O uso de agonistas β-adrenérgicos em dietas de bovinos de corte confinados

Os agonistas β-adrenérgicos são substâncias que normalmente causam vasodilatação, relaxamento do músculo liso e aumento da frequência cardíaca, porém também provocam um aumento significativo na massa muscular de animais por mecanismos até hoje não completamente elucidados.

O clenbuterol, por exemplo, já foi utilizado no passado como promotor de crescimento para bovinos de corte. No entanto, esses agonistas β-adrenérgicos não eram seguros e a presença de resíduos na carne causaram diversos problemas de saúde em consumidores, fazendo com com o uso dos mesmos fosse proibido.

Após vários anos tentando desenvolver um agonista β-adrenérgico seguro para a alimentação animal, uma empresa comercial desenvolveu o composto chamado cloridrato de ractopamina. Em 2000 esse produto foi aprovado pelo FDA americano (Food and Drug Administration) como aditivo em dietas para suínos, e têm sido utilizado em larga escala desde então, inclusive no Brasil. Mais recentemente, em 2004, o FDA aprovou o uso de ractopamina como promotor de crescimento em dietas para bovinos confinados nos EUA.

Em confinamentos, o cloridrato de ractopamina deve ser fornecido apenas nos 28 a 42 dias que antecedem o abate para aumento do ganho de peso, melhora na eficiência alimentar e aumento de tecido muscular (Schroeder et al., 2004).

Estudos sugerem que agonistas β-adrenérgicos aumentem a síntese de proteínas e inibem a degradação das mesmas. A ractopamina estimula, também, a atividade lipolítica e inibe a lipogênese, além de reduzir a síntese e estimular a degradação de glicogênio. A combinação de todos esses fatores levam à diminuição das reservas de glicogênio, redução das reservas de lipídeos e de tecido adiposo e ao aumento a quantidade de proteína (Smith, 1987). Logo, nutrientes que seriam utilizados na produção de tecido adiposo são redirecionados para a produção de tecido muscular (Bell et al., 1998).

Uma vez que a liberação do uso desse produto em gado de corte ainda é relativamente recente, muitas instituições ainda estão conduzindo pesquisas para avaliação e validação dos efeitos do mesmo no desempenho animal e na qualidade da carcaça.

Em um estudo conduzido pela Universidade de Nebraska, por exemplo, 331 animais foram tratados com cloridrato de ractopamina (Greenquist et al., 2006). Os resultados mostraram que animais tratados com o agonista β-adrenérgico foram abatidos oito quilos mais pesados ao final do experimento, resultado de um ganho de peso diário 14% maior.

Como não houve diferenças significativas em consumo diário, ocorreu uma melhora de 14% na eficiência alimentar. Resultados semelhantes foram observados no trabalho de doutorado de Abney (2006) conduzido na Texas Tech University, cujos dados mostram maiores ganho de peso diário e peso final, melhor eficiência alimentar e melhor qualidade de carcaça resultantes do uso de ractopamina.

O maior desafio para confinamentos dispostos a utilizar o produto é que a aplicação prática do mesmo pode ser complicada em operações de grande escala. A identificação exata de baias prontas para o fornecimento do produto (4 a 6 semanas que antecedem o abate), a adequação da estrutura da fábrica de ração para diferente dietas e o maior cuidado necessário para controlar essa maior quantidade de dietas são alguns dos desafios encontrados.

O uso de diferentes dietas na fase final do confinamento aumenta também o número de viagens do caminhão tratador ao cocho, o que consequentemente eleva os custos com combustível e mão-de-obra. Porém, cálculos de Preston (2004) mostram que os ganhos em desempenho animal com a ractopamina podem trazer lucros de 10 a 17 dólares por animal. Isso explica a grande repercussão do produto nos EUA, que pode ser usado como uma excelente ferramenta na lucratividade dos confinamentos.

Esse produto ainda encontra-se em fase inicial de implantação no mercado americano e não é comercializado no Brasil. No entanto, trata-se de um produto inovador, embora também não seja aprovado pela União Européia.

Bibliografia consultada

Abney, C. S. 2006. Effects of Optaflexx (Ractopamine Hydrochloride) on performance, rate and variation of intake, and acid-base balance in feedlot cattle. Ph.D. dissertation. Texas Tech University. Disponível em: http://etd.lib.ttu.edu/theses/available/etd-04182006-081147/unrestricted/Abney_Cassie_S_Diss.pdf. Acessado em Julho de 2006.

Bell A. W., Bauman D. E., Beermann D. H., and Harrell R. J. 1998. Nutrition, Development and Efficacy of Growth Modifiers in Livestock Species. J. Nutr. 1998 128: 360S

Greenquist, M. A., K. J. Vander Pol, G. E. Erickson, T. J. Klopfenstein, M. T. Van Koevering, and W. J. Platter. 2006. Growth performance profile and carcass characteristics of steers fed Optaflexx®. Page 116 in Proc. Plains Nutr. Council. AREC 04-14, Texas A&M Res. and Extension Ctr. Amarillo, TX.

Preston, R. L. 2004. Feedlot management challenges and opportunities with β-agonist use. Pages 62-67 in Proc. Plains Nutr. Council. AREC 04-14, Texas A&M Res. and Extension Ctr. Amarillo, TX.

Schroeder A.L., Polser D. M., Laudert S. B., and Vogel G. The Effect of OptaflexxT on Growth Performance and Carcass Traits of Steers. 2004. Available: http://cals-cf.calsnet.arizona.edu/animsci/ansci/swnmc/papers/2004/6-schroeder.pdf Acessado em Julho de 2006.

Smith, S. B. 1987. Effects of β-adrenergic agonists on cellular metabolism. Proc. Rec. Meat Conf. 40:65-72.