Commodities e itens relacionados responderam por quase um quinto da receita de empresas em 2019,diz IBGE
21 de julho de 2021
Mercado interno ainda segue com escoamento da carne bovina em ritmo lento
21 de julho de 2021

Países das Américas defendem suas exportações

As exigências “verdes” de grandes importadores de alimentos e as mudanças nos hábitos de consumo da população mundial, sobretudo na Europa, acenderam o sinal de alerta dos exportadores das Américas. Pela primeira vez, 31 nações, incluindo Brasil, Estados Unidos, Argentina, Paraguai, México, Guatemala, Canadá e Chile, assinaram um documento com posição unificada em defesa dos sistemas agroalimentares locais, com ênfase para a sustentabilidade da produção agropecuária do continente. 

A preocupação mais latente é com uma possível “responsabilização” desses países pela emissão de gases de efeito estufa, principalmente pela pecuária, e com a indesejada imposição de novas barreiras comerciais no futuro devido a uma suposta “guerra de narrativas”.

Os países das Américas do Sul, Central e do Norte, e do Caribe, também querem evitar a consolidação de uma orientação global contra o consumo de carnes. As nações alegam que a posição dos produtores não é considerada e que a discussão omite a falta de acesso a proteínas animais por parcela considerável da população mais pobre do mundo. Também avançam os debates para coibir o uso de agrotóxicos e produtos químicos na cadeia agrícola. 

Uma carta com 16 mensagens elaboradas em consenso pelos países americanos será levada à Cúpula das Nações Unidas sobre os Sistemas Alimentares. Os ministros de Agricultura dessas nações se sentem sub-representados no foro global e à mercê da tomada de decisões que podem impor riscos e dificuldades à produção e à comercialização dos produtos do campo. Grande parte da pauta, dizem, é conduzida por ONGs e traduz os apontamentos feitos pelo recém-anunciado Pacto Verde Europeu.

“As decisões sobre o que consumir devem ser deixadas ao consumidor, que as toma com base em fatores históricos, culturais, de acesso e de disponibilidade, entre outros, os quais devem ser respeitados. Ao Estado cabe educar e informar sobre dietas saudáveis e desenvolver campanhas de prevenção da saúde pública, fundamentadas em informações atualizadas e evidências científicas”, diz a carta, que defende o consumo de “proteínas de alta qualidade, carboidratos (cereais e açúcares), gorduras e alimentos fortificados e biofortificados para se ter uma dieta equilibrada e nutritiva que contribua para a saúde humana”. 

O grupo, reunido no âmbito do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), deverá formar, ainda, uma coalizão sobre pecuária sustentável. Um documento específico sobre a atividade foi redigido e será avaliado tecnicamente nesta quarta-feira pelos ministros. Para eles, o combate à “demonização” da produção pecuária é um ponto central no debate atual.

A região quer ver a sua realidade refletida nas discussões. Ministros de Agricultura como Tereza Cristina, do Brasil, e Luis Basterra, da Argentina, vão a Roma para fortalecer essa posição na reunião pré-cúpula, que ocorrerá na próxima semana.

A cúpula será em setembro, durante a conferência da ONU em Nova York, e vai propor ações da comunidade internacional para a obtenção de sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e equitativos. As diretrizes não serão obrigatórias, mas poderão influenciar outros fóruns de discussões, como a Organização Mundial do Comércio (OMC). 

“Estamos convencidos de que somos responsáveis por muito pouco da emissão de gases de efeito estufa, mas a debilidade corresponde à comunicação sobre o que a região faz a favor dos ecossistemas”, disse o ministro de Agricultura do Paraguai, Moisés Santiago Bertoni, presidente do Conselho Agropecuário do Sul (CAS), em entrevista a jornalistas.

“O mais importante é demonstrar que esses países, com todos os setores produtivos, são parte da captura das emissões, e que não sejamos os primeiros obrigados a mudar os sistemas de produção”, afirmou o subsecretário de Coordenação Política do Ministério da Agricultura da Argentina, Ariel Martínez. “Não somos responsáveis pela situação da emissão e estaríamos assumindo um problema sobre o qual não temos responsabilidade”, emendou Bertoni. 

Um dos desafios, no entanto, é transformar essa argumentação em dados. Para tanto, as mensagens reforçam a necessidade de proteger e apoiar as pesquisas científicas. O documento assinado pelos ministros propõe que as decisões e as políticas a serem adotadas devem basear-se na ciência e diz que a agricultura é parte da solução dos principais desafios enfrentados pela humanidade. As mensagens também tratam da nova relação entre produtor e meio ambiente, com fortalecimento da digitalização e bioeconomia, e defendem o comércio internacional “transparente, aberto e previsível”.

“Queremos ser e temos tudo para ser os garantidores da segurança alimentar e nutricional em nível global e da sustentabilidade ambiental do planeta”, disse o diretor-geral do IICA, Manuel Otero. “As Américas contribuem para a segurança alimentar e nutricional global, sendo a principal região exportadora de alimentos e a maior fornecedora de serviços ecossistêmicos, além de ser reserva de biodiversidade. Além disso, desempenham um papel fundamental na sustentabilidade ambiental e na mitigação dos efeitos da mudança do clima”, diz o documento.

A desvantagem no conflito de narrativas é associada à disseminação de informações erradas sobre a produção. “É um desafio que já temos enfrentado, há muita informação errada sobre o setor e temos que sair em defesa do nosso sistema produtivo a nível local”, disse Bertoni. “A melhor estratégia é a melhor informação científica, que vai ajudar a defender o consumo de proteína animal, sobretudo carne bovina”.

“Temos que investir em ciência para mostrar como podemos reduzir as emissões da pecuária, contribuir para a adaptação e os aspectos positivos do consumo de proteína (…) O que vemos são visões unilaterais para reduzir o consumo de proteína animal, sendo que muitas regiões do mundo não consomem níveis satisfatórios dessas proteínas”, afirmou Fernando Zelner, assessor especial de Tereza Cristina. EUA e Brasil estão entre os maiores exportadores globais de produtos agropecuários, inclusive de carne bovina – que tem em Argentina e Uruguai outros produtores importantes

Fonte: Valor Econômico.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress