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Pandemia ameaça fluxo de dólares para emergentes

A pandemia mundial de coronavírus ameaça causar fuga de capitais das economias emergentes. A queda das exportações e a carência de turistas estão reduzindo a entrada de reservas. Já a desvalorização das moedas dificulta o pagamento das dívidas externas.

Essa confluência de fatores negativos fez com que os mercados financeiros passassem a acompanhar o quadro atentamente, para apurar se economias consideradas de crescimento acelerado no passado conseguem suportar um desaquecimento prolongado.

Os emergentes estão recebendo bem menos moeda estrangeira neste ano. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a média do déficit em conta corrente de 141 economias emergentes, fora a China, deverá ser de 2% do Produto Interno Bruto (PIB).

As reservas externas, que representam um retrato da capacidade de um país de pagar suas dívidas, estão caindo nas economias emergentes. Cerca de 60% dessas reservas são constituídas por dólares. Num grupo de 32 países emergentes (fora a China, mas com o Brasil), as reservas internacionais caíram US$ 50 bilhões em abril, em comparação com o fim do ano passado, para US$ 2,8 trilhões.

Isso reverte a tendência mundial de crescimento dessas reservas dos últimos anos. A expansão da economia nos emergentes tinha-as puxado a um percentual anual de 10%, graças ao crescimento da economia. Mas, neste ano, em base anualizada, a queda soma US$ 150 bilhões, o maior recuo dos últimos vinte anos.

Dos 32 países pesquisados, 20 tiveram redução de suas reservas, dos quais a Turquia registrou o recuo mais acentuado, de US$ 27 bilhões. O BC local, em dificuldades para defender a lira turca, adotou a medida pouco comum de tomar dinheiro em moeda externa junto aos bancos locais. As reservas do país estão em cerca de US$ 50 bilhões, quantia inferior às suas dívidas externas de curto prazo e que constituem um nível perigoso.

As reservas da Indonésia caíram em fevereiro e março, quando o BC interveio no mercado para conter a queda da rúpia em relação ao dólar. O risco de ficar sem divisa estrangeira, principalmente dólares, fez o governo e o BC agirem. A paralisia do setor de turismo tirou uma fonte valiosa de moeda estrangeira.

Suharso Monoarfa, ministro do Planejamento e Desenvolvimento do país, disse no fim de junho que a receita em moeda estrangeira do turismo cairia para entre US$ 3,3 bilhões e US$ 4,9 bilhões neste ano, bem abaixo dos US$ 19,7 bilhões de 2019. No começo de abril o BC indonésio formalizou com o Fed (o BC dos EUA) um acordo de recompra de US$ 60 bilhões para impulsionar a oferta de dólar, enquanto o governo emitiu US$ 4,3 bilhões em bônus em dólar no mesmo mês, inclusive um com prazo de 50 anos, o bônus em dólar mais longo já emitido por um país asiático.

Os investidores externos estão voltando aos poucos à Indonésia, o que suaviza a pressão sobre a moeda e as reservas, mas, com os casos diários de coronavírus ainda em alta, há a preocupação de que esse fluxo poderá voltar a se reverter.

No Egito, o governo se prepara para reabrir 12 destinos turísticos altamente procurados, como as pirâmides. O setor responde por 11% do PIB do país. Devido à pandemia, as reservas internacionais caíram cerca de 20% desde março. Com os novos casos de coronavírus ainda em cerca de 90% de seu pico, o governo tenta reabrir a economia.

No Brasil as exportações de petróleo e de automóveis despencaram. E a China, grande comprador de soja e carne brasileiras, levantou preocupações com a segurança do país na área sanitária.

Apesar desses problemas, os mercados financeiros se mostraram relativamente calmos assim que passou o choque inicial da pandemia, graças a medidas de estímulo tomadas pelos governos e pelos BCs. Mas, se os investidores começarem a vender ativos dos mercados emergentes em massa, a fuga de capitais poderá ser repentina.

No período de três meses encerrado em meados de maio, as moedas de Brasil, Turquia e África do Sul perderam cerca de 30% de seu valor no câmbio com o dólar, o que fez com que dívidas denominadas em dólar entrassem em escalada.

Ao mesmo tempo, as redes de proteção proporcionadas pelas principais economias e organizações internacionais são frágeis. O Fed ofereceu dólares por meio de swaps cambiais para os BCs, mas entre eles apenas o Brasil e o México estavam na categoria de mercados emergentes. A Turquia está em negociações com Washington em busca de um swap, mas os tensos laços mantidos pelo país com os EUA contribuem para a lentidão do processo de aprovação.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), a instituição de concessão de crédito de última instância para as economias emergentes, criou uma “linha de liquidez de curto prazo” em abril. No entanto, os tomadores são limitados a países com sólidos fundamentos econômicos; até agora, nenhum dos que atendem a essas condições precisou tomar recursos. Embora 70 países já tenham acessado uma linha de crédito emergencial, o valor médio foi de só US$ 300 milhões por país.

O FMI foi criticado por não ter a velocidade e o poder de fogo financeiro para evitar uma crise. O Fundo tem uma capacidade de concessão de empréstimos de aproximadamente US$ 1 trilhão, mas apenas metade desse valor é disponível sem a aprovação dos grandes países contribuintes. E aumentar o tamanho do fundo exigiria aprovação legislativa na maioria dos países provedores de capital, o que é
pouco provável nas circunstâncias atuais.

Se o apoio de organizações internacionais e de economias de peso falhar, os problemas nas economias emergentes poderão instaurar uma crise mundial.

Até o fim de 2021, US$ 720 bilhões em empréstimos vão vencer em 29 economias emergentes, com exceção da China. O Mizuho Research Institute prevê que, se houve ruma crise da dívida, os bancos europeus, que são os maiores credores da Turquia e da América Latina, sofrerão perdas.

Fonte: Valor Econômico.

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