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Organizar, Agregar Valor e Lucrar

Transformar carne commodity em carne "produto" é um assunto discutido já há algum tempo. A preocupação está em atender a uma crescente fatia de mercado interessada em consumir alimentos diferenciados, sejam estes caracterizados por possuir melhor qualidade, facilidade e praticidade no preparo das refeições, dar importância ao meio ambiente ou serem considerados mais saudáveis.

Transformar carne commodity em carne “produto” é um assunto discutido já há algum tempo. A preocupação está em atender a uma crescente fatia de mercado interessada em consumir alimentos diferenciados, sejam estes caracterizados por possuir melhor qualidade, facilidade e praticidade no preparo das refeições, dar importância ao meio ambiente ou serem considerados mais saudáveis.

A diversificação de itens compostos por carne bovina, como pratos pré-cozidos, embalados em atmosfera diferenciada, cortes padronizados, orgânicos, carne marmorizada, uso de marca registrada, entre outros, são exemplos de alimentos gerados em processos que irão agregar valor aos produtos finais. Esta agregação é de grande relevância para os elos envolvidos na cadeia produtiva da carne bovina, pois por um lado o cliente disposto a pagar pelo diferencial ficará satisfeito por encontrar no mercado uma variação dos produtos que deseja, e por outro lado, os segmentos pelos quais ocorrem as etapas desde a produção até o consumo final serão beneficiados com maiores lucros advindos de um maior preço de venda.

A interligação entre os elos da cadeia é fundamental para a obtenção do sucesso efetivo das partes envolvidas. A necessidade por interdependência entre as etapas está crescendo e precisando de uma coordenação (Perosa, 1999). Ou seja, para chegar ao “final feliz” composto por maiores lucros, produtos diferenciados disponíveis aos clientes, etc, é necessário organizar o setor. Coordenar os segmentos da cadeia de forma que estes troquem informações, idéias e complementem uns aos outros em busca de otimizar a produção.

Dentre as formas de cooperação, existem as chamadas “Alianças Estratégicas” (AE), as quais são associações entre grupos que focam um mesmo objetivo e trabalham em conjunto para atingi-lo. Segundo Vinholis, 1999, as AE são formas de acordos que localizam-se entre a hierarquia e a liberdade do mercado, dependendo do tipo de contrato acertado entre as partes.

Através desse tipo de parceria, os objetivos são alcançados de forma mais eficiente do que seriam se os segmentos da cadeia trabalhassem separadamente, porém os membros de uma aliança não podem esquecer os fundamentos para esta ser bem sucedida; são necessárias qualidades essenciais como: honestidade, confiança, objetivos bem definidos, trabalho em conjunto, liderança, compatibilidade entre as partes envolvidas, cooperação e habilidade em resolver problemas em conjunto.

Os benefícios gerados por esse tipo de acordo são, entre outros, economia de escala, acesso aos insumos, redução e/ou divisão dos riscos e redução de custos de transação. “Essa organização tem o intuito de criar valor ou adicionar valor a todas as partes envolvidas. Por outro lado é necessário admitir uma certa diminuição na autonomia dos segmentos, o que também depende da forma, estrutura e requerimentos que a aliança exige” (Hardesty, 2006).

Como consequência, uma aliança bem sucedida é capaz de fornecer ao consumidor o tipo de alimento que irá satisfazer suas necessidades e desejos além de firmar uma confiança entre o cliente e a marca registrada da aliança, o que será de grande valia para o consumo no longo prazo. As tendências do mercado consumidor junto a necessidade de fidelização entre cliente e marca são motivos suficientes para os setores produtivos e comerciais se aliarem em busca de sua satisfação.

“Diferentes tipos de alianças podem ser formadas, a saber:

• Alianças Verticais geralmente são formadas entre diferentes setores de uma cadeia, por exemplo, entre criadores, confinamentos, frigoríficos, processadores, atacadistas e varejistas, no caso da carne.
• Alianças Horizontais podem ser formadas entre indivíduos pertencentes ao mesmo segmento (Hardesty,2006).”

O sucesso dessas organizações depende principalmente da honestidade, seriedade e fidelidade entre os segmentos comprometidos. Desenvolver a confiança nesses requisitos não é uma tarefa fácil, mas é possível e consome certo tempo. Este processo está relacionado com o nível de envolvimento entre os elos.

Segundo Hardesty (2006) existem três formas básicas de envolvimento:

• Contratual: Considerada como a forma mais simples de criar “leis” para a proteção das partes envolvidas. Porém escrever um contrato tão completo que englobe todas as possíveis eventualidades é inviável quanto aos custos. Acordos contratuais podem variar desde simples contratos (ex. “boca a boca”) até os mais complexos (ex. fusões empresariais).
• Joint Venture: É um comprometimento entre empresas com um nível médio de envolvimento, no qual as partes comprometidas dividem a administração da aliança. Nesse caso pode ocorrer uma autoridade completa ou então trocas de recursos ou de cadeia de valores, ou seja, cada segmento contribui com sua diferente especialização para a melhoria do produto. Outra opção é a união de empresas que contribuem para a formação de uma nova empresa subsidiaria, a qual é propriedade das partes envolvidas.
• Fusão: É o grau máximo de envolvimento. Empresas podem se fundir a empresas similares para alcançarem objetivos comuns ou uma grande empresa pode comprar outras menores.”

Quando se pensa em alianças na cadeia da carne é mais fácil enxergar parcerias entre pequenos produtores ou entre setores envolvidos em nichos de mercado, como por exemplo, produção de carne orgânica.

Os Estados Unidos vêm obtendo sucesso em alguns casos de alianças na cadeia de carne bovina. Um exemplo positivo de aliança norte americana no setor é a empresa californiana “Harris Ranch”. Um estudo realizado em 2006 demonstra que naquele ano a empresa estava entre as 20 maiores processadoras de carne bovina do país, chegando a exportar ao Japão. A empresa foi a pioneira nos EUA a produzir carne com marca própria, também possui linhas de produtos pré-cozidos e oferece carne a diferentes nichos de mercado, como por exemplo, carne natural, a qual é definida por não conter antibióticos e hormônios.

Relativo a formação da aliança, a empresa possui um programa desde 1998 que busca parcerias por qualidade. Em 2006 eram 72 produtores envolvidos, fornecendo cerca de 40 mil cabeças/ano para a empresa. Os produtores aliados devem fornecer genética e manejo conforme estabelecido no acordo da aliança. Os animais são terminados no confinamento e abatidos no frigorífico da empresa e os criadores são pagos pela qualidade de carcaça (prime, choice, select, standard). Em 2008 a capacidade do confinamento consta de 90 mil cabeças.

Outra aliança da empresa é feita com criadores de “boi natural”, esse tipo de criação não permite que os animais recebam antibióticos e hormônios, assim a carne recebe um valor agregado e possui clientela disposta a pagar um maior valor pelo produto diferenciado. Em 2007 a carne “natural” custava 50% a mais do que a regular nos EUA (BEEF, 2008).

O programa investe no retorno das informações sobre a qualidade das carcaças individuais aos criadores, além de ações como o uso da comunicação entre os criadores e a empresa para compartilhar as tendências de mercado e as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas são formas de aumentar a confiança entre os segmentos e demonstrar seriedade na organização.

O essencial para obter sucesso em uma aliança é a confiança entre os segmentos envolvidos, pois as partes dependem umas das outras para conquistar os objetivos de todos. Por isso, os aspectos de moral, cárater, ética, o dia-a-dia de trabalho, objetivos claros e trocas de informações entre os elos são formas de fortalecer organizações como esta no decorrer do tempo. Se os fundamentos não forem aplicados com honestidade e eficácia por todos os envolvidos, a aliança não alcançará o sucesso almejado.

Referências bibliográficas:

BEEF. 2008 Cattlemen´s Beef Board & National Cattlemen´s Beef Association – Natural & Organic Beef, 2008;

HARDESTY, S. D. Beef Marketing Alliances – University of California, Davis, 2006;

PEROSA, J. M. Y. Papel da Coordenação em Alianças de Mercado: Análise de Experiência no SAG Carne Bovina. II Workshop Brasileiro de Gestão de Sistemas Agroalimentares – PENSA/FEA/USP Ribeirão Preto. Pág. 69, 1999.

VINHOLIS, M. M. B. Uma Análise da Aliança Mercadológica da Carne Bovina Baseada nos Conceitos da Economia dos Custos de Transação. II Workshop Brasileiro de Gestão de Sistemas Agroalimentares – PENSA/FEA/USP Ribeirão Preto. Pág.192,1999.

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