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O que podemos aprender com o MLA, exemplo de organização da cadeia da carne australiana (slides e artigo)

Em suas viagens a trabalho à Austrália, o consultor José Roberto Puoli conheceu um pouco sobre o MLA - Meat & Livestock Australia, uma companhia privada composta por representantes da indústria da carne australiana. O MLA é extremamente forte no mercado, atuando em ações de marketing e promoção da carne, na abertura de mercados. Investem muito dos recursos, obtidos de contribuições dos associados e do governo, em pesquisa e desenvolvimento e propaganda. Muito do seu sucesso está ligado ao profissionalismo da gestão e da administração.

O MLA – Meat & Livestock Australia começou em julho de 1998, porém já existiam algumas entidades semelhantes desde 1936, como a Meat Board e a Meat Board Exchange, o que mostra a característica da cultura saxã de se unir em associações, e tentar resolver os impasses via sociativismo.

A evolução dessas associações para o MLA, é que antigamente existia interferência governamental e política, o que não ocorre no MLA.

O MLA é uma companhia privada, que pertence ao produtor rural, com 45.000 associados, o que representa 80% dos representantes da indústria da carne da Austrália (pecuaristas, frigoríficos, etc). “Cada aspecto do nosso trabalho é direcionado para entregar serviços e soluções, com padrões mundiais para a indústria de carne vermelha, incluindo produtores rurais, frigoríficos, exportadores, prestadores de serviços de comida e vendedores de atacado e varejo.”

O MLA administra serviços e soluções para dar suporte às suas estratégias centrais:
• Aumentar acesso a mercados para a carne australiana;
• Aumentar a demanda para a carne australiana;
• Aprimorar competitividade e sustentabilidade do setor;
• Aumentar a capacitação da indústria da carne.

O MLA possui escritórios na Austrália, mas também está representado no mundo inteiro, principalmente nos grandes mercados consumidores: Washington, Bruxelas, Moscou, Baharain, Pequin, Seul e Tóquio.

Os recursos, fator extremamente importante dentro das associações, são provenientes de contribuições vindas da cobrança de AU$5,00 (dólar australiano) por cada animal comercializado – seja bezerro ou boi gordo – e do governo, que coloca AU$1,00 para cada dólar que o MLA investe em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, existem também as contribuições individuais.

Para um rebanho de 28 milhões de cabeças, eles possuem recursos de AU$163 milhões, sendo que a distribuição das fontes de recursos está expressa no gráfico a seguir.

Isso mostra que o MLA é de todo o setor da carne e não só de um grupo específico.

A estrutura administrativa no MLA é composta por um conselho de onze membros, sendo um presidente e um diretor executivo que gerencia sete gerentes regionais, sendo um total de 235 funcionários. A escolha dos membros do conselho é feita através de anúncios no próprio site, nos quais se define as características exigidas. Existe um comitê de aceitação e os membros geralmente estão entre os próprios associados.

Os gerentes regionais são distribuídos em funções diversas como: Serviços corporativos, Sistemas industriais, Marketing, Comunicação corporativa e exportação de animais, Mercado internacional e economia, Inovação produção animal e Cliente e novos serviços.

O plano estratégico do MLA mapeia uma direção clara para o seu futuro e define os passos que a companhia tomará para atender as necessidades das suas quatro estratégias centrais. É um plano de cinco anos, porém é revisado anualmente para assegurar que ele se mantenha atualizado e que reflita as necessidades atuais da indústria.

Além disso, o MLA desenvolve um plano de operação anual, ou seja, um orçamento anual detalhado, definindo os programas e objetivos para o próximo ano. Duas vezes por ano são publicados relatórios sobre o andamento, sendo em março o referente ao primeiro semestre e em setembro o relatório anual. Isso mostra a preocupação em justificar os gastos e apresentar os benefícios que os investimentos estão trazendo.

A tabela a seguir apresenta os dados da indústria da carne australiana nos últimos anos, onde podemos observar que todos os esforços do MLA serviram para manter os índices, e não aumentá-los.

Dos recursos arrecadados no último ano, mais de AU$ 62 milhões foram gastos com pesquisa e desenvolvimento, ou seja, informação para eles é extremamente importante. A maioria das atividades é de parcerias com entidades de pesquisas e as fazendas, sendo que os resultados das pesquisas são aplicados nas propriedades. O valor destinado ao marketing também é muito expressivo.

Os dados da tabela anterior, também mostram o aumento do número de associados, o que reflete o interesse e a satisfação dos produtores com os serviços realizados pela entidade.

Outro ponto interessante é o alto investimento que eles fazem com propaganda agressiva para o mercado interno, sendo destinados AU$ 16 milhões – contra AU$ 25 milhões para o mercado externo. Com essa filosofia que eles conquistaram e mantiveram o mercado japonês, que era dominado pelos exportadores norte americanos.

O que se pode aprender com o MLA é que se trata de uma companhia privada que engloba a indústria carne como um todo. Essa filosofia deve ser aplicada no Brasil, quebrando os paradigmas entre produtores e frigoríficos, entendendo que todos fazem parte do mesmo processo.

O MLA é extremamente forte no mercado, atuando em ações de marketing e promoção da carne, na abertura de mercados e lutando para acabar com subsídios. Investem muito dos recursos em pesquisa e desenvolvimento, pois acreditam que é preciso ter conhecimento profundo naquilo que se faz.

Além disso, é uma instituição com bases sólidas, confiável, refletido pela recente aprovação do aumento da contribuição dos associados de AU$ 3,50 para AU$ 5,00 por animal.

Tudo isso só é possível devido à administração impecável, típica de culturas saxãs. Para que exista algo parecido no Brasil, primeiramente será preciso ultrapassar as barreiras culturais e depois se conscientizar de que a cadeia da carne é composta por várias atividades, de produtores a frigoríficos.

Mais informações, dados, exemplos, e newsletter podem ser obtidos no site do MLA: www.mla.com.au.

Esse artigo é baseado na palestra O que podemos aprender com o MLA, exemplo de organização da cadeia da carne australiana, apresentada por José Roberto Puoli, engenheiro agrônomo e consultor, no Workshop BeefPoint Associações de Pecuaristas, realizado pela AgriPoint em 21 maio 2010.

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0 Comments

  1. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Para mim a ação da MLA faz todo o sentido. O que precisamos é fortalecer o negócio carne como um todo. Fidelizar os clientes e aumentar o consumo de carne deve ser a meta de todos os agentes envolvidos.

    Só que para isto é preciso. antes de mais nada, união dentro das diferentes categorias de agentes economicos: produtores, frigoríficos, distribuidores, etc.

    É preciso também disposição dos participantes de bancarem os custos de uma iniciativa de larga abrangencia.

    O SIC nunca contou com recursos suficientes e sempre focou-se mais com o marketing, a CNA não desempenha este papel e de fato tem outras atribuições, a ABCZ e as demais associações de raça se preocupam com a questão da divulgação das raças que representam, a ABIEC e ABRAFRIGO se preocupam apenas com aspectos relacionados a industria friorífica.

    Não sei se dá para copiar exatamente o modelo de contribuição australiano, mas nosso rebanho é muito maior e creio que com contribuições das entidades representativas já existentes poderíamos elaborar um plano de ação que atenda aos interesses de todos.

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