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Pecuaristas temem gado importado

A redução da oferta de gado para abate no Brasil, causada pela seca acentuada em algumas regiões produtoras em 2020, levou o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sicade-MS) a pedir autorização ao Ministério da Agricultura para importar animais vivos do Paraguai. A falta de matéria-prima levou à paralisação de duas plantas no Estado e à redução de 20% na capacidade produtiva dos frigoríficos. Pecuaristas do vizinho Mato Grosso reagiram à proposta e alertaram que, com uma eventual compra de bovinos paraguaios, ainda não permitida, o país pode acabar exposto a risco sanitário.

“Todas as plantas do Estado estão ociosas hoje, muitas estão abatendo apenas duas ou três vezes por semana”, conta Régis Comarella, vice-presidente do Sicade-MS. “Além de abater muito pouco, a demanda está ruim. A venda de carne caiu muito por causa do preço alto da arroba e do corte ao consumidor final”. 

Segundo Comarella, dois frigoríficos deixaram de abater neste mês devido à falta de boi pronto. A atividade em Mato Grosso do Sul reduziu cerca de 20% em janeiro, quando foram abatidas 216 mil cabeças. A média mensal é de 260 mil unidades. “Em fevereiro, devemos abater de 35% a 40% menos”, explicou. 

O sindicato disse que o pedido de autorização para importar não especifica prazo ou cota – o Valor apurou que o objetivo é trazer ao menos 20 mil cabeças de gado do Paraguai. Lá, a cotação está mais baixa. De acordo com a Scot Consultoria, a arroba está avaliada em US$ 45,75 no país vizinho, ou quase R$ 249. No Brasil, o boi gordo estava cotado a US$ 54,45 ontem, ou R$ 296.

“O Paraguai tem boi disponível. A autorização vai beneficiar muito os frigoríficos da fronteira. Isso tira um pouco o foco de pegar boi no centro do Estado e alivia a escala para todas as plantas”, diz. 

O rebanho bovino brasileiro, que tem mais de 220 milhões de cabeças, é o maior do mundo para fins comerciais. O país não importa gado para abate. Recentemente, foi permitida a compra de gado vivo do Uruguai, mas a importação brasileira tem se limitado a animais reprodutores. 

Em nota, o Ministério da Agricultura afirmou que a demanda do Sicade/MS está em análise pela área técnica e que a importação do Paraguai ainda não está autorizada. O tema é tratado de forma bilateral com as autoridades paraguaias. Será necessária a assinatura de um memorando de entendimentos para cooperação em matéria de saúde animal para garantir a troca de informações sanitárias entre os países e ações conjuntas em questões de vigilância nos municípios de fronteira e nos pontos de ingresso em cada país, afirmou a Pasta.

Caso a autorização seja confirmada, “valerá para qualquer empresa que cumpra os requisitos sanitários estabelecidos”, diz o ministério. A princípio, uma grande empresa do setor havia feito o pedido específico para importação. 

Em Mato Grosso, maior produtor de carne bovina do país, com 107 mil pecuaristas e rebanho de 30,1 milhões de cabeças, o temor é sanitário. “Estamos há quase três décadas sem ter problemas com febre aftosa. Temos um controle rígido”, diz Amado de Oliveira, consultor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). “É muito caro manter o status sanitário que temos. Por causa de uma questão sazonal, de clima e falta de bezerros por conta do abate de fêmeas, querem criar problema dessa ordem”. 

Régis Comarella, do Sicade-MS, diz que Mato Grosso do Sul está bem servido na questão de fiscalização e inspeção. “As barreiras sanitárias são eficazes. A importação não geraria esse risco, até porque o Paraguai vem investindo muito no combate da aftosa”, afirma. O Ministério da Agricultura informa que o Paraguai é um país reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como livre de febre aftosa com vacinação. 

A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) disse, em nota, que a redução da oferta de animais para abate é natural no começo do ano. Consultada, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) não quis se posicionar, mas disse que se trata de “um problema regional e localizado nas proximidades da região de fronteira”.

Fonte: Valor Econômico.

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