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Paulo Real, de Pelotas, RS: temos de reforçar a criação de um selo regional que identifique a carne gaúcha

No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.

Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Confira abaixo, a entrevista com Paulo Real, um dos indicados ao Prêmio BeefPoint Edição Sul, na categoria Profissional – indústria frigorífica.

Paulo Real

Paulo Real mora em Pelotas – RS. É médico veterinário pela UFPEL (Universidade Federal de Pelotas). É pós-graduado pela FGV-RJ e mestrando pelo DCTA (Departamento Ciência e Tecnologia Agroindustrial) na área de carnes da UFPEL. É pecuarista em Santa Vitória do Palmar – RS. Profissional com ampla vivência em toda a cadeia produtiva, tem experiência há mais de 20 anos em todas as etapas do processo industrial e comercial da carne in natura e produtos termo processados e seus derivados.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?

Paulo Real: Ter consolidado o reconhecimento internacional como estado produtor de carne de qualidade superior. Melhorar ainda mais os índices de produção. Obter a padronização tão necessária, adequando oferta linear de matéria prima com qualidade, para que a indústria consiga produzir de acordo com a exigência das demandas requeridas.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Paulo Real: Temos muita gente boa. A lista seria grande. Produtores competentes, obstinados, orgulhosos e satisfeitos com o que fazem, com enorme dedicação e vocação. São esses produtores que fazem a diferença em termos de eficiência, que devem servir de exemplo e inspiração a outros tantos que continuam produzindo ainda da forma tradicional de anos atrás.

BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?

Paulo Real: Buscando a padronização das carcaças, com a qualidade necessária. Animais com o padrão genético que já dispomos, originarão carcaças com acabamento ideal, peso, conformação, AOL e marmoreio, que por sua vez originarão cortes de qualidade superior. Temos de reforçar a criação de um “selo regional”, que identifique a “Carne Gaúcha”.

Campanhas constantes de marketing para que tenhamos, nos mais diversos mercados, o reconhecimento de que hoje a nossa carne tem padrão de qualidade para atender os clientes mais exigentes, se equivalendo às tão afamadas carnes uruguaias e argentinas.

Como não podemos ser os maiores, temos de ser os melhores naquilo que nos propusermos a fazer. Temos plenas condições para isso. A começar pela matéria prima, que todo mundo quer. Possuímos indústria e pessoal competentes, para originarmos produtos de qualidade superior e atender a qualquer nicho de exigência e valor agregado, consequentemente.

Temos apenas de “vender” isso melhor. Faz-se necessário que os clientes saibam disso, e que a partir da consolidação desse reconhecimento se disponibilizem a pagar por esse diferencial.

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Paulo Real: Não se trata de inovação, mas uma importante contribuição. Uma “premissa” foi a melhoria e padronização da genética nos últimos anos. A partir daí podemos implementar técnicas e melhorar as produções e os índices, alicerçados nas tecnologias aplicadas (irrigação-pastagens-intensivos-creep-proteinados etc).

Quando falo de padronização genética, me refiro às raças britânicas e suas cruzas. Anos atrás, quando eu ainda comprava boi para frigoríficos, me lembro bem o que se via a cada lote, uma variação impressionante. Imaginem como poder programar produções e agendar embarques com tamanha variedade de matéria prima? Era muito complicado.

Felizmente mudou, melhorou e vem melhorando muito. Temos de ajustar agora as capacidades industriais e as ofertas de matéria prima.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?

Paulo Real: Consolidar a carne gaúcha com selo-marca regional via Instituto Gaúcho da Carne. Ter claro o que o mercado quer, com ações concretas e constantes. Divulgar o que aqui se faz e o que ainda pode ser feito. É a fábula do “ovo da galinha” que vale porque ela canta. Fazer e dizer o que se está fazendo. É preciso que saibam e mais do que isso, reconheçam e valorizem.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?

Paulo Real: Busquei a melhoria da padronização nas operações dentro das unidades industriais onde atuei. Não só nas operações, mas também na identificação dos mercados e direcionamento das linhas de produtos de valor agregado. Buscamos transparência e confiabilidade na relação com fornecedores e clientes, sem isso não se vai a lugar algum.

BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

Paulo Real: A consolidação e reconhecimento através das padronizações estabelecidas nas operações. Tínhamos de dar tranquilidade e certeza ao produtor de que, independentemente da unidade fabril, as operações seriam muito semelhantes. Na outra ponta, entendendo o cliente e identificando o que exatamente precisa. E não só atende-lo bem, mas surpreendê-lo.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porquê?

Paulo Real: Dar continuidade. Além da padronização das operações, ter claro a identificação das necessidades de cada cliente. Produzir o que e como o cliente quer.

BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?

Paulo Real: Que continuem aplicando as tecnologias de que dispomos, mas sem esquecer do “manejo e sanidade”. Todos os dias, nesses anos todos de indústria, tenho visto muitas perdas com cisticercose, tuberculose, prenhezes, contusões (sejam por manejo, vacinações e aplicações mal feitas ou por não respeitarem os períodos de carência).

Por conta dessas lesões e resíduos e demais problemas citados, perdemos somas volumosas a cada dia, toda a cadeia perde. Temos de avançar, melhorar, mas fazer o básico bem feito.

BeefPoint: Qual sua mensagem para a indústria frigorífica e varejo?

Paulo Real: Que consolidem ainda mais a relação com fornecedores. Que se abram ainda mais as portas, para que junto aos produtores se identifique ações a serem fomentadas na busca da MP ideal e que ninguém fique com alguma dúvida do que se busca. Que se tenha a contra partida justa de bonificações, para que toda a cadeia, interdependente, ganhe e se satisfaça com isso.

Que esse boi de qualidade diferenciada se torne cortes de carne e agregue valor sendo processado aqui no Rio Grande do Sul. Como temos o boi que pode dar origem a carne que todo mundo quer, temos de ter condições de processa-lo e valorizá-lo a partir daqui.

No varejo, que tenhamos serviço e produto de qualidade diferenciada, que o mercado atual tanto exige e está disposto a pagar por isso. Assim, conseguiremos ocupar o espaço e ter o destaque merecido que todos almejamos.

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Beef Summit Sul: confira a lista de homenageados do Prêmio BeefPoint 

5 Comments

  1. Oilson Dal Pra disse:

    Concordo plenamente. A verdade é que todo o gado produzido no Brasil teria que ter padrão para abate. Tem que respeitar o período da gestação da vaca, vejo nos frigoríficos centenas de bezerros sendo descartados porque há uma demanda muito grande pela vaca, devido ao preço do boi ser distanciado. Isto torna os preços um verdadeiro “leilão”, que infelizmente gera a falta de percepção dos consumidores quanto a qualidade das carnes que por exemplo eu busco trabalhar no meu varejo. Sou gerente comercial e não consigo agregar valor aos produtos por conta do excesso de ofertas de produtos que não tem “padrão”.

  2. Fernando R. Alves da Silva disse:

    A carne gaucha , de racas reconhecidamente excelentes produtoras de carne de qualidade, com marmoreio, maciez etc…produzida com boi no pasto ( excelente) e nas pastagens cultivadas de trevo branco, azevem, cornichao nao deve nada à carne argentina e uruguaia e dá de 100 a zero na carne de zebu produzida no centro do pais e tem que ser melhor valorizada, reconhecida e promovida! A ideia do selo do Med. veterinario Paulo Real tem que ser levada a serio pelos produtores e pelos frigorificos.
    Excelente iniciativa.

  3. Henrique Ancioto disse:

    Parabens pela entrevista, grande conhecedor de carne e um grande amigo!!

  4. Carlos Francisco Griesang disse:

    Fiquei feliz do que li …. um grande abraço amigo !!!

  5. Orlando Etchegaray disse:

    Meus parabéns pela entrevista, aprendi muito com tua pessoa !!!

    Abração

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