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Os animais do seu rebanho estão adequados ao seu sistema de produção e objetivos de seleção?

A definição do objetivo de seleção consiste num dos principais passos para a condução de programas de melhoramento. Progressos genéticos na direção desejada só podem ser efetivamente obtidos se os objetivos de seleção forem claramente definidos. Muitos programas de melhoramento são penalizados por não apresentarem objetivos definidos ou por apresentarem objetivos inadequados ao sistema de produção.

A definição do objetivo de seleção consiste num dos principais passos para a condução de programas de melhoramento. Progressos genéticos na direção desejada só podem ser efetivamente obtidos se os objetivos de seleção forem claramente definidos. Muitos programas de melhoramento são penalizados por não apresentarem objetivos definidos ou por apresentarem objetivos inadequados ao sistema de produção.

A decisão sobre quais animais selecionar muitas vezes é influenciada pela atenção a características não relacionadas aos objetivos, ou (o que seria pior) a características formalmente definidas mas que geram respostas correlacionadas indesejáveis ao processo de seleção. Um fator agravante é que os resultados dos programas de melhoramento são obervados alguns anos após as decisões terem sido tomadas.

Exemplos de objetivos específicos em programas de melhoramento de bovinos de corte são: reduzir a idade ao abate; melhorar o rendimento e o acabamento de carcaça dos animais; aumentar a eficiência (re)produtiva das fêmeas, sem aumentar suas exigências nutricionais/custo de mantença; entre outros. Tais objetivos específicos geralmente estão associados a objetivos mais gerais como a redução do ciclo de produção, o aumento da taxa de desfrute ou uma maior lucratividade por área e ciclo de produção.

A busca destes objetivos não necessariamente requer maior intensificação ou aumento dos custos de produção. É possível alcançá-los em condições em que há restrições, tanto ambiental quanto orçamentária, desde que se trabalhe com animais de biotipo adequado e bem adaptados ao sistema de produção.

Em muitos casos, a definição de uma composição genotípica “ideal” para determinado sistema não é suficiente, pois mesmo dentro da raça pode haver uma variação substancial quanto às características de interesse econômico. Na raça Nelore, por exemplo, a variabilidade existente é marcante, e não existe um único biotipo adequado para todos os sistemas de produção.

A condução do presente estudo objetivou avaliar a adequação do biotipo dos animais ao sistema de produção de um rebanho Nelore submetido ao processo de seleção por mais de 90 anos, e contrastar o material genético de touros internos (linhagem IRCA) com o de touros externos (outras linhagens).

Foram utilizados dados de 1.581 animais da raça Nelore, nascidos nos anos de 2002 a 2005 e criados na fazenda Providência do Vale Verde (São Miguel do Araguaia – GO), pertencentes ao rebanho denominado como Nelore IRCA. O objetivo de seleção desta propriedade é o de produzir carne de qualidade com baixo custo, e animais com maior rendimento de carcaça e terminação precoce, sem abrir mão da fertilidade e habilidade maternal, num cenário de moderada utilização de insumo e de produção a pasto.

As DEPs resultantes das avaliações genéticas internas de 11 características foram consideradas, sendo elas: ganho de peso do nascimento ao desmame (GND), conformação (Cd), precocidade de acabamento (Pd) e musculatura (Md) ao desmame, ganho de peso do desmame ao sobreano (GPD), conformação (Cs), precocidade de acabamento (Ps) e musculatura (Ms) ao sobreano, espessura de gordura subcutânea (EGS), área de olho de lombo corrigida para estrutura ao sobreano (AOLe) e perímetro escrotal ajustado para idade e peso ao sobreano (Peip).

Análises estatísticas conduzidas pela técnica de componentes principais indicaram que 1/3 da variabilidade genética existente no rebanho está relacionada com o desempenho médio geral, diferenciando os animais com desempenho médio superior ou inferior para as 11 características estudadas. Neste caso, DEPs inferiores para determinadas características podem ser contrabalanceadas com DEPs superiores de tal forma que animais com biotipos distintos podem apresentar desempenho médio semelhante.

A segunda maior fonte de variabilidade genética do rebanho, responsável por 16% da variação total, está relacionada com a precocidade de desenvolvimento, sendo diferenciados animais com desempenho mais acentuado para as características de desmame ou de sobreano. Cabe salientar que, como a propriedade não descarta animais ao desmame, este resultado não está associado ao efeito de pré-seleção dos dados.

A terceira maior fonte de variabilidade genética do rebanho (13% da variação total) foi explicada pelo contraste entre os animais considerados como de biotipo tardio (melhores para ganho de peso e conformação/tamanho) daqueles considerados como de biotipo precoce (melhores para precocidade de terminação, musculatura e características de ultra-som).

Após identificadas as principais fontes de variabilidade genética, os touros de diferentes origens foram contrastados conforme alguns índices de maior relevância, sendo as ponderações para as DEPs de cada característica definidas de acordo com os coeficientes fornecidos pela análise de componentes principais.

Os 1.581 animais com observações fenotípicas avaliadas eram filhos de 48 touros IRCA e de 22 touros externos (outras linhagens). Cabe salientar que os touros (sêmen) externos utilizados foram classificados como geneticamente superiores conforme os critérios de seleção adotados pelos seus respectivos programas de origem. Do total de animais avaliados, 188 (12%) eram filhos de touros externos.

Caso não houvesse diferença genética entre os touros IRCA e os touros externos, seria esperado que aproximadamente 10 touros IRCA (71%) e 4 touros externos (29%) fossem classificados entre os 20% superiores (top 20%) para os diferentes índices contemplados, conforme o número de touros das diferentes origens presentes nos dados.

De acordo com os resultados apresentados na Figura 1, observou-se que 11 touros IRCA e 3 touros externos foram classificados entre os top 20% para o índice que discrimina os animais quanto ao desempenho médio, evidenciando certa superioridade genética dos touros IRCA com relação as características estudadas.

Uma superioridade genética mais marcante dos touros IRCA, em comparação com os touros de outras linhagens utilizados no rebanho, foi observada para os índices que diferenciaram os animais quanto a precocidade de desenvolvimento e o biotipo dos animais. Os touros externos foram caracterizados por apresentarem progênie com biotipo mais tardio (DEPs inferiores para musculatura, precocidade de acabamento e medidas de ultra-som).


Figura 1 – Porcentagem de touros linhagem IRCA e de touros externos (outras linhagens), classificados como 20% superiores (top 20%), de acordo com diferentes índices de importância econômica

A porcentagem de touros externos e de touros IRCA top 20%, classificados conforme a média dos índices de maior relevância, foi calculada para identificar quais touros seriam mais equilibrados/harmônicos independente do índice ou das características do índice a ser considerado. Apenas touros IRCA foram classificados como top 20%, evidenciando a sua harmonia genética de produção. Os touros externos utilizados foram caracterizados por apresentarem pouco equilíbrio entre as características contempladas.

Concluiu-se com o presente estudo que:

1)existem importantes fontes de variação no rebanho estudado quanto às características economicamente relevantes consideradas;

2)touros de diferentes origens apresentaram diferença na classificação conforme alguns índices de maior relevância;

3)a escolha dos touros externos deve ser baseada em critérios de seleção mais alinhados aos objetivos do programa;

4)os touros IRCA apresentaram biotipo adequado ao sistema de produção da propriedade.

Versão do trabalho apresentado no VII Simpósio Brasileiro de Melhoramento Animal. São Carlos, SP, 2008.

0 Comments

  1. edimara souza disse:

    Sou do noroeste do Paraná e a família tem uma pequena propriedade com gado anelorado, com ciclo completo. Diante disso, questiono qual seria o melhor touro para cruzamento que tenha: precocidade sexual, menor intervalo entre os partos, rusticidade, carcaça e novilho precoce (extinguir a fase de recria)? Seria o RED ANGUS? Existe um melhor? Enfim, o que fazer? Grata, Edimará.

  2. Roberto Carvalheiro disse:

    Prezada Edimará Souza,
    Os animais para se enquadrarem nos seus objetivos teriam que ter um biotipo que favoreça alcançar as suas metas.
    Tem que ser levado em conta as condições de alimentação: só a pasto? semi-confinado e/ou confinado?
    De uma maneira geral, deve ser de tamanho adulto médio, com maior comprimento de costelas para armazenar a gordura que complementará sua dieta na época de escassez de pasto. Opte por carcaças de maior volume de posterior com a linha do períneo comprida. Se optar por nelore, invista em animais com essas características.
    Eliminar parte da recria significa focar em animais com precocidade de acabamento de carcaça a pasto, adequando a um peso compatível com custos que proporcione uma margem de lucratividade interessante para o seu negócio.
    Atenciosamente,
    José Cavalcanti

  3. Leonardo Guerra disse:

    A escolha de animais com alto valor genético em uma propriedade é de fundamental importância uma vez que nos pecuaristas não podemos ter margem de erro em nossa produção seja qual for (cria, recria e engorda).
    Como o melhoramento genético faz parte do tri-pé da pecuária, saber direcionar o objetivo da produção com a genética adquiria faz com que os resultados sejam satisfatórios e a curto e médio prazo.
    E a respeito do artigo venho atravéz deste dar os meus parabéns ao Sr. Jose da Rocha Cavalcanti, pela seleção Nelore IRCA, uma vez que só venho escutando elogios sobre esta seleção.
    Abraços
    Leonardo Guerra

  4. José da Rocha Cavalcanti disse:

    Prezado Leonardo Guerra.
    Agradeço suas palavras e o interesse pela seleção do Nelore IRCA.
    Atenciosamente,
    José Cavalcanti

  5. Raphael Fernando messias da Silva Peixoto disse:

    Prezado Sr. José da Rocha Cavalcanti, gostaria de cumprimentá – lo por esse artigo que é tão condizente com o que nos é exigido pelo mercado, enquanto pecuaristas que somos, os quais o senhor citou no presente artigo tais como: Melhorar o rendimento e acabamento de carcaça, reduzir a idade de abate e ainda aumentar a eficiência reprodutiva das fêmeas, achei muito pertinente quando o senhor elucidou que para tal, não necessariamente seja necessário aumentar os custos de produção e sim adequar o biotipo de nossos animais de acordo com nosso sistema de produção e é com base em depoimentos tão idôneos e isso posso afirmar com toda certeza pois sou da região e tenho conhecimento acerca do trabalho realizado para consolidação de uma linhagem de alto potencial genético como é o Nelore Irca hoje com respaldo em todo cenário agropecuário deste país, é que acreditamos ser possível realizar melhorias em nossa pecuária, valendo -se sempre é claro da disponibilidade de um excelente material genético que os animais da linhagem Nelore Irca nos confere, bem como de informações que a cada dia nos convida a pensar se verdadeiramente estamos dispostos a adequar o nosso rebanho ao nosso sistema de produção.
    Atenciosamente,
    Raphael Peixoto

  6. José da Rocha Cavalcanti disse:

    “Prezado Raphael Fernando Messias da Silva Peixoto”

    Agradeço o comentário. E fico contente também em ver que há uma geração jovem pensando o futuro da pecuária no Brasil.

    Atenciosamente,
    José da R Cavalcanti

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