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O Texas é aqui !

Por Fernando Furtado Velloso*

Antes de partir para a Viagem Técnica Texas 2013 – BeefPoint um amigo americano, Jason Hall, comentou comigo: ″o Texas é o Rio Grande do Sul″. Não retruquei e fiquei com a informação guardada.

O BeefPoint organizou no início de março uma programação completa para conhecer a pecuária americana no estado do Texas e trago aqui algumas informações. Em uma semana tentou-se cobrir todos os setores da cadeia da carne, desde o produtor de genética até o confinador e produto final.

Brahman

O primeiro rebanho visitado foi de um produtor de Brahman muito conhecido internacionalmente, a JD Hudgins, do famoso touro e linhagem Manso. Propriedade tradicional e histórica, belo gado e grande atuação no mercado internacional. A minha surpresa foi a pequena dimensão da raça como população e como fonte de genética. Registram-se nos EUA menos de 8 mil animais por ano e a JD Hudgins e outro criador (da mesma família) correspondem a praticamente 50% da produção da raça. No mercado texano existe mercado para os touros Brahman, mas o gado comercial é praticamente todo cruzado e a raça tem baixíssima expressão na composição do rebanho. Assim sendo, concluí que o Brahman é um negócio muito pequeno neste país e que o mercado para esta raça está nos clientes da América do Sul e Austrália.

Genética, reprodutores e Angus

Os rebanhos de Angus visitados foram dois: o 44 Farms e RA Brown Ranch. Na 44 Farms tivemos a oportunidade de conhecer um rebanho em sistema intensivo e de bom porte (mais de 2.500 fêmeas em produção e venda de 800 touros anualmente) e um produtor dedicado a produção de carne com marca. Além do apelo de Carne Angus este projeto explora o mercado de Natural Beef, onde se garante o não uso de hormônios e antibióticos. Na RA Brown a exploração é mais extensiva (baixa carga animal em função da baixa precipitação) e são produzidos reprodutores Angus, Red Angus, Simangus e Hotlander. O apelo desta criação é a busca por animais com tolerância ao calor e que possam explorar ao máximo a heterose nos rebanhos comerciais. Nos dois casos os touros são vendidos com 1ano e esta é a situação mais freqüente nos EUA como um todo.

Na Red Angus Association of America foi reforçado o histórico e o foco desta entidade em produzir animais com o máximo de embasamento técnico e ciência, com avaliação genética compulsória em todos os rebanhos desde a fundação nos anos 50. Os programas de marketing voltados ao produtor comercial (similar ao nosso Terneiro Angus Certificado) recebem grande atenção e as exposições têm pequena relevância no contexto das ações da RAAA.

O laboratório Sexing Technologies foi visitado, mas o tema que mais chamou atenção não foi o sêmen sexado, mas sim a unidade de teste para Eficiência Alimentar disponível como um serviço às associações de raça e produtores de genética. Similar ao trabalho realizado no Brasil pelo CP Lagoa, a Sexing oferece uma estrutura completa de confinamento para teste de reprodutores com equipamentos para medição de eficiência alimentar (GrowSafe). Vantagem para eles que possuem o equipamento em todos os currais do confinamento, mas estamos no caminho…

Texas A&M University Na universidade Texas A&M foi preparado um ciclo de palestras especialmente ao grupo de brasileiros e esta base teórica foi muito válida para o melhor aproveitamento de toda a gira. A estrutura da pecuária do Texas, o sistema de produção, a estratificação dos diferentes tipos de pecuaristas foram temas esmiuçados neste encontro. O rebanho americano vem em franco declínio, mas a produção de carne seguiu elevada em função dos ganhos em produtividade obtidos nas últimas décadas. Aparentemente o sistema está próximo de seu limite biológico, pois os pesos de carcaças já são bem elevados (aprox. 350 kgs) e a idade de abate sem muito espaço para redução (entre 12 e 18 meses).

Mais embasamento técnico sobre a tecnologia de Eficiência Alimentar foi apresentado em palestra específica e a platéia frustrou-se um pouco com as evidências de que a seleção para animais de melhor eficiência alimentar leva a genética de menor deposição de gordura. Logo, o método parece ser muito útil para melhorar a eficiência na engorda, mas supõe-se que trará impactos na produtividade do rebanho de cria, etc.

O Sistema de Classificação de Carcaças foi um capítulo a parte e ficou claro para todos que este é um dos grandes diferenciais da pecuária americana. O sistema é bastante transparente e bem mais complexo (e completo) que os métodos usados no Brasil. Os animais são avaliados por um sistema de imagens e todo processo é realizado por um técnico do USDA e não por um funcionário da indústria. O entendimento pelo setor do que é buscado e os diferencias em remuneração das carcaças direcionam a preferência de raças, tipo de genética dentro das raças, tipo de dietas, dias em confinamento, etc.

Confinamentos

Praticamente a totalidade da engorda nos EUA ocorre em confinamentos, porém o resultado econômico negativo dos confinamentos em 2012 foi confirmado nas 3 visitas a currais de engorda. O frigorífico brasileiro JBS tem um importante confinamento no Texas: o Five Rivers. Visitamos esta empresa e lá estavam mais de 60 mil animais, com alta participação de animais pretos, em segundo plano as cruzas continentais e com baixa participação animais com influência zebuína. O alto custo das dietas, especialmente em função da demanda de milho pelo etanol, tem inviabilizado confinamentos que não estejam integrados em operações maiores. No confinamento Quality Beef visitamos uma operação diferente, pois ali a preferência era por novilhos holandeses que são engordados por praticamente 1 ano. No momento de nossa visita estavam confinados aprox. 20 mil novilhos leiteiros.

Ao final da viagem concordei com o amigo Jason Hall de que o Texas é o Rio Grande do Sul. Lá está a origem da pecuária americana, o orgulho pela atividade e por ser Texano é do mesmo porte do bairrismo da gauchada e a conexão do texano com o campo é similar a nossa. Os rebanhos têm tamanho similar: o RS com 14 milhões de bovinos e o Texas com 12 milhões. O Texas produz 4 milhões de terneiros e abate 5,7 milhões de cabeças por ano. Bom, aí temos que avançar ainda um pouco. Adiante gauchada!

* Fernando Furtado Velloso, da Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha, participou como Guia Técnico da Viagem BeefPoint Texas 2013

5 Comments

  1. Jose Ricardo S Rezende disse:

    Relato rico e que ajuda nossa reflexão.

  2. Fernando Gebara Cunha disse:

    Parabéns, Fernando, pelo brilhante artigo. Como sempre digo, o Rio Grande do Sul, assim como o Texas, e um estado de espirito, nao somente de pioneirismo e tradição pecuários, mas, principalmente de orgulho em ser Gaucho, ou texano, no caso dos americanos. Parabéns.

  3. Fábio Ribeiro dornelles disse:

    Parabéns meu amigo Fernando, aqui em São Borja já nos sentimos no Texas.

  4. Rodrigo M. F. disse:

    Muito interessante o comparativo do Texas com o RS.

  5. Anne disse:

    Este Jason Hall sabe muito! :-) Ótimo artigo!!

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