Atacado – 09/09/11
9 de setembro de 2011
Resumo do mercado pecuário – semana 5 a 9 set-2011
9 de setembro de 2011

Outros cânceres e consumo de carne

O pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., elaborou um relatório técnico sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer. Esse relatório não teve a intenção de incluir sistematicamente todos os componentes de causa, como dose-resposta ou possibilidade biológica, entre as carnes vermelhas e processadas e tipos específicos de câncer.

Introdução

O pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., elaborou um relatório técnico sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer.

Esse relatório não teve a intenção de incluir sistematicamente todos os componentes de causa, como dose-resposta ou possibilidade biológica, entre as carnes vermelhas e processadas e tipos específicos de câncer.

A ideia do trabalho foi sintetizar informações científicas relacionadas aos tipos de câncer com os quais o consumo de carne foi avaliado e recapitular algumas das associações estatísticas observadas entre a ingestão de carnes vermelhas e processadas e o câncer.

Esse artigo traz uma tradução adaptada desse relatório, publicado no site www.beefresearch.org.

Cânceres de cabeça e pescoço

Os cânceres de cabeça e pescoço incluem doenças localizadas na cavidade nasal, cavidades ósseas da cabeça, lábios/boca, glândulas salivares, garganta e laringe. Juntos, os cânceres de boca, faringe e laringe estão em sétimo lugar entre os mais comumente diagnosticados no mundo, enquanto o câncer nasofaríngeo é muito raro, ficando em 23º lugar entre as doenças mais comuns no mundo (1).

As doenças desse grupo são mais comumente diagnosticadas entre homens que em mulheres. O tabaco, incluindo os tabacos sem fumaça, e a ingestão de álcool são importantes fatores de risco para vários tipos de cânceres na cabeça e no pescoço. As maiores taxas de câncer nasofaríngeo são encontradas no Sudeste da Ásia e a ingestão de peixe salgado estilo cantonês pode aumentar o risco dessa doença.

Poucos estudos epidemiológicos avaliaram o potencial papel da ingestão de carnes nos riscos desse grupo de doenças. De fato, no relatório do Fundo Mundial do Câncer e do Instituto Americano para Pesquisa de Câncer (WCRF/AICR) sobre dieta e câncer, não se chegaram a nenhuma conclusão para ingestão de carnes vermelhas e processadas devido à quantidade limitada de dados (1).

Em uma análise de coorte feita em 2007, não foram vistas associações entre o câncer da cavidade/oral e da faringe entre as pessoas nas categorias de maior ingestão de carnes vermelhas e processadas (2). As associações foram levemente maiores em magnitude, embora não estatisticamente significantes, entre o consumo de carnes vermelhas e processadas e o câncer de laringe (2).

No ano 2000, pesquisadores (3) conduziram um estudo de caso-controle na Itália e reportaram uma redução não-significante de 10% nos riscos de câncer na cavidade oral, faringe e esôfago e uma redução marginalmente significante de 30% nos riscos de câncer de laringe entre as pessoas na categoria de maior ingestão de carnes vermelhas.

De forma geral, os dados epidemiológicos entre o consumo de carnes vermelhas e processadas e os cânceres de cabeça e pescoço são insuficientes para avaliar uma associação independente.

Cânceres endócrinos

Câncer da tireóide

A glândula tireoide, um órgão localizado na base da garganta, produz hormônios que ajudam no controle de algumas importantes funções fisiológicas, como batimentos cardíacos, pressão sanguínea, temperatura corpórea e peso. O câncer da tireoide é relativamente incomum, sendo responsável por aproximadamente 37.000 casos incidentes nos Estados Unidos em 2008, com a maioria dos casos diagnosticada entre mulheres (4).

A radiação ionizante é o fator de risco mais bem estabelecido para o câncer de tireoide, enquanto a maioria das causas dessa doença continua obscura (5). O iodo é um possível fator de risco para o câncer de tireoide; entretanto, mais estudos são necessários para determinar se muito ou pouco iodo na dieta aumenta ou reduz certos sub-tipos de cânceres da tireoide. Realmente, vários estudos avaliaram o consumo de peixes como uma medida substituta para a ingestão de iodo, embora os resultados não tenham sido consistentes.

Existem poucos dados epidemiológicos relacionados à carnes vermelhas e processadas e o câncer de tireoide. Em uma análise de coorte de mais de 275 casos de câncer de tireoide, reduções não significantes nos riscos de 21%, 21% e 8% foram observadas no terceiro, quarto e quinto grupos de ingestão de carnes vermelhas (2). Associações similares foram observadas para o consumo de carne processada.

Em um estudo caso-controle conduzido na Itália, um maior risco marginalmente significante de câncer de tireoide foi reportado entre os maiores consumidores de carnes vermelhas (3).

Evidências epidemiológicas disponíveis entre a ingestão de carnes vermelhas e processadas e o câncer de tireoide são limitadas. Com base em associações inversas de grandes estudos prospectivos de coorte, o consumo de carnes vermelhas ou processadas não parece aumentar o risco de câncer de tireoide.

Câncer de pele

A pele é o maior órgão do corpo humano e é um componente fundamental do mecanismo de defesa que impede infecções e a entrada de microrganismos nos sistemas de órgãos internos. A pele também serve para regular a temperatura corpórea, reter água, excretar resíduos e sintetizar a vitamina D na presença do sol. Os três principais tipos de câncer de pele são melanoma, carcinoma basocelular e carcinoma das células escamosas.

De uma perspectiva clínica e epidemiológica, os carcinomas basocelulares e de células escamosas são considerados como cânceres de pele “não-melanoma”. Eles são os tipos mais comuns de câncer de pele, com mais de um milhão de casos diagnosticados anualmente nos Estados Unidos (6).

Entretanto, como os cânceres de pele não-melanoma são geralmente de crescimento lento, que podem ser facilmente localizados na camada da epiderme, eles normalmente são tratáveis. Ao contrário, o melanoma é diagnosticado com menos freqüência e tem uma taxa consideravelmente maior de mortalidade. Para o ano de 2008, estimou-se que mais de 62.000 pessoas nos Estados Unidos seriam diagnosticadas com melanoma e que mais de 8.000 pessoas morreriam da doença (4).

O mais forte e mais estabelecido fator de risco para câncer de pele é a exposição direta à radiação ultravioleta do sol. O risco de câncer de pele aumenta com a idade e as pessoas com histórico familiar de câncer de pele, particularmente melanoma, têm um risco maior de desenvolver a doença.

Nenhum fator dietético foi consistentemente associado com o câncer de pele e poucos estudos epidemiológicos investigaram a relação entre o consumo de carnes vermelhas ou processadas e o câncer de pele. Em um estudo de coorte com aproximadamente 500.000 pessoas com idade de 50-71 anos (2), os pesquisadores avaliaram a associação entre o consumo de carnes vermelhas e processadas e o melanoma em mais de 1.500 casos. Menores riscos de melanoma foram observados em todas as categorias de consumo de carnes vermelhas e processadas.

De fato, uma redução estatisticamente significante de 18% no risco foi reportada entre pessoas na categoria de maior ingestão de carnes processadas e uma redução estatisticamente significante de 19% no risco foi reportada entre as pessoas na menor categoria de consumo de carnes processadas.

O consumo de fígado e presunto foi associado com reduções não significantes nos riscos de melanoma em um estudo de caso-controle conduzido na Itália (7). A influência das carnes processadas no risco de carcinoma basocelular foi avaliada em um estudo de caso-controle de 2002, mas não foram observados efeitos significantes (8).

Uma redução não significante de 7% no risco foi observada entre pessoas que consumiram pratos com carne/carne; entretanto, os autores não descreveram o tipo específico de carne que foi incluído nessa categoria de exposição (8).

Uma associação positiva entre padrões dietéticos de alta ingestão de carne e gordura foi significantemente feita com o desenvolvimento de carcinoma de células escamosas, comparado com um padrão dietético rico em vegetais e frutas e a associação foi maior para pessoas com histórico de câncer de pele (9).

Entretanto, esse estudo não avaliou especificamente carnes vermelhas ou processadas como uma categoria de ingestão e o grupo de padrão dietético de alto consumo de carnes e gordura também incluía manteiga, ovos e álcool, entre outros itens.

As pesquisas epidemiológicas sobre o consumo de carnes vermelhas e processadas e o câncer de pele são limitadas, apesar de nenhuma associação positiva ser indicada baseada nos dados disponíveis.

Cânceres no cérebro e sistema nervoso central

O cérebro humano é a base do sistema nervoso central e é responsável por controlar as funções físicas, biológicas e emocionais do corpo e da mente. Cânceres do sistema nervoso são raros e representam somente 2% de todos os cânceres.

Apesar de ser bastante conhecido que a dieta está associada com a função mental, poucos estudos epidemiológicos avaliaram a influência da dieta na etiologia de cânceres do sistema nervoso, de acordo com a Sociedade de Neurociência (http://www.sfn.org). De fato, no relatório do WCRF/AICR, estabeleceu-se que uma revisão narrativa não produziu nenhuma descoberta e que era improvável que qualquer outra pesquisa fosse justificada (1).

Recentemente, um estudo de coorte e um de caso-controle foram publicados, avaliando a relação entre o consumo de carnes e câncer de cérebro. Em uma análise do Instituto Nacional de Saúde e da Associação Americana para Pessoas Aposentadas (NIH-AARP), foram reportadas associações inversas não significantes entre o consumo de carnes vermelhas e processadas (2).

Foram encontradas elevações não significantes no risco em um estudo de caso-controle conduzido em oito províncias do Canadá (10). Apesar de limitado por poucos estudos, as evidências epidemiológicas disponíveis não suportam uma associação causal entre consumo de carnes vermelhas e processadas e câncer no cérebro.

Referências bibliográficas

1) World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research (WCRF/AICR). Food, Nutrition, Physical Activity and the Prevention of Cancer: a Global Perspective. Washington DC: AICR, 2007.

2) Cross AJ, Leitzmann MF, Gail MH, Hollenbeck AR, Schatzkin A, Sinha R. A prospective study of red and processed eat intake in relation to cancer risk. PLoS Med 2007;4(12):e325.

3) Tavani A, La Vecchia C, Gallus S, et al. Red meat intake and cancer risk: a study in Italy. Int J Cancer 2000; 86:425-8.

4) Jemal A, Siegel R, Ward E, et al. Cancer statistics, 2008. CA Cancer J Clin 2008;58(2):71-96.

5) Ron E, Schneider AB. Thyroid cancer. 3rd ed. In: Schottenfeld D, Fraumeni JF, ed(s). Cancer epidemiology and prevention. New York: Oxford University Press, 2006:975-94.

6) Miller DL, Weistock MA. Nonmelanoma skin cancer in the United States: incidence. J Am Acad Dermatol 1994;30(5 Pt1):774-8.

7) Naldi L, Gallus S, Tavani A, Imberti GL, La Vecchia C; Oncology Study Group of the Italian Group for Epidemiologic Research in Dermatology. Risk of melanoma and vitamin A, coffee and alcohol: a case-control study from Italy. Eur J Cancer Prev 2004;13(6):503-8.

8) Davies TW, Treasure FP, Welch AA, Day NE. Diet and basal cell skin cancer: results from the EPIC-Norfolk cohort. British Journal of Dermatology 2002;146:1017-22.

9) Ibiebele TI, van der Pols JC, Hughes MC, Marks GC, Williams GM, Green AC. Dietary pattern in association with squamous cell carcinoma of the skin: a prospective study. Am J Clin Nutr 2007;85:1401-8.

10) Hu J, La Vecchia C, DesMeules M, Negri E, and Mery L. Meat and fish consumption and cancer in Canada. Nutr Cancer 2008;60:313-24.

Esse artigo traz uma tradução adaptada do relatório feito pelo pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer, publicado no site www.beefresearch.org.

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