O governo anunciou, ontem, após meses de protelação, medidas cambiais mais tímidas do que as esperadas pelos exportadores. A partir de agora, estes poderão deixar, depositados no exterior, até 30% dos recursos obtidos com as vendas externas. Os outros 70% deverão ser trazidos ao país em até 210 dias.
No último momento, foi retirada do pacote a criação da “CPMF virtual”, que seria cobrada sobre os recursos não mantidos no exterior. Haveria dificuldades na sua operacionalização e houve receio quanto a seu impacto, diminuindo a atratividade da possibilidade da não conversão dos dólares.
Com as medidas, o governo espera reduzir o volume de dólares em circulação no Brasil, o que poderá valorizar a moeda. No seu lançamento, o ministro Guido Mantega citou o agronegócio como um dos setores mais beneficiados e assumiu que pode não ocorrer valorização do dólar.
“Nós acreditamos que o impacto sobre a agricultura será benéfico porque ela tem vantagem dos dois lados. Por um lado, como ela é exportadora, ela vai ter essa redução de custos operacionais. Então, vai facilitar a vida da agricultura. A agricultura que quiser deixar recursos no exterior pagará menos CPMF. Por tanto, será beneficiada. E se houver uma valorização do dólar, a agricultura será beneficiada também por este terceiro elemento”, explicou o ministro da Fazenda.
Para empresários e analistas, as medidas foram tímidas, afetando poucas e grandes empresas e sem muito impacto na taxa de câmbio. Luís Nassif, em sua coluna na Folha de São Paulo, ressalta que, com os diferenciais entre os juros praticados no Brasil e no exterior, seja qual for o percentual a ser autorizado a ficar no exterior, todo dólar disponível entrará para se beneficiar das altas taxas.
O próprio ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), citado em reportagem da Folha, disse que o “ideal” seria um nível de “50% a 60%” de recursos provenientes de exportações que podem permanecer no exterior. ”
A Associação de Comércio Exterior do Brasil, AEB, que congrega empresas exportadoras e importadoras, estima que as medidas anunciadas ontem pelo governo vão beneficiar apenas 1.000 das 17,5 mil exportadoras do país (5,7%) e terão efeito nulo para o agronegócio.
Apenas estas mil empresas exportam e também importam em volume suficiente para se beneficiar, já que só poderão ser mantidos no exterior recursos que forem destinados aos pagamentos de obrigações e dívidas ou a investimentos.
“Como exportadores, nós achamos que o governo inicia o processo, começa a mexer alguma coisa. É positivo isso para nós. Mostra que o governo está preocupado. Às vezes ele não verbaliza isso, mas ele está preocupado com a brutal queda de renda na área rural. Mas, infelizmente, esse primeiro passo que o governo deu… Como nós dizemos no interior, ele conseguiu mexer um palanque… um poste qualquer. Mas mexeu um pouquinho”, disse ao Globo Rural, Cesário Ramalho da Silva, vice-presidente da SRB, Sociedade Rural Brasileira.
Fonte: Equipe BeefPoint, com informações da Folha de São Paulo e do Globo Rural