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O que era para inglês ver, não colou na Europa

Por Geovani Antonio Alonso1

Recentemente, mais precisamente nesta semana o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento percebeu depois de muito tempo, mais de 3 anos após a criação do SISBOV (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Orígem Bovina e Bubalina – criado a 9 de Janeiro de 2002) que os europeus não querem rastreabilidade virtual, nem por lotes ou propriedades, ou seja só no papel para “inglês ver”, mas sim um processo confiável que registre todos os dados zootécnicos, controle sanitário, tipo de alimentação e movimentações desses animais e quando foram para o abate, exatamente da forma como é feito na Europa, com identificação individual dos animais, dupla identificação e banco central de dados. Isso seria a Rastreabilidade e Certificação com o objetivo de encontrar e reconhecer a origem do produto, no caso a carne bovina.

A questão é que o Mapa vinha “politicamente” costurando o SISBOV, maquiando confortavelmente, com seguidas alterações inoportunas no sistema, admitindo interferências de interesses outros que, não seguiam o objetivo inicial proposto e tão bem desenvolvido pelo então ministro Pratini de Moraes, fazendo do SISBOV moeda de troca com deputados, hora obrigando o rastreamento, hora sendo voluntário, sem falar dos prazos que mudaram várias vezes; a grande maioria dos produtores nem sabe o que está em vigor, haja vista tantas alterações no programa até conseguir o inevitável: cair no descrédito do pecuarista brasileiro!

Justamente quem deveria apoiar, não mais acredita em rastreabilidade no Brasil! Lamentável, o governo conseguiu isso, e para reconquistar a confiança do produtor terão que esclarecer, orientar, divulgar e mesmo assim não será de um dia para o outro, não será com portarias normativas e decretos, simplesmente.

Mesmo com a visita de auditoria da União Européia prevista para agosto deste ano, não se mudará a opinião dos pecuaristas a respeito do SISBOV, enquanto o governo não definir o que quer e como fará esse processo onde só o produtor paga a conta e nada recebe em troca, onde o que se vê no mercado não é o boi rastreado valorizado e sim o boi comum com preço reduzido, além de qualquer limite já imposto a derrocada de preços da arroba nos últimos meses.

Na verdade somos péssimos vendedores, vendemos a carne bovina mais barata do mundo e quando, temos um mercado comprador interessado em pagar até mais por produto com informações idôneas, criamos uma farsa e queremos que ali do outro lado na Europa, os gringos acreditem, eles não cairão nessa!

Fomos em 2002, excluindo a Europa, um dos primeiros países a iniciar a rastreabilidade e certificação, pois queríamos conquistar o primeiro lugar no ranking das exportações de carne! Conseguimos produzir o suficiente, mas não na conformidade com o mercado comprador, estamos na contramão da história.

Precisamos agregar valor aos nossos produtos, para atingir isso devemos atender à necessidade dos compradores, para depois falar em preço. Isso é o mínimo que nossos governantes deveriam saber! Não basta vender pelo menor preço, a União Européia paga até mais pela carne desde que seja no padrão exigido, então o que estamos esperando?

Conquistamos o título de maior exportador, mas não fizemos o dever de casa! Acabaram por permitir a sonegação de informações na pecuária com a voluntariedade da adesão ao programa SISBOV a partir de novembro de 2004, porque quem quer esconder os números não adere ao programa…

O consumidor interno não tem o direito de saber a origem da carne que consome, outro absurdo! E ninguém sabe quantos animais compõe o rebanho bovino brasileiro, temos somente previsões, impossibilitaram o que seria a contagem do rebanho.

Esconder os números, isso não interessa ao pecuarista tradicional, que vive exclusivamente da pecuária, e sim àqueles grandes grupos que nos últimos dez anos penetraram no ramo investindo fortunas na pecuária. Estes sim não podem e não vão mostrar seus bois escondidos em fazendas esparramadas pela imensidão desse país, até a hora do abate quando carregam um número estrondoso de animais, levando à queda das cotações da arroba no mercado.

Por isso é difícil entender hoje o porquê de mudar a forma de gestão e aumentar a produtividade nas fazendas, caso contrário o pequeno e médio pecuarista corre alto risco de desaparecer, vender ou arrendar suas terras para a agricultura, que é o que mais ocorreu nos últimos dez anos.

Pergunto aos pecuaristas em vários lugares sobre a rastreabilidade e ouvi dia desses um sul-matogrossense dizer: – “Não vira”, altamente incrédulo, como a maioria deles. Antes que seja tarde o governo deve tomar uma decisão para por fim às inconformidades, desarranjos e falcatruas no rastreamento oficial, onde ainda existe a prática da identificação na hora do embarque para o abate, verdadeira aberração para um país que quer exportar.

É simples, se não sabem criar ao menos saibam copiar o que é feito na Europa após o surgimento da doença da vaca louca, antes que ela enlouqueça por aqui. Sejamos sério Brasil, agora ou nunca!

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1Geovani Antonio Alonso, Consultor da Ruraltag Artcs – Assessoria e Consultoria, Gerente de Negócios – Divisão Pecuária – Animalltag, São Carlos – SP

0 Comments

  1. Bruno de Jesus Andrade disse:

    Muito coerente este artigo.

    Não precisamos de certificação política.

    Os países europeus não brincam em serviço, para não mais importarem carne brasileira precisa-se de muito pouco. Devemos atuar de forma competente e decisiva. Não podemos mais prorrogar prazos.

  2. Vigilato da Silva Fernandes disse:

    Excelente artigo, parabéns.

    Ilustra bem a maneira como as coisas são conduzidas no nosso país. Não sei se trata-se de excesso de auto-confiança ou de irresponsabilidade mesmo?

    Vale dizer que não podemos permitir esse tipo de coisas mais, a questão da rastreabilidade é de interesse de toda a cadeia envolvida no manejo da carne bovina, produtores, frigoríficos e comércio e até mesmo dos próprios órgãos governamentais ligados ao setor.

    Seria uma boa oportunidade de verificar a real situação patrimonial de muitos sonegadores já que esse governo adora aumentar impostos.

    Precisamos pressionar para que as coisas sejam feitas de forma séria para que tenhamos credibilidade nos nossos produtos.

  3. fabio borges fanfa disse:

    Ouço um grande numero de pecuaristas reclamando de que o SSBOV não funciona e de que é cheio de regras sem noção da lida diária de campo, mas um exemplo é o desta atualização de cadastro.

    O produtor deve ter um controle de seus animais, do que vende, do que abate, de que idade tem os animais que estão em seus campos, etc.

    Aquela velha prática de carregar o que aparece pela frente, faz com que você crie em seu campo animais velhos (verdadeiros animais de estimação), de baixa qualidade e que acabam lhe dando um prejuízo maior do que o preço do mesmo.

    O pecuarista podia muito bem aproveitar os programas de controle de estoque das certificadoras para seu próprio controle, geralmente são sistemas simples que lhe dão controle dos animais e de todos os dados do mesmo. Usem a certificadora, ela é uma empresa feita para atender suas necessidades.

    O interesse da UE é isso, fazer com que se tenham registros fiéis dos animais comercializados com eles, isto garante a segurança do consumidor final. Quanto a preços, os pecuaristas devem se unir e determinar valores aceitáveis, negando-se a receber menos pelos animais. A classe de pecuaristas possui muita força, mas pouca união.

    A falta de atualização dos dados no SISBOV fará com que muitos animais sejam desclassificados da rastreabilidade, isto trará falta de animais para o mercado exportador, aproveitem este momento e briguem por valores maiores, afinal quem tem um compromisso de entrega de carnes é o frigorífico, não o pecuarista.

  4. Rodolfo Endres Neto disse:

    Parabéns pelo artigo. Visão ampla e conhecimento do assunto.

  5. Eduardo Barbosa de Castro Prado disse:

    Se for para fazermos uma rastreabilidade, que realmente seja digna de crédito.

    Não é possível o frigorífico misturar todo o lote na hora do abate. Realmente não faz o menor sentido.

  6. Jose Caetano Jr disse:

    Primeiramente parabéns pelo artigo.

    Infelizmente sou obrigado a concordar em gênero, número e grau com suas colocações.

    Há tempos que venho insistindo na questão da rastreabilidade individual, aqui na Nova Alimentos, estamos criando um protocolo próprio de qualidade, onde um dos pilares de sustentação é a rastreabilidade individual dos cortes.

  7. Luis Eugenio Teixeira disse:

    Devemos nos conscientizar, todos os participantes da cadeia produtiva da carne, que a rastreabilidade nos padrões exigidos pelos europeus, é condição básica para garantia de manutenção e ampliação de mercado.

    Não devemos permitir que princípios utilizados pela maioria do meio político contamine e prejudique o setor.

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