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Pecuarista ou juiz? Desdobrando processos

Por Rogério Marchiori Coan1, Djalma de Freitas2 e Thiago L. Biscegli 3

A modernização e profissionalização da cadeia de produção pecuária tem ocorrido a passos largos, basicamente em função da quebra de paradigmas administrativos e mediante a aplicação de tecnologias de produção compatíveis e dimensionadas aos sistemas de produção.

O termo tecnologia é definido como um conjunto de conhecimentos que podem ser aplicados em uma atividade produtiva visando uma melhor eficiência na produção e/ou ganhos econômicos. Para a atividade pecuária, são diversas as tecnologias disponíveis, desde o uso de suplementos protéicos e/ou energéticos, certificação dos animais, adubação e manejo das pastagens, confinamento, softwares de gerenciamento, construção de currais baseados nos conceitos de comportamento animal, entre outras.

Contudo, infelizmente, o aporte tecnológico não tem caminhado na mesma velocidade que os processos de gestão nas empresas pecuárias modernas. De maneira geral, observa-se um pequeno ou quase irrisório número de propriedades que possuem controle sobre as informações gerenciais inerentes ao processo produtivo no qual estão inseridas. O principal agravante é que, na ausência dessas informações, não se torna possível determinar os ganhos e perdas financeiras no processo, ou seja, fica difícil mensurar os índices econômicos obtidos, que representam a base para a tomada de decisões.

As ferramentas de gestão comumente utilizadas nas empresas urbanas são quase que totalmente desconhecidas pelo produtor rural. Sabe-se da existência de diversas ferramentas gerenciais e de qualidade, mas o que realmente importa é a aplicabilidade e utilização da ferramenta correta, que mesmo simples, pode repercutir em resultados positivos para as empresas inseridas no contexto do agronegócio pecuário.

Na seqüência, apresentaremos um exemplo simples da utilização de ferramentas de gestão que permitem ao pecuarista identificar e atuar sobre os processos que determinam, em última instância, o resultado financeiro da atividade.

Para tanto, vamos identificar em uma fazenda de cria quais são os fatores ou processos que afetam o descarte de matrizes. Utilizaremos uma ferramenta chamada de diagrama de Ishikawa ou “espinha de peixe”. Abaixo temos a esquematização dos processos que afetam o descarte de matrizes. Inicialmente colocamos a frente da “espinha de peixe” o objetivo que nos interessa detalhar e vamos em seguida listando os subprocessos que apresentam maior influência sobre este.


Observa-se nesse exemplo, que listamos apenas 6 subprocessos, que poderiam ser em maior número, dependendo de cada situação particular.

Cada um dos itens apresentados na figura será detalhado a seguir:
– Idade: quanto mais velhas as matrizes, maiores as dificuldades de emprenhar;
– Sanidade: ou na verdade por falta de sanidade (presença de doenças em geral);
– Melhoramento genético: a premissa básica é que as filhas serão superiores as mães;
– Desenvolvimento ponderal das bezerras: quanto maior, mais rápido elas serão incorporadas ao rebanho como matrizes;
– Fluxo de caixa: a necessidade de caixa pela propriedade pode aumentar o descarte de matrizes;
– Eficiência reprodutiva: quanto menor a eficiência, maior a chance de descarte da matriz;

Agora iremos utilizar novamente o mesmo raciocínio e desdobrar o subprocesso eficiência reprodutiva.

Percebam que esse procedimento pode ser utilizado para qualquer outro processo e ser desdobrado quantas vezes for necessário, até que se chegue ao centro do processo. A partir desse conhecimento, poderemos tomar decisões que permitam atingir o objetivo final (descarte de matrizes) baseado na expectativa de determinado resultado no subprocesso anterior.


Juntamente com cada um desses processos necessitamos implementar formas de controle que permitam averiguar se as metas estão sendo atingidas. Caso isso não esteja ocorrendo, deverão ser identificadas as causas e tomadas as devidas providências para corrigi-las.

Dessa forma, deixa-se de decidir baseado somente em experiências anteriores, ou seja, de forma empírica, passando, então, a ter respaldo em fatos e dados reais da propriedade para a correta tomada de decisão. De posse desses dados, será possível a identificação de quais são os pontos ou fatores responsáveis pelo sucesso ou insucesso do empreendimento, e é nesse sentido que determinaremos um ajuste mais fino e preciso nas engrenagens que impulsionam a atividade produtiva.

É chegada a hora de mudanças dos conceitos, dos costumes e das tradições que norteavam a pecuária improdutiva do “passado”. Na pecuária moderna, competitiva e de resultados não há mais espaço para indecisões e baixa produtividade.

A palavra de ordem é gestão de processos, que associada à tomada de decisões baseadas em preceitos técnicos e administrativos permitirá o sucesso e o crescimento da atividade pecuária na conjuntura econômica do país.

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1Rogério Marchiori Coan é Zootecnista MSc. e Doutorando pela FCAVJ – UNESP

2Djalma de Freitas é Zootecnista MSc. e Doutorando pela FCAVJ – UNESP

3Thiago L. Biscegli é Zootecnista, Pós-graduando pela FCAVJ – UNESP e diretor da Plangespec

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