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Paradoxos da indústria nacional da carne bovina

Por Pedro Eduardo de Felício1

Há mais de dois mil anos, o filósofo grego Sócrates (470-399 a.C.), sempre citado graças aos Diálogos de seu discípulo Platão, já que ele mesmo ao que se saiba não deixou escritos de sua própria lavra, foi condenado à pena capital por motivos supostamente de ordem moral, ou mais objetivamente, por não se submeter aos deuses do seu tempo. Consciente de não pertencer à aristocracia ateniense, embora desfrutasse de sua simpatia, insistiu o sábio apenas na defesa de seus princípios e não de sua vida, seja porque soubesse antecipadamente que não escaparia da desdita, seja para marcar uma posição que sobrevivesse a si próprio. Por estranho que pareça, – provavelmente tenha sido esta a contradição que difundiu e perpetuou a palavra paradoxo, do grego parádoksos, que significa contraditório, excêntrico – ele insistia em desafiar a crença dominante com sua tese de que era a ignorância que levava à maldade humana, individual ou coletiva, pois não haveria erro moral onde houvesse conhecimento, uma vez que a sabedoria e a virtude são inseparáveis; e foi pensando assim que se tornou vítima de sua própria teoria.

Muito provavelmente, isto é tudo que alguém precisa saber de filosofia para compreender os recentes eventos envolvendo a cadeia produtiva da carne bovina, pois tudo (ou quase tudo) é uma questão de conhecimento ou da falta dele. E para nossa sorte, ninguém hoje em dia será sacrificado por tentar se aproximar da verdade dos fatos, pelo menos não como fizeram com o sábio grego; então, analisemos alguns paradoxos.

O paradoxo da inspeção sanitária

Ainda estão por aí, na faixa de 70 a 90 e alguns anos de idade, pouquíssimos é fato, nossos homens de ouro, da segunda geração de médicos veterinários inspetores federais, competentes e idealistas, e seus seguidores, os da terceira geração, que com eles aprenderam a técnica e visão de futuro e, agora, estão perto da aposentadoria alguns, já aposentados outros. Quantas glórias deram ao Brasil nos últimos 60 anos desde o fim da II Guerra com trabalho árduo e intelecto em prol da higiene e da sanidade, que muito além da inocuidade dos alimentos no mercado interno, contribuíram decisivamente para as exportações a partir das indústrias “anglo-americanas”, tão bem representadas pela Cia. Anglo, seguidas pelas nacionais da fase caracterizada pelos frigoríficos Bordon, Mouran e T. Maia e, depois, pela nova geração que inclui, entre outras, as unidades dos grupos Bertin, Friboi, Independência, Marfrig e Minerva.

O país que hoje tem o maior rebanho produtivo e exporta o maior volume de carne bovina não precisaria estar passando por essa indignidade de se ver criticado, rebaixado, colocado de joelhos diante do gigante mundial da carne, nosso parceiro comercial na América do Norte, que tem imensa e reconhecida dificuldade de fazer o que do Brasil exige. Tampouco nossas autoridades precisariam ter ido lá explicar e fazer promessas as quais não podem cumprir, afinal foram duas décadas e alguns anos de abandono, dado que os governantes da nação nas três últimas décadas não têm compreendido bem a importância da inspeção sanitária para a saúde do povo e a economia da nação. É inevitável que nos perguntemos, então, o que foi que deteriorou tanto se a inspeção é tecnologia dominada por aqui há tempos? Como corrigir isso?

Como talvez dissesse Sócrates diante de tal paradoxo: não é maldade, é falta de conhecimento mesmo, ou de “consciência” se preferirem, e acrescentaria, então, uma sugestão às autoridades: reúnam os inspetores que dedicaram suas vidas profissionais à inspeção de carnes; tirem dois dias para conversar numa fazenda, longe dos telefones e das reuniões da capital federal; eles provavelmente dirão que não basta contratar, a questão é de como selecionar e treinar os profissionais; que é preciso criar um fundo, ou em termos mais modernos, uma agência, que arrecade taxas pelos serviços prestados à indústria, e utilize os recursos para investir diretamente no sistema de qualidade, sem depender da “consciência” de outras autoridades que têm a chave do cofre. Também dirão que é preciso destacar alguns profissionais dentre os mais perspicazes e amadurecidos, para visitarem antecipadamente as indústrias, preparando-as para as visitas dos inspetores estrangeiros. Ah! Por último, dirão que se o plano for mesmo executado, sem interrupções ou interferências políticas, os resultados começarão a aparecer em dois anos; assim, o melhor que as autoridades têm a fazer agora é não ficar dando explicações (em português rude que está na moda: não abaixar muito) a seus pares de países importadores, podendo até ser uma boa estratégia solicitar, oficialmente, visitas nas indústrias deles e elaborar bons relatórios a respeito.

O paradoxo da rastreabilidade

Ninguém duvida que será preciso fazer a rastreabilidade do gado, e não só do gado bovino, mas de toda a produção animal, de todos os ingredientes das rações que os animais consomem, de todos os alimentos de exportação, e assim por diante, cada qual a seu tempo. Duvidar disso não ajuda em nada o país que pretende e precisa ser exportador de alimentos, já que não é exportador de manufaturados e tecnologia. Acertadamente o governo tornou voluntário o Sisbov – Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina, afinal, ou o criador entende que pode ter algum benefício identificando cada um de seus bezerros, ou não participa do sistema. Agora está na hora das indústrias deixarem de fingir que não têm nada a ver com isso e mostrarem que estão sim interessadas no assunto; que a identificação animal tem sim que ser individual, e que independentemente das fazendas de origem terem ou não certificação do que quer que seja, elas precisam mesmo é ter uma escrituração zootécnica impecável.

Considerando-se as dimensões continentais, e a diversificada natureza da produção agropecuária deste país, por que o governo não define, agora mesmo, as regras para funcionamento de um sistema de gestão tripartite (pecuária, indústria e governo), de modo a permitir que cada estado ou região brasileira escolha, de conformidade com a lei vigente, as concessionárias para manutenção dos bancos de dados?

O que diria o filósofo diante do paradoxo da rastreabilidade? Diria que não tem havido maldade ou ambição, mas tem faltado conhecimento. Que faltou dar uma olhada no que outros setores produtivos têm feito para assegurar o histórico de localização e utilização registrada de seus produtos. Que faltou conversar com criadores, gerentes de indústria, supermercadistas, e profissionais que conhecem o assunto. Que o governo deve colocar-se na posição de quem define as regras e, em seguida, sai sem se ocupar da função de executor do programa. Processar os dados de milhões de cabeças de gado, distribuídos em milhares de fazendas, então, nem pensar. Isto não é trabalho para o governo federal por uma questão de eficiência e confiabilidade.

O paradoxo da classificação de carcaças

Segundo a matéria de capa da DBO Rural de abril, as “indústrias, em geral, não estão maduras para pagar ágio, nem pecuaristas para aceitar deságio”, portanto, não se fala mais nisso, certo? Errado, é preciso que se fale sim, pois não há outra maneira tão eficaz de apontar um norte para a produção de carne – sugerindo correções de rumo conforme as demandas de mercado vão mudando – do que uma classificação de carcaças de caráter nacional, que não interfira nos preços, nem imponha valores.

Repetindo, porque é da maior importância: que não interfira nos preços, nem imponha valores. Isto significa que as empresas não podem combinar entre si que irão desvalorizar algumas categorias de sexo-maturidade (por exemplo: machos inteiros, vacas, novilhas), ou de raça (por exemplo: cruzados leiteiros), ou de peso (por exemplo: abaixo de 240 kg, ou 16 arrobas), segundo uma tabelinha de deságios de tantos reais, ou tantos por cento, para essa ou aquela categoria.

Tal combinação funcionaria como um dispositivo de eliminação da concorrência, que passaria a seguinte mensagem ao fornecedor de gado: – corra você para onde for, não terá qualquer chance de vender melhor o seu gado, pelo menos não para nós que somos grandes e podemos garantir que você receberá o pagamento pelas carcaças; fora do nosso círculo você poderá não receber e perderá tudo. Pior que isto só se essa mensagem vier com um complemento do tipo: – tudo que não estiver previsto para sofrer descontos será pago pelo preço normal de mercado. Pior, porque faz descontos naquilo que entendem ser “falta de qualidade”, mas não premiam o que consideram como de “melhor qualidade”.

Diante da possibilidade de estar ocorrendo uma combinação desse tipo, num grande e belo país ensolarado, ao sul do Equador, onde todos os envolvidos, do pasto ao prato, entendem que uma classificação de carcaças será útil para a organização da cadeia produtiva, o que diria o filósofo grego? Saliente-se que na hora de melhorar preços pela “qualidade” (para ser exato, o correto é conformidade), os frigoríficos, individualmente, fazem seus próprios acordos com fornecedores, mas na hora de descontar o fazem em conjunto, somando forças, para oprimir justamente aqueles que garantem seu suprimento de matéria prima.

Talvez dissesse que a pergunta é na verdade um sofisma, que induz a uma condenação por malignidade de uma agremiação que não pode ser tão má assim; talvez acrescentasse que deve ser uma questão de obscurantismo passageiro, de perda temporária de consciência de pertencer a uma só corrente, cuja força não pode ser maior do que a do mais fraco de seus elos. Diria que é um sintoma de imediatismo progressivo, que se for verdade mesmo – sempre desconfiado como cai bem aos sábios – e persistir, então estaremos todos perdidos, porque é doença de prognóstico desfavorável.

Por fim, é possível que Sócrates recomendasse cautela, porque tamanha ignorância pode ser muito perigosa – neste ponto nos faria lembrar de sua própria história. Mas também é possível que lançasse mão do dito popular, segundo o qual “de um limão pode-se fazer uma deliciosa limonada” e sugerisse uma reunião visando aproveitar a famigerada tabela, se é que tal coisa existe – o mestre ainda está incrédulo – à qual se aporia a parte faltante (a das categorias de carcaças a serem premiadas), e se eliminariam os descontos pré-fixados, porque são indecentes. Em seguida, todas as indústrias estariam moralmente comprometidas com a implantação da classificação de carcaças, de valores (méritos e deméritos) flutuantes; somente os parâmetros e a maneira de os pesar, medir ou avaliar seriam padronizados e sujeitos a auditagens periódicas de terceira parte, principalmente a pesagem, ressaltaria o pensador e contumaz provocador.

Concluiria que a triste tabela poderá muito bem ser um ponto de partida para a discussão de todos os outros paradoxos dessa cadeia produtiva que resiste à idéia de tornar-se uma verdadeira indústria nacional da carne. E pela última vez, apossa-se do teclado o mestre, para recomendar às empresas frigoríficas que contratem muitos profissionais de nível superior, como fizeram as suas congêneres do setor de suínos e aves, nos últimos vinte anos, porque o jogo será ganho ou perdido no campo da Ciência e da Tecnologia, se é que não perceberam ainda.

_____________________________
1Pedro Eduardo de Felício é professor-associado da Faculdade de Engenharia de Alimentos, da Unicamp

0 Comments

  1. Luiz Alberto Fries disse:

    Só posso concordar com teu texto: é correto, claro, oportuno e culto.

    Parabéns, Pedro!

    abraços

    Luiz

  2. Donario Lopes de Almeida disse:

    O artigo do Professor Pedro Eduardo de Felício é uma pérola. Ao embasar seu pensamento em Sócrates e Platão, no passado longínquo, nos oportuniza entender os cenários abertos para o nosso futuro. O presente vai caber a nós, seus admiradores leitores e interessados na cadeia da carne. Parabéns Pedro!

    O tripé de sua análise: sanidade, rastreabilidade e classificação de carcaças é uma porção importante dos temas recorrentes hoje, seja pela relevância mercadológica como também pelas mudanças de paradigmas necessárias para sua evolução.

    Não há muita dúvida de que o Brasil tem potencial de ser um grande fornecedor de carnes para o mundo. Fizemos uma tremenda tarefa de casa nas últimas décadas em termos de nutrição, genética e saúde animal. Os rebanhos cresceram, aumentou-se o desfrute e hoje temos índices de produtividade comparáveis a países desenvolvidos. O resultado disso é uma oferta abundante, que está refletida hoje nas longas escalas de abate da maioria dos frigoríficos. A solução, logicamente, não passa por greve ou piquete, vai exigir estratégias mais elaboradas, com visão de cadeia e perspectivas de médio e longo prazo.

    A resolução ou melhoria no “tripé do Pedro” (sanidade, rastreabilidade e classificação de carcaças) certamente vai colaborar com a profissionalização de nossa cadeia, e facilitar o acesso a novos e mais rentáveis mercados. É isso que precisamos, de profissionalização. De uma mudança de paradigma em elos participantes desta cadeia. Produtores que encarem sua atividade como empresários, focando na adequação do produto as demandas do consumidor, seja ele interno ou externo. Indústrias que inovem na gestão de seus negócios e estejam habilitadas a atender as exigências de qualidade nos mercados atendidos. Governo que assuma sua posição de regulador e que proporcione uma política sanitária segura.

    Temos de viver a mudança de forma positiva, e é melhor começar logo para reverter o referido paradoxo que vivemos.

    Donário Lopes de Almeida

  3. Alexandre de Abreu Sampaio Doria disse:

    Lendo o artigo “Paradoxos da indústria nacional da carne bovina”, lembrei-me da piada que pergunta: “quantos economistas são necessários para se trocar uma lâmpada?” Resposta: “Nenhum, se a lâmpada realmente necessitasse de troca as forças do mercado já a teriam realizado”. O artigo fala de diversas lâmpadas que ninguém se deu ao trabalho de trocar.

    Acredito que, mais cedo ou mais tarde, o mercado mude, por conta de suas inexoráveis leis. A concorrência bate na porta tanto dos pecuaristas, por terra para outras culturas, quanto dos frigoríficos, com outras carnes e carnes de outros lugares.

    Já cheguei a levantar-me e ir embora de restaurantes ao saber que eles serviam carne argentina. Hoje em dia penso que, comendo lá, pelo menos não dou dinheiro para nenhum frigorífico local.

    Uma pena que os produtores não consigam se organizar para pressionar os frigoríficos que, atualmente, têm a faca e o queijo na mão. Talvez o negócio para os produtores não seja mais mudar o mercado, mas sim mudar de mercado. Começo a imaginar que o problema seja excesso de oferta. Por que os frigoríficos mudariam de atitude se não falta gado para abater?

    Eventualmente chega algo com o perfil que eles necessitam, sem que precisem oferecer nada por isso, tamanho o volume de abate no país.

    Quem sabe? Talvez com alguns pecuaristas desiludidos deixando de oferecer carne ao mercado alguma lâmpada se troque.

  4. Thiago Fernandes Bernardes disse:

    Professor, lendo este material me lembrei de um dos programas do Roda Viva (rede cultura) onde foi entrevistado Arnaldo Jabor.

    Um dos convidados disse que ele era crítico e então ele respondeu: “Não sou crítico, eu provoco pensamentos”.

    E foi mais ou menos isso o que VSa. provocou nos leitores deste texto, ou seja, o que a Ciência e Tecnologia mais faz com seus seguidores.

    Parabéns pelo artigo!

  5. Alexandre Zadra disse:

    É satisfatório ler um artigo tão rico como esse do Prof. Pedro de Felício, onde aborda a dura realidade do descaso, ou melhor, ignorância do governo para com o assunto Vigilância Sanitária, certificação ou rastreabilidade bovina e a classificação de carcaça.

    Podemos aqui fazer um adendo no tocante a classificação de carcaça para enriquecer a discussão sobre o tema. Os frigoríficos exportam uma boa quantidade de carne que são melhor remuneradas de acordo com o tamanhos das peças, ou seja, contra-filés de 6 kg são mais valorizados que contra-filés de 4 ou 5 kg, assim preferem comprar bois acima de 17,5@.

    Aqui no Brasil, as churrascarias preferem picanhas de 1400 a 1500 kg com bom acabamento de gordura, para que as peças não ressequem durante o rodízio. Portanto, será que nesse momento pagariam prêmio a um produto precoce com 16,5@ com 3 mm de gordura?

    Não estou aqui defendendo os frigoríficos, mas o processo de classificação de carcaça é o ponto final de uma demanda existente no varejo e no mercado externo. A tabela de premiação na classificação de carcaça deve ser montada com a cumplicidade da indústria, varejo, universidade e criadores para que seja aplicável, pois é a indústria distribuidora que tem as informações da preferência dos clientes e não deve ser alijada do processo.

    Por outro lado, essa tabela de classificação não precisa ser engessada, devendo ser revisada e adaptada com as mudanças de mercado, pois o que é mais valorizado hoje, poderá não ser amanhã. Um exemplo hoje de sistemas de classificação é a maior premiação por tamanho e não por idade ou raça.

    Com o trabalho da ABIEC prospectando novos mercados externos e que valorizem maciez e criando marcas para se agregar valor na carne, poderemos rever o sistema de premiação na classificação de carcaça, valorizando bois precoces e não somente os pesados com bom acabamento de carcaça.

    Devemos enaltecer e apoiar o SIC para que consiga lançar a bela campanha de promoção do consumo de carne engavetada por falta de recursos, assim contribuiremos para que a demanda aumente e os frigoríficos consigam premiar melhor nossos bois.

    Alexandre Zadra
    Gerente de taurinos Lagoa

  6. Flavio Ribeiro disse:

    Prof Pedro Felício, que artigo excelente.

    Concordo plenamente com suas palavras. Na minha opinião esse artigo tinha de ser impresso e distribuído em Universidades, Sindicatos rurais e Leilões.

    Provavelmente os três tópicos que o Prof tocou nesse artigo são os três mais importantes pra pecuária Brasileira. Inspeção Sanitária, Rastreabilidade e Tipificação de Carcaça. Sendo que os dois primeiros se não forem tomados medidas o mais rápido possível aí sim nos vamos ver o preço da arroba ir para o chão. Pois o que mercado internacional está cada dia mais rigoroso quanto às barreiras sanitárias que eles impõe sobre produtos importados.

    Espero que esses tópicos tocados pelo Prof Pedro Felício sejam visto com mais ênfase pelos nos governantes, pesquisadores, frigoríficos e fazendeiros.

  7. Antonio Carlos Lirani disse:

    Quando atingirmos o estágio de termos uma “verdadeira indústria nacional da carne”, preconizada pelo Dr. Pedro de Felício, esta já nascerá em débito com este emérito pesquisador a quem, a atual cadeia produtiva da carne, já tanto deve.

    De forma singular e até poética, já que filosófica é patente, resumiu um dos grandes problemas que possuímos: o desconhecimento.

    Já tivemos oportunidade de escrever sobre o assunto, aplicado à rastreabilidade. Testemunhamos o alto grau de desconhecimento existente, sobre esta matéria, tanto entre representantes da cadeia produtiva como do governo. Basta ler o que declaram e escrevem.

    Já participamos de reuniões onde dez ou mais representantes debatiam a rastreabilidade, mas percebia-se, claramente, que havia no debate dez definições ou interpretação diferentes do que é rastreabilidade.

    Fruto disto, nasceu o SISBOV.

    É animador saber que a nova equipe responsável por este sistema tem conhecimento destes fatos e demonstra muito interesse em corrigir os desvios.

    Parabéns e obrigado Dr. Pedro de Felício.

  8. Angélica Simone Cravo Pereira disse:

    Primeiramente, gostaríamos de parabenizar o professor Pedro de Felício pela brilhante exposição de seu artigo, demonstrando a grande variedade de componentes relacionados com a produção nacional da carne bovina.

    Citando o artigo: “a tabela poderá muito bem ser um ponto de partida para a discussão de todos os outros paradoxos dessa cadeia produtiva que resiste à idéia de tornar-se uma verdadeira indústria nacional da carne”, portanto, consiste apenas de um ponto inicial de um cenário que deve considerar a política econômica e social, em nível mundial e nacional, o agronegócio brasileiro, a cadeia da carne, o setor da carne bovina, os produtores, os frigoríficos e os consumidores. Talvez uma das maiores dificuldades seja justamente considerar todos esses fatores a fim de promover a sintonia, em que todos os envolvidos sejam atendidos.

    Na verdade, estamos diante de uma variedade de questões a serem minimizadas, ou ainda solucionadas em conjunto. Quando segmentamos tais questões, para facilitar a busca de soluções, não podemos perder a visão do conjunto. É preciso que todos estejam voltados para um mesmo objetivo, como uma orquestra, onde o melhor desempenho ocorre quando todos estão em sintonia. Além disso, a busca de soluções não está somente na área econômica, mas também na área da ciência e da tecnologia, inserindo profissionais capacitados não somente nas empresas frigoríficas e nas fazendas, mas também nas discussões e nos diálogos sobre as buscas dos novos rumos para a cadeia da carne bovina. Como em qualquer outro segmento as melhores soluções virão, desde que sejam considerados os paradoxos em todos os níveis. Nesta ação, como em uma orquestra, há a necessidade de um maestro, com habilidade, capacidade, criatividade e responsabilidade, para promover a integração das informações e do conhecimento.

    “Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos” (Sócrates).

    Abraços,

    Angélica Simone Cravo Pereira e Gabriela Aferri
    Pesquisa e Ensino (USP-FZEA)

  9. Carlos Arthur Ortenblad disse:

    Li o artigo do Professor Pedro Eduardo de Felício no BeefPoint: “Paradoxos da indústria nacional da carne bovina”.

    O que o Pedro propõe, com seu brilhantismo habitual, é que repensemos toda a cadeia produtiva da carne.

    Aliás, eu não li um artigo, e sim o depoimento de um dos maiores técnicos em “carnes” que este país já teve, ou terá.

    Assim, exceto em um aspecto, não desejo comentar o artigo – e nem preciso, pois ele por si só já é definitivo.

    Quero sim, prestar o meu depoimento sobre o autor do artigo.

    Passo então ao comentário, para em seguida dedicar-me ao depoimento. Quando o Professor Pedro de Felício menciona:

    “Talvez dissesse que a pergunta é na verdade um sofisma, que induz a uma condenação por malignidade de uma agremiação que não pode ser tão má assim; talvez acrescentasse que deve ser uma questão de obscurantismo passageiro, de perda temporária de consciência de pertencer a uma só corrente, cuja força não pode ser maior do que a do mais fraco de seus elos. Diria que é um sintoma de imediatismo progressivo, que se for verdade mesmo – sempre desconfiado como cai bem aos sábios – e persistir, então estaremos todos perdidos, porque é doença de prognóstico desfavorável.”

    Sim, é bem possível que estejamos “todos perdidos”, pois uma característica comum à maioria dos empresários brasileiros, é a ganância. Herdamos, neste aspecto, o que de pior existe (ou existia) na cultura ibérica: falta de sensibilidade social, imediatismo, visão míope, socialização do prejuízo, mas privatização do lucro, e, por fim, um ímpeto quase incontrolável de “matar a galinha dos ovos de ouro”.

    Alguma semelhança com o que temos assistido nos últimos anos no mercado de carne bovina no Brasil?

    Já que o Pedro recorreu, com rara propriedade, a filósofos gregos, para emoldurar seu ótimo texto – permito-me mencionar outro, que bem ilustra a questão. O filósofo Diógenes costumava percorrer Atenas com uma lanterna acesa, mesmo durante o dia. Aos que o perguntavam por que fazia aquilo, respondia: “Estou à procura de um homem honesto”.

    Ao que, no caso em tela, eu acrescentaria a palavra “inteligente”.

    Alguma semelhança com o que temos assistido nos últimos anos no mercado de carne bovina no Brasil?

    Terminado o comentário, passo ao meu depoimento pessoal sobre o Professor Pedro de Felício, depoimento este que, pela necessária brevidade, será, em tamanho, inversamente proporcional ao valor do Professor Pedro de Felício:

    Quando a Fazenda Água Milagrosa desenvolvia, com seus parceiros, o Projeto TAB 57 – passei a me corresponder regularmente com o Pedro, pois desejava o melhor corpo técnico possível para o projeto – e a ele queria entregar a parte final e decisiva do projeto: abate técnico e classificação (ou conformidade) das carcaças. Finalmente, no início de 2003 ele aceitou a missão, da qual se desincumbiu além das minhas mais ambiciosas expectativas.

    Como diziam os caboclos, e com toda a razão: “Para conhecer um homem é necessário negociar com ele”.

    “Negociar” com o Pedro (e não refiro-me a dinheiro), foi sempre um prazer, e um enorme aprendizado. O pouco que conheço da cadeia produtiva de carne, devo a ele.

    Nos tornamos amigos. Juntos fomos apresentar palestras no Paraguai, em excelente companhia: Miguel da Rocha Cavalcanti (Coordenador do BeefPoint), Paulo H. J. de Camargo, e Rodolpho A. Ortenblad.

    Rara é a semana que não nos correspondemos, através deste frio, porém eficiente meio de comunicação, internet.

    O Professor Pedro de Felício não é apenas uma enciclopédia ambulante em todas as questões que têm relação com “carnes”. É um homem íntegro, ético, compromissado até a medula com sua profissão, e com o Brasil.

    Consegue aliar, como poucos, o rigor do conhecimento técnico e científico, com profundo saber humanista.

    Em resumo: o Pedro é um “Renascentista”.

    Feliz do país que pode dispor de um homem da estirpe do Professor Pedro de Felício.

    Espero ardentemente, que todos os envolvidos na “cadeia produtiva da carne” não apenas leiam o artigo do Pedro.

    E sim aprendam com ele, pois o que ele escreveu não é um mero artigo. É o depoimento de uma vida. E que vida!!

    Abraços,

    Carlos Arthur Ortenblad
    Economista e administrador de empresa
    Rio de Janeiro – RJ

  10. Marcos Aurelio de Queiroz disse:

    Excelente artigo.

    Afinal de contas o que se pode esperar de um setor industrial que nivela por baixo seus fornecedores de matéria-prima.

    Seria cômico se não fosse trágico, mas tomara que seja mesmo falta de conhecimento, pelo menos há uma luz no fim do túnel e, por pior que pareça, é melhor que falta de caráter.

  11. Pedro de Camargo Neto disse:

    Conheci o Professor Pedro de Felício ao redor de 1995. O FUNDEPEC tinha conseguido grandes avanços na questão da febre aftosa e começamos a pensar, talvez erroneamente, pois causou muito ciúme, em outros temas, em particular o desafio da qualidade.

    Ele foi, diria que ainda é ao ler este belo artigo, o nosso guru. Ensinou tudo do projeto da aliança vertical para o novilho precoce. Com ele, e o memorável grupo de jovens profissionais que o FUNDEPEC aglutinava, trabalhamos muito.

    Chegamos até as gôndolas do supermercado com nosso selinho de qualidade, certificada, seriamente rastreada, que tinha toda uma historia por trás. Não vingou porém deixou grandes ensinamentos claramente identificados em inúmeros avanços que ocorreram na carne bovina do Brasil.

    A historia do FUNDEPEC é triste e todos já a conhecem. Alijados do pioneiro trabalho em defesa animal acabou minguando sem antes introduzir importantes critérios de avaliação de processamento industrial graças ao peso do comprador do varejo, e a qualidade das idéias do FUNDEPEC.

    O artigo do Pedro possui importantes ensinamentos que exigem ser valorizados. Vamos aos paradoxos: Quando será que a inspeção sanitária será valorizada? Infelizmente ainda falta muito. Tem sido somente a auditoria de estrangeiros que parecem mover os responsáveis. Como colocou o Pedro existe ainda um grande número de grandes profissionais. Vamos pensar, antecipar, inovar, deixar de lado preconceitos e avançar. Não é só recurso financeiro que falta. Falta antes de tudo liderança.

    E a famigerada rastreabilidade? Nos últimos dois anos o setor privado investiu uma fábula na compra de brincos e custos diretos desse SISBOV. O que temos hoje? 40 dias com um pedaço de plástico na orelha e um papelucho. Vamos refletir. Não interessa falar em culpados. Certamente houve enorme vontade de acertar de muitos. Não deu certo. É preciso mudar, pois rastreabilidade séria veio para ficar. Rastrear é ter informações. Agregar valor ao produto com informações sobre o processo produtivo. Antes de mais nada é preciso que o custo deste adicional de informações seja arcado pelo consumidor. Não vamos tentar impor a qualquer elo da cadeia este ônus que não vai dar certo. Hoje custa cerca de US$ 1 saber que um animal tem um brinco por 40 dias, isto é, se foi feito de maneira séria. Será que teremos que aguardar um estrangeiro vir ao Brasil e relatar o absurdo que temos hoje?

    O ultimo paradoxo do Pedro, a classificação de carcaças. Até desanima escrever disto, pois já poderíamos e deveríamos ter um sistema à altura do tamanho do setor. Acredito mesmo que exista amadurecimento na grande maioria dos agentes. Falta sentar e acordar.

    Parabéns guru Pedro de Felício.

    Pedro de Camargo Neto.
    Aluno, admirador e amigo do xará da UNICAMP

  12. Marina Hojaij Carvalho disse:

    “Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos” (Sócrates).

    Com certeza tenho que iniciar com esta frase citada pelas colegas Angélica e Gabriela. Sem dúvida alguma, no momento em que li o artigo, ou melhor, depoimento do Prof. Pedro, tive a oportunidade de aprender com ele (mais uma vez). Penso que deveríamos seguir este “general” que tem idéias tão brilhantes e que: “Não é crítico, não! Apenas provoca pensamentos!”.

    Que bom seria se esses pensamentos realmente pudessem virar realidade, ou seja, a pecuária deixasse de ser uma fábrica de sonhos e passasse a ser uma usina de realidade. Com certeza teríamos menos pecuaristas desiludidos, querendo deixar a atividade.

    Não… Isso não pode acontecer! Temos um país promissor para produção de carne bovina. Tem razão o nosso colega Donário ao dizer que fomos muito eficientes no tripé: “nutrição, genética e sanidade”, então por que não repetimos a dose neste novo tripé, agora chamado “tripé do Pedro” (com todo o respeito… é claro!).

    Esta é uma das chaves para o grande futuro que ainda está por vir!

    Parabéns ao Dr. Pedro e um grande abraço!

    Marina
    Ensino, Pesquisa e Extensão
    Campo Grande – MS

  13. Cristiano Sales Prado disse:

    Fantástico!

    Talvez esta seja a melhor expressão para classificar a matéria publicada pelo Professor Pedro.

    O texto reflete com profundidade, clareza e ao mesmo tempo “poesia” a realidade da cadeia produtiva de carnes no Brasil. Uma verdadeira aula de cultura.

    Realmente é preciso “tocar” na ferida.

    Prof. Cristiano Sales Prado
    EV/UFG

  14. Sudemar Teixeira dos Santos disse:

    Bravo! Bravo! Mestre…

    Seu artigo não deve apenas ser lido por todos os envolvidos nessa “Cadeia produtiva da carne” (e não de boi), mas sim estudado com todo cuidado para que cada um de nós compreenda que temos alguma contribuição para dar na solução dessa real “crise” que se instalou na pecuária nacional.

    Ao conquistarmos o topo da lista como maiores exportadores mundiais, iniciamos uma luta interna capaz de destruir todos os verdadeiros responsáveis por esse feito tão importante para o país.

    Será que não surgirá um líder no setor capaz de unir e dialogar com todos os envolvidos, demonstrando que sem entendimentos todos perderemos?

    Caro professor, que a sua matéria possa chegar a todos os envolvidos no tema e sirva de ponto de reflexão para que deixemos de brigar e passemos a lutar pelo interesse comum.

    Parabéns!

  15. Eduardo Miori disse:

    Artigo impecável, como são todos os artigos do Professor Pedro de Felício.

    As idéias estão expostas e o caminho é claro, porém muito difícil.

    Cabe a cada um de nós produtores, frigoríficos, distribuidores , consultores e fornecedores fazermos nossa parte sem esperar pelas instituições governamentais que nos seguirão no devido tempo.

    O maior investimento de que necessita a pecuária para acelerar seu desenvolvimento é a persistência na busca do conhecimento e qualidade.

    Eduardo Miori

  16. Breno Augusto de Oliveira disse:

    Parabéns ao prof. Pedro pelo magnífico texto.

    São considerações como estas que podem aumentar o profissionalismo na cadeia produtiva bovina, por que neste mundo globalizado e competitivo não há mais como absorver atitudes prepotentes, banais e extrativistas que estão sendo tomadas por inúmeros profissionais e empresas do ramo.

    Pois apenas evitando estas, estaremos diminuindo o enorme e obscuro abismo entre o campo e o prato dos brasileiros.

    Cordialmente,

    Breno Augusto de Oliveira
    Consultor Agroindustrial

  17. Lorena Alves Batista disse:

    Este artigo foi show, falou tudo não faltou nada!

    É muito injusto o que acontece com nossos produtores de carne no Brasil, além de pagarem mal pelo produto, ainda tem os insumos que estão sempre aumentando, e o valor pago pela @ de carne produzida, só abaixando!

    E sobra para os profissionais da área que ficam sem emprego, os produtores não podem pagar e ficam sem investir em tecnologia para redução de custos de produção e assim impedidos de obter um produto de melhor qualidade tecnológica!

  18. Eloísa Muxfeldt Arns disse:

    O artigo do Prof. Pedro de Felício, além de uma perfeita radiografia da atual situação da cadeia produtiva da carne bovina, é uma apologia ao bom senso.

    Que, por sinal, está em falta no mercado!

    E que satisfação nos dá ler um texto tão bem escrito e com tanta propriedade como este.

    Parabéns, Prof. Pedro.

    Eloísa Muxfeldt Arns
    COTRISAL
    São Borja/RS

  19. Walter Magalhaes Junior disse:

    Caro Prof. de Felício

    A mágica das suas palavras não deveria ficar restrita aos mortais que acessam este tão bem gerido “BeefPoint” relacionado com o Agronegócio.

    É uma pena que este seu artigo não esteja exposto, em letras garrafais, nos maiores órgãos de comunicação escrita deste País.

    Sobra adjetivos para todo mundo, tanto aos sábios quanto aos pretensos.

    As grandes revoluções, aquelas que surtiram os maiores efeitos evolucionistas no mundo foram culturais.

    Já sem muita esperança em um Brasil punjante, com a quase certeza de que deixarei para a minha filha um País pior do que o que recebi dos meus pais, torço para que esta sua ação seja seguida por outros Mestres do Saber, tornando-se um marco para um futuro melhor para todos.

  20. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes disse:

    Parabéns pela excelente análise da atual situação da Cadeia da Carne.

    Esta realmente não parece funcionar na forma de elos de uma grande corrente, que se fortalecem.

    Principalmente no que se refere às indústrias, salvo algumas exceções, parece que não enxergam que estão próximos a matar, ou pelos menos ferir gravemente, a galinha dos ovos de ouro.

    Parecem não estar satisfeitas em conseguir um lugar no céu.

    Como estão atuando, parecem buscar um lugar no inferno para o outro elo, os próprios fornecedores.

    Ou o setor caminha em conjunto, ou não sai do lugar.

    Importante salientar a omissão do setor governamental. Infelizmente tradicional para políticas de médio e longo prazo. Por dados do próprio governo, o setor de defesa sanitária animal receberá este ano pouco mais de 10% do total que será destinado a Reforma Agrária.

    Isto não é correto em qualquer ângulo de análise, na atual conjuntura.

    Obrigado por nos fornecer este outro ponto de vista, que o problema pode se tratar principalmente de ignorância, ou falta de conhecimento dos responsáveis, e não de pura maldade ou algo ainda pior.

    Desta forma podemos acreditar que uma solução esteja mais próxima.

  21. mario garcia disse:

    Na minha opinião o artigo do Prof. Felício é incisivo, provocante e ao mesmo tempo elegante porque ele põe pra pensar, questionar valores e definir objetivos (onde queremos chegar).

    Será que temos como fazer este artigo chegar às mão do Ministro Roberto Rodrigues e aos atores da Indústria Frigorífica?

    Acredito que temos muito a ganhar se conseguirmos divulgar este artigo, da minha parte já estou encaminhando.

  22. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Pedro Eduardo,

    Parabéns pelo excelente e oportuno artigo sobre os paradoxos da indústria nacional de carne bovina.

    Quero fazer o seguinte comentário e contribuição.

    Inspeção Sanitária.

    Quem não se lembra do tempo em que o serviço de inspeção federal (SIF) tinha uma verdadeira escola funcionando junto á Frigorífico Anglo em Barretos onde muitos estagiários aprenderam os segredos e a tradição do SIF.

    Este selo fazia parte integral do slogan do Anglo: Garantia de Qualidade.

    Existia uma política de bons relacionamentos entre a empresa e o SIF e também grande parte deste foi custeado pelo Anglo.

    Hoje é possível que um veterinário cuide de várias indústrias onde comanda um time de leigos treinados, a interação entre a empresa e o SIF simplesmente não existe mais e as planilhas de dados colhidos como, por exemplo, à verificação das faixas etárias, não são totalmente preenchidas e não servem para nada e ninguém, após a identificação de idades limites das carcaças.

    A decisão de chutar o serviço público para escanteio no plano SISBOV, refletiu e reflete muito no relativo fracasso da idéia de uma identificação individual dos animais desde o nascimento até o prato do consumidor final como parte essencial do rastreamento da carne e seus derivados, como também a certificação das fazendas e seus sistemas de produção.

    Infelizmente este assunto se encontra num vácuo, onde todo mundo tem medo de agir com transparência, idealismo e firmeza.

    Concordo plenamente com você sobre a necessidade de se fazer um “workout” entre o pessoal de inspeção sanitária, mas convidava também os certificadores, os frigoríficos e os supermercados e importadores.

    A MAPA podia começar com um grande debate via Internet sobre o tema “Rumos para a cadeia da carne bovina”, onde cada um pode identificar os problemas e principalmente sugerir as soluções.

    A criatividade e objetividade podem mover obstáculos até então considerado como imóveis.

    Vamos nessa.

  23. Arnaldo Barin disse:

    Fica até difícil fazer comentários sobre o artigo escrito pelo Prof.Pedro Felício, pois na minha opinião o relato escrito por ele é perfeito!

    Sou pecuarista, sendo que durante anos trabalhei no setor alimentício (indústria e comércio exterior). Vejo a situação atual de uma forma que com certeza minhas opiniões irão desagradar pessoas de ambos os lados.

    Ao meu ver, existem os mais diversos perfis de pecuaristas, desde aqueles que se dedicam integralmente a essa profissão, passando-se pelos que exercem a atividade de forma secundária, porém em todos os casos, a maior parte dos produtores rurais conduzem suas fazendas sem muito planejamento comercial, ou mesmo nenhum. De nada adianta todo o conhecimento e capacidade na produção de animais se falharmos no momento mais crítico, que é no aspecto da venda.

    Rastreabilidade, sanidade, controles, sistemas produtivos e adequações as normas e certificações internacionais também são pontos decisivos e influem positivamente para uma melhor remuneração, sobretudo em momentos onde o mercado está balizado por baixo.

    Penso que relacionamentos e alianças comerciais devem ser feitas, buscando-se melhores ganhos e negociações mais transparentes e honestas.

    Isso gera tranqüilidade ao produtor e também ao frigorífico para que possam se programar a médio e longo prazo.

    Com certeza muitos irão dizer que rastreabilidade, certificações e alianças comerciais são inviáveis ou que por algum motivo não se enquadram na sua realidade e que isso irá acabar por criar dois parâmetros dentro da pecuária. Realmente acredito que isso irá acontecer e encaro como um processo salutar, pois influenciará positivamente para que o setor pecuário continue em seu processo evolutivo e em direção da profissionalização.

    Com relação aos frigoríficos exportadores, fico admirado que em questão de alguns poucos anos, através de taxas de crescimento incríveis, tenham se transformado no que são hoje e passassem a reger o mercado ao seu bel prazer. São casos dignos de estudos acadêmicos!

    Diante disso, eles investem pesado na construção ou reformas de suas plantas, absorvem frigoríficos agonizantes e adotam estratégias comerciais agressivas. Tornaram-se tão agressivos comercialmente que hoje, após abrirem e ampliarem vertiginosamente os mercados internacionais e preocupando-se somente com volume exportado, em detrimento à qualidade e agregação de valor, viram-se taxados de vendedores de commodities e consequentemente marginalizados dos mercados mais rentáveis.

    Tornaram-se reféns de seu próprio sucesso, pois concentraram a maior parte de sua receita operacional nas vendas internacionais e atualmente encontram-se com seus custos de produção comprometidos devido as cotações da moeda americana. Para completar o quadro, atualmente tomam atitudes abusivas e no intuito de tentar compensar o descompasso de sua perda de receita operacional, impõem de maneira vergonhosa uma tabela de classificação absurda, além de outras práticas nada elogiáveis que prefiro não mencionar.

    Agem simplesmente como “açougues super-desenvolvidos”, pensam de forma equivocada e adotam uma postura que certamente irá levar ao caos todo o sistema produtivo do qual eles próprios dependem, caso não promovam mudanças nos padrões atuais.

    Ainda assim, prefiro acreditar que é possível uma mudança nesta situação e que ambas as partes, pecuaristas e frigoríficos, visando chegar a uma solução que beneficiem a todos,iniciem um diálogo sério, o qual deverá ser longo e com certeza bastante complexo, mas que algumas providências possam ser adotadas de imediato para o bem de todo o segmento.

  24. Marcello Anastasio disse:

    Perfeito o artigo do Prof. Pedro de Felício.

    Como profissional da área, foi um privilégio, ministrar alternadamente uma palestra (e aprender), com este grande doutor no assunto.

    Inspeção sanitária, rastreabilidade e classificação de carcaças, são etapas no processo da cadeia produtiva da carne, que já deveriam ter sido solucionadas após exaustivamente debatidas por todos os órgãos e associações (diretamente envolvidos), criadores, pecuaristas e frigoríficos.

    Desta forma, a contribuição não seria somente para o consumidor de carne bovina do mercado interno, e o país sustentaria uma primeira colocação em volumes exportados com classe, sem a desvalorização dos colaboradores e profissionais (técnicos) envolvidos diretamente em todo o processo e não levando a fama de ser o país que produz um produto barato para o mercado internacional, colocando em dúvida a qualidade da carne que temos.

    Parabéns ao professor e a equipe da BeefPoint pela oportunidade.

    Marcello Anastasio
    Boi & Beef Consultoria e Prestação de Serviço

  25. Vantuil Caneiro Sobrinho disse:

    Sinto-me até constrangido em comentar este artigo, pois parafraseando um antigo colega neste mesmo veículo noticioso, posso dizer “eu também estive lá” e sei como são difíceis as negociações e o recebimento de missões estrangeiras, quando temos que assumir compromissos em nome do Governo para o bem andamento das relações comerciais entre países.

    O alerta das condições de trabalho dos fiscais federais no setor já vem sendo feito há algum tempo. A luz amarela está acesa e quase passando a vermelha se é que já não passou.

    Ora, um país que assume a liderança em exportação (volume) de carne bovina, começa a ter vitórias na OMC, tem que estar preparadíssimo para suportar exigências de ordem higienico-sanitárias de paises importadores, conforme alertou há quase um ano atrás o Secretário Executivo da ABIEC.

    O Serviço de Inspeção Federal possuía um Centro de Treinamento em Barretos para Inspetores recém admitidos na área da carne, e outro Centro de Treinamento para a área do Leite no Rio de Janeiro. Os técnicos admitidos no Serviço público para a Inspeção de Produtos de Origem Animal antes de assumir qualquer IF submetiam-se a cursos de 3 meses, com horário rígido, trabalhos práticos e provas mensais. Atualmente causa pena o esforço que fazem os dirigentes das áreas de Inspeção Federal para promover treinamentos ao seu pessoal.

    Quando entramos no Serviço público em 1971, estavamos substituindo uma geração intermediária, que por sua vez substituia a geração mais antiga. A geração intermediária envelheceu, aposentou-se e muitos já passaram para uma vida melhor.

    A geração de 1971, da qual tive o orgulho de pertencer, tornou-se intermediária lá pelos anos 90 e hoje é a geração antiga, algus já aposentados outros já passados, para a qual não houve uma susbstituição adequada que acompanhasse o crescimento da Industria Nacional.

    Lamentavelmente o Serviço público hoje tem que lançar mão do artigo 102 do RIISPOA, engajando operários da própria Empresa fiscalizada para trabalhar como agentes de Inspeção, fato este que nenhuma nação importadora aceita e vem avisando o Governo dessa não conformidade de há muito.

    Conversando há cerca de duas semanas com um dirigente do SIF da geração mais nova, mas não tão nova assim, mas que particularmente admiro e tenho um grande apreço por este dirigente, ouvi o triste comentário: forneceram-me um fusquinha e me cobram resultados de fórmula um.

    Atualmente se faz rastreabilidade de alimentos em quase todo o mundo. Houve países que hoje servem de modelo, que iniciaram seu projeto de rastreabilidade com acertos e desacertos, mas que com a experiência adquirida, depois de algum tempo, chegaram a um sistema apriomorado.

    Lembro que em 1977, acompanhados de vários companheiros do SIF, alguns de saudosa memória, tomei conhecimento com o início de rastreabilidade de um pais europeu que simplesmente “marcava” os latões de leite de animais com tratametno de mastite com fitas de tecido coloridas, hoje os animais desse país são todos identificados com dispositivo eletrônico.

    Outro que hoje é tido como referência iniciou a rastreabilidade em apenas um de seus vários estados em 1988, em 2001 teve que reformular todo o seu sistema para corrigir desvios e desacertos com a experiência obtida na prática com a implantação do sistema.

    A rastreabilidade tem que ter a identificação individual, conforme afirma o Dr. Felicio. Resistir a isso só vai retardar e tornar vulnerável qualquer programa a ser implantado.

    Com efeito, hoje se faz rastereabilidae no Bloco da União Européia, Na Austrália, Nova Zelândia, no Canadá, Estados Unidos e nos nossos vizinhos fronteiriços e concorrentes Argentina e Uruguai.

    A Clasificação de Carcaças causa-me até mal estar comentar. Procuramos fazer um modelo brasileiro, adaptado do modelo francês onde estudamos e adquirimos conhecimento para tal.

    Fomos ajeitando aos poucos. Instalamos o sistema no país para atender a Cota Hilton, na esperança que uma vez implantada obteríamos um aval para tornar realmente um sistema nacional contemplando a necessidade brasileira.

    Nunca se conseguiu nem discutir o assunto quando se falava em montar um modelo para valer com ágio e deságio, comprometimento com a qualidade, etc.

    Toda tentativa nesse sentido foi ignorada por puro desinterese do setor, a não ser criticar o modelo existente.

    Recentemente houve uma tentativa de discussão do assunto, mas que rapidamente foi esquecida por falta de vontade política.

    Enfim, mais uma vez o mestre Pedro de Felicio põe a mão na ferida, causa comoção, manifestações e testemunhos tão eloquentes que por certo vão influenciar, espero, os nossos atuais dirigentes.

  26. Paulo Cesar Bastos disse:

    Prezado Prof. Pedro Eduardo de Felício

    Já tive a grata oportunidade de assistir às suas palestras, em duas oportunidades, aqui em Feira de Santana-BA.

    Esse seu artigo, como sempre, traz contribuições importantes, úteis e valorosas, para o agronegócio da carne bovina.

    Parabéns.

    Certamente uma eficaz inpeção sanitária é um dos pilares de sustentação de uma moderna e verdadeira indústria nacional da carne bovina.

    Falando sobre paradoxos, seguem algumas modestas, porem sinceras considerações.

    A partir do advento da dita globalização a pecuária de corte brasileira acelerou o processo e passou por um desenvolvimento extraordinário com um aprimoramento tecnológico e melhoria do manejo, aumentando taxas de natalidade, abatendo os novilhos, a cada dia, mais precoces, aumentando, dessa forma, a oferta.

    Enquanto tal fato acontecia, no setor de comercialização não se avançava quase nada. O sistema continuou arcaico, ineficiente, irracional sem adotar novas estratégias.

    A ciência da gestão e planejamento não teve lugar.

    Na prática continuou o improviso, o inidividualismo, a falta de parcerias eficazes.

    Os pecuaristas continuaram sem poder negociar o preço do seu produto, continuam a engolir goela abaixo a frase:”Só podemos lhe pagar este preço”.

    Acontece, dessa forma, o contraditório, o grande paradoxo: fizemos a lição de casa, a melhoria do manejo, porém, no lugar da boa nota, a palmatória.

    Uma comercialização que não está permitindo uma justa remuneração pelo nosso produto , podendo, por conseguinte,inviabilizar a continuidade do desenvolvimento tecnológico que requer investimento que só pode vir do resultado positivo, do justo lucro.

    Assim, acordando com o Prof.Pedro de Felício, é preciso a implantação de uma verdadeira indústria de carne bovina, com uma tecnologia de ponta, no processamento e no comércio,como já existe na área do frango, onde o Brasil ocupa lugar de destaque mundial.Precisamos articular todos os componentes da cadeia produtiva, pecuaristas, indústria, comércio, associações de consumidores, com os diversos níveis dos governos e junto com as entidades de pesquisa, crédito e fomento buscarmos, com um próposito determinado, a viabilização e sustentabilidade de nosso setor produtivo, a pecuária de corte, gerador de emprego e renda desde o campo até a cidade, enfim uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento econômico e a paz social.

    É disso que o Brasil precisa.

  27. Ricardo Fioravanti disse:

    Parabéns pelo texto e parabéns para o Prof. Pedro.

    Este texto deveria ser enviado à todos os envolvidos no processo, não como link, mas como mensagem. Acredito que assim todos o leriam.

    Apesar de não trabalhar em empresa frigorífica ou com pecuária, consegui entender claramente como esta “cadeia” funciona.

  28. Paulo Sérgio Telles da Cruz disse:

    Lucidez perfeita do Professor Pedro.

    Sou Veterinário há 33 anos e ainda estou atuando.

    Trabalhei de 73 a 76 no antigo DIPOA e participei, portanto, de parte daquele esforço imenso que foi a Federalização.

    E o que fizeram os governos que se sucederam desde então? Nada, além de sucatear o setor.

    Se pararmos para pensar até parece coisa orquestrada, pois as questões, sanidade, rastreabilidade e classificação de carcaças estão todas interligadas e são cruciais.

    Eu que tenho defendido, com altos custos pessoais, a questão da rastreabilidade, vejo que estamos cada vez mais encurralados.

    A propósito, está em plena gestação outro monstrengo visando substituir o moribundo SISBOV.

    E claramente não seria necessário parir o aleijão que está para nascer, se os burocratas de plantão acordassem de seu sono profundo e dessem ouvidos a pessoas como o Professor Pedro.

  29. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Lendo o espetacular artigo do gênio Pedro Eduardo Felício, tentarei em algumas palavras expressar os meus sentimentos.

    Hoje participo da cadeia da carne quase que por completo. Pecuária moderna, carne nos supermercados, churrascaria e fast food Montana Grill.

    Apesar dos nossos negócios estarem crescendo, menos a pecuária, sinto muita tristeza em ver uma cadeia com tanto potencial como a da carne, doente na UTI.

    A pecuária conta com clima ótimo, terras excelentes, genética de ponta, bons profissionais, porem é desorganizada como um todo.

    Os pecuaristas são desunidos, muitos vivem do passado, não acreditam na necessidade em tecnologia, qualidade, rastreabilidade e continuam abatendo animais entre 4/5 anos.

    Outros investem na pecuária, porem não é o seu negócio principal, se os resultados obtidos na atividade são positivos, pouco importa. Alguns adquirindo vacas de milhão e convivendo com uma arroba próxima à R$ 50,00 que mal cobre o custo da produção.

    O relacionamento com a indústria frigorífica é o pior possível. O pecuarista tem a indústria como inimiga e a recíproca é verdadeira.

    A indústria é imediatista, tendenciosa, especialista em cartéis e conduz o pecuarista como um cordeiro. A ela não interessa em hipótese alguma a rastreabilidade, já que isso poderia expor as verdades da idade real de abate, precocidade, rendimento de carcaça, etc…

    O governo por sua vez bate no peito e fala, “Somos o maior exportador de carne do mundo”, e “O agronegócio é responsável pelo superávit da balança comercial e salva a nossa economia”.

    E daí? Por competência? Não.

    Por quanto tempo? Não sabemos.

    Mas pra quem vendemos? Qual é o valor agregado do nosso produto? Qual a garantia de receber da indústria os animais vendidos, já que o frigorífico não tem nenhum lastro de garantia que vai pagar?

    No mercado interno o consumo de frango vem crescendo vertiginosamente. O suíno com preços crescentes e cada vez mais ampliando mercado.

    O governo recebe impostos que não são poucos, gerados pelas exportações de carne. E qual é o investimento em marketing internacional para valorizar o produto e fixar nossa imagem? Quase nada.

    A Austrália investe U$ 100.000.000,00 de dólares ano e o Brasil U$ 1.000.000,00 de dólares em marketing. Quem será que vai fixar a sua marca?

    Essa é nossa cadeia da carne.

    Doente, “Infelizmente”!

    Luis Fernando Cabrino
    Pecuarista e Sócio do Grupo Montana Grill

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