Síntese Agropecuária BM&F – 11/09/03
11 de setembro de 2003
A caminho de uma produção com mais qualidade
15 de setembro de 2003

Parcelamento da adubação nitrogenada: 2. Parcelamento durante o período de rebrota

Roberto Naves Souza Aguiar1, Miguel José Thomé Menezes1, Marco Antonio Alvares Balsalobre2, Patricia Menezes Santos3

Aplicar 60 a 80 kgN/ha.pastejo… será que o parcelamento desta adubação determinaria melhores resultados, uma vez que o nitrogênio pode ser perdido antes que a planta tenha chance de absorvê-lo?

A idéia de parcelamento da adubação nitrogenada ao longo do ciclo de pastejo tem ganhado força, pois as doses de fertilizante aplicadas em algumas áreas, principalmente em sistemas irrigados, se encontram em patamares elevados.

Esse tema tem gerado várias discussões, devido ao reduzido número de trabalhos na literatura e à inconsistência dos resultados dos mesmos.

Um dos mais importantes determinantes da produção de massa seca das gramíneas é a densidade populacional de perfilhos. Como o nitrogênio interfere no perfilhamento, sua aplicação deve ser realizada de modo a permitir um bom desenvolvimento da população de perfilhos.

Corsi (1984) estudando o perfilhamento de Panicum maximum encontrou que os perfilhos que contribuíram efetivamente para a produção de matéria seca foram emitidos, em quase a sua totalidade, até oito dias após o corte, sendo que a contribuição dos perfilhos emergidos após 16 dias de rebrota foi insignificante para o aumento de produção. Ele concluiu, desta maneira, que o N deveria ser fornecido para a planta forrageira na primeira semana após o corte, no sentido de garantir incrementos no número de perfilhos e peso de perfilhos e, conseqüentemente, maiores produções de forragem.

Por outro lado, logo após a desfolha a planta pode se apresentar em condições aquém das ideais com relação à absorção de nutrientes, em virtude da redução do índice de área foliar (IAF) e do seu sistema radicular (HARRIS, 1978). Os dados obtidos por Pagotto (2001) (ver artigo “Comportamento do sistema radicular do capim Tanzânia irrigado“, publicado neste radar em 20/02/2003), mostram que o aparecimento de raízes novas demora de 12 a 21 dias, a depender da intensidade de pastejo adotada. Dessa forma, apesar da necessidade de N pela planta no início da rebrota, a absorção deste nutriente pelas raízes ficaria comprometida neste período, sugerindo que a aplicação de nitrogênio logo após a desfolha não seria a estratégia mais adequada uma vez que a falta de absorção pela planta poderia gerar perdas no sistema solo-atmosfera.

Yamada (1996), por outro lado, mostra que o N aplicado ao solo é retido primeiro pelos microorganismos e só depois de duas a três semanas é liberado na solução, o que justificaria a sua aplicação logo após a desfolha. Mesmo assim, a liberação deste nutriente para as plantas só se daria após o período crítico de desenvolvimento dos perfilhos (8º dia após a desfolha). Acredita-se portanto, que o efeito residual de adubações anteriores e/ou as reservas nitrogenadas do capim tenham um papel fundamental no sistema, permitindo o fornecimento de nitrogênio às plantas no período mais crítico de seu desenvolvimento.

Em estudos realizados com os capins elefante (Vicente-Chandler et al.,1959), Tanzânia (Menezes et al., 2001a e 2001b) (Tabelas 1 e 2) e Tifton 85 (Premazzi, 1999) não foi observado efeito positivo do parcelamento da adubação nitrogenada durante a rebrota do capim sobre a produção de matéria seca, peso e número de perfilhos. O estudo de PREMAZZI (1999), indicou ainda que o momento de aplicação do N na primeira semana após o corte (dia 0 ou dia 7) não afetou o peso de perfilhos e a PMS em Tifton 85, sugerindo uma pequena maleabilidade na data de aplicação do fertilizante.

Tabela 01. Produção de matéria seca para o capim Tanzânia (média +/- erro padrão da média) em função de diferentes esquemas de adubação nitrogenada no período de verão.


Tabela 02. Número e peso de perfilhos para o capim Tanzânia em função de diferentes esquemas de adubação nitrogenada no período de verão.


Comentário dos autores: O número de experimentos com parcelamento de adubação ao longo da rebrota do capim ainda é limitado. Além disso, recomendações mais precisas sobre o assunto dependem de maiores informações sobre a fisiologia dos diferentes capins e a dinâmica da matéria orgânica do solo. Apesar dessa deficiência de informações, os resultados já disponíveis até o momento indicam que o parcelamento da adubação nitrogenada ao longo do ciclo de pastejo não traz efeitos positivos e que essa deve ser realizada até uma semana após a desfolha.

Bibliografia consultada

CORSI, M . Effects of nitrogen rates and harvesting intervals on dry matter production, tillering and quality of the tropical grass Panicum maximum, Jacq. Ames, 1984. 125p. Thesis (Ph.D.)- Ohio State University

MENEZES, M. J. T.; MARTHA JÚNIOR, G. B.; PENATI, M. ; QUEIROZ NETO, F.; CORSI, M. Produtividade do capim Tanzânia irrigado em resposta à época de adubação nitrogenada após a desfolha. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38, 2001. Piracicaba. Anais… Piracicaba: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2001a. p.349-351.

MENEZES, M. J. T.; MARTHA JÚNIOR, G. B.; PENATI, M. ; QUEIROZ NETO, F.; CORSI, M. Efeito da época de adubação nitrogenada do capim Tanzânia irrigado após a desfolha sobre o peso e número de prefilhos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38, 2001. Piracicaba. Anais… Piracicaba: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2001b. p.348-349.

PAGOTTO, D.S. Comportamento do sistema radicular do capim Tanzânia sob irrigação e submetido a diferentes intensidades de pastejo. Piracicaba, 2001. 51p. Dissertação (Mestrado). Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.

PREMAZZI, L. M.; MONTEIRO, F. A.; SCHIAVUZZO, P. F.; BENETTI, I. Doses de nitrogênio e momento de aplicação após o corte em características fisiológicas do Tifton 85. In: Simpósio Internacional “Grassland Ecophysiology and Ecology”, 1999, CURITIBA. Anais. Curitiba: UFPR , 1999. p. 336-9.

YAMADA, T. Adubação nitrogenada do milho – Quanto como e quando aplica? Piracicaba: Potafos, 1996. 5p (Informações agronômicas, 74).
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1Engenheiro Agrônomo, Mestrando do Curso de Ciência Animal e Pastagens da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.

2Doutor em Ciência Animal e Pastagens, Diretor de produto Bellman, Sócio-Diretor da B&N Consultoria.

3Engenheira Agrônoma, doutor em Agronomia pela ESALQ/USP e pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste

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