho". Essa seria uma regra para qualquer produção animal. Infelizmente, muitos ainda pecam em não segui-la e vão aprender depois que sem água não há produção.
    As ações que fizeram, entendo que não são de alto custo, mas certamente, de alto benefício, pois trouxe a segurança hídrica para região. Isso é de extremos valor.
    Para ciência agrária é fundamental a parceria com a produção para podermos ter informações nos mais diversos ambientes produtivos. Agradeço a disponibilidade.
    Convido para participar do II Simpósio em Produção Animal e Recursos Hídricos que ocorrerá de 22 a 23 de março aqui em São Carlos.
        http://www.cppse.embrapa.br/II-simposio-producao-animal-recursos-hidricos-II-SPARH
    Assista o vídeo de divulgação do evento em:
        http://www.youtube.com/watch?v=CgXvXjvyfI4
    Terá a oportunidade de trocar informações com outros profissionais e compartilhar suas experiências com eles.
    Abraço.
    Julio

  14. Bruna Rosa disse:

    Acredito também que, antes de condenarmos os animais (ditos irracionais) e discutirmos quanto eles consomem, perdem, devolvem, etc, devemos nós, como seres racionais, nos fazer uma auto-crítica sobre o desperdício de água. Nós somos responsáveis pelas grandes catátrofes… muita sujeita, muito lixo, muita hipocrisia.
    Por isso, concordo com os companheiros que alegam que esse tipo de estudo é muito tendencioso e tem algo por trás disso.

    Se o ser humano olhar pro seu prórpio umbigo, muita coisa mudaria nesse mundo! A começar dentro de sua casa, de sua propriedade, comunidade, cidade… e por aí vai.

  15. Julio Palhares disse:

    Bruna,

    Concordo com você que os seres humanos tem o dever de preservar e conservar a água e que muitas vezes ouvimos discursos maravilhosos, mas o indivíduo, no dia a dia, não pratica o que fala.
    Mas também temos que ter estratégia. Calcula-se que de 70 a 80% da água doce consumida no planeta é utilizada para as atividades agropecuárias. Portanto, por mais que cada ser humano seja altamente eficiente no uso da água, o impacto positivo no todo será muito pequeno. Daí a importância da agropecuária internalizar o manejo hídrico em suas atividades.
    Lembro que qualquer estudo científico pode estar contaminado por interesses particulares, setoriais, etc.. Isso é natural, pois isso é inerente aos seres humanos. Mas temos que tomar cuidado com essa prática que se tornou comum no Brasil de rotular dados, resultados, estudos como produto do interesse de outros. Isso acontece, mas não é a regra e nem pode ser generalizado.
    O que temos que pactuar como profissionais da área pecuária é que água e produção de proteína animal são coisas integradas e merecem ser estudadas, avaliadas e manejadas, independentemente, de como faremos isso.
    Se água é um dos principais diferenciais que o Brasil tem frente aos outros países, devemos saber conservar esse diferencial, pois sabemos que ele é finito.

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