Ministro da Agricultura buscará recursos para o seguro rural
24 de agosto de 2011
Expoinel 2011 é exposição obrigatória para o Ranking Nacional ACNB
24 de agosto de 2011

Pecuária argentina pode mudar

De acordo com artigo publicado por Arturo Vierheler, produtor e presidente da Argenetics SA. no jornal La Nación, a visão de focalizar a análise e colocar todas as expectativas da pecuária argentina na recomposição do rebanho é pobre e quase primitiva.

De acordo com artigo publicado por Arturo Vierheler, produtor e presidente da Argenetics SA. no jornal La Nación, a visão de focalizar a análise e colocar todas as expectativas da pecuária argentina na recomposição do rebanho é pobre e quase primitiva. “Já conhecemos os motivos pelos quais temos perdido rebanho, mas o pior da situação é que, pelo ceticismo que ainda flutua no ar, não há sinais de que haverá uma melhora imediata na eficiência da cadeia de carne bovina (a cadeia inclui o setor privado e o Estado) e, então, como dizia o admirado G.K. Chesterton, o problema não é que não se encontram as soluções; o problema é que nem sequer se entende qual é o problema”, disse Vierheler no artigo.

Ele diz que sonha com uma nova pecuária, que seria um negócio proativo e não na defensiva. “Que não seja acúmulo, mas sim, eficiência. Uma atividade para produzir carne seriamente: aumentar fortemente a produção de carne por cabeça, produzir forragem com toda a tecnologia disponível e usar a genética que permita potencializar os atributos da carcaça e que se reconheça no preço. Que não haja tantos pecuaristas preocupados em ter gado com uma estrutura moderada e que haja mais pecuaristas preocupados em medir a aparência do bife, o marmoreado, a maciez, o peso da carcaça e seu rendimento balanceado de músculo e gordura. Uma pecuária avançada, eficiente e sustentável, que produza e comercialize livremente. E então, vem a pergunta de um milhão: que modelo pecuário é o que dá maior sustentabilidade? Extensivo, intensivo ou uma combinação de ambos?”.

Vierheler continua o artigo, então, dizendo que em uma apresentação feita há poucos dias em Denver, Colorado, no Congresso de Engordadores (Merck Animal Health Cattle Feeders Business Summit), a professora e pesquisadora, Jude Capper, da Universidade Estadual de Washington, utilizou a seguinte analogia para desenvolver o conceito e, então, perguntava ao público qual era o veiculo mais eficiente, se para percorrer uma distância queima 10 litros de combustível ou o que, para a mesma distância, queima 20 litros. “Obviamente, as pessoas disseram que era o primeiro, mas então, ela agregou: e se o primeiro precisa de quatro pessoas e o segundo de 50? Não há dúvidas: é o segundo”.

O mesmo conceito se aplica à agricultura animal, onde os aumentos da produtividade reduzem consideravelmente o dano ao meio-ambiente. Em 1977, os Estados Unidos precisavam de cinco animais para produzir o mesmo volume de carne; hoje, precisa de quatro. Os principais avanços da agricultura animal bovina de carne nos Estados Unidos entre 1977 e 2007 estão documentados e são:

– O aumento da produção de carne por animal: 131% a mais.
– O tamanho do rebanho nacional: 30% a menos.
– Quantidade de alimento por carne produzida: 19% a menos.
– Água utilizada para produzir carne: 14% a menos.
– Superfície de campo utilizada: 34% a menos.
– Desperdícios animais produzidos: 20% a menos.
– Emissões de metano: 20% a menos.
– Impacto total ecológico (pegadas de carbono): menos 18%.

Capper define três modelos de produção de carne bovina da seguinte maneira:

1) Convencional: a campo, até um ano, e, depois, com dietas de alta energia, usando implantes e antibióticos.
2) Natural: igual ao anterior, mas sem hormônios nem antibióticos.
3) Terminação a pasto: o gado fica no pasto até seu abate.

Ela termina seu trabalho dizendo que, se quisesse transformar toda a produção de carne ao método natural, isso requereria 14,4 milhões a mais de cabeças. Porém, se quisesse mudar toda a produção para pasto, faltariam 64,4 milhões de cabeças e 5,4 milhões de hectares, que é nada menos que 75% da superfície do Estado do Texas.

“Esse trabalho, certamente, estimula uma reflexão, não para copiar nada, mas sim, para perguntarmos qual seria nosso modelo para essa nova pecuária. Ficam poucas dúvidas de que, no mundo, quando se fala de pecuária, a primeira coisa que se faz e medir e não tanto olhar “vacas lindas”. Isso se faz nas exposições. Deixemos de acumular cabeças como há 100 anos, animemo-nos e demos o salto à mudança do paradigma. Se pudemos fazer na agricultura com os mesmos produtores, por que não seria possível na pecuária? Esse é o momento propicio para investir em tecnologia”.

Vierheler termina o artigo pedindo para que se comece a percorrer esse caminho em busca de eficiência e de sustentabilidade na Argentina. “O Estado, gerando o marco adequado, e o setor privado, investindo. O verdadeiro desafio, como se vê, é imensamente maior e mais importante que a simplicidade de recompor o rebanho mantendo todas as ineficiências históricas. Isso sim vale a pena”. Os dados são do La Nación.

0 Comments

  1. arthur rodrigo ribeiro de moura disse:

    fantástico o material

  2. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Nada contra o emprego de mais insumos SEMPRE que contribuirem para melhorar a rentabilidade do negócio proporcionalmente a elevação do risco que seu emprego representem.

    E concordo que o futuro da pecuária argentina não passa obrigatoriamente pela recomposição de rebanho anterior.

    Mas sinceramente queria entender melhor este "balanço ambiental" tão favorável a tecnificação da atividade pecuária via incorporação de níveis maiores de insumos externos. Intuitivamente suspeito desta conclusão.

    Será que a "pegada de carbono" da agricultura, com sua adubação química, pesticidas e  maquinário movido a petróleo,  que gerou os grãos utilizados nos confinamentos americanos e que permitiram em grande medida o avanço dos indíces zootécnicos  esta devidamente computada?

    Será que o sequestro de carbono feito pelas pastagens, na forma de matéria orgânica depositada no solo, esta devidamente computado? Será que as estepes e savanas africanas ainda preservadas, com seus grandes ruminantes, são ou não sustentáveis?

    Minha impressão é que tratar destes temas exige  cálculos muito complexos e que estes cálculos nunca são imparciais. Quem recorta a realidade escolhe o que mostrar aos outros. Vejo cálculos apontando cada hora para direções completamente diferentes.

  3. Manoel Augusto Rodrigues da Cruz disse:

    Não entendi a analogia da professora e pesquisadora, Jude Capper ao afirmar:

    "Qual era o veiculo mais eficiente, se para percorrer uma distância queima 10 litros de combustível ou o que, para a mesma distância, queima 20 litros. "Obviamente, as pessoas disseram que era o primeiro, mas então, ela agregou: e se o primeiro precisa de quatro pessoas e o segundo de 50? Não há dúvidas: é o segundo"."

    Para mim continua sendo o primeiro.

    Se alguem puder me esclarecer a analogia da professora eu agradeço.

  4. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Bom dia.

    Olá Manoel, acredito que a analogia é para lembrar que podemos estar medindo apenas um item (gasto de combustível) e nos esquecendo de medir outros itens importantes. E por só olhar um indicador, fazemos a avaliação errada.

    Olá José Ricardo, muito obrigado obrigado pelo excelente comentário. Você tem toda razão.

    Abs, Miguel Cavalcanti
    @mcavalcanti

  5. Louis Pascal de Geer disse:

    Só falta dizer que vamos fazer com que os bovinos deixam de ser ruminantes e que atraves do "bypass" tecnologia eliminamos a emissão tão nociva do gas metano!

    Jóse Ricardo voce tem plena razão nos seus questionamentos!

  6. Luiz Rodolfo Riccelli Galante disse:

    Manoel, é simples: Para a mesma distância, um leva 4:10, outro leva 50:20. Então um gasta 2,5 lts/pessoa e o outro gasta 0,4. A viagem que um faz para levar 50, o primeiro teria que fazer de 12 a 13, levando 4 de cada vez .

    É inegável o aumento no desfrute, o ganho de produtividade, mas o preço ambiental é difícil de ter no cálculo, como disse o Ricardo.

    O final do artigo é poético, bem a moda Porteña… acho que a Argentina perdeu muito espaço, mas tem total condição de voltar a ocupar lugar de destaque no setor, porque (cá entre nós) os caras são bons nisso.

  7. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Manoel creio que a confusão que aponta seja decorrente de um erro de redação. Imagino que o Sr Arturo deveria ter usado "…e se o primeiro TRANSPORTA quatro pessoas e o segundo 50" ao invés de  "..e se o primeiro PRECISA de quatro pessoas e o segundo 50".

  8. Manoel Augusto Rodrigues da Cruz disse:

    Prezados senhores obrigado pela ajuda na interpretação.

    Porem sinto que o referido artigo esta nos servindo para uma reflexão. O Sr. Jose Ricardo coloca,  e que eu tambem entendo assim "a tecnificação da atividade pecuária via incorporação de níveis maiores de insumos externos" tem que ser feita com cautrela e medindo todos os itens conforme Miguel Cavalcante colocou.

    Abraço a todos.

  9. Rogerio Jaworski dos Santos disse:

    Alguns analistas já dizem que na Argentina apenas 20% do gado abatido é terminado à pasto, 40% em confinamento e 40% semiconfinado ou suplementado. As donas de casa argentinas já sentem o sabor diferente na carne – e reclamam. A Pampa úmida, antigamente repleta de pastagens de inverno e alfafa, já foi convertida em soja e trigo.

    As considerações do José Ricardo são extremamente pertinentes.

    Será que não existe espaço, inclusive nos EUA, para aumento da eficiência da produção de pasto? O boi sempre foi, e sempre vai ser, o resultado da oferta de pasto que existe pra ele. Seja pasto natural (nativo) ou implantado (artificial). De que adianta suplementar (e "tapar o sol com a peneira") se o sistema de produção não está sendo eficiente na utilização da único insumo que ainda é de graça: a luz solar?

    Para finalizar, a sustentabilidade da cadeia da carne, seja na Argentina ou em qualquer país, deve estar calcada em seus 3 pilares: ambiental, social e econômica. Quando algum destes pilares falhar, não estaremos mais sendo sustentáveis.

    Abraço.

plugins premium WordPress