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28 de abril de 2014
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28 de abril de 2014

O Show da Carcaça e o Vale do Silício da Pecuária

Por André Bartocci, pecuarista da fazenda Nossa Senhora das Graças, em Caarapó – MS.

A moderna pecuária brasileira está em curso

Ela se manifesta na genética de ponta de seus animais e plantas, na tecnologia do manejo de reprodução e engorda, na integração com a lavoura e na energia de seus produtores. Sua indústria é referência mundial e no varejo os antigos açougues se transformam em lojas com design contemporâneo.

Lógico que estamos nos passos iniciais, precisamos de mais genética, mais pesquisa, e melhor mão de obra, mais sanidade… Porém, hoje, o insumo limitante é a integração da cadeia. A indústria e o varejo evoluíram e já falam o mesmo idioma que é muito bem entendido pelo consumidor. Frequentadores do McDonalds que nunca viram uma vaca, falam da qualidade de uma raça, sinais da mudança!

Porém a produção, por vários motivos, ficou para traz. Hoje ela é o elo frágil da corrente.

Daqui para frente, toda evolução da cadeia esbarra na falta de comunicação e na frágil relação entre seus elos. Produzir um animal precoce, com sanidade, sustentável, e economicamente competitivo, nós já conseguimos.

Agora entre produzir e consumir há muito ruído e pouco sinal. Então falta-nos resolver a seguinte equação:

             R$/ha (dentro da porteira)  =  satisfação/R$ (em cima do prato)         

Equalizar essas duas variáveis é papel fundamental da cadeia. Também é isso que nosso consumidor espera. Essa equação não é simples. O desafio se torna maior levando em conta que estamos em um país continental com grandes diferenças entre seus consumidores, sem falar que também somos os maiores fornecedores mundiais.

Ele se amplifica na outra ponta onde nossa tecnologia tropical nos permite produzir desde novilhos precoces marmorizados de doze meses, passando um animal orgânico, até touros de cinco anos, todos com eficiência e escala!

 Na indústria e no varejo esse problema foi resolvido criando um sistema de comércio e distribuição que compra tudo e vende para todos o ano inteiro: o sistema peneirão. Mas ele não é compatível com um mercado mais exigente, além do que o malabarismo da equipe de compra exigido para fazê-lo funcionar desgasta as relações com os produtores.

A relação indústria – produção, muito mais que nossas pastagens, é o ponto mais degradado da pecuária brasileira. Questões de confiança e idoneidade são diariamente questionadas. Todos sabem que isto precisa mudar. E esta mudando. O Mato Grosso do Sul é pioneiro neste sentido.

Uma aliança composta, de um lado por uma incrível Associação de Produtores presidida pelo Alexandre Raffi, com uma visão contemporânea de que o caminho é a aproximação entre as partes e de outro lado por um frigorífico (JBS) representado pelo Eduardo Pedroso, que com sua diplomacia afinada e grande inteligência prática, transforma a indústria em um ambiente de interface amigável e confiável, está quebrando paradigmas.

O que estou relatando aqui está longe do estereótipo do grande produtor regional que por razões pontuais, tem livre acesso na indústria. Aqui se trata de uma relação com regras claras, mesmo que não perfeitas, seguidas e monitoradas por ambas as partes. Integram os benefícios mútuos, um fornecimento padronizado de animais, uma balança da produção dentro da indústria, bonificações e o principal: um canal de diálogo Fazenda-Frigorífico.

O Mato Grosso do Sul, independente das suas qualidades físicas naturais, cria um ambiente propício para a Moderna Pecuária Brasileira: o governo estadual é comprometido com seu desenvolvimento com atuação em pontos fundamentais como vigilância sanitária e o eficiente Programa da Seprotur que troca impostos por precocidade no abate, criado há quase 20 anos.

No campo da pesquisa, apesar de ainda estarmos longe do ideal, o Estado conta com a Embrapa Gado de Corte, que é referência em tecnologia de produção tropical e em integração com a agricultura. Ajuda neste aporte a Fundação MS com técnicas contemporâneas e intensa participação da iniciativa privada.

A presença de todos grandes frigoríficos do país, bem como estruturados abatedouros regionais estimula a competição e diminuem o monopólio da indústria.

 A Famasul, federação dos produtores, vive um momento importante com atuação pró-ativa com programas de resgate da pecuária mais vulnerável e comprometimento com a formação de futuros líderes do estado.

Logicamente o MS também tem grandes desafios, como uma grande fronteira seca com países de controles duvidosos da aftosa, questões fundiárias, questões sociais indígenas, tributarias e de logística.

Porém, a Associação Novilho Precoce resolveu parte dos tabus enfrentados pela pecuária nacional, como divergências de pesagens, precificação menos arbitrária e bonificação por qualidade. A troca de experiências entre os associados (lá não se conta só das pingas, mas fala-se também dos tombos!) é outro ponto forte deste grupo que está em franco crescimento.

 Este é o inicio da solução da equação: R$/ha = Satisfação/R$!

 Ainda existem muitos pontos a serem equalizados como o problema da castração de animais, protocolos de exportação, acesso a melhores mercados, gestão, rastreabilidade, cobertura de gordura…

 É fortalecendo (com o associativismo) o elo mais fraco da cadeia e estreitando as relações com a indústria, o varejo, o Governo e entidades  relacionadas que a associação transforma a produção de carne Sul Matogrossense.

 Neste ambiente o Vale do Silício da Pecuária Brasileira esta nascendo e com ele grandes oportunidades. Com certeza este movimento pode contagiar todo o Brasil. Mas para isto precisamos de entidades e pessoas de iniciativa e de coragem. Para construir uma grande estrada é preciso abrir uma picada…A Associação do Novilho PrecoceMS já transita por ela!

Por André Bartocci, pecuarista da fazenda Nossa Senhora das Graças, em Caarapó – MS.

3 Comments

  1. Alexandre Scaff Raffi disse:

    André , como sempre, você sabe colocar muito bem as palavras no contexto. Permita-me acrescentar que aqui no MS , o MAPA também faz parte deste “roll” de entidades que se conectam e se ajudam.
    Não raras são as vezes que nos rotulam como “vendidos”, mas nós sabemos que o caminho é esse . Diálogo !!
    Buscar a qualidade e exigir a remuneração não é fácil, mas é uma opção que fizemos, e tem dado certo. O número de associados vem crescendo ano a ano que mostra que os produtores querem ser unidos, faltava-lhes a oportunidade.
    Agradeço à você pelo artigo e principalmente por ser um dos “novos” associados.
    Tenho dito à vários produtores… -“se o André Bartocci entrou é porque é bom !!
    Grande abraço
    Alexandre

  2. Eduardo Krisztán Pedroso disse:

    Prezado André Bartocci e Alexandre Raffi,

    Parabéns pelo artigo e pelo show da carcaça, respectivamente.

    O artigo demonstra amadurecimento comercial, algo fundamental para a elevação das relações indústria e produtor. O mercado está mudando rapidamente. População urbana é crescente com maior poder de renda e informação. Quem tem informação e renda quer ter poder de escolha com conhecimento de causa. Pecuária que produz carne de qualidade é a pecuária de valor sustentado.

    Neste sentido, a indústria consolidada se traduz como uma grande parceira do pecuarista por servir de canal de vendas que conecta a pecuária aos múltiplos mercados consumidores. Uma batalha incessante pelo melhor mix de comercialização.

    O volume possibilita a realização de campanhas de marketing na TV aberta por permitir a logística necessária à entrega de carne em qualquer lugar do Brasil. O marketing aguça a demanda. E a demanda sustenta o preço. Mas a recompra do consumidor está condicionada a entrega da qualidade prometida. E este é um desafio de toda a cadeia produtiva. Se trabalharmos juntos, navegaremos em um inexplorado oceano azul.

    A cada arroba de carcaça, temos em média, apenas 2 kg de carne com potencial de valor agregado efetivo. E 50% deste volume é representado pelo contra filé (em números redondos). Cientificamente chamado de Longissimus dorsi, o contra filé é grande, pesado e muito relevante na apuração da carçaca. Sua qualidade com planejamento certo é determinante para o acesso aos níveis mais sofisticados de demanda. Porém em grande escala, temos de pensar com mente aberta, mercado interno + exportação. Não é a toa que os americanos estudam obstinadamente as alternativas de valorização deste corte. Nosso mercado interno está habituado a consumir um contra filé duro e batido no martelo. Teremos um grande salto na pecuária quando admitirmos esta realidade e começarmos a trabalhar para mudar esta situação.

    Mas na prática, como bem colocado no artigo, já temos exemplos de grupos de produtores que estão trabalhando neste sentido. O Show da carcaça deste ano foi acompanhado pelo Prof. Dr. Sérgio Pflanzer da Unicamp e mais de 40 amostras de contra filé foram colhidas para estudos laboratoriais de maciez.

    Em paralelo, esta parceria com a Associação do Novilho Precoce – MS se estendeu para uma parceria inédita com a Acrissul em um dos maiores e importantes eventos agropecuários do nosso país, a Expogrande 2014.

    Durante esta semana, a carne Friboi, produzida 100% com carne de novilhos precoces do MS está abastecendo com exclusividade do Parque de Exposições Laucídio Coelho em Gampo Grande. Desde a carne moída das barracas de pastel, espetinhos, cardápios dos restaurantes e os buffets dos mais de 40 leilões, estão sendo abastecidos por este produto.

    O Show da carcaça se traduz em 15 dias de show de consumo, em sua forma mais ampla e democrática.

    De um lado, os mais de 300 mil visitantes da exposição estão tendo acesso a este produto diferenciado em várias modalidades de preparo. Orgulho de consumir a melhor carne do MS, abatida em Campo Grande e servida em Campo Grande.

    De outro, os pecuaristas passam a entender na prática que a marca Friboi é a marca que embala e distribui a qualidade que vem do campo. Friboi é a marca do pecuarista.

    Se o dinheiro do freguês está sobre a mesa, e se a captura deste valor requer planejamento de suprimento e ressuprimento, nada mais óbvio do que a oportunidade de apararmos as arestas das relações indústria e produtor e trabalharmos em equipe para captura e divisão de resultados ao longo da cadeia produtiva.

    E aí, seu boi é Friboi? Este compromisso de entrega de qualidade é o compromisso que traduz a campanha de relacionamento da JBS com os pecuaristas de todo o Brasil. o lema é “Juntos por um Boi de Sucesso”.

    Por Eduardo Krisztán Pedroso, Diretor de Originação de SP/MS da JBS.

  3. Pedro Eduardo de Felício disse:

    Excelente artigo André! Fico feliz que v. tenha escrito algo que eu venho percebendo há dois anos desde a minha primeira participação no Show da Carcaça: um trabalho sério, exemplar da Novilho Precoce do MS com a empresa JBS. É uma escola, no meu entender, porque lá todo mundo está aprendendo o tempo todo e não me canso de repetir que o bom humor lá sempre prevalece. Como escola, pode ajudar no surgimento e aperfeiçoamento de outras entidades do gênero.
    Obrigado André, pela sua perspicácia para compreender e interpretar o ambiente técnico-comercial em que vivemos no setor da carne, e por escrever com tanta objetividade e clareza.
    Abraços

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