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O que esperar da nova geração de produtores do agro?

Por Ricardo Nicodemos, Fabio Matuoka Mizumoto e Eduardo Eugênio Spers

Entender quem são, o que pensam e, sobretudo, quais as expectativas das novas gerações de produtores rurais é fundamental para delinear estratégias mais eficazes e resultados mais consistentes, contribuindo para o aumento da produção de alimentos.

Em um discurso atribuído a Steve Jobs aos formandos da Universidade de Stanford há uma frase que diz: “A morte é talvez a melhor invenção da vida. É o agente que faz a vida mudar. Neste momento, o novo são vocês, mas algum dia não tão longe vocês gradualmente serão o velho e darão espaço para o novo”.

As tecnologias criadas por Steve Jobs revolucionaram diversas indústrias, notoriamente as de computadores pessoais, telefonia celular e cinema de animação. Não há dúvidas de que suas inovações mudaram a vida das pessoas, o mundo corporativo e, claro, também trouxe mudanças e renovações significativas ao agronegócio.

Na agricultura, a realidade é a mesma descrita por Jobs. A chamada agricultura 4.0 envolve o uso de novas tecnologias e novas ferramentas que exigem um conhecimento para o qual o jovem está em geral bem mais preparado ou tem mais facilidade para aprender, interagir e assimilar. Inclui-se neste cenário a agricultura de precisão, blockchain, inteligência artificial e outras ferramentas digitais conectadas por meio de softwares.

A agricultura tradicional precisa dar espaço para o jovem e, consequentemente, para a inclusão destas novas tecnologias, que vão permitir ao Brasil continuar a ser competitivo na produção de alimentos, fibras e energia.

A 7ª edição da Pesquisa ABMRA – Hábitos do Produtor Rural, iniciativa da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio, mostra o quanto o agro está acompanhando toda essa evolução. De acordo com o estudo, 61% dos produtores têm acesso à internet e 96% possuem telefone celular. Dos produtores que têm celular, 61% usam smartphones. Dentre as mídias digitais, o aplicativo Whatsapp lidera a preferência, com 96% das citações de uso.

Todas essas novas tecnologias contribuem e até incentivam as gerações Z e Alpha, que incluem os jovens que nasceram entre 1992 e 2010 e a partir de 2010, respectivamente, a ficar no campo, dando sequência aos negócios da família.

A continuidade dos negócios depende, é claro, de permissão dos velhos para que os novos experimentem, aprendam e assumam o compromisso de entregar resultados. Tais desafios, aliás, movem essas gerações.

Se, por um lado, os jovens são mais adeptos à tecnologia da informação, a geração atual carrega a experiência de quem fez e aconteceu. É nesse sentido que as duas gerações serão fundamentais para a adoção das ofertas das agtechs (start-ups do agronegócio) que prometem revolucionar o patamar de eficiência e rentabilidade no campo por meio de big data, modelos preditivos e automatização de decisões para citar alguns dos benefícios prometidos.

Além do novo produtor envolvido diretamente com o agro, tem outro perfil de jovem que vem ocupando espaço no segmento de insumos e serviços para esse mercado. Muitas startups e agtechs são lideradas por jovens com formação não só na área de agrárias, mas em especialidades como direito, comunicação, administração, economia, matemática, estatística, biotecnologia, física e sistemas de informação.

De acordo com a pesquisa da ABMRA, 21% dos produtores rurais têm entre 26 e 35 anos, frente aos 15% indicados no mesmo estudo realizado em 2013. É o agronegócio gerando e ampliando as oportunidades de emprego para um perfil de profissional recém-formado, que vem enfrentando dificuldades de inserção no mercado de trabalho. E a presença da nova geração no campo indica a renovação e a oxigenação do negócio.

Por outro lado, o estudo também indicou um dado que desperta atenção: apenas 18% dos produtores têm formação superior. Além de criar incentivos para que esta porcentagem aumente, mais do que uma boa formação e domínio sobre as novas tecnologias que tornam o trabalho no campo mais interessante e desafiador, o jovem precisa buscar o desenvolvimento de habilidades cognitivas, emocionais e empreendedoras para sobreviver e se diferenciar no mercado.

Aí está uma estratégia a ser enfrentada pelo sistema educacional atual, responsável pela formação dos nossos jovens. Também é preciso capacitar docentes e investir em tecnologias que permitam ensinar de forma inovadora, a fim de preparar o profissional do futuro.

A nova geração de produtores do agro assume o desafio de alimentar a população crescente no planeta.

De acordo com a FAO (Food and Agriculture Organization), serão 9 bilhões de pessoas em 2050, todas consumidoras de produtos do agro. Os jovens de hoje tomarão decisões sobre a utilização de recursos naturais, sobre o nível de tecnologia no campo e na gestão que determinará a sua capacidade de se manter no agronegócio, uma atividade cada vez mais profissional e competitiva.

Os comportamentos e os hábitos do produtor e do consumidor mudam com a mesma velocidade com que novas tecnologias são lançadas. Por isso, para uma indústria que atua no agro construir um planejamento estratégico eficaz, é preciso estruturar um diagnóstico bem feito, baseado em dados sérios e que gerem informações confiáveis e atualizadas.

A ABMRA já está organizando a 8ª Pesquisa ABMRA – Hábitos do Produtor Rural. Nesta nova edição, o estudo fará uma imersão ainda maior sobre as novas gerações de produtores, identificará seus perfis, o que pensam, suas expectativas, sua visão de negócios, seus hábitos de mídia, qual a melhor forma de ser abordados e quais fatores influenciam suas decisões no dia a dia.

*Artigo de Fabio Matuoka Mizumoto, professor da FGV-EESP e sócio da Consultoria Markestrat; Eduardo Eugênio Spers, professor titular da USP/Esalq e coordenador do MarkEsalq; Ricardo Nicodemos, vice-Presidente Executivo da ABMRA, coordenador da Pesquisa ABMRA – Hábitos do Produtor Rural e Diretor de Planejamento da RV Mondel Comunicação.

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