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Onda de calor maltrata o campo europeu

A onda de calor e seca que assola a Europa provoca situações inusitadas. Como na Suíça, onde o exército transporta água em helicópteros para matar a sede de vacas que pastam nos Alpes e pescadores tentam salvar peixes que começam a morrer nos rios por causa de águas quentes demais. Para além dessas medidas extremas, o fato é que temperaturas elevadas recorde – o Reino Unido, por exemplo, enfrenta o verão mais severo em quatro décadas – têm deixado rastros devastadores em vários países, e o setor de agronegócios é um dos que mais têm sofrido com isso.

No mercado de commodities agrícolas, quem mais está acusando o golpe é o trigo. Na Rússia, que lidera a produção no continente e as exportações mundiais, a tonelada do cereal superou a barreira dos € 200 no fim de julho e alcançou € 234 na sexta-feira, maior patamar desde 2014. Depois da colheita recorde do ano passado, os russos preveem queda de 20% na produção em 2018, para 68,5 milhões de toneladas. A Alemanha também está sendo bastante prejudicada, com perdas estimadas em 8 milhões de toneladas e colheita agora prevista em cerca de 31 milhões.

Na Polônia, produtores sinalizam perdas importantes na colheita de cereais – da ordem de 20% no caso da canola -, enquanto a Letônia declarou “estado de calamidade agrícola”, a Dinamarca prevê uma colheita de cevada simplesmente catastrófica e a Suécia derrete em meio a reclamações. Na França, inicialmente a alta dos cereais e de outros produtos chegou a gerar contentamento entre alguns produtores que há anos convivem com preços baixos e prejuízos, mas a Federação Nacional dos Agricultores, que não perde o hábito de demandar ajuda ao governo, já pediu socorro porque o calor não permite o plantio em boas condições.

Nesse contexto, a União Europeia já autorizou seus países-membros a ajudar os agricultores afetados com a antecipação de subvenções que deveriam ser pagas somente em dezembro. Além disso, no momento foram flexibilizadas algumas regras ambientais, como a semeadura de grãos forrageiros em algumas áreas que deveriam ser preservadas.

Enquanto isso na Suíça, que não faz parte da UE, as vacas suam em meio a um calor tão forte que ontem provocou tempestades. Pecuaristas dizem que as temperaturas ideais para os animais ficam entre 5 e 15 graus centígrados, mas o calor tem superado os 30 graus. Durante uma onda como essa, uma vaca precisa consumir entre 100 e 200 litros de água por dia, mas os riachos nas montanhas secaram e o exército mais uma vez está sendo obrigado a usar helicopteros para levar milhares de litros de água ao rebanho nos Alpes.

Os produtores não vão pagar pelo serviço. Os voos de helicóptero com a água são financiados pelo orçamento normal das Forças Armadas, já que servem tambem de treinamento para os pilotos das aeronaves. Ainda assim, dizem os pecuaristas suíços, haverá prejuízo. Como as vacas comem menos quando estão estressadas, a produção de leite diminuiu de 10% a 20%. O teor de gordura e proteínas no leite tambem caiu, e no mercado não há espaço para uma elevação de preços capaz de compensar a queda.

Outra preocupação na Suíça é que o clima está quente demais para os peixes. Nos lagos e rios, as temperaturas das águas estão elevadas como há muito não se via, e a Federação da Pesca do país diz temer o mesmo cenário do “verão mortal” de 2003. Conforme a entidade, temperaturas da água de mais de 20 graus representam um fator de estresse para várias especies de peixes. A partir de 23 graus a situação é crítica, e 25 graus é caso de morte para trutas, por exemplo.

Pescadores suíços anunciaram um plano de combate ao problema que inclui reduzir da navegação excessiva nos rios e uma recomendação a banhistas para evitar as águas mais frias onde os peixes se refugiam automaticamente. Ocorre que no Lago de Constance, entre a Suíça e a Alemanha, pescadores alemães continuam a exercer sua atividade normalmente, e para os suíços essa ambição terá graves reflexos sobre a futura reprodução de algumas espécies.

Fonte: Valor Econômico.

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