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Paolinelli: Brasil já sabe como produzir mais alimentos sem desmatar

Ex-ministro da Agricultura e indicado neste ano ao Nobel da Paz, Alysson Paolinelli está empenhado na criação de um “pacto alimentar global”. Os esforços passam pela defesa de políticas públicas consistentes para o desenvolvimento sustentável no Brasil e, no exterior, pela articulação com autoridades para disseminar as técnicas que compõem o “terceiro salto da agricultura, como ele chama a produção que não exige desmatar novas áreas. 

“É possível dobrar a produção de alimentos até 2050 sem desmatamento. Já sabemos fazer. É usar uma tecnologia nacional, a gestão integrada, que produz mais alimentos com menor uso de terras e é carbono neutro. É o que a humanidade espera de nós”, afirmou ao Valor. 

A proposta parte do princípio de que já existe tecnologia suficiente para assegurar o aumento da produção de alimentos nas zonas tropicais do mundo — que abrangem América Latina e África—, para onde esse conhecimento precisa ser exportado e implementado. O resultado, vislumbra Paolinelli, pode ser a garantia da segurança alimentar no planeta e também uma virtual solução para as crises migratórias, causadas principalmente pela fome. “Os países tropicais têm que parar de exportar imigrantes e passar a exportar alimentos mais saudáveis”, diz. 

O ex-ministro preside o Fórum do Futuro, um centro de estudos brasileiro que reúne diversos cientistas e tenta mostrar as possibilidades de melhoria da produção agropecuária. O instituto também faz a articulação com instituições como o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O tema será debatido em um seminário que começará nesta terça-feira e se estenderá até quarta. 

Paolinelli critica a falta de assistência técnica e extensão rural no país. “O Brasil precisa ter uma política pública consistente para esses agricultores desamparados e deseducados”, disse. Segundo ele, 80% dos produtores ainda são extrativistas e não usam o conhecimento que já existe para tirar melhor proveito da terra e dos recursos naturais disponíveis. “É uma decisão política que temos que forçar”, pontuou. 

O grupo liderado pelo ex-ministro indica várias soluções para aumentar a produção com aplicação da ciência. No Cerrado, a aposta é a disseminação da integração lavoura-pecuária-floresta, que permitiria recuperar milhões de hectares de pastagens degradadas e impulsionar ainda mais as cadeias de grãos, carnes e biomassa. Para a Caatinga, as alternativas incluem cultivos irrigados e reposição do plantio de caju, que abasteceria o mercado interno e ajudaria a dar escala à exportação de hambúrgueres vegetais.

“A Amazônia pode se tornar o maior celeiro global de produtos naturais”, comentou Paolinelli. A receita, defende, é abandonar o extrativismo puro e concentrar os esforços na bioeconomia com agregação de valor de produtos como mel, cacau, jaborandi, óleos essenciais, açaí e pimentas, entre outros. A piscicultura também tem destaque para a produção de pirarucu, peixe originário do bioma. “É uma das maiores fábricas naturais de proteína animal existentes”, indicou. 

“Estamos querendo garantir que os biomas possam ser usados, mas antes colocar ciência, para que ela faça a devida indicação de como usá-los. Com inovações, ciência e tecnologia, podemos ter garantia de uso sustentável dos biomas e não fazer como a Europa, que arrancou tudo e hoje vem cobrar de nós”, finalizou. 

Indicado ao Nobel da Paz por sua contribuição para o desenvolvimento da agricultura tropical, Paolinelli, um dos responsáveis pela criação da Embrapa, diz que vai trabalhar para alcançar o novo pacto. “Se eu for laureado, tenho a obrigação. Se não for, estarei devendo para não perder esse grande movimento que surgiu no país”. 

Fonte: Valor Econômico.

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