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Panorama e perspectivas no mercado da carne

O primeiro semestre do ano terminou muito bem para as exportações brasileiras de carne bovina. Dados da CNA mostra que nos seis primeiros meses do ano as exportações totalizaram US$ 1,717 bilhão, um aumento de 16,24% em relação ao mesmo período de 2005.

Apesar dos embargos sofridos depois dos casos de aftosa, o Brasil ainda continua na liderança mundial da exportação de carne bovina. Dada a conjuntura não é difícil de entender o porque:

– As abates e o rebanho na Europa e Rússia, nossos maiores mercados, não cessam de diminuir. Em 2005 o rebanho dos 25 países da União Européia diminuiu em 1,4%, e na Rússia diminuiu em 5,3% em relação à 2004;

– Dos nossos concorrentes, a Austrália se ocupa do vácuo deixado pelos Estados Unidos nos mercados japonês e sul-coreano, que sempre foram fechados à carne brasileira;

– Nestor Kichner, o presidente de nosso outro maior concorrente, a Argentina, resolveu dar uma mãozinha sem querer aos brasileiros e proibiu a exportação de carne pelo seu país. Uma medida populista que visava fazer o preço da carne no seu mercado interno abaixar;

– Os uruguaios, sorrindo de orelha a orelha tomaram o mercado chileno, fechado aos brasileiros e continuam sendo os maiores fornecedores de carne para os Estados Unidos. 2006 provavelmente será um ano recorde na história do setor de carnes do Uruguai, o que tem atraído até a atenção de grupos brasileiros que estão interessados em adquirir frigoríficos aí;

– Finalmente, os frigoríficos brasileiros tiveram competência suficiente para redirecionar a produção de carne para plantas situadas fora dos estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, mantendo o nível da produção e dos embarques de carne.

Com uma demanda crescente e concorrentes ocupados, os preços da carne brasileira aqui na Europa estiveram em alta todo o primeiro semestre. O aumento do valor da tonelada embarcada acabou por compensar as perdas com os embargos causados pela febre aftosa.

Os preços que estavam em níveis nunca antes atingidos por carne brasileira na Europa começam a baixar, em parte porque a Argentina retomou parcialmente as exportações e em parte porque há grandes estoques devido aos últimos embarques de carne Hilton. As quotas são distribuídas de julho a junho, e para completarem as quotas, os frigoríficos têm que embarcar carne Hilton até 30 de junho.

O que vai acontecer daqui para frente dependerá em grande parte dos resultados da missão veterinária da Europa que está visitando o Brasil este mês. O mais provável é que os estados fechados para a exportação sejam reabertos somente no final do ano, isso se os europeus estiverem satisfeitos com as providências tomadas pelas autoridades brasileiras principalmente em relação à rastreabilidade e ao controle da aftosa. Infelizmente a agronegócio não tem sido a prioridade deste governo.

O que acontece é que os produtores europeus também se animaram com a alta dos preços por aqui e estão até pensando em aumentar rebanhos e dar algum jeito de barrar a carne brasileira para sempre (é o que eles querem!), e para isso não vão medir esforços.

A situação então é a seguinte:

– A Europa passou em alguns anos de exportador de carne a importador, e precisa de um fornecedor confiável.

– Os agricultores europeus representam 5% da população mas recebem 1/3 de todos os subsídios concedidos pela União Européia a todos os setores de sua economia. Eles sabem que isso irá mudar, assim como sabem que cedo ou tarde as barreiras tarifárias para alimentos importados irão cair. Por isso, a maneira que vêem de barrar a importação é apontando os possíveis problemas sanitários e/ou ecológicos dos alimentos importados.

– O Brasil pode ser o fornecedor confiável que a Europa busca desde que nosso governo saiba negociar e saiba encarar os problemas sanitários do país com seriedade.

Jacques Attali escreve na l’Express desta semana que apesar dos problemas nas negociações da rodada de Doha, EUA e Europa irão perceber que a redução das barreiras tarifárias poderia trazer ganhos econômicos para o planeta entre 168 a 232 bilhões de dólares, ou seja, o dobro da ajuda internacional concedida aos países pobres. A redução dos subsídios permitiria aos países ricos diminuírem seus déficits e aos países em desenvolvimento de terem agriculturas competitivas, sustentando assim um crescimento econômico mundial.

Infelizmente para que tanto o Brasil encare o agronegócio seriamente como para a Europa reduzir suas barreiras, é preciso que seus políticos tenham uma visão que vá além das próximas eleições.

0 Comments

  1. Francisco Victer disse:

    É sem compromisso qualquer comentário que responsabilize a política ou os políticos pelos problemas brasileiros. Somos todos nós que os elegemos e deveremos nós, cada qual com sua força, tornar a política melhor.

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