Mercado Físico da Vaca – 12/02/09
12 de fevereiro de 2009
Mercados Futuros – 13/02/09
16 de fevereiro de 2009

Palma Forrageira: Alternativa para a estacionalidade de produção de forragem no semi-árido brasileiro

O longo período de duração das secas, que ocorre no semi-árido brasileiro, gera uma grande vulnerabilidade aos sistemas de produções. Neste cenário, onde o grande limitante da produção pecuária está relacionado à quantidade de forragem produzida, a palma forrageira é um poderoso instrumento de apoio para a convivência da pecuária regional com as secas, sendo fonte não apenas de alimento, mas de água em regiões onde esse recurso é escasso até para a população humana.

O semi-árido brasileiro representa 18% do território nacional e abriga 29% da população do País. Possui uma extensão de 858.000 km2, representando cerca de 57% do território nordestino. Como principais características climáticas destacam-se as temperaturas médias elevadas (30ºC) e precipitações médias anuais de 300 a 700 mm, extremamente concentradas. O longo período de duração das secas, que ocorre na região, gera uma grande vulnerabilidade aos sistemas de produções. Neste cenário, onde o grande limitante da produção pecuária esta relacionada à quantidade de forragem produzida, a palma forrageira é um poderoso instrumento de apoio para a convivência da pecuária regional com as secas, sendo fonte não apenas de alimento, mas de água em regiões onde esse recurso é escasso até para a população humana.

A palma forrageira foi introduzida no Brasil no final do século XIX com o objetivo de produção do corante carmim, sendo logo descoberta, sua vocação forrageira. No início do seu cultivo, para fins forrageiros, a palma não era de fato encarada com cultura agrícola, sendo geralmente plantada em recantos de solos de menor fertilidade. Com o passar do tempo, foi se observando sua grande exigência em relação à fertilidade do solo.

Segundo Santos et al. (2006) o Brasil é o maior produtor mundial de palma forrageira. Estima-se que exista cerca de 500 mil hectares de palma forrageira no Nordeste, distribuídos nos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Bahia.

Clima

O bom rendimento da cultura no semi-árido nordestino está associado ao fato da mesma necessitar de bem menos água do que outras culturas convencionais. A palma utiliza de 100 a 200kg de água para produzir 1kg de matéria seca. Já para os capins, por exemplo, essa relação é de 500 para 1, por isso, a palma produz bem em áreas com precipitação anual de até 750 mm, característico do semi-árido. A umidade relativa precisa estar acima de 40% e temperatura diurna/norturna de 25 a 15ºC. Em algumas regiões do semi-árido, a alta temperatura noturna é o principal fator para as menores produtividades ou até a morte da planta (SANTOS et al., 2006).

Cultivares

São três os principais tipos de palma cultivados: Opuntia ficus-indica Mill cultivares Gigante e Redonda e a espécie Nopalea cochenilifera Salm Dyck cultivar Miúda.

A variedade gigante é a mais difundida por ser mais tolerante à cochonilha, principal praga que afeta o palmal e a podridão (Figura 1). Além disso, adaptou-se muito bem ao fenômeno climático da seca, sendo apropriada a situações de solos e temperaturas desfavoráveis às outras cultivares de palma.


Figura 1 – Raquetes acometidas de colchonilha (esquerda) e podridão (direita)

Recentemente o “Instituto Agronômico de Pernambuco” (IPA) lançou o clone IPA-20 que é um material obtido por cruzamento seguido de seleção. Em trabalhos realizados no Estado do Pernambuco, tal clone apresentou uma produtividade 50% superior a cultivar gigante. Outros testes estão em execução em outros estados e espera-se que haja sucesso e que esta possa ser mais uma alternativa de cultivar a ser explorada em um futuro próximo.

Solo e Adubações

O tipo de solo recomendado para o seu cultivo é de textura média e boa fertilidade. É importante também que não esteja sujeito a encharcamento.

As recomendações de adubações químicas são em quantidades compatíveis com as necessidades do solo, caracterizadas em análises laboratoriais. Na ausência de informações específicas sobre o solo, Albuquerque (EMBRAPA-CPATSA), Santos e Farias (IPA), fazendo referência a diversos experimentos, encontraram os melhores resultados de produção quando associaram adubação orgânica e mineral. Segundo Santos et. al. (2006) a produtividade é crescente até o nível de 600 kg de N/ha. Na Tabela 1 estão demonstrados os valores da extração de nutrientes pela cultura.

Tabela 1. Extração de nutrientes pela cultura da palma forrageira considerando uma produtividade de 10 toneladas de MS/ha/ano.

Na utilização de adubação orgânica a recomendação é de 10 a 30 toneladas de esterco bovino por hectare (Figura 2).


Figura 2 – Uso do esterco bovino no Palmal em Pernambuco.

Plantio

O plantio é realizado por meio do artículo, também chamado de raquete ou de “folha” pelo produtor. A melhor época para a realização do mesmo é no terço final do período seco, ao contrário de outras culturas forrageiras. Isso é importante para evitar o apodrecimento das raquetes, que pela umidade excessiva no início da estação chuvosa, ocasiona uma maior contaminação por fungos e bactérias.

Recomenda-se o plantio de artículos que tenham entre dois e três anos de idade, pois estes emitem brotações mais vigorosas. Outra prática que favorece um melhor stand de plantas é de não realizar o plantio com mudas recém-extraídas da planta. Estas devem ser postas à sombra durante um período de no mínimo sete dias, para que ocorra a cicatrização dos ferimentos ocorridos no corte, reduzindo assim a proliferação de patógenos (Farias et al., 2006).

O espaçamento dependerá do sistema adotado pelo produtor. Quando o objetivo é realizar cortes a cada dois anos e obter uma maior produção, pode-se optar por plantio em sulcos com espaçamento adensado de 1,0 x 0,25m, que demandará mais adubação e capinas. O cultivo adensado da palma (espaçamentos de 1,0×0,25m e/ou 1,0×0,5m) tem sido recentemente usado como forma de conseguir altas produtividades (Figura 3). Quando o objetivo é a consorciação com culturas alimentares ou forrageiras, o espaçamento 3,0 x 1,0 x 0,5m poderá ser utilizado com a vantagem de permitir tratos culturais com tração motorizada, dependendo da necessidade do produtor.

Santos et al. (2006) em trabalhos de pesquisa realizados em Pernambuco com populações de 40.000 (1,0×0,25m), 20.000 (1,0×0,5m) e 5.000 (2,0×1,0m) plantas/ha, encontraram produções de 320, 240 e 104 t MV/ha após dois anos de plantio, respectivamente. Em cultivo com fileiras duplas de 3,0 x 1,0 x 0,5m, consorciada com sorgo, a produção de palma foi de 100 t MV/ha. Além disso, nesse sistema foram obtidas produções de 1,3 e 2,1t MS/ha/ano de grãos e restolhos de sorgo, respectivamente.


Figura 3– Palmal com 03 anos de implantado.

Alimentação animal

A palma forrageira possui uma extraordinária capacidade de produção nas condições climáticas do semi-árido nordestino, mas não deve ser utilizado como única fonte de alimento. Devido ao seu baixo conteúdo de matéria seca, fibra e proteína bruta, comparada com outros alimentos volumosos, quando fornecida isoladamente, provoca distúrbios metabólicos, tais como, diminuição da ruminação e diarréias (MELO et al., 2006). Para evitar tais distúrbios a palma deve ser utilizada de 40 a 50% da matéria seca da dieta dos bovinos e deve ser fornecida associada a outros volumosos disponíveis, para garantir a complementação das necessidades de matéria seca, fibra e proteína, evitando e/ou minimizando a perda de peso dos animais (SANTOS et al., 2006).

A Tabela 2 apresenta a composição químico-bromatológica da palma forrageira.

Tabela 2. Composição químico-bromatológica da palma forrageira (Opuntia ficus-indica Mill) cultivar Gigante, em porcentagem da matéria seca (Fonte: MELO et al., 2006).

PB: proteína bruta; PIDN: proteína insolúvel em detergente neutro; PIDA: proteína insolúvel em detergente ácido; EE: extrato etéreo; CHT: carboidratos totais; CNFcp: carboidratos não fibrosos corrigidos para cinza e proteína; FDNcp: fibra em detergente neutro corrigida para cinza e proteína; LDA: lignina em detergente ácido; NDT1X: nutrientes digestíveis totais à exigência de mantença estimados pelo National Research Council (2001).

A palma normalmente é colhida manualmente e dependendo do espaçamento e da necessidade do produtor, pode ser colhida em intervalos de dois ou quatro anos. A palma, após a colheita, pode ser utilizada de imediato ou mantida à sombra por até 16 dias, para ser fornecida aos animais, sem que haja perda do seu valor nutritivo (SANTOS et al., 1998). Antes do fornecimento aos animais a palma é então picada manualmente com o auxilio de facões e/ou com o uso de máquinas apropriadas (Figura 4).


Figura 4 – Exemplo de máquina manual utilizada para o corte da Palma.

Outras formas de utilização da palma forrageira na alimentação animal é o uso de farelo de palma e o farelo enriquecido de palma (sacharina de palma), maiores informações: http://www.agricultura.al.gov.br/informativo/FOLDER%20SACHARINA%20FEP.pdf

Conclusão

Em função da inviabilidade econômica de se fazer pecuária importando a base alimentar dos animais de outras regiões produtoras, há que se admitir que a palma forrageira é uma opção essencial à sobrevivência e manutenção da atividade pecuária no semi-árido nordestino. Hoje a palma forrageira é uma eficiente alternativa para alimentação dos ruminantes nas regiões semi-áridas, planta totalmente incorporada à paisagem semi-árida.

Referências

FARIAS, I.; SANTOS, D.J.; DUBEUX JR.; J.C.B. Estabelecimento e manejo da palma forrageira.In: MENEZES, R.S.C.; SIMOES, D.A.; SAMPAIO, E.V.S.B.(eds). A palma no nordeste do Brasil: conhecimento atual e novas perspectivas de uso. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 81-104p., 2005.

MELO, A. A. S.; FERREIRA, M. A.; VÉRAS, A. S. C. et al. Desempenho leiteiro de vacas alimentadas com caroço de algodão em dieta à base de palma forrageira. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v.41, n.7, p.1165-1171, 2006.

SANTOS, D. C.; FARIAS, I.; LIRA, M. A.; SANTOS, M. V. F.; ARRUDA, G. P.; COELHO, R. S. B.; DIAS, F. M.; MELO, J. N. Manejo e utilização da palma forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco. Recife: IPA, 2006. 48p. (IPA. Documentos, 30).

SANTOS, M. V. F.; FARIAS, I.; LIRA, M. de A.; NASCIMENTO, M. M. A.; SANTOS, D. C.; TAVARES FILHO, J. J. Colheita da palma forrageira (Opuntia fícus-indica Mill) cv. gigante sobre o desempenho de vacas em lactação. Revista Brasileira de Zootecnia. v.27, n.1, p.33-39, 1998.

0 Comments

  1. MARIA SOLANGE GOMES DA CRUZ disse:

    Gostaria de parabenizá-los pelo artigo sobre palma forrageira, o nordestino agradece.
    PS: sou nordestina e moro na região da Caatinga.

plugins premium WordPress