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Pastagem para equídeos – nutrição e manejo

Os equídeos não são bovinos, bubalinos, muito menos ovinos e caprinos e como todas as espécies, merecem serem tratados de forma específica. A criação de equídeos no Brasil, quase sempre, com exceção de algumas propriedades, está associada com as atividades da pecuária e desenvolve-se predominantemente em pastagens de bovinos, sendo estas não planejadas para equídeos. Acesse e tire suas dúvidas sobre este assunto!

Embora o Brasil possua o maior rebanho comercial do planeta e da maior parte do leite e carne produzidos basear-se na utilização de pastagens, os índices de produtividade na maioria das propriedades são considerados baixos. Alguns fatores contribuem para esta situação, destacando-se dentre eles a baixa produtividade e qualidade da forragem, inexistência de práticas de manejo e consequentemente áreas em avançados estágios de degradação.

Segundo Lupatini et al. (2008), na região dos Cerrados, que detém aproximadamente 50 milhões de hectares de pastagens cultivadas, mais da metade dessa área encontra-se em processo de degradação, enquanto que na região oeste do estado de São Paulo, 70% das pastagens cultivadas apresentam algum grau de degradação.

A degradação de uma pastagem é manifestada pela queda gradual da produtividade das plantas forrageiras, bem como sua capacidade de recuperação natural para sustentar níveis de produção e qualidade, aliado a incapacidade de superar os efeitos nocivos de pragas. O correto manejo da pastagem consiste em utilizá-las respeitando sua fisiologia. Dentre eles, no método de pastejo rotacionado a pastagem é subdividida em piquetes permitindo maior controle sobre a quantidade de pasto disponível para os animais e sua melhor distribuição ao longo do ano, reduzindo sensivelmente a infestação de plantas invasoras e garantindo a perenidade da pastagem.

A escolha de uma espécie forrageira para pastejo no início da criação é importante, pois a forragem deve estar de acordo com as condições edafoclimáticas, manejo e consequentemente o sistema de produção que será utilizado uma vez que para o pastejo, é fundamental o conhecimento do comportamento e hábitos de crescimento da forrageira, bem como as exigências nutricionais das classes animais dos quais se alimentarão desta forragem.

Cabe salientar que é em vão procurar por capins “milagrosos” (mais produtivos, baixa exigência em fertilidade, tolerantes a seca, resistentes a pragas e que não possuam estacionalidade de produção). Com certeza absoluta, este capim não existe. Toda planta forrageira apresenta determinadas vantagens e limitações. Todavia para que haja produção e consequentemente correta utilização da pastagem escolhida, é fundamental que se estabeleçam inicialmente, níveis de fertilidade e manejos adequados para cada forrageira em questão.

Para equídeos, algumas características inerentes a espécie, como o comportamento de corrida, brincadeira (principalmente de potros) área de defecação, pastejo localizado e o próprio pisoteio em algumas áreas do piquete (por exemplo perto de cercas), limitam a escolha de alguns capins.

Para tanto, alguns capins como os do gênero Cynodon são os mais indicados pois apresentam boa cobertura do solo, boa aceitabilidade e bom rebrote (Figura A). Todavia, alguns aspectos como custo de implantação, também deve ser levado em conta, pois espécies deste gênero se multiplicam por muda, dentre eles o Tifton, Coastcross e o Capim Estrela. Estes capins, quando comparados aos que se multiplicam por semente (Mombaça, Gramão (batatais) ou até mesmo a Brachiaria Humidicola (semente e muda)) são por volta de 30 a 50 % mais caros a sua implantação. Para tanto, cabe ao produtor avaliar os custos e benefícios do uso destes capins.

Um fator interessante para ressaltarmos é que o uso da Brachiaria humidicola (Figura 2) para pastejo é possível mas, o uso intensivo desta pastagem para equinos pode levar a um problema chamado de cara-inchada (Figura C), que nada mais é que o inchaço na face do animal provocado pelo preenchimento dos ossos da face do animal por um tecido conjuntivo fibroso em função da anterior retirada do cálcio destes ossos e abertura de lacunas no mesmo. O consumo deste capim, aumenta o consumo de Oxalato, composto encontrado na Brachiaria humidicola que “sequestra” ou rouba o cálcio ingerido pelo animal em sua dieta e obriga o mesmo a retirar o cálcio dos ossos. No entanto, o animal não apresenta grandes limitações em virtude disso para trabalho mas acaba comprometendo a estética do animal prejudicando a sua futura comercialização.

Para tanto, o uso prolongado desta forragem para pastejo não é indicado, onde os animais devem permanecer no máximo por volta de 20 a 30 dias nesta pastagem com posterior alternância com outra pastagem pelo mesmo período para que não haja este problema. Trabalhos mostram que mesmo os animais que receberam altas concentrações de suplementos minerais obtiveram este problema quando submetidos a um longo período nesta pastagem. Porém, devemos ressaltar que o uso de correta mineralização é sempre indicada em virtude de que os animais não conseguem suprir suas exigências mesmo em pastagens muito bem adubadas e manejadas.

Figura 1, 2 e 3 – – Pastagem de Coastcross; Pastagem de Brachiaria humidicola e Distúrbio metabólico – cara Inchada, respectivamente. (Fonte: Fotos de internet).

A criação de equídeos no Brasil, quase sempre, com exceção de algumas propriedades, está associada com as atividades da pecuária e desenvolve-se predominantemente em pastagens de bovinos, sendo estas não planejadas para equídeos. Concomitante a isso cresce a utilização do cavalo de lazer e especialmente do cavalo de esporte. Este primeiro, criado em pastagens como fonte de volumoso acrescido uma ração no cocho. O de esporte, ainda alimenta-se de resquícios de pastagens, mas sua dieta baseia-se basicamente de suplementação volumosa, sendo esta basicamente de feno e ração.

Outro fator importante segundo Victor (2011) é que a pastagem atua na manutenção do equilíbrio psíquico do cavalo, serve para o relaxamento muscular e para a síntese de vitamina D. Para estes animais, as pastagens devem ter topografia mais plana, com vegetação que cubra o terreno e seja o mais resistente possível ao pisoteio. Ainda, comenta que muitos criadores preferem ver os potros soltos a campo para seu desenvolvimento muscular e ósseo, ter menos ou nenhuma cólica e problemas respiratórios.

Embora a maioria dos animais esteja em pasto, algumas categorias animais em determinados sistemas de produção, fazem uso do pasto apenas para lazer, ficando no pasto por poucas horas (cavalos de elite). Nestes sistemas, a pastagem só servirá de cobertura de solo, contribuindo muito pouco na sua dieta com maior contribuição no seu bem estar. Para tanto, recomenda-se nessa situação uma forrageira resistente ao pisoteio em virtude do grande uso deste piquete para área de exercício. Para animais que permanecem exclusivamente na pastagem, a atenção deve ser redobrada quanto a forrageira escolhida a fim de atender as exigências nutricionais do animal, bem como o manejo adequado da pastagem.

Com relação ao comportamento equídeo na pastagem, este se mostra bem definido dividindo-se a pastagem em área de defecação, descanso (lazer) e pastejo. Frequentemente observa-se que os equinos defecam em áreas específicas e também fica notório que eles sempre andam ou correm em áreas isoladas, fazendo com que as pastagens fiquem pisoteadas e sem coberturas em áreas isoladas, sendo elas no meio da pastagem, perto de cochos e bebedouros, porteiras ou mais frequentementes perto de cercas, em virtude de brincadeiras com os “vizinhos” de pasto (Figura 4).

Figura 4 – Área de pisoteio de piquetes (Fonte: Fotos de internet).

Em resumo, a pastagem para equinos deve ter boa cobertura de solo e que permita rápido rebrote. Devem ser evitadas espécies que formem touceiras em virtude do ato de brincadeiras que é natural dos equídeos. Para tanto, espécies do gênero Panicum (hábito de formar touceiras) por exemplo podem ser usadas para animais já formados, pois em suma, não há grandes restrições nutricionais. As Brachiarias devem ser evitadas em virtude da baixa aceitabilidade, com exceção da B. Humidicola. Assim, restam por opção as forrageiras do Gênero Cynodon (Tifton, Coastcross, Estrelas, etc…), grama Batatais (Gramão) e alguns Panicum para animais de temperamento mais tranquilo. O que é importante salientar é que os equídeos não são bovinos, bubalinos, muito menos ovinos e caprinos, e como todas as espécies merecem que sejam tratados de forma especifica e não apenas jogado dentro de pastagens com outros animais de forma aleatória.

Literatura citada

LUPATINI, G.C.; MEDEIROS, S.F.; YAMAMOTO, W.K. et al. Avaliação de pastagens degradadas na região da Nova Alta Paulista – SP. Boletim de Indústria Animal, v.65, 2008.

VICTOR, R.P.; ASSEF, L.C.; PAULINO, V.T. Forrageiras para equinos Disponível em: http://www.iz.sp.gov.br/artigos.php?ano=2007. Acesso em: 18/02/2011.

9 Comments

  1. Carlos Vilhena Vieira disse:

    Marcos,

    Muito bom, pena que não falamos a este respeito na semana passada, só de ovinos.
    Mas tenho alguns cavalos e o pasto é Jiggs, o que voce acha?
    Carlos Vilhena Vieira
    Dorper Campo Verde

  2. Marco Aurélio Factori disse:

    Prezado Carlos Vilhena

    O capim Jiggs é também uma boa opção para a pastagem para equinos. è um Cynodon como o Tifton e Coastcross e seu manejo segue parecido com estes dois capins. Assim, o seu uso garante uma boa nutrição para os animais. Devo ressaltar que por ser um capim relativamente novo, não há muitos trabalhos na literatura sobre desempenho deste capim. Mesmo assim pode ser utilizado pois atende às recomendação gerais no que tange nutrição e manejo de equinos.
    Estamos sempre a disposição para qualquer esclarecimento. Um forte abraço. Marco Aurélio Factori.

  3. Rômulo Sançana França disse:

         Boa Tarde Erika e Marcos, primeiramente parabéns pelo artigo é de conteúdo muito bom, porem gostaria de saber se vocês tem informação sobre problemas digestivos em eqüinos que estão submetidos ao pastejo em Panicum ( mombaça e principalmente o Massai), já vi casos de fortes cólicas em cavalos aqui em Mato Grosso do Sul que estavam pastando exclusivamente o Massai, e no sul do Pará tive noticias de problemas causados pelo Mombaça. Se vocês tiverem alguma informação sobre isso fico grato.

    Att Rômulo

  4. Henrique Castilhano disse:

    Artigo muito bom!

    Parabéns!

  5. Djalma Bezerra Neto disse:

    Prezados Marco e Ericka,

    Parabéns pelo artigo, muito esclarecedor.

    Minha dúvida é a mesma que a do Rômulo França acima, qual a opinião de vocês com relação ao Massai? Essa espécie de panicum realmente causa cólicas? Qual outra pastagem pode ser utilizada para balancear a dieta dos animais?

    Muito obrigado desde já!

    Abraços.

    Djalma

  6. Caius Otavio disse:

    Estou produzindo feno de capim massai em minha propriedade, já li em vários sites de vendedores de sementes que este tipo de capim tem indicação para bovinos, equinos e ovinos, porém, já ouvi comentários de que ele causa cólicas em equinos. Uso com bastante frequencia para alimentação de minhas ovelhas e nunca tive problemas. gostaria de saber se vcs podem me dar algumas informaçãoes sobre isto! muito obrigado desde já!

  7. José Antonio disse:

    Boa Noite Marcos e Erika,
    Moro na cidade de Nova Monte Verde, região Norte de Mato Grosso, aqui na região morre muitos animais c/ cólica por não conseguir digerir o capim, Mombaça, Massai, Tanzânia, vcs já presenciaram esses casos, o que pode ser feito?

    Att,

  8. Ewerton Pimentel disse:

    Os capins Mombaça, Massai e Tanzânia possuem uma substancia chamada de lignina, que faz com que esses capins não sejam bem digeridos, assim ocorre a compaquitação no ceco dos equinos fazendo parar o transito intestinal, ou seja, cólica!
    Mesmo com a identificação que essa patologia é causada pelo capim, deve chamar um Veterinário para melhor resultado nessa enfermidade, pois, essa compaquitação intestinal tem que ser relevado vários fatores que possam estar acometendo a cólica nesse animal. É recomendado que o proprietário hidrate o animal até a chegado do Veterinário porque consequentemente esse animal estará desidratado. O medicamento Coletim (aumento do peristaltismo ou prosseguindo transito intestinal) muita das vezes resolve o problema, mais atenção, si a compaquitação estiver nas alças intestinais tem o risco de que ocorra a obstrução dessas alças levando o animal a óbito.
    OBS.: Esses capins não são recomendados para equinos, si na propriedade não tiver outra alternativa, tem que fazer outro manejo com esses animais nessa pastagem, colocar eles periodicamente e gradativamente nesta pastagem até ocorrer uma adaptação das microfloras microbianas, ou não deixar essa pastagem ficar muito madura, assim, diminui a concentração de lignina! Abraços espero ter ajudado!!!

  9. Ossamu Ocimar Nakashima disse:

    Estava pesquisando sobre toxidade do capim Massai, aqui tive resposta de todas minhas dúvidas. Obrigado!

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