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Pecuaristas franceses temem efeitos de importações de carne bovina da América do Sul

Os pecuaristas franceses temem o fim de seus meios de subsistência à medida que a União Europeia (UE) se aproxima de fechar um acordo para importar grandes quantidades de carne da América do Sul para a França.

Cedric Mandin, que cria cerca de 800 vacas Charolais com seu irmão na região da Vendéia da França, é a quarta geração de sua família que comanda a fazenda e ele teme que seja a última.

A fonte de sua preocupação é um grande acordo comercial negociado pela UE e os quatro membros do Mercosul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – um acordo cuja assinatura parece mais próxima do que nunca.

Se o acordo for assinado, “estaríamos numa situação impossível, insustentável”, afirmou Mandin, que herdou sua fazenda de 270 hectares há 20 anos.

“Hoje, recebemos entre 3,60 e 3,70 euros (US$ 4,40 a US$ 4,53) por quilograma de carne, mas nossos custos de produção são 4,50 euros (US$ 5,51) por quilo. Já temos um déficit e enfrentamos uma situação difícil em nossas fazendas. Se além disso, adicionamos essas importações maciças de carne bovina da América do Sul na Europa, estamos sujeitos a ver os preços caírem”.

A indústria pecuária da França, a maior da Europa, enfrentou uma profunda crise de aumento de custos e preços mais baixos – contra um cenário de queda no consumo de carne. Muitos produtores mal conseguem ter lucros, enquanto os níveis de endividamento aumentaram.

“Estamos em crise há quatro anos, quatro anos que tentamos simplificar tudo, reduzir nossos custos até o limite. Chega um ponto em que você não pode cortar mais – em termos de competitividade, tentamos tudo”.

Se a UE e os países da América do Sul chegarem ao acordo, pelo menos 70.000 toneladas de carne bovina do Mercosul podem entrar na Europa a cada ano, sem tarifas personalizadas. Os negociadores europeus consideram isso uma quantidade enorme, enquanto o lado sul-americano diz que fica muito aquém do que é necessário.

As novas importações representariam apenas 1% cento da produção total de bovinos da Europa e 4,5% da produção da França. Mas os produtores dizem que a atual estrutura de mercado não poderia absorver o aumento, que ultrapassaria as 65 mil toneladas que a UE concordou em permitir ao Canadá como parte de um acordo comercial.

Foto; AFP.

Essa avaliação é compartilhada por Philippe Chotteau, economista-chefe do Instituto Francês de Pecuária, que disse que a carne bovina com preços mais baixos “agravará a crise”.

Ele estima que os preços de varejo podem cair em 10%, enquanto o instituto nacional de gado FNB diz que 25.000 a 30.000 empregos podem ser perdidos na França.

Além das ameaças econômicas, muitos pecuaristas franceses também dizem que estão preocupados com a rastreabilidade insuficiente e os regimes de segurança alimentar nos países do Mercosul, citando o escândalo sobre a carne brasileira.

Vários países impuseram proibições às importações de carne do Brasil, o maior produtor mundial.

“Nossos animais são rastreados desde o nascimento. Lá, na melhor das hipóteses, quando eles deixam a fazenda”, disse Mandin. “Posso lhe dizer o nome do pai e da mãe das minhas vacas. Existe uma rastreabilidade genuína durante toda a vida do animal. Estamos tentando defender essa singularidade francesa”.

Mas depois de duas décadas de negociações paralisadas, os negociadores deram grandes passos nos últimos meses e parecem determinados a chegar a um acordo de livre comércio, aproveitando o vazio de liderança global na sequência da eleição do presidente dos EUA, Donald Trump.

A Comissão Europeia quer realizar um acordo no início deste ano, antes que uma janela de oportunidade possa fechar com as eleições esperadas no próximo ano no Brasil.

A França, no entanto, disse que não quer “apressar-se” sobre o assunto, tendo em vista o impacto potencial sobre os seus produtores de carne.

Fonte: AFP, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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