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Pecuária: a base da cadeia produtiva da carne

É o que se costuma a chamar de o "óbvio ululante" , qualquer pessoa sabe que para que a carne chegue à mesa é preciso que os pecuaristas criem bois. Ah! Se fosse tão simples. Este é o grande paradoxo da pecuária - o pecuarista é um produtor importante/desimportante!

É o que se costuma a chamar de o “óbvio ululante” , qualquer pessoa sabe que para que a carne chegue à mesa é preciso que os pecuaristas criem bois (o leigo só conhece o criar, desconhece totalmente a recria e a engorda).

Ah! Se fosse tão simples, mas, tratemos das complexidades do assunto mais adiante, por enquanto vai a indagação:

– Apesar de ser tão óbvio e todos concordam com isso, qualquer criança do ensino fundamental sabe que a carne é tirada do boi, porque as pessoas se comportam como se não entendessem o fato?

Este é o grande paradoxo da pecuária – o pecuarista é um produtor importante/desimportante!

O pecuarista é aquele cidadão que tomou a séria decisão de ser diferente dos demais, cuja semana é dividida, parte dos dias úteis ele passa na cidade (negociando com bancos, fornecedores de ração, sal mineral, produtos veterinários, comprando a alimentação dos vaqueiros e levando-os a médicos, não vou listar aqui todas as suas atividades citadinas) e o restante dos dias, inclusive os finais de semana, afinal todo mundo conhece o adágio – o boi só engorda sob os olhos do dono – na labuta da fazenda.

Apesar de todo o trabalho, das ações desenvolvidas e da vontade do pecuarista ele tem que submeter-se ao processo da atividade.

O processo da pecuária é muito bem descrito por Oscar Tupy, pesquisador da EMBRAPA:

“No Brasil, a pecuária bovina de corte possui longo ciclo de produção, variando de 5 a 7 anos, de acordo com o nível da tecnologia adotado.

De acordo com a maturação do seu produto final, a produção de gado de corte é dividida em diversas fases, que podem ou não estar integradas dentro da mesma propriedade rural. São as fases de cria, recria e engorda, todas elas desenvolvidas predominantemente em pastagens. A fase de cria concentra-se na produção de bezerros, mantidos ao pé da vaca até a desmama (7 a 9 meses), sendo extremamente importante, nesta fase, o manejo da reprodução e da alimentação. Esta fase representa o cerne da pecuária bovina e é a mais sensível à baixa produção de forragens, principalmente no inverno ou na seca, sendo responsável, quase integralmente, pelos baixos índices de produtividade do rebanho nacional. A fase de recria vai da desmama até a época de acasalamento das fêmeas e engorda dos machos, variando de 2 a 4 anos, dependendo da tecnologia adotada. A fase de engorda tem duração de aproximadamente 12 meses, sendo na sua quase totalidade realizada em pastagens,…”

O leigo, via de regra, quando fala de pecuarista ou pecuária não tem noção do trabalho desenvolvido pelo pecuarista.

Outra coisa, que passa desapercebida ao leigo, é como o pecuarista e o boi estão presentes no dia a dia de todo cidadão.

Para que qualquer pessoa, independentemente de sua formação ou cultura, possa entender a pecuária criei, há mais de 15 anos, um gráfico para desmentir o que se dizia à época:

– “O boi não gera empregos”

Conseguimos, com este gráfico, mudar completamente a opinião pública com relação ao boi, naturalmente, muita coisa mudou nos últimos anos, entretanto, o fruto do trabalho está presente no dia a dia do cidadão e precisamos mostrar este fato.

A despeito de toda a verdade sobre a relevância da pecuária e do pecuarista, a campanha contra eles foi insidiosa e colocou a opinião pública contra o produtor.

Reverter este quadro não será fácil, serão precisas várias ações dos pecuaristas e suas organizações para que alguma mudança se consiga e a atividade volte ao lugar de honra que merece.

Talvez este seja o grande momento da mudança, a Senadora Kátia Abreu, uma lutadora em defesa do produtor rural, foi eleita Presidente da CNA, Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, tornando-se a primeira mulher, na história do Brasil, a presidir uma Confederação. Parabéns à Senadora e às classes produtoras pelo discernimento da escolha, espero que este artigo seja a primeira congratulação que ela receberá à frente da CNA pela sua atuação.

Os outros não sei como agirão, eu tenho escrito procurando mostrar o que é a pecuária e quem é o pecuarista.

Na minha opinião, precisamos mostrar ao brasileiro que aquele filé suculento, mal passado ou ao ponto, ou o cozidão, com os quais ele se delicia, foi cozido em menos de 40 minutos, entretanto, a carne levou de 2 a 4 anos, de muito sacrifício, luta, trabalho e investimento, para chegar a sua cozinha, diferente do seu automóvel/ônibus, roupa, talher, copo e etc, que levaram menos de 5 dias para ser produzidos.

0 Comments

  1. Antonio Pereira Lima disse:

    Parabéns pelo artigo, realmente estamos precisando do apoio de toda a sociedade e principalmente a valorização pelo nosso trabalho, quando a opinião pública se manifestar a nosso favor, com certeza os políticos, que precisam dos votos para permanecerem nos seus cargos, tomarão atitudes a favor do produtor rural.

    O que mais chamou minha atenção no artigo, foi a euforia com a posse da Senadora Kátia Abreu na CNA, acho que este cargo tem que ser ocupado por quem tem espirito sindicalista e não político, por quem tem acesso a todos os partidos, mas só tem compromisso com o produtor rural, por quem não tem compromissos de campanha passada, por quem não tem aspirações políticas, o político aprendeu a tomar decisões que agradam a maioria e nem sempre as necessárias, a Senadora Kátia Abreu era mais importante para a nossa classe com uma cadeira no senado do que na presidência da CNA, ficamos mais fracos no senado, perdemos uma aliada que tinha o poder de legislar, manobra de incompetentes.

    Não posso acreditar que foi uma escolha das classes produtoras que o Sr parabeníza, nem sei como é realizada esta eleição, mas gostaria que todos os produtores tivessem o direito de votar, pelo que nós pagamos, pelo que representa, o maior PIB da nação, pelo que movimenta, R$180 milhões por ano, aí sim teriamos um lider com o respaldo da maioria dos produtores.

    Tomara que eu esteja enganado, só espero que a Kátia Abreu que um dia foi reconhecida como a Ivete Sangalo do Senado, seja a Martin Luther King dos produtores rurais.

  2. Luiz Alberto de Oliveira Ferreira disse:

    Parabéns Dr. Gil Reis,

    Isto que Sr. falou é de importncia relevante a classe, pecuarista que fica sempre de vilão para opnião publica.

    Principalmente quando a mídia diz, como ontem no jornal nacional, que o preço da carne subiu. E que o povo não pode comprar carne porque está muito cara. Sabemos que o preço da arroba nas regiões produtoras está caindo, e o preço da carne será que cai? Ao contrário sobe mais. E o Produtor fica de vilão.

    As industrias do setor dizem não conseguir materia prima, porque?

    Querem interromper o mercado exportador de gado em pé, onde o produtor pode desovar sua produção com um preço melhor, talvez com custo um pouco menor. Com um objetivo de achatar cada vez mais o preço do gado em pé para terem seus lucros cada vez maiores. É nessa hora que eles lembram da cadeia produtiva, mas não lembram em remunerar um pouquinho mais o produtor, para que possa investir mais um pouco para que se mantenha normal o ciclo produtivo da pecuária, que não é nada curto. Que vem perdendo areas para agricultura, florestas e custos cada vez mais altos para manuteção de campos e pastos, sem falar no confinamento que está inviável.

    Parabens pelo artigo.

  3. Bruna Laurindo Rosa disse:

    Parabéns ao advogado e apresentador de TV Gil pelo belo “puxão de orelha” à todos que só sabem criticar e não procuram se informar ou conhecer a fundo como as coisas realmente funcionam.

  4. Gil Marcos de Oliveira Reis disse:

    Caro Antonio Pereira Lima,

    Obrigado pelo comentário e pode ficar tranquilo a Senadora Kátia Abreu continuará Senadora, entretanto, agora com uma arma de defesa a mais – a presidência da CNA.

  5. Gil Marcos de Oliveira Reis disse:

    Cara Bruna Laurindo Rosa,

    Obrigado pelo comentário.

    Já que você gostou do “puxão de orelhas” aqui vai mais um naquelas pessoas que de carne só entendem de degustá-la.

    A pessoa que critica o pecuarista e, sobretudo o preço da carne, aqui vai uma sugestão:

    Compre um bezerrinho ao nascer, leve para o seu quintal, contrate um vaqueiro (que trará a família), alimente e trate do boi durante 4 anos.

    Aos 4 anos abata o boi e calcule o preço do quilo da carne em função de tudo o que gastou para criá-lo, incluindo vaqueiro e família, veterinário, alimentação, preparo do terreno do quintal e etc.

    Ai­ sim vai perceber como é importante o pecuarista

  6. Flávia Roberta Passos Ramos disse:

    Muito interessante o artigo,

    Eu e os leigos como eu aprendemos bastante sobre pecuária ao lê-lo.

    Da minha parte passei a prestar mais atenção e valorizar mais a carne que como, espero que tenha feito o mesmo efeito nos demais.

  7. Gil Marcos de Oliveira Reis disse:

    Caro Luiz Alberto de Oliveira Ferreira,

    Obrigado pelo comentário.

    Com relação ao preço da carne, de acordo com pesquisas realizadas, o aumento ocorre na distribuição, apesar de não haver aumento significativo nos preços praticados pelos pecuaristas e frigorí­ficos, os preços praticados pelos supermercados chegam a alcançar valorização de mais de 100%.

    Acredito que deveria haver uma aproximação maior entre os pecuaristas e frigoríficos para tentar evitar excesso de ganho dos supermercados ou pelo menos repassar uma parte dele às duas classes.

    Vamos lembrar que os maiores exportadores de boi no país são dois frigoríficos, que além desse tipo de exportação, continuam com o mesmo volume de abate, o que vem confirmar a minha afirmativa de que pecuaristas e frigorí­ficos não são necessariamente inimigos, salvo desonrosas exceções.

    Sou obrigado a concordar que existe uma campanha contra a exportação do boi em pé por parte de alguns frigorí­ficos que querem que o produtor não tenha alternativa de venda.

    O Pará é responsável por 97% da exportação de boi vivo e o exportador é obrigado a pagar, ao governo do estado, uma taxa de exportação R$ 22,00 por animal, o que compromete e fere de morte a atividade.

    O produtor rural, através dos seus órgãos de classe, precisa aprender a se defender de campanhas “plantadas” na grande mídia.

  8. Gil Marcos de Oliveira Reis disse:

    Cara Flávia Roberta Passos Ramos,

    Gostei muito do seu comentário.

    Nós que escrevemos quando percebemos que o que dizemos, neste país de tão pouco leitores, consegue atingir pelo menos uma pessoa já ficamos muito felizes.

  9. Antonio Pereira Lima disse:

    Caro Gil Reis, com a permanência da Senadora Kátia Abreu no Senado a classe produtora volta a contar com o seu voto, em contra partida perde o voto de todos os seus adversários políticos, será uma briga de políticos, ambiciosa e ciumenta, que a classe produtora não tem nada a ver, e vai pagar caro.

    Um abraço.

  10. Gil Marcos de Oliveira Reis disse:

    Caro Antonio Pereira Lima,

    Mais uma vez obrigado pelo seu comentário.

    Amigo, a vida é cheia de escolhas (algumas corretas outras erradas) que definem e traçam o nosso futuro.

    A Senadora Kátia fez a sua escolha, se certa ou errada somente o futuro dirá, entretanto, pelo seu perfil acredito que favorável à classe ruralista.

    O que não podemos é ultrapassar a fronteira da realidade para o pessimismo, pois, seria uma atitude de perdedores.

    Pelo passado da Senadora podemos traçar um cenário futuro otimista para o produtor rural, naturalmente cenário de futuro é apenas cenário de futuro, todavia, a lógica e o raciocínio só nos levam a acreditar no melhor, imaginar o pior, no momento, é contrariar todas as indicações favoráveis.

    O que a Presidente da CNA precisa neste momento é de nosso apoio, as querelas políticas ela as resolverá como sempre o fez.

    Com relação aos políticos que se posicionarem contra nós, acredito que estarão cometendo suicídio político, a população rural é grande, no Pará somente a pecuária gera 400.000 empregos que significam votos pessoais e familiares, o que precisamos é aprender a mobilizar esse potencial – é um mero problema de aprendizado.

    Creio, que no seu estado o quadro seja semelhante.

    Meus respeitos.

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