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31 de outubro de 2009
Mercados Futuros – 03/11/09
4 de novembro de 2009

O que esperar do mercado de bezerros e garrotes nos próximos anos? (vídeo, slides e artigo)

O que esperar do mercado de bezerros e garrotes nos próximos anos?, José Vicente Ferraz, FNP

O ciclo pecuário é basicamente influenciado pela oferta de fêmeas, ou seja, pela existência e participação das fêmeas no rebanho nacional e consequentemente nos abates brasileiros. Com mais fêmeas em produção, tem-se maior produção de bezerros, e com o passar dos anos existirá uma maior oferta de bois gordos sendo enviados ao abate e dessa forma aumentando a quantidade de carne no mercado. Normalmente esta dinâmica irá resultar em redução dos preços pecuários.

O inverso também acontece quando a pecuária entra em ciclos de alta. Essa situação é observada quanto se tem uma redução na participação de fêmeas no rebanho, seguida de uma baixa nos nascimentos e logo após uma queda da produção de boi gordo e consequentemente diminuição da oferta e alta de preços.

No longo prazo não há dúvida nenhuma que as perspectivas de aumento de demanda por carne são excelentes, pois temos uma série de condicionantes que mostram que existe uma tendência de valorização dos produtos da pecuária. Como alguns desses condicionantes podemos citar o aumento do poder aquisitivo da população mundial e a dificuldade de se produzir um bovino, onde cada vez menos países têm condições de aumentar sua produção de carne para atender esse mercado crescente.

Mas é preciso também pensar no futuro mais próximo, algo em torno de 2 a 3 anos. No gráfico abaixo vemos os preços do bezerro de 8 a 12 meses no Estado de São Paulo. Observando o gráfico nota-se claramente um alta considerável a partir de 2007, que foi com certeza um reflexo do ciclo pecuário. Em 2005-2006 ocorreu um intenso abate de matrizes, consequência dos preços da arroba, já que nessa época os preços chegaram a bater os recordes de baixa desestimulando a produção.

Ao observar o mercado de garrotes, temos um movimento semelhante. Porém quando analisamos o comportamento dos preços em 2009, no caso dos garrotes, não ocorreu retração, como notamos no gráfico com os preços do bezerro. Isso pode ser explicado, por uma externalidade do ciclo que é o aumento de tecnologia. Neste caso podemos citar o grande crescimento do uso do confinamento, que é uma das fontes de demanda extra para esse tipo de animal.

Assim a procura de animais destinados a confinamento tem mantido esse mercado mais aquecido do que o mercado de bezerros. Aqui não estamos nem pensando no boi magro, que aparentemente é uma categoria em extinção devido ao encurtamento no ciclo de produção, e redução na idade de abate.

Ao olharmos dados de outras regiões confirmamos que os movimentos de preços ocorridos em São Paulo foram seguidos em outros Estados, talvez em menor ou maior intensidade, mas muito semelhantes. Vale lembrar que o perfil da pecuária paulista tem mudado nos últimos anos, ou seja, a atividade de cria tem deixado as terras paulistas e migrado para outras regiões em busca de terras mais baratas. O que era esperado já que a pecuária realizada mais intensiva, no caso a produção de bezerros, perde em rentabilidade quando comparada com outras culturas e tende a buscar novas regiões para ser desenvolvida.

Isto nos faz pensar que é essencial que o pecuarista invista em tecnologia, buscando maior produtividade por área, já que as áreas com terras mais baratas são também mais sensíveis ambientalmente e irão receber cada vez mais pressão para serem evitadas. Resumindo, hoje a pecuária tem menos espaço para crescer horizontalmente, como assistimos nos últimos anos, então é preciso trabalhar para conseguir maior eficiência de produção.

Além das variações de preços é importante olhar o mercado de bezerros e garrotes pelo lado da demanda. Quem procura esses animais é o invernista, o confinador. Esse agente da cadeia trabalha sempre com uma perspectiva, olhando para a frente para verificar como será sua rentabilidade com a venda do boi gordo e assim planejar seus investimentos, como aumentar ou reduzir a sua produção. Isso tem um reflexo extremamente importante no preço.

No gráfico abaixo podemos ter uma noção desse impacto analisando os preços dessas categorias em questão e verificar que as curvas são muito parecidas, tem uma correlação muito grande. Isso quer dizer que o mercado boi gordo tem uma influência muito grande no mercado de bezerros e garrotes, ou seja, efetivamente as expectativas que se formam no mercado do boi gordo se refletem muito fortemente no mercado reposição.

Ao observar a relação de troca na reposição, ou seja, quantos bezerros é possível comprar com o dinheiro captado após a venda de um boi gordo, vemos que tivemos um período onde esta relação estava muito favorável para o invernista – aquele que compra bezerros para engordar. Reforçando a tese da relação entre o mercado do boi gordo e o mercado de bezerros e garrotes.

Com esta informação é possível estudar os movimentos do mercado de boi gordo para tentar traçar perspectivas para os preços dos animais de reposição. Assim, estamos passando por um período em que, pela lógica do ciclo pecuário, deveríamos estar acompanhando ainda preços altos em 2009 e 2010, mas o que estamos vendo é que estes preços estão decepcionando os invernistas. Isso está ocorrendo devido efeitos externos ao ciclo pecuário, alguns desses efeitos são a crise econômica e a queda nas exportações brasileiras, que está reduzindo a demanda.

Essa redução vem em parte dos problemas financeiros que os principais exportadores enfrentaram e estão enfrentando deste o agravamento da crise, como a redução do crédito e linhas de financiamento para importação. Mas o mais preocupante é que o Brasil está perdendo market share no mercado mundial da carne e isso é extremamente complicado.

Esse é um ponto que precisa de nossa atenção, pois enquanto a Argentina quase dobrou suas exportações, a Austrália – que vende a carne mais cara do mundo – aumentou 1,65 seus embarques e os EUA venderam 35% a mais ao exterior, o Brasil assistiu a uma queda de 15% nas exportações em comparação ao primeiro semestre de 2008. Isso é uma consequência clara do câmbio que tem tirado a competitividade dos exportadores brasileiros.

É claro que não podemos esquecer dos problemas dos nossos concorrentes, como o desestímulo à produção na Argentina, que vem causando forte redução no rebanho, e as secas catastróficas na Austrália. Esses são fatores que podem fazer com que nosso prejuízo seja menor, mas diante da constante desvalorização do dólar que deve continuar, não dá para acreditar que o Brasil passará ileso por esse processo de apreciação cambial.

Assim usando modelos que levam em consideração a produção, as exportações e o consumo interno, a previsão é a pecuária irá assistir um pequeno incremento da produção em 2010 – algo em torno 7,8 milhões de toneladas, com um aumento de aproximadamente 200 mil toneladas -, um leve recuo nas exportações e maior oferta de carne no mercado interno que deve se refletir nos preços da arroba e também do bezerro. Excluindo fatores externos incontroláveis que podem interferir no mercado podemos esperar para 2010 um mercado de bezerros e garrotes estável, com um leve aumento de preços em 2011 e um retorno a valores da casa dos R$ 620,00 por bezerro em 2012.

Este artigo é baseado na palestra que José Vicente Ferraz, da AgraFNP, proferiu no Workshop BeefPoint de Pecuária de Cria.

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0 Comments

  1. Alexandre Rosa Vilela disse:

    O artigo do Ferraz foi excelente. A clareza e a simplicidade na demontração dos fatos mostram a realidade do mercado.

  2. Jair Lorandi disse:

    Muito positivo os comentários do Sr. Ferraz, estes são fatores importantes para um planejamento mais adequado, porém devemos considerar que o Brasil entra num ciclo de atividades externas como copa do mundo em 2014 e olimpiadas em 2016 o que pode engrandecer ainda mais consumo e promoção destes produtos.

  3. João Pires Castanho disse:

    Muito bem explanado, mas até o momento, não esta se concretizando nada do que o Sr. Ferraz previu, vamos aguardar mais um pouco pra ver.

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