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Os caminhos a seguir após Doha

Após a decepção com o anúncio da suspensão da Rodada de Doha, as lideranças empresariais brasileiras e analistas de comércio internacional buscam definir os caminhos a seguir.

A reabertura da negociação do Mercosul com a União Européia é vista por muitos como um caminho natural, mas, de acordo com o embaixador Rubens Ricupero, ex-secretário-geral da Unctad, acordos bilaterais têm resultados “estéreis” para a agricultura.

Em entrevista a Raquel Landim, publicada na edição de hoje do jornal Valor Econômico, Ricupero afirma que, para o Brasil, não há alternativa às negociações multilaterais, pois a agricultura é a área em que o Brasil tem oferta abundante, competitiva e, capaz de agüentar trancos do câmbio.

Para os europeus, “Doha continuará sendo uma prioridade para a política de comércio européia. Vamos trabalhar para trazê-la de volta”. Esta afirmação é de Peter Mandelson, comissário europeu de Comércio, durante entrevista coletiva, citada pela Reuters.

Mandelson, disse ainda, em entrevista citada em notícia do Jornal O Estado do Paraná, de hoje, ter que refletir a respeito da retomada das negociações com o Mercosul e ter que conversar com representantes do bloco.

Isto deve ocorrer, no início de setembro, logo após as férias na Europa. O encontro foi sugerido por Karl Falkenberg, diretor-adjunto de comércio da UE e negociador-chefe europeu para o Mercosul, ao coordenador brasileiro das negociações, Régis Arslanian, em telefonema, na semana passada.

Ao contrário de Mandelson, Falkenberg sinaliza com a expectativa de “fazer algo relativamente rápido”. Os europeus esperam que o fiasco de Doha dê um impulso aos parceiros do Sul. “Faltava um pouco de vontade política do Mercosul”, disse Falkenberg em notícia do jornal Valor Econômico.

Mas segundo analistas europeus, citados pelo O Estado do Paraná, essa expectativa pode ser excessivamente otimista. Eles observam que a UE vem dando sinais nos últimos meses de que não vê o Mercosul como uma das prioridades de sua agenda comercial. Além disso, os problemas internos do bloco sul-americano e a recente adesão da Venezuela são considerados enormes obstáculos para a conclusão de um acordo comercial.

Empresários se manifestam

“Melhor a ruptura que a mediocridade”, avaliou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Netto, citado pelo Valor.

Camargo vê, no fracasso da OMC, a repetição de um padrão recorrente na história das negociações comerciais: “em todos os acordos, de meio século de existência do GATT até a OMC, os países desenvolvidos foram ganhadores”, lembra. “Impuseram aos outros suas próprias regras da maneira e no tempo que quiseram”.

“Antes estávamos negociando, ao mesmo tempo, Alca, OMC e União Européia, tínhamos mais poder de barganha – agora chegamos sem nada, estamos fragilizados”, disse Antonio Donizetti Beraldo, coordenador da área de comércio exterior da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), em notícia da Agência Estado.

Osvaldo Douat, coordenador da Coalizão Empresarial Brasileira, acredita que chegou o momento de o governo se reunir com os empresários e retomar negociações com a UE. “Ficamos sem nada, não temos nenhum acordo comercial de peso, é hora de se mexer”, disse, na mesma reportagem.

Já a FIESP está organizando uma coalizão envolvendo 20 entidades empresariais de todo o mundo para pedir que as negociações multilaterais na Organização Mundial do Comércio (OMC) sejam continuadas. Em matéria do DCI, o gerente de seu Departamento de Negociações Internacionais, Carlos Cavalcanti, afirma que o setor empresarial continua comprometido com o princípio de liberação do comércio mundial.

Cavalcanti corrobora o pensamento de Ricupero. Para ele, o maior desafio do Brasil para o futuro será liberar o comércio com os Estados Unidos e com a União Européia no setor de agricultura, questão que pode ser resolvida só no âmbito multilateral, ou seja, envolvendo todos os países dos blocos comerciais.

Aumentar as vendas sem acordos

O embaixador Ricupero lamenta que o acordo multilateral não saia apesar de existirem “todas as condições ideais: economia mundial em expansão, comércio em crescimento, melhora dos preços das commodities”, disse na entrevista. “E nenhuma negociação anda. O problema é concentrado na agricultura e é político”.

Ricupero relativiza o peso do fracasso de Doha, afirmando que “Embora (a suspensão das negociações) seja um baque para o sistema, a curto prazo, não vai ter resultado negativo. É um problema a médio e longo prazo. Criou-se no Brasil uma percepção errônea de que a coisa mais importante em comércio são as negociações”.

Ele aponta que: “O mais importante é a capacidade de suprir a demanda. A China não era membro da OMC até 1999, mas está deslocando muitos produtos mexicanos do mercado americano, apesar do México ter o Nafta. A negociação, como acabamos de ver, não depende de nós. Mas melhorar a nossa capacidade de oferta depende de nós. É preciso reduzir o custo de capital, os juros, a carga tributária, melhorar a infra-estrutura. Por isso que os asiáticos não se preocupam tanto com negociação. Eles exportam, com ou sem acordo”.

Fonte: Equipe BeefPoint, com informações do Valor Econômico, do Paraná On Line, da CNA, do DCI e da Agência Estado.

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