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Para a conta fechar, o frigorífico teria que nivelar por baixo, e pagar um rendimento abaixo da média para não correr riscos – Marcelo Pimenta, Exagro

Para complementar os esclarecimentos sobre dúvidas relacionadas à comercialização de bovinos de corte e consequente satisfação dos pecuaristas – quanto ao relacionamento entre produtores e frigoríficos – o BeefPoint reuniu diversas opiniões de profissionais relacionados à pecuária de corte, desde profissionais da indústria frigorífica, da carne, insumos e sanidade à produtores; de forma a esclarecer o seguinte questionamento:

Adoção do critério de peso vivo para comercialização dos animais

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Confira o segundo artigo da série de 9 artigos, que o BeefPoint convidou especialistas para escrever.

Por Marcelo Pimenta, diretor geral da Exagro.

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A questão do rendimento de carcaça é muito polêmica, e fonte de reclamação por parte do pecuarista em praticamente todas as praças do país. Isso acontece porque o rendimento apresenta uma importância econômica muito grande, podendo gerar enormes diferenças na receita esperada de uma venda, e a sua apuração está na mão de apenas uma das partes da negociação, que é o frigorífico.

Porém, além da variável rendimento, que pesa diretamente no bolso do pecuarista, existem variáveis de qualidade de carcaça que determinam o mercado dessa carne para o frigorífico e consequentemente o seu valor de venda. Acontece que, com exceção dos programas de carne de qualidade desenvolvido por alguns frigoríficos, supermercados e associações de criadores, que ainda não representam o mercado brasileiro, o frigorífico e o pecuarista não operam com a variável qualidade no momento da negociação.

Na grande maioria das praças brasileiras, se eu tenho um lote de novilhos de menos de dois anos bem acabados, ou um lote de novilhas de 15 arrobas gordas para venda, esse gado será vendido pelo mesmo preço por arroba de um lote de bois de 4 anos sem cobertura de gordura ou um lote de vacas gordas “eradas”. O frigorífico só vai se preocupar com a qualidade da carcaça no momento do abate, para direcionar os produtos daquela carcaça para os diferentes clientes.

O problema que gera o conflito entre as partes é que, na cabeça do pecuarista, o frigorífico manipula o valor final que quer pagar para cada lote mexendo na única variável que está na sua mão, que é o peso da carcaça a ser pago. É nítido esse sentimento conversando com pecuaristas.

Em minha opinião, o pagamento do boi pelo peso da fazenda, e não pelo peso do frigorífico realmente amenizaria a sensação de injustiça que o pecuarista sente e melhoraria a relação comercial com o frigorífico, mas como é que fica a situação para o frigorífico?

Ele vai pagar um rendimento pré estabelecido e receber lotes de diferentes pesos, idades e qualidade de acabamento?

Obviamente para essa conta fechar ele teria que nivelar por baixo, e pagar um rendimento abaixo da média para não correr riscos.

Isso já vem acontecendo em algumas regiões, onde a compra é feita pelo peso da fazenda, mas o rendimento que se paga é de 52% para animais acima de 500 kg de peso vivo. Com isso, os pecuaristas que produzem animais pesados e bem acabados, que deveriam render no mínimo 54% acabam pagando a conta dos animais de pior qualidade.

Mas o interessante é que mesmo sabendo disso, ele prefere vender o boi pelo peso da fazenda, porque ele sabe por quanto realmente está vendendo, e pode ter uma base de comparação real com outros frigoríficos se o rendimento for “tabelado”. No final das contas, ele pode até não estar recebendo mais dinheiro pelo boi, mas pelo menos tem mais poder na negociação e na venda.

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Confira os artigos da série, já publicados:

Adoção do critério de peso vivo para comercialização dos animais – Veja a opinião de Renato Galindo, do Marfrig

Retrocessos na forma de comercialização, como a negociação no peso vivo, não são bem-vindos – Fabiano Tito, Minerva Foods

Essa é uma série de artigos idealizada pela Equipe de Conteúdo do BeefPoint, Flaviane Afonso e Gustavo Freitas.

7 Comments

  1. Mauri José Spolti disse:

    Conteudo ótimo parabéns a todos os idealizadores deste programa.

  2. Antonio Cicero Pires de Campos Jr disse:

    Quando trabalhei no Pará, há 12 anos atrás, frigoríficos do Maranhão e outros estados compravam o boi na balança com um valor pré estabelecido de rendimento de carcaça. O pagamento era no embarque e acredito que os animais bem acabados e com peso acima de 520 kg poderiam não perder em rendimento de carcaça ou caso perdessem de 1 a 3% do rendimento. Dependia da nível de relacionamento pecuaristaxcomprador, escala do produtor.

  3. José Valério Santiago disse:

    Não sei até onde seria justo para os produtores e frigoríficos o pagamento do boi pelo peso da fazenda haja vista algumas inconsistências que deveriam ser consideradas: Em primeiro a balança seria uma interrogação apontada pelas indústrias, pois convenhamos, como acompanhar este peso e se as balanças estão aferidas pelo Inmetro. Também o desgaste do animal no transporte da porteira até o frigorífico, o trato, a água etc. Acredito que para chegarmos a um consenso deverá ser estabelecido tabelas proporcionais como idade do animal, peso, macho/fêmea etc., e chegar a um acordo sobre percentuais da carcaça. Opinião pessoal, pós-graduando da UFPR em Agronegócios.

  4. Zualdo Gradela Júnior disse:

    Está correto o Marcelo, isto só premia quem não sabe produzir, bois de confinamentos e de confinamentos de alto grão serão extremamente penalizados e tornarão a atividade deficitária.

  5. Marco Antônio Santos de Morais Leme disse:

    Em todos os artigos relacionados ao tema em pauta, não me recordo de ter lido nada referente a valorizar (pagar mais!) quando o rendimento for acima da média; onde fica o incentivo?

    É correto que um animal de baixa qualidade deva ser penalizado, mas os critérios de avaliação são suficientes para estabelecer um parâmetro e dizer quando um determinado produtor ,que investe mais tecnologia no seu rebanho, que corre muito mais risco do que o assumido pelos demais produtores ou mesmo pelo setor industrial e que acaba se contentando com margens cada vez mais apertadas de retorno sobre o capital investido, conseguiu um produto final acima da média e portanto mereça ser premiado.

    Nivelar por baixo é mais conveniente, ou estou enganado?

  6. Luiz Eduardo B Teixeira disse:

    Excelente matéria! Muitas vezes os frigoríficos são criticados, de forma erronea ( quem nunca teve gado abatido a rendimento que apresentou algum problema no toalete ??? Eu mesmo tenho um amigo, fiscal de um frigorífico, que comentou que se na toalete for supurado algum pequeno abcesso e este ¨escorrer¨ sobre a carne, quem arcará com o prejuízo??? O produtor ( ja que raramente este vai ao abate ) e a toalete será feita em toda extensão da secreção!
    Mas não podemos esquecer que grande parte dos frigoríficos que são ditos ¨exigentes¨ estão ajudando a melhorar os rebanhos de gado, querem qualidade e esta qualidade só é entregue com gado bom!

  7. OZORIO VILELA NETO disse:

    Os frigorificos deveriam pagar “nivelando por baixo”, só o que de fato podem pagar pela arroba, asim não precisariam mexer na balança.
    Como o mercado está nas mãos de poucas industrias, quem põe o preço de fato, são eles.
    Fazendo isto, com certeza os produtores deixariam de reclamar.
    Falta só vontade.

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